domingo, 25 de junho de 2017

O elevador


E eles entraram...
Toda espontaneidade deu lugar a um estranhamento.
Os primeiros, logo ocuparam os cantos e se puseram em posição rígida, como uma armadura decorativa.
Houve um certo constrangimento e confusão com os botões.. Todos queriam apertar e se livrar logo da situação para retornarem às suas posições.
Segundos depois, alguns sacaram o celular e fixaram os olhos nele na vã tentativa de se isolar em um cubículo de 1,5 x 1,5 m.
Tentavam, inutilmente, distrair a mente, mas as demais presenças se impunham.
Uma moça até se virou de costas para os demais, encarando o espelho e penteando os cabelos. Esqueceu que o espelho refletia, logo ela via todos e percebeu que também a viam.
Os demais não sabiam o que fazer. Olhavam para o mostrador, torcendo que em um passe de mágica, o décimo andar se tornasse o térreo. Olhavam para cima, para baixo, para os lados,...Colocavam as mãos nos bolsos, nas bolsas, entrelaçavam as próprias mãos, estalavam os dedos...Tudo parecia em câmera lenta.
Ninguém ousava falar uma palavra. (Na verdade, mal respiravam)
Cada um que saltava em um andar pelo caminho, devolvia um pouco do ar preso pela apneia dos demais. Alguns, um pouco mais aliviados, quase suspiravam.
E depois de um minuto, que pareceu uma hora, chegaram no térreo e aceleraram os passos o quanto puderam para se perderem uns dos outros.
Eles sabiam demais, compartilharam a privada proximidade.

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