sábado, 18 de julho de 2015

Maldita Felicidade


O filme "Jornada da Alma" trata do rompimento do famoso psiquiatra Carl Jung com seu mestre Freud e a descoberta de cartas trocadas em um relacionamento proibido com sua primeira paciente.
Em determinada passagem, diante de uma fantástica ópera ao lado da sua então amante, Jung em lágrimas profere: "Maldita Felicidade"! Embora fosse um momento de plenitude e libertação, aquele instante poderia representar o fim da sua promissora carreira e mesmo comprometer os demais envolvidos.
Sem entrar nos méritos morais e éticos da situação, nunca esqueci desta expressão, que me pareceu tão contraditória, intensa e rica de simbolismo.
Naquele momento de êxtase pleno, quase como um suspiro da opressão diária, o "maldito" representava todas as correntes e as prisões superadas. Uma liberdade que mesmo devendo ser reprimida, foi permitida e aceita como um grito que gostaríamos de dar diante de todas as nossas limitações e medos,  o que por convenções ou restrições íntimas, sufocamos, ainda que constantemente faça parte de nós.
Como um pensamento proferido, uma atitude realizada, um desejo satisfeito, um medo enfrentado..
Uma libertação das regras, que muitas vezes ditamos e repetimos como hábitos impensados, que ainda que não faça diferença ao mundo, fere quem somos ou gostaríamos de ser. Nos tornando juízes mais severos do que qualquer julgamento alheio. E nessa ânsia "perfeita" pela felicidade, acabamos por distanciá-la de nós.
Romper, aceitar, quebrar a rotina, fazer as mesmas coisas de forma diferente, surpreender e se deixar ser surpreendido, se libertar, ainda que momentaneamente, dos personagens que assumimos no dia a dia, esquecermos o tempo, as fórmulas, deixarmos ser ou "let it be" (como diriam os Beatles)...
Não é um movimento fácil, afinal há raízes e paradigmas que se cristalizam em nós ao longo de nossa constante transformação e o que por sua vez justifica o uso da expressão "maldita". Afinal, maldições para serem quebradas por vezes exigem longo tempo de dedicação e entrega aos "rituais".
E ao dizer isso também não estou pregando o erro, o egoísmo ou a indiferença...Alias egoísmo e amor próprio não são sinônimos.
Se amar e respeitar é o primeiro passo para amar e respeitar de forma inteira todos aqueles que tivermos a oportunidade de conviver. Sem aparentar ser e simplesmente sendo!
E assim ligaremos a chave da fluidez, da flexibilidade e da aceitação... e suspiraremos com vontade: "Maldita felicidade"!