segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A origem das relações abusivas

Sempre me perguntei o que faz que algumas mulheres tolerem grandes traições e abusos, persistindo em relações tóxicas, uma vez, que o inverso dificilmente aconteceria? Como já ouvi algumas vezes: “É a crença no amor”. E desde quando o amor torna alguém submisso dando poder ao outro de dominador? Sempre precisamos de um motivo para justificar nossas ações e nisso, diante de um eventual fracasso, corremos o risco de nos agarrarmos a um ideal e sermos injustos conosco mesmos. Neste caso específico, o amor é consequência e não a causa que aprisiona alguém. Assim, isento o amor de ser vilão ou herói nessa história.
Você percebe que envelheceu quando recorre ao passado para explicar o que não entende no presente. Despindo o romantismo das fábulas medievais, a instituição casamento por séculos foi um grande negócio. Negócio intermediado por um dote no qual a família da mulher “vendia” a noiva, gostasse ela ou não. Muitas vezes, visando status social de ambas as famílias, ou no caso de famílias nobres, uma grande jogada política que fazia do seu potencial adversário, um aliado.
Entrando na intimidade do casal, tínhamos uma esposa sem direito algum, senão carregar o nome do marido e dar filhos ao mesmo (de preferência meninos). Uma “escravidão” socialmente aceita e apoiada pelo Estado e pela Igreja. Sem direitos, a mulher se via obrigada a tolerar os desmandos e traições do marido, que por sua vez, se sentia provedor e proprietário da mesma.
Divórcio era impensável, contrariava as leis “sagradas” e humanas não importando o “inferno” que passasse. As mulheres, como os demais escravos, não tinham direito sobre suas próprias vidas e caso se rebelassem ou fugissem, seriam responsabilizadas e condenadas, não importando a justa motivação. Seriam execradas socialmente e passariam a viver a partir de então, marginalizadas e carregando uma má fama até o fim de seus dias.
No Brasil, apenas com a República em 1890, o casamento perdeu o caráter religioso e em 1916, o divórcio se tornou um instrumento legal. Legal juridicamente, porque os juízes dos “bons costumes” continuariam sua peregrinação de condenações injustas.
E assim, retorno ao presente e nem parece que se passaram séculos dessa história. Homens traindo, matando e abusando psicologicamente de mulheres “escravizadas”, dizendo para si mesmas ser um ato de amor para escaparem do peso de um julgamento que carregam inconscientemente. Porque assim como no passado, lutar pela sua liberdade parece uma luta contra sua própria vida e nisso, infelizmente, muitas vezes, perdendo sua vida literalmente no processo.
Felizmente, a história, mesmo lentamente, evolui. E vícios sociais se revelam uma droga e por consequência denuncia usuários dependentes da mesma. Nesse caso, o tratamento precisa ser uma conscientização coletiva. Os tempos mudaram, mas é preciso mudar o tempo que carregamos dentro de nós. Não se aprisione em ideais, seja o seu ideal e que o amor ao próximo venha de mãos dadas com o amor próprio.
Empatia não é apenas se colocar no lugar do outro para saber o que sente, mas pensar se o outro no seu lugar aceitaria as mesmas atitudes.
Dizem nos grupos anônimos: Mais 24 horas. Faça a diferença na sua vida nas próximas 24 horas. Termine com qualquer mal que vivencie e que a sua vitória seja assim, a vitória de todos por um mundo melhor.

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