terça-feira, 13 de outubro de 2015

Querer



Tinha fantasias poéticas, mas transcreveu a realidade mesmo sem rima
Queria viajar e desbravar o universo, conformou-se com alguns versos e uma viagem interior
Queria mudar o mundo, consolou-se em mudar o seu mundo
Amava cachorros, mas ganhou um gato e o amou do mesmo jeito
Desejava tocar piano, mas recebeu um violão e transformou teclas em cordas.
Sonhava em ser amado, mas aceitou simplesmente amar
Muitas vezes, ansiou apenas um abraço e preencheu o vazio dos braços com uma almofada.
Amava conversar e sem ter quem o ouvisse, escreveu.
Algumas vezes quis partir, mas sem ter para onde ir, simplesmente mudou o lugar do que pensava
Queria construir grandes obras, felicitou-se com pequenos lares
Queria ter filhos, mas fez de todas as suas criações parte de si mesmo.
Queria sentir menos, mas sua emoção nunca parou de crescer.
Queria ser adulto, mas não conseguiu abandonar a criança que habitava o seu ser.
Quis rir, mas quando não era capaz, se esforçava para fazer os outros rirem.
Queria muito se achar, mas alegrou-se em não se perder.
Quis por muito tempo a liberdade da alma, mas aprendeu a ver beleza na prisão do corpo.
Queria uma religião, mas fez do amor, a sua fé.
Ainda que algumas vezes, desejasse pedir, se limitou a agradecer.
E quando esperava ganhar, fez da perda a vitória de aprender com ela.
Aquilo que não pôde fazer, adaptou.
O que não pôde adaptar, aceitou.
O que não pôde aceitar, deixou ir embora.
E aquilo que partiu, quando se distraiu, novamente encontrou!
Não do mesmo jeito, um pouco modificado, mas com o perfume da primeira esperança que sentiu.
Não desejou mais nada, simplesmente sorriu...