quarta-feira, 31 de maio de 2017

O clipes e seu papel



Na vida, somos como clipes dobrados e enrijecidos em um papel que escolhemos segurar.

O clipes brilha, mas misturado com outros, parecem todos iguais. Jogue-o em uma palha e descobrirá que para separar um "clipes" do palheiro, basta se guiar pelo seu reflexo.

O clipes pode ser deformado. Sua natureza é sua composição e não a forma que tem! Um clipes reto abre fechaduras! E como eles, somos assim também! Maleáveis, quando nos permitimos ser.

O clipes pode ser leve para flutuar sobre a água ou pesado e afundar à qualquer turbulência. Tudo é o jeito e a intenção que damos a ele. E você boia ou afunda?  Boiar é conseguir um novo ar e recuperar as forças. Para afundar, basta não fazer nada.

Tudo que nos cerca, espelha o que somos! A rotina nos leva a olhar para cada objeto com a mesma visão todos os dias. Permitam-se quebrá-la. Mudem a ordem, o sentido e os significados. E perceberão que escolhem os seus papéis. E de repente, dê um "clique", digo "clipes" na sua mente e tudo passe a rodar de forma diferente da que acostumaram a olhar.

A nudez das palavras


Revela o corpo das letras
Nos detalhes ocultos
Nos contornos das linhas
E suas intenções


São os versos não lidos
Sentidos e provocados
Sensações evocadas
Sensualidade das ações

É preciso despir a entrega
No íntimo pensamento
Que se dá para quem recebe
Que cede e excede

A leitura é conexão
Entre escrita e leitor
No sexo de duas mentes
Cujo encontro etéreo
É o prazer dos laços
Nos lençóis da imaginação

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Acaso




Não nos encontramos ao acaso
Nos reconhecemos, e isso, é um caso
Não há esbarrão, nem desatino
Tudo é necessidade e destino
Aprendemos pela dor incompreendida
Ensinamos pelo amor apreendido
Porque tudo é troca
Mesmo quando se faz troça
Quando errar
Basta Berrar (e recomeçar)!

Não nos encontramos por acaso
As vezes, o acaso nos encontra
Você julga planejar
Mas o julgamento planeja você
Você faz de tudo para aceitar
E a não aceitação faz tudo contra você
Você tenta conter o sentir
Mas o sentimento não contém você
Você tenta dizer FIM
Mas para a razão, tudo é SIM
E quando entende que é NÃO
Já não importa o valor que DÃO

Não nos encontramos ao acaso
Mas enquanto ele não chega, olhe o ocaso
Tudo tem começo, só você que não
Já existia, antes de viver
Tudo tem um fim, só você que não
Existirá, mesmo  depois de morrer
Não é o acaso, que nos encontra
Somos nós que nos encontramos no acaso

domingo, 28 de maio de 2017

O palhaço


É a ofensa à normalidade imposta
É a tristeza mascarada de riso
Que faz chorar de alegria
É o desprendimento da criança
Que brinca de ser séria
É o meter o nariz vermelho
Onde não é chamado
Pois não precisa de convite para ser
Quem é
É a encarnação da espontaneidade
Perdida na vida
É o papel marginalizado
Que só é assumido na intimidade
É o avesso, o inverso
É a paixão imersa
É o gargalhar de si mesmo
Que ecoa em outros rostos
É a arte de acreditar
E fazer de todo lugar
O seu próprio palco

Sentido de escrever


Não escrevo para transformar o mundo
Escrevo sobre o mundo que me transforma
Não escrevo para ser lido
Escreverei mesmo sem o ser
Minhas linhas são companhias
Quando companhias estão fora de linha
As palavras não cabem em mim
Mesmo que eu não caiba nas palavras
Escrevo o que não falo
Falo o que não escrevo
Minha poesia me dá a mão
Quando a mão carece de poesia
Me oferta um novo olhar
Para um olhar barato em oferta
Ela me salva de mim
Do eu que não pode ser salvo
Porque ela é a morte
Que faz renascer
Ela é a tristeza
Que precede o sorriso
Ela é juiz
Sem sentença
Ela é afeto
Para quem se deixa afetar
É passo para quem não tem medo
E medo para quem não quer dar um passo
É a entrega, uma trégua
Que rega o melhor
No melhor que podemos regar

domingo, 21 de maio de 2017

Sorrisos



Se os olhos são as janelas da alma
Sorrisos são as molduras
Enquadram e convidam
Brindam a vida
Desenham a boca
E vibram
É o melhor eco
Que de um só riso
Se multiplica
É conjunto
Melhor juntos
É reflexo e flexão
É o encanto
Que canta
Com o canto do lábio
Que sente
Consente
Conciso
Demais é gargalhada
Menos é palhaçada
De se levar a sério
Dois são encontros
Que contam a permanência
Um no outro
Sorriso
É só isso..
O todo que ri!

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Estranho


Sou estranho. Nem melhor, nem pior, apenas diferente. Diferente por não seguir as fórmulas, conceitos, cartilhas e manuais. Estou escrevendo a minha própria conduta e não porque eu queira me fazer assim, mas porque antes do que faço, existe o que sou. Antes de criar, sou a minha própria criação. E nem todos a entenderão. Porque entendimento passa pelo mesmo movimento e eu vivo na contramão.
Talvez tentem me rotular. É sempre mais fácil colocar o outro em uma forma conhecida e confortável. Tudo bem! A mudança é minha, não pediria que mudassem também. E como me vêem é apenas reflexo de si mesmos. As imagens acompanham a nossa forma de olhar. 
O desconhecido assusta. É um mergulho quando não se sabe nadar. E tudo em mim é profundeza. Tanta, que eventualmente, também me afogo. Sou diferente, não porque eu fuja de iguais, mas porque não há igualdade na unicidade. E quem de nós não é único? Que atire o primeiro estereótipo! Sou estranho por falar tudo que todos querem calar, por me permitir sentir sem a vergonha chamada de prudência e pela intensidade que prefere o incêndio à se contentar com uma fogueira.
A fogueira aquece, o incêndio faz renascer. E renasço todos os dias, e todos os dias, preciso me reapresentar. Não ao mundo exterior, mas àquele que habita dentro de mim e que tão poucos ousam entrar. Gosto de despir o que penso. Meus pensamentos não se cobrem, andam nus. Minhas imperfeições estão entregues na mesma medida das minhas qualidades. Não porque goste delas, mas porque quero ser capaz de vê-las. E vejo demais. Faço as pessoas saírem de seu estado de repouso emocional, porque minhas emoções nunca descansam. 

Conhecemos a solidão no só lidar, quando lidamos e vemos que algumas características que nos forjam, são as mesmas que nos marcam. Por isso tudo, entendo a estranheza que causo e a causa de tanta estranheza. E não estranho que a maioria nem vá entrar em contato com nada disso, talvez nem eu mesmo o fizesse, mas sou a parte que fala. Falar é fácil, é só um caminho. O difícil é sempre ouvir, escutamos por dois lados. Então vou tentar fazer diferente ao invés de ser. Não é o mundo que nos diz quem somos, mas o profundo que nos faz sentir, quem queremos ser.

Compulsão


A compulsão começa quando o necessário não é mais suficiente
Quando demais é pouco e é preciso ter, ainda que já tenha
Nada basta, porque não há fundo
No fundo, tudo é justificado para a permanência de uma ilusão
Mas não se iluda! Pulsão e paixão se confundem
Excesso não cessa. É a torneira que pinga, mesmo fechada
E mais difícil do que convencer os outros
Na pregação e proselitismo do "bom viver"
É dizer para si mesmo, porque apesar de "tanto", o vazio continua.
Compulsão não é só TOC. É a ânsia de querer tocar, provar e (se) convencer
É preciso convencer para defender a fragilidade do que acredita
Quem de fato crê, não precisa de nada além. Porque o agora basta
Mas se precisa ter ou fazer para dizer quem é...Cuidado!
Cuidado para que uma parte sua, não se torne o todo
E o todo acabe como uma parte sem importância

terça-feira, 9 de maio de 2017

Ao amor



Amo você! Mas você não sabe disso. Como poderia saber? Nem nos conhecemos ainda...A vida não nos apresentou, ainda assim, já mora em mim. 
Sinto falta do abraço que não demos, dos beijos não partilhados, dos sonhos, juras, lágrimas e sorrisos que não dividimos.
Amo você, mesmo que não saiba que me ama, porque ainda não existo para você...
Até então, só nos encontramos na espera...
Talvez nem seja o seu ideal. Passe por várias experiências para descobrir que sou o que ninguém foi para você. Passamos por tantas buscas para descobrir, no fim, que o que queríamos era justamente o que não buscávamos.
Talvez já tenhamos passado um pelo outro sem nos notarmos. O destino é trapaceiro e nos cega até que nos julgue merecedores de enxergar.
Não a vejo, mas amo você, porque sempre existiu dentro de mim.
Amo você, mesmo que ainda não me ame. Como poderia amar o que não conhece? As coisas só importam quando são cativadas e cultivadas. Mas você importa para mim, sempre foi cultivada, ainda sem a conhecer. Não é preciso chover para reconhecer a importância da chuva.
Amo você e desejo ardentemente que esteja feliz onde estiver. Pois imaginar o seu sorriso, me faz feliz, especialmente quando não consigo rir.
Não dependemos um do outro, é verdade. Mas a vida depende de nós, da nossa história, que ainda não foi contada e só aguarda nós dois para escrevê-la.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

(Des)encontros


A vida é feita de encontros, Ainda quando desencontrados.
Desde aqueles breves que duram um piscar de olhos.
Aos longos que perduram mesmo após longas tempestades.
Da grande afinidade que sente por um desconhecido e que talvez nem fique em seu caminho (ainda que quisesse).
A desarmonia de laços tão próximos, que nos prendem e não se vão (ainda que quisesse).
Ao aprendizado que surge inesperadamente em um tropeço do caminho.
Às exageradas repetições da rotina, que nos impulsionam a mudar!
Encontros de idéias, de olhares, de sorrisos...
Aos desencontros de objetivo, do que não queremos ser ou viver..
Quantos encontros a vida nos oferta... mesmo desencontrados!
O pedestre que passa ao seu lado distraído, uma pessoa que conversa despretensiosamente em uma fila, alguém que conhece através de uma tela, mas não fica ou quem fica, mesmo sem a pretensão de entrar. Os novos olhares que lhe descobrem em um curso e a descoberta de existirem ao redor tantos olhares!
Encontramos até em sonhos, ainda que desencontremos ao acordar! As vezes, encontros são um sonho, outras vezes, apenas prelúdio para um despertar.
E de tantos encontros exteriores, não poderia deixar de falar do único que não pode desencontrar.
O encontro consigo mesmo. Porque tudo pode mudar, mas continuará ali no mesmo lugar: dentro de si! Sendo moldado e esculpido por tudo que chega e vê partir. Tudo que é novo ou já faz parte do existir.
Os encontros virão, não pode evitá-los. Os desencontros também virão, precisam estar preparados.
Se encontrem, se encantem e contem...