segunda-feira, 10 de abril de 2017

Um pouco de amor


-"Um pouco de amor?"
Lá estava ele sentado, esfarrapado com sua latinha com o desenho de um coração. Seguia repetindo o seu chavão até que uma mulher lançou uma moeda, sem mal olhar para ele.
Ele a chamou: "Senhora, deixou cair uma moeda aqui. Tome o seu dinheiro."
Ela achou que era uma grande desfeita e bufou: "Mal agradecido". E foi embora.
Alguém observava a cena e o interpelou, após a saída da brava senhora: -"Porque recusou o dinheiro?"
Com muita tranquilidade ele respondeu: "Não quero dinheiro, quero amor".
E curiosa, a nova interlocutora continuou: "Mas como alguém pode lhe dar amor? Você é um estranho. Vive na ruas e com todo perdão, é maltrapilho e isso intimida sobre suas intenções."
Ele não se abalou. Parecia acostumado àquele tipo de argumentação e respondeu prontamente: "Não mendigo melhores condições, mendigo um pouco de atenção. Um olhar que pare, por um instante, sua correria de ir e vir e consiga me ver. O amor que peço não é muito. Pode ser uma palavra, um gesto, um aceno, um sorriso... E sim, sou maltrapilho. A falta de amor me fez assim, pobre! Mas não de moedas, mas de emoções."
Havia uma grande verdade e simplicidade naquele homem de olhar tristonho, mas que ainda assim, sorria. Talvez, tomada por isso, ela abaixou e o abraçou forte e demoradamente, depois seguiu o seu caminho.
Ela doou o amor que ele precisava, mas no fim, ela foi a maior beneficiada. Sorrindo emocionada, ouviu ao longe ele dizer agora: "Doa-se amor".

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