terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Diálogo contemporâneo


Por onde anda o diálogo? Não digo qualquer conversa fiada, mas pensamentos afinados, compartilhados e trocados? Não falo de monólogos também, em que um lado escuta e só o outro fala, mas uma troca, um interesse recíproco, uma fala que comece na simplicidade de um dia e termine em questões sobre o universo ou metafísica.. Algo despretensioso nas risadas ou pretensiosamente disposto a continuar indefinidamente.
Um diálogo que não dure só um átimo e nem caia na monotonia dos monotemas. Que não sobreviva de interesses outros que não seja o próprio dialogo em si. Onde foi que desaprendemos a falar? Empobrecendo os discursos à rudimentos e barulhos? Mais um pouco e só nos restará um tacape, porque o fogo e a roda, já não sabemos fazer.

Simples assim


A vida não espera, ela tem pressa, mas não é qualquer correria desenfreada de ir e vir, mas o convite de observar os detalhes, que existem por apenas um momento, se estiver com a alma aberta para percebê-los. Toda desatenção é uma perda de oportunidade e ainda que eventos similares possam ocorrer, nunca serão como o instante que passou.
E assim, a vida passa por nós, e enquanto, nos ocupamos de preocupações, não vemos o mundo ao redor. Não vivemos em um cenário, tudo ao redor é vida, é vivo...
Desde um feixe de luz que transpassa as folhas farfalhantes de uma árvore à cada pessoa com seu jeito, características e olhares únicos de ser.
De um passarinho que pousa por alguns segundos ao seu lado à nuvem que se desenha no céu sobre você.
Aquela chuva que nos pega desprevenidos à notícia inesperada que nos tira o chão.
Recebermos algo que esperávamos muito à mudar a rota que costumávamos fazer.
Cada prédio e casa pelo caminho com suas inúmeras janelas vivas ao encanto do sorriso de uma criança ou o balançar da cauda de um bicho de estimação.
Sentir aquele "friozinho" na barriga à rodar até cair!
Fazer careta no espelho, não se levando tão à sério à dizer que amamos quem por estar sempre ao lado deixamos de admitir.
Esquecer o tempo propositadamente e cantar (mesmo mal) só para se divertir.
Se sujar todo de tinta ou ouvir uma música e suspirar.
Essa é a realidade, as coisas que se sustentam dentro de nós...E embora sejam as que perdurem, tomamos elas por intervalos e brevidades. Felicidade não é um fim, mas o caminho percorrido. Quem perde os detalhes da vida, perde a si mesmo dentro dela. A pior morte não é a do corpo, mas a da alma que habita dentro dele. Alimentamos e sustentamos o cavalo, sem nos preocupar com o cavaleiro que monta. Sonhe mais, ria mais, acredite mais, aceite mais... Tire tudo que é "menos" de si, tudo que foi negado, e que por isso mesmo, não deveria ficar. Jogue fora os medos, as incertezas, as hipóteses e as dúvidas...decida estar presente em sua história! Olhe tudo que lhe espera ao redor e se não enxergar nada, feche os olhos e tente novamente...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Pés femininos


Todo estranhamento é o primeiro movimento de reflexões. A novidade ou a diferença, as vezes, gera um conflito até que aceitemos o fato com naturalidade. Assim foi minha descoberta e admiração pelos pés femininos.
Ouvia as pessoas falarem espontaneamente sobre achar bonito: um olhar, um sorriso, um pescoço, etc... Mas quando se falava em pés, havia um certo constrangimento, quase como se falasse sobre uma nudez. Não pela intimidade que a nudez representa, mas pelo inusitado e desconhecido de ser algo não revelado.
Tal concepção não era algo simples para um adolescente. Logo, sentia-me marginalizado em minha admiração e adotava o caminho mais fácil: a omissão. Ainda que ocultar de nós mesmos e do mundo, seja uma auto-repressão.
E neste processo, buscava explicações lógicas para me justificar. Desde contos de fadas como a Cinderela, que o príncipe busca a dona do pé, que se encaixe naquele salto de cristal à questões culturais e históricas.
No Oriente Médio, na noite de núpcias, o marido lava os pés da esposa em uma bacia com pétalas de rosas, em um simbolismo de que a servirá para o resto da vida. Simbolismo reproduzido por Jesus perante os apóstolos e perpetuado pela Igreja Católica. Na Índia, que os casamentos são arranjados, durante a reunião que as famílias apresentam o futuro casal, até então estranhos, a mãe do noivo levanta ligeiramente a saia da esposa prometida, para que ele veja os pés da mesma, como se fosse uma "concessão" adiantada de uma intimidade. Na China Antiga, homens admiravam pés pequenos e as mulheres, culturalmente, acabavam usando sapatos apertados, muitas vezes deformando os próprios pés para atender esta admiração.
Assim como vários outros detalhes corporais foram destacados nos mais recônditos lugares. Como os longos pescoços de uma tribo africana à ambição cultural americana de colos siliconados.
Mas não sou árabe, nem indiano, muito menos chinês, nasci no Brasil e distante de qualquer influência ou educação de outras
culturas...Seriam outras vidas? Quem sabe... Mas não quero me perder em divagações que não poderia constatar...
Refleti sobre questões mais possíveis: a timidez. Afinal, antes de me doutrinar a fixar olhos nos olhos. Tinha o mal hábito de olhar sempre para baixo... Embora ainda seja pouco provável, já que tenho lembranças longínquas da infância, na qual já era chamado a atenção para isso e algo curioso, não era tímido, quando criança.
O fato que nunca foi algo lógico ou pude racionalizar esse tema. Se não era possível entender, precisava aceitar! E comecei a perceber questões como a admiração de muitas mulheres por mãos masculinas. Seria uma questão filosófica?
As mãos masculinas representado a força, segurança e proteção, enquanto os pés femininos, por sua vez, a suavidade e delicadeza que a mulher passa? Afinal, são extremos e semelhantes opostos.
Continuo sem nenhuma conclusão objetiva sobre o assunto, mas escrever sobre isso, ou melhor, ser capaz de falar abertamente sobre isso, é efetivamente a melhor "libertação". Não precisar mais esconder ou disfarçar algo, que querendo ou não, faz parte de minha natureza, que pela sua própria característica é "detalhista".
Todos guardamos dentro de nós, partes não confessadas, aceitas ou não. Quando uma dessas partes vem a tona, sem constrangimento, deixa de ser uma questão e se torna em si mesma, uma resposta. Abandonamos as dúvidas e assumimos a afirmação. Saindo da dualidade dos extremos da balança para simplesmente, o eixo natural e comum, do que somos.

A poética do olhar



Todo olhar é solitário. Podemos compartilhar um ponto de vista, mas não podemos emprestar os nossos olhos.
A visão vai além do que vemos, pois concedemos à ela, um pouco das cores de nossa história, da nossa natureza, reflexões, associações e sentimentos. Podemos olhar para o mesmo lugar, mas nunca veremos a mesma coisa. Nos atentaremos àquilo que mais nos importar, que consequentemente, difere do que importa ao outro. E nisso há uma grande beleza: a poética do olhar.
O que é visível para você em um grande centro urbano? Em uma paisagem deslumbrante? Em um mágico momento à dois? Em um ambiente de trabalho? Agora, que mentalmente visualizou cada uma dessas cenas. Refaço a pergunta: O que você não vê nestas mesmas situações?
O imperceptível que está logo ali ao lado e que por algum motivo, que apenas cada um poderá dizer, não é visto.
Basta darmos um passo para o lado para que tudo se modifique. Mudar a comodidade do que vemos, ainda que inicialmente, precisemos passar pelo estranhamento da novidade. As crianças, na ânsia desbravadora de abraçar o mundo, tudo exploram com os olhos. São capazes de abrir e fechar mil vezes uma gaveta para ver se algo mudou dentro dela, e ainda assim, se não ocorreu, imaginam e criam a própria cena.
A praticidade da vida adulta, nos obriga a fechar os olhos e aceitar apenas os fatos. "O que os olhos não veem, o coração não sente" - ledo engano. Porque o sentir vai além do que vemos. O sentimento é o nosso terceiro olho.
E aquilo que não queremos enxergar, o sofrimento o fará. Expondo a nudez da nossa alma, nossas fragilidades e nos levando a confrontar a realidade.
Que tal uma gota do colírio coragem para abrirmos os olhos? Ou a pureza de enxergar as mesmas coisas pela primeira vez? De chorar quando precisarmos lavar as impurezas que embaçam a nossa vista? Ou simplesmente piscarmos, flertando com a vida?
Os olhos são mais do que as janelas da alma, são as asas que nos impulsionam para o universo...

Desapego



Curiosamente, dentro da expressão Apego, existe a palavra Ego. E enquanto arrumamos o mundo fora de nós, dando novo rumo, organizamos o universo interior. Cada partida abre espaço para uma nova chegada. E porque temos tanta dificuldade de jogar fora, doar ou vender as coisas?
Porque impregnamos tudo que faz parte de nossa vida do Ego, o eco do Eu. Dizemos para nós mesmo: "Posso precisar algum dia", mas no fundo, sentimos intimamente: "é parte de quem sou".
No entanto, as velhas cartas seguem mofadas na caixinha, os livros empoeirados na estante,... tudo preso há um instante, em algum canto do pensamento que mal visitamos, na tranquilidade de estar acessível às mãos...Basta querer (ainda que não queiramos).
Este medo de esquecer de algo que foi importante é o nosso medo de ficarmos ausentes de nós mesmos. De vasculhar as lembranças e não nos acharmos na frase escutada no momento certo, na surpresa que mudou um dia,...Aliás, vai além, medo de mexermos no nosso conforto, na nossa comodidade e na segurança do que já conhecemos. O novo sempre nos assusta!
Mas a vida se transforma, se renova, tudo muda de sentido e significado, porque mudamos com ela. Ah e como mudamos!
O excesso de acumular esconde o vazio de não preencher. Porque quanto mais preenchidos, menos coisas precisamos.
Ao encararmos a necessidade de nos abrir à um novo tempo, uma nova situação, uma nova condição, precisamos abrir espaço nas prateleiras, nos armários, nas gavetas também... A casa é apenas um espelho do que somos, como o caramujo que carrega a sua nas costas! É preciso que ela esteja leve ou corremos o risco de sermos esmagados ou sentirmos um peso maior do que deveríamos realmente comportar.
Recicle os papeis criando uma folha em branco para novas escritas...Doe os livros para que outros possam ter o conhecimento que já adquiriu...Jogue fora as velhas cartas, escreva novas para quem está ao seu lado e que esquecemos de dizer o quanto nos importam.
E se ainda assim guardar alguma coisa, que seja unicamente, aquilo que faça seu presente impulsionar o seu futuro!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Ninho




Sensibilidade, porque habita em mim?
Com tantos ninhos por ai, escolheu fazer morada logo aqui?
Nem asas tenho e mal diferencio o abismo do céu
Tantos riscos moram em mim...
Risco de inundação com meu choro...
Risco de incêndio com minhas paixões...
Porque nunca soube ser comedido, ainda que lide com medidas!
Nunca encontrei os meus limites, talvez mal tenha me encontrado...
E quando vejo, encontro você..
Ai parada, recolhida, esperando que eu cuide de você
Quando na verdade, precisava também de cuidados
Talvez sejamos parecidos, Sensibilidade
E tenha se aproximado de mim por ser o seu espelho
Um espelho desfragmentado em mosaicos e inúmeros reflexos
Mas ainda assim à sua imagem e semelhança
Tudo bem, pode ficar!
Talvez aprendamos juntos a viver ou viver juntos
Aceitando o melhor e pior que há um no outro
Só me avise, se um dia desejar partir...
Para que antes disso, eu me parta também!