terça-feira, 8 de julho de 2014

Sentimento



Concordaria com todos os céticos, que a vida é um processo meramente concreto e material, se os sentimentos não existissem. Mas como posso ser tocado por coisas que não toco? Porque a sensibilidade não pode ser traduzida plenamente e apesar de sua aparente abstração, ser tão clara em sua manifestação? 
Tenho certeza que infinitas seriam as perguntas e ainda mais certo que poucas seriam as respostas. Porque sentimento não pode ser explicado, ele simplesmente existe. Ele corporifica o imanifesto. Dá sentido ao ilógico. Faz a certeza sobrepujar as dúvidas, elevando a convicção a um patamar acima da própria razão. Sentimento é o movimento do sentir. Sentir também é o radical de consentir, porque só é possível aprovar o que primeiro foi sentido.
E sentindo o homem recria o seu mundo ou seu entendimento sobre o mesmo. O sentimento é o grande modelador, capaz de representar toda a grandeza e perfeição da alma em um simples gesto imperfeito do corpo humano. Um simples verso escrito, expressa a infinidade de todo o Universo. Uma pincelada de cor ou o olhar por uma fotografia, reproduz a natureza. Uma lágrima pode ser convertida em uma nota de piano, assim como, uma suave melodia pode descerrar sorrisos .
Sem sentimento não poderíamos amar e sem amor a comunicação universal estaria fatalmente sentenciada. Como, por exemplo, homens e animais (espécies tão diferentes) viveriam juntos, sem conflitos, se não existisse um sentimento maior que os permitisse entender e respeitar uns aos outros, sem o artifício da palavra? Como um quadro ou uma música podem ser entendidos em qualquer parte do mundo por mais diversas que sejam as culturas?
Comumente, escutamos como designações de Deus: a supremacia, o imensurável, o imaterial, o único, o eterno, a criação, o amor...Que aspecto da existência mais se aproxima de tais características, senão o sentimento? Logo, sentir é um atributo de nossa essência divina.
Ainda haverá quem diga que nada há além do caos do mundo e aglomerados de átomos. Mas a inteligência mais apurada do mundo, rende-se a fragilidade, ignorância e inocência de uma criança e mesmo sem entender e ver o porquê, ninguém duvida da existência do sentimento. Talvez, esta seja a única prova incontestável do espírito. Porque ainda que nossas crenças tenham base nos fatos concretos é impossível negar ou duvidar da verdade, ainda que subjetiva, de nossos sentimentos. "Sinto", logo existo.

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