terça-feira, 8 de julho de 2014

Um dia de solidão



Um dia de solidão seria capaz de transformar o olhar de quem atento estivesse. Inicialmente acometidos pela cegueira e surdez da alma, seria doloroso perceber a escuridão e o silencio do mundo. Até que a luz e o som da percepção nascessem e os sentimentos se elevassem à pele para registrar os estímulos do entorno. 

Neste dia, surpreendentemente, reconheceriam cada detalhe do universo, que somos convidados a estar. O abraço quente dos primeiros raios da manhã, a caricia dos ventos, as lágrimas compassivas e misericordiosas do banhar da chuva sobre o coração, a alegria expressa no sorriso das crianças, os desenhos grafados em conjuntos de constelações, a ternura melodiosa nos cantos dos pássaros e o brilho do olhar no luar que rompe as sombras da noite.

Porque solidão é vinculada a tanto sofrimento? Uma emoção que julga distante, o que mais próximo de cada um está? Uma busca fora de si de tudo aquilo que está guardado dentro, ignorando a palavra intima que fala?

As relações refletem a essência e apenas por ela se dão. A dor apenas funciona como o parto do despertamento, apontando o amor que adormece no útero do pensamento.

Uma abertura para este momento, revelaria um novo mundo: todos passariam a ser importantes, não mais apenas os restritos redutos da convivência. Cada personagem que passasse no palco da vida, deixaria com sua presença uma impressão não mais esquecida no tempo e reinaria a felicidade desta comunhão “desconhecida”.

Ninguém estaria mais só, mas cercado pela família universal. Não ouviria mais o eco do vazio, pois escutaria a palavra divina tocar o instrumento do corpo, como o som da maestria de um musicista sobre seu violino. Subitamente a claridade voltaria e uma infinidade de cores seriam percebidas, não mais limitadas nas extremidades, mas em todas as matizes que fazem esta suave transição, tal como o arco-íres.

Aqueles que caminham sozinhos, aproveitem esta oportunidade para transformar, tendo confiança que nenhum caminho tem outra finalidade senão a educação, pois apenas pela compreensão, reconhecemos a liberdade e o amor. Nada que seja sagrado pode ser definido pela negação. Os únicos obstáculos e restrições da estrada são: a própria consciência nos círculos repetitivos que criamos em nossas existências.

Depreender, depurar e aprender, enquanto imerso neste instrumento chamado corpo. Um mergulho nos mistérios da vida, durante este sonho da alma, que chamamos existência. Quando o espírito partir, apenas portamos os frutos colhidos durante este período vivido.

Escute a intuição e o que cada um que cruzar o caminho tem a dizer, preferindo o silencio da boca e a utilização do ouvido.

Que a paciência possa ser o caminho da paz. A felicidade atingida pela habilidade da fé e que a caridade exercite o carisma!

Ainda assim, quando nenhuma palavra os confortarem, procurem lembrar da sombra que os acompanha o tempo todo e que na correria dos seus passos, sem olhar para o chão, dela se esquecem.

Um comentário:

  1. Lindíssimo! Obrigada pela leitura. Toca na essência da alma. Abraço poético

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