quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Estranho Conhecido


Quantas pessoas passam diariamente por nós...
Cada uma com suas histórias, dores, amores, filhos ou solidão...
Recolhidos no silêncio do seu mundo íntimo, sem que imaginemos a profundidade de seu universo, na maioria das vezes, disfarçado por um passageiro semblante.
Um grupo que passa rindo ou a mulher solitária chorando ao celular, sem que saibamos suas motivações.
Um morador de rua deitado sob a marquise, que mal conseguimos ver e imaginar o que lhe levou até aquelas condições.
Um homem passeando com seu cachorro distraído ou outro tirando selfies para publicar em alguma rede social...um dando atenção e outro buscando por ela..
Todos anônimos e desconhecidos, coadjuvantes de nosso caminho, até que a vida nos faça "esbarrar" e por algum "destino", integrem nossa história.
Trazendo para nosso mundo, novas cores e sentidos, através de pensamentos e sentimentos, parcialmente semelhantes ou completamente diferentes do nosso.
Um convite para uma revisão constante daquilo que nos acostumamos a olhar sempre pelo mesmo aspecto.
Embora sejamos autores e direcionamos cada linha que escrevemos de nossos passos, cada um que nos deparamos acresce e adiciona uma nova parte ou adendo neste roteiro.
Cada pessoa é uma oportunidade única de sermos melhores. Oportunidade nem sempre aproveitada pelo apego a conceitos e ideologias ou pela auto-defesa que ergue "muros de contenção."
Escute e dê atenção ao que cada um tem a dizer e amplie seus horizontes
com o que lhe é dito.
Evite a rejeição surda, os pré-julgamentos que massificam e nos cegam para os detalhes únicos e o falar constante que emudece e impede a manifestação alheia.
Permitam mudar sempre e receber indiscriminadamente. Desarmemos nosso interior.
Todos dizem que precisam de paz, mas a paz precisa de todos, uns pelos outros.

Proselitismo


Ela se tornou vegana
E pregava contra quem comia carnes

Ele aboliu o refrigerante e "fast foods"
E insistia para que os outros o acompanhassem

Ela torcia pelo time A
E ironizava todos os demais

Ele optou por ter relações íntimas apenas após o casamento
E era severo no julgamento daqueles que consumavam antes

Ela era contra programas de TV populares
E costumava ofender quem assistia

Ele defendia fervorosamente um partido político
Fingia não ver os equívocos, apontando os defeitos dos demais

Ela entrou para ONGs que defendiam a natureza
Se amarrava em árvores, mas era incapaz de um ato de altruísmo por alguém

Ele criticava a esposa pela bagunça dentro de casa
Mas jogava lixo na rua

Ela decidiu que preferia o parto natural
E criticava todas as mães que optavam por cesariana

Ele falava e exaltava uma religião
Mas segregava quem não acreditava nela

A opinião pessoal
Que não respeita as diferenças

Que tem justificativa para todos os atos
Mas não tolera quem diverge dos seus

A inflexibilidade e rigidez
Que engessa as formas de ver e encarar as situações

A insegurança indenizada na violência e condenação
A frágil escolha que ataca pelo temor da argumentação

Dos pequenos proselitismos
Aos grandes fanatismos

Deslocamento


O contraste entre nossos sonhos e a realidade, eventualmente, resulta em uma sensação de deslocamento. Embora "presente", a mente
parece "ausente" como se fosse uma distante espectadora. 
Este sentimento é uma espécie de "calibragem" interior. Uma tentativa íntima e inconsciente de nos ajustarmos e adequarmos. Um choque entre a redução das expectativas e a busca por novos parâmetros que definam o momento que passamos.
Neste processo tudo parece turbulento, mas assim como na mitologia: "o mundo foi feito do caos". A aparente desordem e desorientação, anseia e se direciona para a ordem e um sentido.
Para "pertencer", antes, é necessário se conhecer. Não somos definidos pelo meio ou relações, mas nos posicionamos neles de acordo com o que acreditamos ser.
E passado o casulo escuro de um momento, abrimos as asas de um novo olhar e com ele, o caminho da aceitação. Como a morte de uma parte para o nascimento de outra, agora, confiante, integrada e com ajustados ideais.

Conjugação da família moderna


Eu vivia com pai e mãe
Tu vivias com dois pais
Ela vivia com 5 gatos
Nós vivíamos só
Vós vivíeis com uma mãe divorciada
Eles viviam com as avós

Eu tinha uma irmã de sangue
Tu tinhas um irmão adotivo
Ele tinha um meio irmão
Nós tínhamos amigos que considerávamos irmãos
Vós sois filhos únicos
Eles tinham irmãos que não conheceram, pois foram separados na adoção

A mulher irreal


Uma testa com Botox e esticada
Um busto siliconado e plastificado
Uma boca preenchida
Um rosto com peeling cristalizado
A barriga seca e trincada
Negativa e lipoaspirada
Maquiagem permanentemente tatuada
Cabelo absurdamente alisado
Musculosa mas com a perna fina
Uma voz que de tanto hormônio desafina
A mulher irreal
É como qualquer outra igual
Uma perfeição imperfeita
Que beira o artificial
A assinatura do charme e beleza
Está esculpida na própria natureza
Assimétrica e desigual
Mas que no mundo não há
Mais nenhuma outra igual

Contramão


O mundo aterra
Eu decolo
O mundo gira
Eu paro
O mundo vai para esquerda
E eu para direita
O mundo racionaliza
Eu sonho
O mundo cala
E eu falo
O mundo dorme
E eu desperto
O mundo esquece
E eu lembro
O mundo ri
E eu choro
O mundo cruza os braços
E eu abraço
O mundo range os dentes
E eu beijo
O mundo teme
E eu acredito
O mundo na contramão
E eu amando o mundo

Contradições


A vida em contradições...

Do amor não recebido
E daquele que não soubemos dar

Do trabalho que paga pouco e amamos
E daquele bem pago que daríamos tudo para mudar

Da esperada oportunidade perdida
E de ver a vida mudar sem esperar

Do amigo que some quando precisa
E daquele desconhecido que faz tudo para ajudar

De nos importar com algo sem valor
E não valorizar o que deveria importar

Da viagem equivocada
E de onde estamos ser o melhor lugar

De fantasiarmos uma realidade
Quando apegados a uma realidade que não conseguimos largar

De fraquejar com saúde
E na doença, a força encontrar

De criticar certas posturas
E sem perceber agir com o mesmo "ar"

Ironias ou aprendizados?
Render ou lutar?

Entre dois pontos diferentes
Está você no meio, tentando se situar

Apagar


Então eu apaguei...
Como a flâmula trepidante que se esvai
Como o apertar do "delete" que retrocede e desconstrói as palavras
Como a noite que descolore o céu em breu
Como o desligar de uma máquina que cessa a eletricidade dos circuitos
Ou do cessar das sinapses do cérebro no silêncio da mente
Como o esfarelar de uma borracha
diluindo as linhas antes fortemente marcadas
Sim apaguei....
No mundo dos sonhos, o corpo não entra
E é preciso que ele durma para que a alma desperte
Os olhos que fecham as portas para a janela da mente que abre
Aterrando a razão para que voe a emoção
Na consciência da inconsciência
De não precisar mais ter
Simplesmente ser

Devaneio


A tela que teclo
O elo com ela
A teia que tece
A ala da fala
Sem rodeios dos meios
Livre, ainda que prive
De dar, mesmo sem ar
Um só motivo para ser ativo:

Em seus braços, meus laços
Em seu beijo, me vejo
Em suas estradas, minhas asas

Inevitável encontro, variável conto
Era uma vez, ao invés, de já era
Uma pequena menção a esta emoção
Ao findar em branco com um brando brindar
De meus anseios em devaneios

Só queria dizer...


Temi chamar e ser invasivo
Temi me calar e ser esquecido

Tive dúvidas sobre o que iria achar
Mas tinha certeza que só precisava lhe buscar

Admirava seus detalhes em segredo
Sonhar com você era quase sagrado

Precisava só de uma chance
Bastaria a pequena abertura de um lance

Para que novamente reinasse a paz em meu peito
E que não parecesse descaso ou despeito

Perdoe meu olhar que teima em lhe seguir
E este sentimento que não me deixa ir

Ainda me atrapalho, embaralho e tropeço
Mas releve o que lhe peço
Tolere e não mais me despeço

Porque parte de mim é sua
E a parte que resta, também

A mulher moderna


Correu de manhã pelo calçadão da praia, olhando o mar
Refletia sobre sua vida, suas escolhas e seu lar.
Tomou o café cercada da família
Se arrumou com um blazer, uma saia reta e seguiu sua trilha.
Retocou o batom no retrovisor
E escondeu com um sorriso sua dor
As unhas pintadas de vermelho sobre o volante
A rádio tocando uma música dançante
Acelera o carro com seu salto
Acompanha e cantarola, o som, bem alto
O mundo é dela e cabe quase todo na bolsa que carrega
Ali em seu universo profundo, protegida nos sentimentos que rega
Chega na empresa e lidera
Marca o começo de uma nova era
Até que volte para casa e tire os sapatos
Sem mais se preocupar por seus atos
Relaxe, enquanto der!
Volte a ser filha, amiga, mãe ou simplesmente, mulher

O amor e o Ser


Quisera em tempos de medo falar sobre o amor suscitando que
recordássemos este ponto para o qual todas as estradas da vida
convergem. Recordei os grandes poetas Victor Hugo, Vinicius de Moraes
e Neruda, mas embora tenham erguido bandeiras de louvores ao
sentimento, sempre o vincularam ao outro, no caso a exaltação da
mulher. Mas onde nasce o amor no ser?
Somos duplamente filhos do amor no instante que o nosso corpo é um ato
de amor do mundo e nossa alma um ato de amor do universo, um uno verso da criação! Mas então porque dividimos o amor, o setorizando em nossas
vidas?
A primeira recordação quando me fiz essa pergunta foi o mito grego das
almas gêmeas: Um ser UNO hermafrodita, tão forte, capaz de desafiar o
Olimpo. Zeus diante da ousadia daquele ser lançou um raio o bipartindo
em duas existências que se buscavam, pois apenas juntos, poderiam
recuperar a força dos primeiros dias.
Para mim essa é a grande separação do amor no pensamento dos homens.
Não somos metades que se buscam. Somos dois inteiros que se encontram!
A separação não se deu entre sexos, mas se deu internamente, separando
razão/ emoção.. visível/invisível... matéria/espírito...feminino/
masculino..Quando tudo que buscamos separar se complementa! Somos o
oceano contido em uma gota. E a nossa única forma de reequilíbrio é a
criação de pontes que sejam capazes de unir os extremos e para isso só
há um caminho: o auto conhecimento. Os relacionamentos - Re (tornar)
aos laços, é o religar com nós mesmos. Talvez a grande dificuldade de
enxergarmos o espelho da alma no outro esteja justamente na imagem
pré-idealizada que fazemos de nós mesmos. "Detesto tal pessoa", mas
não raro o detestar (de - negar/ o que testamos) é o primeiro passo de
afirmar o que ainda portamos dentro de nós. Amar ao outro é a forma
mais plena de auto-conhecimento. Uma vez que compreendê-lo resulta na
própria compreensão.
Para complementar essa pequena reflexão sobre o amor resolvi trazer a
tona, alguns pontos que talvez sejam desconhecidos por alguns como a
essência da Santa tríade repetida de forma tão mecânica nas igrejas e
tão pouco trazidas ao dia a dia. A santa tríade católica é oriunda da
Santa tríade egípcia: Horus, Osiris e Isis. A igreja católica no
inicio da sua formação, precisando de bases para instaurar seu
conhecimento se valeu da mitologia antiga para criar suas próprias
imagens. Se de um lado ofertou duas asas ao homem: "amor e sabedoria",
mostrando assim o caminho da evolução. No outro o "tri-partiu" em Pai
- Filho - Espírito Santo.. que traduzindo poderia ser lido como:
Espírito - Matéria - Mente/ Ou ainda Pensamento - Palavra - Atitude..
ou ainda Ser - Ter - Fazer. O amor é a conjunção da tríade! é a junção
de todas as cores que resulta no branco.. Se o preto demarca a transformação de um ciclo ou a ausência de cores. O branco é a origem e o inicio a presença de todas as cores. Tudo estava unido até ser separado.
Muitas crianças brincavam de desmontar brinquedos para entender o
funcionamento. Eu desde pequeno desmontava palavras para entender o
sentido das mesmas. E se a conseqüência do amor é sempre a felicidade.
Busquei chegar a origem pelo fim... Felicidade = Fé + Licita +
habilidade. Habilidade da fé... fé não é doutrina, é confiança intima
ou consciência da essência. Buscando de novo a sentença de meu amigo
Pequeno Príncipe Fé é "o essencial que é invisível aos olhos e que só
se vê bem com o coração!"
O amor é um campo único.. embora muitas vezes usemos enxadas
diferentes para cultivá-lo: religiões, família, relações afetivas,
etc...
Assim conclui que embora seja lei universal, o amor não julga, é
compreensão! Embora o amor seja atração entre afins, ele não
aprisiona, pois é libertação! Embora o amor seja como o vento a
impulsionar as velas, ele não determina, é livre arbítrio.
Não querendo me estender mais, até porque meu objetivo é unicamente
"Levantar a poeira" das reflexões para que cada um pinte suas próprias
estrelas ou vente seus próprios versos. Findo com a mensagem do
celebre Khalil GIbran:
"Embora o amor vos exalte, ele também vos crucifica. E tanto ele age
em vosso crescimento quanto em vossa poda. Assim como ele sobe até
vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros. Também desce até
vossas raízes e as sacode em seu abraço a terra.O amor nada dá, a não
ser de si mesmo, e nada recebe a não ser de si próprio. O amor não
possui nem quer ser possuído, pois ele basta-se a si mesmo. E não
penseis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar
dignos, dirigirá vosso curso."

Estranho Cupido


Ele tinha um Cupido, que seguia todos os seus passos e quando mirava um alvo, espirrava e , consequentemente, errava a flecha.
Nisto tórridas paixões eram formadas pelos mais improváveis e instáveis encontros de casais e ele ali, continuava só.
Certa noite, cansado de tantos equívocos, aguardou seu Cupido adormecer e deixar de lado sua aljava. Colocou um
espelho em frente ao mesmo e atirou uma de suas flechas contra ele. O Cupido despertou assustado, mas vendo seu reflexo,
se apaixonou perdidamente pela própria imagem. Ficou ali, petrificado de amores em uma admiração sem fim.
Se sentia vingado, no entanto, percebeu que, enquanto portava o arco e as flechas, era invisível para as demais pessoas.
Se nada podia fazer contra isso, resolveu acertar os alvos, que comumente seu Cupido errava e formar os mais belos casais, ligados pela afinidade, cumplicidade e amizade. Conseguiu criar relações "quase" eternas (apenas os Deuses tinham o mérito da eternidade). Continuava só, mas felicitou-se de ver o mundo rodeado de amor e assim, conquistou suas próprias asas.
Não precisava de mais nada, a partir daquele momento,
era livre e podia voar.

O Poeta

Escreve, versa 
Se atreve, conversa
Delira, fantasia
Das liras à poesia

Um olhar transcreve o mundo
Um ar leve, breve e profundo
Que ama o todo, mesmo que não possa tocar
Que desarma tudo, a esmo não deixa ficar

Sente e chora
Mesmo quando descrente, ora
Evoca a arte de um sorriso
Provoca em seu aparte, um suspiro

Promove o acreditar
Move e faz meditar
Seu momento, sua alma
Seu pensamento, sua calma

Organiza em expressão
Preconiza a ação
Não conhece metades da vida
Se reconhece nas metas divididas

Se entrega por inteiro
Como quem rega um canteiro
Como dever a quem o Lê
De fazer simplesmente florescer

O suicida atrapalhado


Não aguentava mais viver...
Resolveu acabar com o sofrimento...
Primeiro se deparou com questões filosóficas
Afinal, se a vida continuasse.. o sofrimento também...
Mas preferiu não pensar em nada, estava decidido em seu propósito...
Subiu, determinado, as escadas até o último andar do prédio...
Mas bastou olhar para baixo e teve uma vertigem, sentou no chão, com a cabeça entre as pernas e respirando fundo e pensou que talvez não fosse a melhor opção
Desceu até o apartamento
Pegou uma faca afiada e ficou olhando para ela, vendo sua vida passar pela lâmina
Mas quando lembrou do sangue que jorraria, lembrou que tinha pavor de sangue e que desmaiava até fazendo exames clínicos
Achou que seria mais fácil um enforcamento
Se amarrou no ventilador de teto e chutou a cadeira que o sustentava
Mas caiu no chão com o ventilador em sua cabeça, fazendo apenas um ligeiro e dolorido galo
Pensou em um afogamento...
Mas nunca aprendeu a nadar, justamente porque morria de medo dos "mistérios" da água...
Pensou em ligar o gás
Mas já pensou se sua mãe acendesse a luz? Explodiria o imóvel e certamente poderia, inclusive, machucá-la
Mas ironicamente ,não queria carregar a culpa de ser um potencial assassino.
Aliás, e depois? se fosse enterrado ou cremado?
E tivesse alguma consciência no processo?
Arrepiou só de imaginar...
Realmente morrer era muito difícil...
Era muito mais fácil viver!
Daquele dia em diante, sorriu para vida e teve muito medo da morte...

Homens e Cultos


Conheci um homem que malhava e não era culto
Conheci um homem que era culto e não malhava
Conheci um homem que malhava e era culto
Conheci um homem que ia em um culto e malhava
Conheci um homem que malhava um culto
Conheci um culto que malhava um homem
Conheci um culto que o homem malhava
Conheci um culto que era culto e não malhava ninguém
Conheci um homem culto que malhava um homem que ia em um culto
Conheci um homem que ia em um culto e não malhava nenhum homem
Conheci e malhava, as vezes, homens e cultos
Conheci homens cultos, cultos de homens, homens que malhavam, cultos
que malhavam
E no fim, eram todos só homens e cultos

Escrever


Sim, escrevi...
Escrevi pelas coisas que vi
Algumas que vivi, outras vezes, por mero "deja vú"

Escrevi pelas coisas que sonhei
Algumas que acreditei ou porque já não sou o mesmo, mudei

Escrevi pela ânsia de falar
De partilhar as histórias e através delas, multiplicar

Escrevi pela companhia
Não há solidão nas palavras que no papel dividia

Escrevi por amar demais
Pelo que sentia não caber no meu peito jamais

Escrevi para viajar na fantasia
Me extasiar de mundos que desde a infância fazia

Escrevi para libertar a alma
Achar dentro de mim, a paz e a calma

Escrevi para represar minhas lágrimas
Canalizar pelo rosto até que virassem rimas

Escrevi porque sou assim
Por tentar encontrar no íntimo um fim

Escrevi para você
Mesmo sabendo que não me lê

Escrevi por quem me lia
Que acreditava em mim, mesmo quando eu descria

Escrevi porque o texto quis
Não escolhi as linhas, elas me escolheram e fiz

Escrevi até mesmo sem saber a razão
De fato, não sabia, mas naquelas linhas estava meu coração

Presenças Invisíveis



Do colo acostumado a deitar, restou uma almofada
De onde antes tinha uma conversa agradável, agora habita uma poltrona vazia
Das piadas animadas contadas em festas, agora reside silêncio
Muitos colos deitaria depois, mas para nenhum deles, seria um príncipe/princesa
Muitas conversas agradáveis teria adiante, mas nenhuma delas, lhe diria as coisas que gostaria de ouvir
Muitas piadas escutaria e riria com elas, mas nenhuma contada com aquele jeito único de ser
Os móveis mudariam de lugar, as paredes seriam pintadas, mas ainda assim, dentro de você, tudo está no mesmo lugar e segue enxergando cores que não existem mais.
Não vemos mais as pessoas, mas suas vozes não calam dentro de nós (chegam mesmo a nos aconselhar)
A presença existe enquanto não esquecemos e não há como esquecer, seria apagar uma parte de nós
Quando perdemos alguém, na verdade, perdemos uma parte de nossa história, uma parte do que somos (já que por mais individual que sejamos, somos únicos com cada um que convivemos).
E assim, um a um, vamos desaparecendo como éramos conhecidos, mas renascendo em histórias que não contamos ou que contamos, mas que o tempo modificou
Deixando grafado uma tatuagem e impregnando o mundo ao redor de impressões
Dando significado a coisas insignificantes e que só fazem sentido porque alguém tinha sentido para você
Os defeitos, que costumávamos levar tão a sério, agora, são leves e nos divertimos com eles. Na verdade, nunca foram importantes de fato, ou melhor, os fatos é que julgávamos importantes.
Nos multiplicamos através de cada um que convivemos e nos inserem em suas conversas, emprestando o nosso olhar da vida para mudar a vida que alguém está acostumado a olhar.
A morte é uma ilusão (morremos mais em vida). Sempre haverá alguém que dirá: "Que absurdo! Tudo acabou!"
Mas ousemos olhar para dentro de nós mesmos e nos perguntemos: Como algo pode acabar, se continua ali, se manifestando dentro de nós?
Vivemos cercados de presenças invisíveis, mas assim como as estrelas, cuja morte do astro, não apaga o brilho que nos encanta toda noite ao olhar para o céu, o amor não nos deixa só jamais e segue ao nosso lado nas novas descobertas e realizações.. Ele é a ponte que liga os mundos, é a linguagem universal que não precisa de corpos (e nem de palavras) para se fazer presente.
Curiosamente, poderíamos nos valer da simples gramática para falar sobre isso e sintetizar todo esse mistério.. A morte...Amor-TE.. Te amo..

Conjugação de Alergia


Eu espirro
Tu empolas
Ela coça
Nós avermelhamos
Vós asfixiais
Eles tomam antialérgico

Re-des-conhecer


Curiosa é a vida que nos leva a conhecer, reconhecer e desconhecer pessoas.
O conhecer é toda conversa que começa sorrateira, meio sem jeito, até que sem perceber, não lembra mais como era sua vida sem tal existência. E felicita-se quando está perto, até mesmo com o silêncio,
porque algumas vezes, ele basta para tornar alguém presente.
O reconhecer vai além! Passa a ver uma parte de si mesmo na outra pessoa. Uma identificação além de afinidades, que faz com que os segundos pareçam eternos. Se no conhecer não se se lembrava como era a vida sem, no reconhecer tem certeza, que só é possível existir outra vida para explicar uma proximidade que supera o próprio conhecimento.
O desconhecer é sempre uma fatalidade. Um desencontro de caminhos ou direções. Quando mudanças transformam aquele inconfundível sorriso em mais um na multidão. Se no conhecer e reconhecer, destacamos a agulha do palheiro, no desconhecer tudo é palha! É uma perda de interesse que constrange a própria proximidade. Como se soubesse as particularidades de um estranho: "Eu sei que você sabe, mas não podemos evitar".
Creio que conhecer seja sempre uma ânsia comum. Reconhecer é algo mais raro, pois exige um aprofundamento, cujo risco, nem todos
estão dispostos a correr. Já desconhecer é sempre o mais simples, ainda que, eventualmente, não seja um processo fácil de lidar.
Aproveite cada oportunidade que a vida lhe dá! Cada pessoa que traz para seu caminho, uma forma única de olhar! Não tente compará-la
a ninguém (semelhanças nunca serão igualdade) e nem queira forjar suas características a um molde ideal ou narcísico (há quem busque um espelho), antes aprenda com as diferenças. E se apesar de tudo, precisar lidar com a separação, aceite que extraiu tudo que poderia e recebeu o máximo que este alguém poderia lhe dar. Não se aprisione em uma imagem cristalizada da pessoa que esperava que fosse (e efetivamente nunca foi).
Seguimos mudando e nos transformando pelo caminho. Nem todos serão capazes de acompanhar nossos vôos ou nós mesmos, de sempre acompanhar o voo de alguém.
Não se preocupe com isso, nem com o amanhã... a beleza da vida está no caminho e no processo que leva a ele... O fim é sempre uma consequência, não a causa.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Novo Anúncio


Coloquei meu pensamento no "Mercado Livre" da fantasia
Não é um Google, nem uma Wikipedia, mas também procura respostas...
Esporadicamente, a timidez faz cair a conexão, mas habitualmente é bem estável.
Um pacote de dados multidisciplinar, interativo e flexível. E a modernidade do 4G de redes associativas neurais.
Nunca entra em modo stand-by, mas funciona melhor a noite do que de dia.
A banda larga é emotiva. Enquanto deseja criar um blog, ele já definiu o layout e postou por você.
Vive armazenado numa nuvem virtual e não precisa de backup (ele raramente esquece)
Entrego por sedex em qualquer estado e idéias disponíveis enquanto durar o estoque.
Não perca esta oportunidade, antes que a mente esvazie

Querer



Tinha fantasias poéticas, mas transcreveu a realidade mesmo sem rima
Queria viajar e desbravar o universo, conformou-se com alguns versos e uma viagem interior
Queria mudar o mundo, consolou-se em mudar o seu mundo
Amava cachorros, mas ganhou um gato e o amou do mesmo jeito
Desejava tocar piano, mas recebeu um violão e transformou teclas em cordas.
Sonhava em ser amado, mas aceitou simplesmente amar
Muitas vezes, ansiou apenas um abraço e preencheu o vazio dos braços com uma almofada.
Amava conversar e sem ter quem o ouvisse, escreveu.
Algumas vezes quis partir, mas sem ter para onde ir, simplesmente mudou o lugar do que pensava
Queria construir grandes obras, felicitou-se com pequenos lares
Queria ter filhos, mas fez de todas as suas criações parte de si mesmo.
Queria sentir menos, mas sua emoção nunca parou de crescer.
Queria ser adulto, mas não conseguiu abandonar a criança que habitava o seu ser.
Quis rir, mas quando não era capaz, se esforçava para fazer os outros rirem.
Queria muito se achar, mas alegrou-se em não se perder.
Quis por muito tempo a liberdade da alma, mas aprendeu a ver beleza na prisão do corpo.
Queria uma religião, mas fez do amor, a sua fé.
Ainda que algumas vezes, desejasse pedir, se limitou a agradecer.
E quando esperava ganhar, fez da perda a vitória de aprender com ela.
Aquilo que não pôde fazer, adaptou.
O que não pôde adaptar, aceitou.
O que não pôde aceitar, deixou ir embora.
E aquilo que partiu, quando se distraiu, novamente encontrou!
Não do mesmo jeito, um pouco modificado, mas com o perfume da primeira esperança que sentiu.
Não desejou mais nada, simplesmente sorriu...

Desventuras afetivas de um tímido



Muitas são as áreas que um tímido apresenta dificuldade de comunicação, mas nenhuma é tão crítica quanto a afetiva. Talvez pelo fato das emoções serem instintivas e o tímido, ao invés, de deixar fluir o que sente, racionalize! Como se as palavras se perdessem no caminho entre o cérebro e a boca. Logo, enquanto o pensamento diz: “Você é linda, a mulher da minha vida”, a boca fala: “Oi” (E não sai nada além disso).
Nesse processo, estou certo, que nenhuma personalidade, acumule tantas desventuras afetivas. Mas o que antes era um “drama”, se torna uma comédia. Aliás, é uma linha tênue entre os dois estilos. Tudo está na forma, como a história é contada. Logo, melhor do que qualquer teoria, vamos as vivências!
Uma criança deveria saber que teria problemas de relacionamentos, quando precisou entrar em um armário escuro para dar o primeiro beijo. Está certo que era um beijo lúdico, sem malícia, mas esconder-se já era um forte indicio que seus próximos passos não seriam tão fáceis nesta seara.
A amiga DELA falou com um amigo DELE que estava interessada nele. (Nenhuma situação é mais favorável para timidez quando os fatos, assumem a iniciativa por ele). Ele falou para o amigo, que disse para a amiga, que chegou a ELA, que ELE também gostava dela. Nesta troca de mensagens, quase um telefone sem fio, com os amigos, dizendo o que bem entendiam, trocaram os telefones. ELE, finalmente, ligou para ELA. Quase gaguejando e sem o menor jeito, convidou-a para sair e ela aceitou. ELA morava longe e ELE sem calcular o tempo devido, chegou quase 1 hora atrasado! Nesta época, não havia celular para avisar! (Sim, essa história é quase do outro milênio, embora a timidez seja sempre atual). Mas ELA aguardou e ELE quando a viu, se deparou com um rosto furioso pelo atraso. Se tudo já era difícil, nada como uma mulher brava para tornar as coisas mais complexas. ELE disfarçou e ELA esqueceu, afinal ambos tinham um objetivo comum, um ao outro. ELA o levou para um lugar onde todas as pessoas ao redor se beijavam (seria uma mensagem subliminar?). Na verdade, ele sabia que não havia dúvidas quanto ao que deveria ser feito, mas onde estavam as palavras? ELE pensava: “Você está linda” e ELE dizia: “Que dia bonito”. ELA era bastante paciente, quase uma monja budista! O dia passou quase todo. ELE já desanimado pela sua própria limitação, já buscando consolações internas para justificar que nada aconteceria, apesar da vontade. ELA propôs uma brincadeira com as mãos e brincando de “pegar e travar os dedos”, puxou-o para ELA e o beijou. Abençoada sejam as mulheres independentes, que vencem o machismo do mundo e posicionam-se sobre o que querem! Mas apesar do restante do dia ter sido especial, ELE certamente, ponderaria que tinha feito tudo errado e demoraria tanto a ligar outra vez, que ELA tomaria outro rumo.
Assim inicia a romaria da timidez, cujas perdas, acabam por ensinar a criar artifícios para driblar as situações.
Diz o dito popular: “Dois bicudos não se beijam”. De fato, dois tímidos também não se beijam! Dois tímidos se encontrarem, já é quase como ver um duende ou uma fada. Mas ponderando sobre um caso concreto, acreditemos que ambos lutaram para se superar, embora não tenha sido suficiente. Como tentar sair de casa, com a porta trancada e não saber onde deixou as chaves.
ELES se encontraram em um parque. Tudo era belo, aliás bem romântico. Mas se um tímido é bom, dois são melhores ainda. ELE se esforçou, perguntando quase que tudo sobre a vida DELA. Mas ela se limitava a dar respostas através de monossílabos (Sim! Dois! Gosto!). Não dava continuidade e não perguntava nada. Alguns silêncios constrangedores se colocaram entre os dois. E ele já havia esgotado quase todas as perguntas que recordava. Acho que nem Sherazade e suas 1001 histórias dariam conta de ajuda-los. Se despediram como se encontraram sem que nada houvesse acontecido. Um mês depois, ela estava namorando, mas tenho certeza, o namorado não era tímido.
E para não estender demais, nem tudo é impossibilidade, mas as vezes, esbarram em pequenos detalhes desconcertantes. ELA não era tímida e a aproximação entre ambos foi facilitada por esse fato. ELE já no colo dela com alguma intimidade, recebe um beijo interminável. Está certo, que ele começou a sufocar, mas não queria ser indelicado e afastá-la. Já se conformava com a morte e com o fato de que o ar lhe faltava completamente.Pensou em bater 3 vezes no chão, como um lutador que desiste da luta, mas para sua sorte um policial disse que não podia beijar ali. (E ainda há pessoas que tem a coragem de dizer que policiais não fazem nada).
O cúmulo da timidez e suas desventuras é quando personifica um objeto inanimado como uma almofada e atribui nome a ela como o ator americano Tom Hanks no filme "O naufrago" e seu famoso amigo, a bola de vôlei, Wilson.Não que seja uma forma de praticar o que não consegue pessoalmente, mas uma certa identificação com o não reagir.
É verdade que “nada como o tempo”. Para suavizar e aparar nossas arestas. Nos ofertar recursos e instrumentos para vencer ou contornar nossas limitações. Aliás o tempo nos ensina também a não nos cobrarmos tanto, nem esperar tanto dos resultados. E nisso, acabamos deixando de ser um obstáculo e permitindo que as coisas “fluam” exatamente como devem ser. Entendemos que o medo de perder resulta na perda e que ainda que perca involuntariamente, mas vale a tentativa do que o eco de pensar “e se eu tivesse...”.
Talvez desnudando um tímido, como um taxidermista faria para estudo de uma espécie, ajude a compreender, que dentro dessa casca chamada corpo, muitas vezes, silenciosa e restritiva, existe um universo em ebulição. Rico em imaginação e fantasia, mas que eventualmente, tem dificuldade de transparecer para a realidade. Independente da área, se você convive com um tímido, não tema sua reação. Seu problema não é a proximidade, mas a falta dela.

A Ditadura da Felicidade


É estranho escrever um texto na contramão do mundo, mas enquanto todos buscam ansiosamente a felicidade, muitos acabam sendo escravizados por ela.
Maquiavel sentenciou: "Os fins justificam os meios", no entanto, 
observo que os meios se tornaram os fins. Nunca a felicidade esteve tão na moda e para obtê-la vale tudo, desde que, devidamente, postado, curtido e compartilhado! Ao invés de um estado de espirito conquistado... ser feliz, se tornou uma impensada subjugação!
Neste processo, que antes era simples, tudo se complicou. Agora é necessário expor a melhor festa, a melhor viagem, o/a melhor namorado(a), o/a melhor filho(a), etc...nesta hipervalorização do cotidiano, os padrões e objetivos a serem atingidos se tornaram elevados demais, o que justifica a presença cada vez maior da depressão na vida de muitas pessoas.
Se o corpo e a razão "correm" atrás deste modelo de felicidade, a emoção não acompanha, porque precisa de um tempo (que não tem) para compreender e maturar. Aliás, qualquer pessoa, na atualidade, que escolha desafiar o senso comum de "maravilhoso", sofre uma grande (im)pressão.
Como uma pessoa não quer ter filhos ou casar? Como não gosta de viajar? Como não participa de redes sociais? Como está sozinha?
Inconscientemente, a pergunta seria:"Como alguém consegue ficar bem, sem fazer tudo que eu faço ou desejo fazer?"
Mas não é o fazer que determina a felicidade, mas sim, quem somos. Contraditoriamente, fazemos coisas sem parar, mal tendo tempo de saber quem somos.
A meditação budista ou uma prece é um exemplo claro dessa "reconexão" consigo mesmo. Quando interrompemos o movimento do mundo, silenciamos e olhamos para dentro, reconhecemos a nossa natureza. Afastamos, temporariamente, as ilusões do "impermanente e mutável" e acessamos nossa essência perpetua.
Romper com a ditadura da felicidade, não é ser infeliz. É estar inteiro naquilo que se propõe fazer, sem melindres por cobranças externas ou inseguranças por simplesmente discordar ou ser/estar diferente.
Dizem que o PRESENTE é um presente. Logo, podemos considerar que a "presença", também é uma dádiva. Assim, não é a felicidade que tem de ser presente, mas sim sermos presentes na felicidade!
Uma vez libertos dessa ditadura, o mundo antes restrito, ganha um novo panorama, chamado Liberdade! Liberdade de escolha, de sentimento e de ser quem se quer ser.
Seja Feliz, ou melhor, Seja!

A arte de escolher


Na vida somos definidos pelas nossas escolhas ou pela falta delas. Curioso que dentro da palavra "escolher" existe o verbo "colher"... Como se a definição de nossa posição seja justamente o fator determinante de onde estamos.
Comumente, dizemos: "mas não escolhi passar por isso"...nem todas as nossas escolhas são conscientes.. As vezes, a omissão determina a ação e nos iludimos ao pensar que o ato de não agir, não é uma ação. Não raro, as raízes do que não fazemos são mais profundas do que o que foi feito. Porque ao silenciar, também consentimos e permitimos que elas se desenvolvam livremente. Uma escolha parte sempre da capacidade de decisão... Que por sua vez guarda em si, o ato de cisão. Para optar por algo, obrigatoriamente precisamos aceitar romper. Uma escolha nunca vem só...para recebermos algo, é preciso deixar partir outra...
Quando tentamos a proeza de ganhar ambas as opções, não raro, acabamos sem nenhuma. Para todo começo, precisamos de um fim.
O problema de não terminar e começar algo simultaneamente é que entramos em um campo de incertezas. Ser uma parte, sem estar inteiro, resulta nas velhas hipóteses inconclusivas... "E se eu fizesse...", "E se eu deixasse..."... E no "E se.." Não encontramos um futuro, apenas um passado improvável.
Um dito popular diz: "Escolha mal, mas decida". Não há crescimento e nem movimento na dúvida, ela é apenas um ponto partida. Como uma corrida que diante da largada, todos partissem, se distanciassem e você se mantivesse ali parado observando. Mas neste caso, os outros "corredores" são a vida, que segue e não aguarda que decida! "O tempo não para" e o amanhã começa agora! Não adie! Hoje é o dia!

O homem que nunca amou


Nunca deu um beijo que lhe tirasse o fôlego
Nunca foi arrebatado pela loucura de um sonho
Nunca foi sufocado pela saudade de um abraço
Nunca foi consumido e incinerado de paixão
Nunca fez parte do inteiro de alguém ou foi partido ao meio pela sua metade que deu
Nunca se afogou em prantos ou perdeu o ar em risos
Nunca um objeto despertou suas memórias e nem teve o esforço de esquecer o que perdeu
Nunca foi arranhado pela ansiedade de um carinho
Nunca teve seu corpo corrompido de desejo
Nunca teve um sentimento que merecesse ser espelhado e imortalizado em uma gestação
Nunca se perdeu em delírios de um futuro, nem se encontrou no reflexo de um olhar
O homem que nunca amou
Sua história não escreveu
Assistia tudo à distância sem ser visto
Enquanto lentamente pela vida, morria

Um Wi-Fi, por favor!


A: Um wi-fi, por favor!
B: Não temos, mas o Sr. gostaria do cardápio?
A: Como assim não têm?
Que absurdo! Que estabelecimento é esse que não tem um wi-fi em
pleno 2015?
B: Senhor, servimos café!
A: Café? sem internet?
B: Mas temos café com outras opções! E o Sr. pode habilitar o seu 3G!
A: Quer dizer então, que está realmente me sugerindo que habilite meu 3G?
Quer que eu traga o pó de café também de casa?
B: Infelizmente não posso ajudar o Sr. É tudo que temos!
A: Ficar desconectado? Prefiro procurar outro lugar!

Se retira indignado do estabelecimento e logo, entra numa loja de peças íntimas..

A: Um wi-fi, por favor!
C: Sr. isso é uma loja de peças íntimas!
A: E tem lugar de maior conexão que a intimidade?
C: O Sr. está bem?
A: Acho que não, estou offline!
C: Calma Sr. respire fundo!
A: Você já pensou? Podem achar que fui sequestrado, que morri...
C: O Sr. gostaria de telefonar para alguém?
A: Telefonar? O que é isso?
C: Acho que o Sr. está um pouco confuso.

De fato estava, saiu atordoado, sentou no chão, escreveu num pedaço de papel
"Um Wi-fi, por favor" e ali aguardou que uma bondosa alma, o doasse um!

Enquanto a vida passa...



Abandono as fórmulas de verdades incertas
e paro de questionar certas dúvidas (certas)

Retiro as máscaras
E aceito minhas imperfeições

Rio de mim mesmo
E choro só com a beleza que comove

Reduzo o drama de partes
Amplio o inteiro da comédia

Constato a impermanência
e tenho certeza da permanente mutação

Desejo a liberdade de princípios maniqueistas
E entendo que entre dois extremos existe um longo caminho

Prevaleço a jovialidade da consciência 
Com ânsia de descoberta e entrega

Torno-me flexivel e maleável de idéias
Ainda que o corpo não mais espelhe isso

Entendo as dificuldades como oportunidades 
E as diferenças como complementos

Entrego-me ao prazer da simplicidade
E sintetizo a complexidade

Me doo com intensidade
E me dispo das ilusões

A vergonha e o medo não mais me obstam 
A vontade e transparência me realizam

Esqueço a prudência e a segurança
Sendo tudo que me permito ser

Paro de morrer durante a vida
E deixo que a vida me leve até a morte

Caixa de Entrada


Caixa de entrada é uma loteria
Entre milhares de e-mails cotidianos
Se aguarda apenas um que quebre a rotina
Que seja surpreeendente e inesperado

Nisso nasce o vício, como todo jogo
De abri-lo a cada segundo
No girar da roleta que determina a sorte
De esperar que o resultado traga uma mudança
(de preferência sem esforço)

E nas probabilidades do inconsciente
A menor parte indeniza a maior
Assim justificando a continuidade 
Deste perpétuo movimento

Enfim, chegou o momento
Há 4 novas mensagens
Um SPAM, uma conta paga,
uma notificação de trabalho e
um convite de aniversário

A 1ª vai para a lixeira
A 2ª guardada sem ser lida
A 3ª respondida com contrariedade
A 4ª é inovadora mas não idealizada

Uma frustração assoladora, 
Mas a próxima consulta é sempre a melhor