segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A árvore

Hoje não é o dia da árvore, mas gostaria de celebrar uma. Centenas de pessoas passam por esta mesma rua todo dia no RJ, possivelmente sem a notarem e por isso mesmo, digo que é “minha” árvore. Meus olhos sempre tiveram o estranho costume de se prenderem aos detalhes. Há anos a observo, mesmo que estejamos a milhares de metros de distância. E o que tem isso de importante?
A vida acontece nos detalhes. O que a diferencia de todas as outras que estão logo em frente e acessível às mãos? A improbabilidade de uma palmeira, nascer isolada em uma superfície rochosa na beira de um abismo e que siga resistindo firme por tanto tempo à todas as intempéries, apesar de toda instabilidade de onde cresceu. Imaginar que debaixo de sua copa, se tem a amplitude da visão de toda uma cidade que se movimenta tão apressada, que nem um olhar, em algum instante, tenha parado para nota-la. E quantas oportunidades na vida perdemos vendo o macro, sem se atentar ao micro?
Se nada disso fez sentido até então, leve isso para sua vida afetiva, profissional e social. Quantas vezes suas expectativas se prenderam ao que via ou quantas vezes algo sem significado poderia ter mudado sua percepção sobre viver? As coisas mais importantes não precisam de muito para significarem.
Seja um sorvete no fim do dia, comer pipoca vendo um filme, um lugar novo, uma conversa sem tempo e fim, o sorriso de uma criança, as lembranças de um idoso, uma flor que surgiu inesperadamente no caminho, um abraço seguro, um elogio inesperado ou simplesmente ajudar o outro.
Costumamos banalizar tudo que foge de nossas idealizações, vivendo os detalhes como consequência, ainda que sejam eles a causa de, dia após dia, levantarmos.
Essa árvore "perdida" é onde sempre me acho. Se ela sobreviveu ao improvável porque eu não poderia sobreviver também? Ela não precisa ser notada para existir, porque a vida não precisa de grandes acontecimentos para que vire "Nota".
E mesmo que ninguém a note, eu sei que ela está lá. Talvez explique a passagem no livro o “Pequeno Príncipe” que diz: “Os homens cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa.”
Que no seu caminho diário, ache a sua árvore também para que sempre que estiver perdido (a), saiba para onde voltar.

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