quarta-feira, 8 de abril de 2020

Mundo em construção


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“Diante de uma parede branca com um ponto preto, as pessoas se fixarão no ponto preto, ao invés da parede.” Lembro quando li essa frase há muitos anos atrás, fui fortemente impactado por ela. Fixar em um detalhe e esquecer o contexto é uma característica humana.
Sou um grande entusiasta da mente humana e da evolução social, logo senti necessidade de falar sobre esse momento. E quando o presente não nos dá nenhuma resposta é bom olhar para o passado. Não por saudosismo, mas por aprendizado.
Toda mudança de eras da humanidade foi antecedida por um declínio. A Idade Média passou pelas guerras, fome e a peste. A medicina era quase inexistente, a tecnologia rudimentar, a sociedade não tinha liberdade de pensamento direcionada por um Rei e uma Igreja. E apesar de tudo isso, sobreviveu. Abrindo caminho para uma nova fase chamada “Renascimento”.
No Renascimento, houve uma reestruturação social, o saneamento básico e a arquitetura, como as artes, evoluíram. A sociedade evoluiu com a crise.
Durante a primeira e segunda guerras mundiais, houve muitas baixas. A ânsia de poder e por métodos de aniquilamento mais eficientes de um jeito torpe e a ascensão da “gripe espanhola” fez a tecnologia evoluir e especialmente, a medicina. Havia muitos a serem “curados”. A divisão do mundo em “nações” com o fim das guerras, deu lugar ao mundo como o conhecemos hoje: globalizado.
E apesar das mazelas e infortúnios, que ainda trazemos das nossas más heranças. Vivemos tempos bons até aqui. Quebramos nossas fronteiras e aproximamos distâncias. Evoluímos ainda mais a medicina, a tecnologia e a ordem social. E por mais, que sempre há quem diga que a humanidade não evoluiu nada, hoje, você pode ter o direito de dar sua opinião sem passar por uma tortura ou ser enviado(a) para a guilhotina.
Logo, tudo que estamos vivendo com essa epidemia não é novo. Mas como todos os períodos com seus prós e contras, nos acostumamos a ter tudo nas mãos. Algo positivo por um lado, pois encurtou o tempo, mas por outro, esquecemos de dar as mãos. Transformamos as relações em um produto e como tal, descartável.
Uma pessoa, hoje, sozinha tem tanto poder ao alcance dos dedos, que esse momento denunciou o egoísmo latente social. Viajar hoje é tão fácil que ninguém mais para. Olhar para dentro? O negócio é exposição.
E porque digo tudo isso? Porque por mais traumático que seja o instante que vivemos, ele surge para mudar o que não está funcionando. Chegamos ao fim de uma era: 2020. E esse é o nosso declínio, antes de um recomeço.
A epidemia surge como um processo catalizador. Nos faz repensar a estrutura social através do isolamento. Na busca por uma cura, a medicina fará novas descobertas. E pela urgência de descobertas, a tecnologia como um todo evolui junto. As relações de trabalho burocrático se mostram ineficientes, quando todos (com exceção dos serviços essenciais) precisam trabalhar de casa.
A divisão excludente de opiniões por qualquer coisa, só pelo direito de ter uma opinião, se unifica em um consenso, o “bem maior”: precisamos sair desse momento. As pessoas são obrigadas a ficar consigo mesmas e a conviver com os mais próximos, que no dia dia mantinham uma relação de conveniência.
E nisso, fazemos a transição para uma nova geração. Há sempre quem dirá: “Quando tudo passar, voltará a ser como antes. Não vê o egoísmo nos supermercados e farmácias?”
Mas eu digo: nada mais será como antes. A sociedade nunca será uma massa homogênea, somos compostos de diversidades e precisamos da “contrariedade” para efetivar mudanças. E diante delas, até o mais apegado aos seus costumes é obrigado a repensá-los.
Acha que muitos não relutaram para usar a internet? Achavam que era apenas uma “modinha” e que não afetaria em nada a vida cotidiana. Alguém se imagina hoje sem internet? Até os idosos aversos à novas tecnologias, aderiram. Não dá para lutar contra a praticidade.
Logo, afaste o pessimismo. Deixe-se contagiar pela gentileza, pelo amor próprio e ao próximo. Cure-se das suas dores e dos seus traumas. Imunize-se de ressentimentos e mágoas. Trabalhe sua mente e expanda seus sentimentos. Descubra o que realmente gosta e quem realmente você é. Reinvente-se de dentro para fora.
Sobreviveremos mais uma vez, mas o mundo que conhece, não será mais o mesmo. Que você não seja também.

2 comentários:

  1. Excelente texto! O momento exige adaptação e mudança. A humanidade já passou por muita coisa e, apesar dos pesares, sobreviveu e evoluiu. Estou certa de que passaremos por isso e sairemos mais fortes e melhores.

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  2. O isolamento e a leitura do seu texto me lembram de uma bela reflexão que pode ser encontrada no livro O Dilema do Porco-espinho do professor Leandro Karnal:
    "Terminaremos todos solitários em um túmulo algum dia. Exercitar o lado criativo e libertador do isolamento é evitar que o túmulo surja ainda em vida. Viver exige pausas, pensar implica certo isolamento, ser feliz com quem você ama é, acima de tudo, ter a experiência da solidão antes e durante o amor. Você precisa de muitas pessoas. Viver é amar e amar implica outros seres. Lembre-se apenas de que você também precisa de você e esse mergulho em si é vital."

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