quarta-feira, 24 de junho de 2015

Confissão


Pensei muito se deveria ou não escrever esse texto. No entanto, percebi que estava sendo preconceituoso comigo mesmo. Em um período que se debate tanto a questão das "minorias", nunca fomos incluídos nas mesmas, apesar do mundo fingir que não existimos. Espero que não se choquem, mas eu tenho caspa.
Engraçado que tentar disfarçar essa característica é exatamente como fingir que estamos acordados, quando a nossa cabeça tomba em lapsos de sono, sentados em algum lugar. Fora isso, roupas escuras, não nos negam.
Como a Hidra da mitologia grega, que para cada cabeça arrancada, nasciam mais duas. A caspa é incurável e para cada uma que cai, mais 1000 ameaçam cair. E nessa tentativa de equilibrarmos a cabeça ao máximo para disfarçar essa realidade para o mundo, somos surpreendidos com a sensibilidade de alguns que questionam: "É contagioso? Sua higiene é bem feita?"
Nesses momentos me sinto na Idade Média, que um médico vestido de preto, com uma máscara horripilante, semelhante a um pássaro (acreditava-se que desta forma, evitavam o contágio da peste negra), receitava: "Para cura de sua doença, precisará tomar um banho de mar, sob o ciclo da lua cheia."
Bem, felizmente, nossos curandeiros modernos, vestem branco, são eles, os dermatologistas.

Antes de continuar, preciso esclarecer: Não é contagioso e sim, minha higiene é impecável. Feita essa ressalva, continuemos...
A caspa é um processo alérgico, uma inflamação imperceptível do couro cabeludo, que provoca uma descamação excessiva de pele no mesmo. Muito similar, ocorre quando vamos a praia, queimamos muito e descascamos. Porém, a nossa troca de pele é permanente.

Não há cura, porém é possível amenizar os sintomas. Minha cabeça é um laboratório e nem estou falando internamente, pois de fato, já tentei a mistura de todas as químicas possíveis. Algumas são mais eficazes, outras nem tanto, mas o Zinco é o elemento chave da questão, sendo mais preciso: Pitirionato de Zinco. (Neste momento, meu professor de química teria orgulho de mim por finalmente ter entendido alguma coisa de sua matéria).
Em casos extremos, em doses mínimas e por curto período, cremes com base de cortisona ou cortisol, podem conter o processo.Usar roupas claras, não faz parte do tratamento, é apenas um paliativo ou como diria o Cazuza: "Faz parte do meu show".
Passamos a maior parte da nossa infância, buscando a aceitação dos pais. Na adolescência, mudamos o nosso objetivo, queremos ser aceitos socialmente. E em que momento, enfim, nos aceitamos?
Felizmente, para o bem e para o mal, somos todos diferentes. E é uma libertação, quando finalmente, temos consciência disso e somos capazes de não nos levar tão a sério e melhor do que isso, não nos importarmos tanto com o que nos é dito. Voltando a atualidade: não é uma opção, é uma condição! Logo, eu assumo, agora sem máscara: tenho caspa!