terça-feira, 8 de julho de 2014

Sobre a vida e a morte



Vivemos e morremos diariamente. Alimentamos a vida, construindo o que somos e fugimos da morte, atribuindo a ela, um sentimento de vazio ou destruição, quando poderíamos ver na mesma, uma possibilidade de transformação. Pois a
presença vive na lembrança, só existe ausência no esquecimento. 
Ver a vida como uma viagem...com algumas paradas...turbilhão de pessoas "desconhecidas" que se encontravam temporariamente e se tornam "conhecidos". Embarques conjuntos nos quais partilhamos experiências adquiridas, mas sabendo que em determinado ponto, alguns desembarcarão, outros novos chegarão e ainda haverá quem vá conosco até o nosso ponto destino. A vida é este movimento onde tudo é partilhado.... E nessa correnteza que é o fluxo da vida... encontramos na morte não o fim, mas a transformação.
A cor preta é tão vinculada ao que é fúnebre e escuridão, ao luto do Ocidente. Mas certa vez uma amiga taoísta, me revelou que no Oriente, o preto representa a mudança de um ciclo. Sempre quando me via de preto perguntava: O que está mudando? E eu brincando respondia: Sou uma metamorfose ambulante (andava muito de preto na época). 
Mas hoje pensando um pouco mais a esse respeito..lembrei do universo cujo fundo é negro e vi então que se pensarmos neste, tudo está sendo criado e renovado, transformando-se.. Nada é perdido.... Acho mesmo que a morte muitas vezes se revela mais na vida do que na partida propriamente. Morremos todas as vezes que
desacreditamos em nós, que abandonamos nossos sonhos, que silenciamos
o sentir em detrimento do que julgamos "pensar", todas as vezes que na
tentativa de controlar a vida , a seguramos com toda força e temos a
triste constatação de que como água.. ela escapa de nossas mãos.
Sócrates alegaria que " se é preciso estar vivo para morrer, é preciso estar morto para viver" e o Pequeno Príncipe complementaria: " Não venha ver minha partida, o meu corpo cairá com uma casca de arvore seca, mas a casca de árvore seca não é
triste. Lhe deixo uma peça, como não saberá em qual estrela estarei,
todas as estrelas lhe sorrirão"
è assim que percebemos que as separações são uma ilusão. Aquilo que
mais buscamos separar são complementares. Estamos na terra, para
criarmos pontes entre os extremos e não para separá-los. Uma vez que
mesmo sem vermos a ponte, as margens se ligam pelo mesmo rio. Como
posso acreditar que eu terei fim? Se nem as poesias terminam com
aspas! Muitos alegarão: claro que terminam! Mas perceberão que a mesma
poesia lida e relida nunca será a mesma. E muitas vezes sem vê-la,
refletirá sobre ela e ela existirá para você de uma forma diferente da 
que estava acostumado quando com o livro na mão.
O corpo definitivamente é a carruagem conduzida pelo cocheiro da
razão, cujas rédeas pensamentos em suas escolhas direcionam
os caminhos. O fato de descer da carruagem, ainda nos mantem livres em
nós mesmos. Não encerremos nossas possibilidades nos limites da
matéria. Enquanto pudermos amar, viveremos em processo de criação e expansão! E
quem cria, vive duas vezes! O ar está repleto de vida: oxigênio,
moléculas, bactérias e o fato de não vê-lo, não anula sua existência.
E se falamos de vida e morte, inevitavelmente nos perguntamos: O que é Deus? Despindo a forma da palavra que tanto poderia ser visto como caminho universal no
Oriente ou este Pai-Mãe Ocidental. 
Numa metáfora imperfeita, poderíamos tentar pensar em Deus como um corpo universal do qual nós, células vivas e invidualizadas,
nos aproximando uns dos outros, geramos os órgãos que com
características particulares funcionam em conjunto com toda a
diversidade de outros órgãos para a sustentação da vida. Só posso
falar de Deus pelo lado de dentro.. porque como célula não tenho visão
suficiente... para romper os limites da parede do corpo e ver a
amplitude do que está além dele. Retomando a imagem do universo..Poderíamos pensar no UNO VERSO... No qual toda poesia se encontra.
Mas se isso parecer complexo, olharei para a vida e me atentarei a tudo que for criado, aceitando a criação como manifestação de um grande amor e por si só, assim, Deus, também seria traduzido simplesmente por AMOR. Mas se ainda assim, preferir olhar a morte, que não veja nela o fim de uma sentença, mas a transformação que renova, como uma grande construção, na qual destruímos as paredes, para criar uma nova forma de viver.

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