domingo, 12 de fevereiro de 2017

Lirismo


Certa vez, alguém me disse: "Lirismo exacerbado". Na hora brinquei: Tem vacina? Mas pensando bem, não precisa de cura, mas de doação. É o excesso de sensibilidade que corre nas veias. O fluxo contínuo de intensidade. São os sonhos que se movimentam na alma. É uma overdose de encantamento. Um transbordar de sentidos e significados. A lira é como a harpa, um tom celestial, mas porque se é instrumento dos anjos, nem sempre nos leva ao céu? Talvez, porque o paraíso não caiba inteiro em corpos mortais, que sem conseguir guardá-lo em si, abre a represa de versos, lágrimas e paixões. Como os vulcões que revolvem seu íntimo na erupção que causa renovação. Ainda assim, assusta pelo incontido, pela força brusca e o mistério de expelir suas profundezas.
Sou um dependente lírico. Sofro deste vício de tudo sentir demais em uma devastação emocional.
Mesmo quando as circunstâncias me dizem para calar. A boca fecha, mas o coração dispara. Os passos estancam, mas os pensamentos correm. Tudo em mim diz "não", mas a emoção se rebela e logo, revela. E se é impossível guardar, que saia de mim como asas. Me liberte e me leve à outros mundos! Que me incendeie até que eu renasça do meu pó. Quero voar, ainda que seja queda! Quero provar, ainda que seja amargo. Quero amar, ainda que doa. Quero tudo, ainda que seja nada. Quero viver, ainda que seja morte. Morro quando ignoro, que não sou diferente por sentir assim, a flor da pele, mas que o mundo é igual pelo que se priva de sentir.

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