sexta-feira, 9 de junho de 2017

Carta à uma desconhecida


Você tirou um filho
E eu nem cheguei a ter um
No seu caso, foi imposto
No meu, solidão
Você casou
Mas não foi feliz
Não casei
Mas também não fui
Você abriu mão de seus sonhos
Por alguém que nunca deu valor
Eu abri mão dos meus
Por não encontrar meu valor
Você sofreu
Eu também sofri
Cada um no seu canto
Cada um no seu conto
Vivemos dores juntos
Mas separados
Unidos na desunião
Pelos desencontros encontrados
Enquanto diz:
Antes só, que mal acompanhada
Digo:
Quando se é só, até mal acompanhado
Contradições da vida
Seria diferente
Se tivéssemos nos achado
Mas não há tempo de nos fazermos rogados
Quando me diz:
Gostaria de escrever para ser lida
Retruco:
Mesmo escrevendo, não somos
Os caminhos seguem
As coisas mudam
O que nos espera?
O que esperamos?
Nada importa
Só o nosso portar
E o acreditar no sorriso
Que ainda devemos dar

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