quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Um lugar


Só queremos um recanto em alguém
Um afeto que acolha
Um feito que colha
O dizer: “Vem, pode ficar”
Pode ser um casebre ou só uma rede
Pode ser ventania ou só uma brisa
Pode ser perto, pode até ser longe
Só não pode ser indiferente
Nem desinteresse
Deve ser cuidado
Cuidado! Não é estadia
É para morar! Na morar!
Mesmo que breve
Não importa o tempo
Desde que juntos
Porque passagem é rua
E para viver na rua
É melhor ficar onde está
Emoção que não é dada
É desabrigo
É casa sem teto
Que apesar das paredes
Chove dentro
E de goteira
Já bastam os olhos
Queremos um lugar para mudar
Para nos mudar
Que comece com um bom dia
Em um suspiro “lar doce lar”

Caridade


Sem cuidado não sobrevive
Porque assistência é atenção 
É raiz que no silêncio do solo
Faz a mais pura conexão
É carinho nos detalhes
Abrigo nas emoções
É a vida que pulsa de mãos dadas
E as estende em gratidão
É a verdade que pulsa no peito
Quando entende a comunhão
De duas mentes que se ajudam
Em inteira doação
É fazer parte, é partilha
É não fazer aparte, nem partida
Caridade não é esmola
É a mola que acresce
E crescimento
De quem faz
De um canto da Terra
Um encanto do céu

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Ansiedade


A respiração acelera
E perdemos o ar
O coração dispara
E parece que vai parar
O corpo contrai
A pele tensiona
E os pensamentos alucinam
Todos juntos
Uma descarga emocional
O olho do furacão
Tudo ao redor gira
E somos invadidos
Por ondas de sentimentos
Confusos e atrapalhados
Tentamos respirar
Acalmar
Encontrar algo para apertar
Contra o peito
Algo para desviar as ideias
Como um naufrago
Que se afoga
Talvez só precisássemos de um abraço
Se pudéssemos contar com um
Mas tudo é deserto
Quando estamos em alto mar
E poucos sabem nadar
Mergulhar tão fundo dentro de nós
Calma, respira!
Tudo vai passar, tudo sempre passa
Só mais alguns minutos
E não terá passado de um sonho

Atípicos


Erramos tantas vezes separados
Até tropeçar em um acerto juntos
Éramos estranhos para todo mundo
Estranhice que nos encantou
Duas imperfeições tão iguais
Uma perfeição diferente
Éramos casuais
Mas nunca fomos um caso
Duvidamos todos os dias
Até o abraço de uma certeza
Não existíamos fora
Nos reconhecemos dentro
Nosso encontro não foi sonhado
Foi um mero esbarrão
Mas sempre acordamos nos sonhos
Unidos nem dormíamos
Não éramos Romeu e Julieta
Talvez, pipoca e Guaraná
Nunca fomos um filme
Mas virávamos a noite assistindo um
Ouviam aplausos de outros a cada
“Foram felizes para sempre”
Mas preferiam as promessas
Contidas nos trailers
Faltava alguma coisa?
Sim, sempre falta
Nos acharmos

Saudade


É quando o pensamento
Se veste de lembrança 
É o perfume que revive
O transporte da memória
É sentir o que se perdeu
Fazer presente
O que até então era falta
Saudade é o sal da idade
O tempero do presente
Que degusta o passado
É a prova imaginária
Da vivência
Que vivendo
Espera fazer
De cada momento
Uma nova saudade

A casinha


Sempre quando viajo, me pego olhando pelas estradas aquelas casinhas isoladas de tudo, perdidas no meio do nada de uma natureza deslumbrante. Fico pensando como deve ser viver ali. Esquecido no tempo e no espaço. Um misto de sentimentos me invade. Primeiro, uma liberdade de todo esse consumo desenfreado, excesso de informação e necessidades imaginárias que as cidades grandes nos fazem crer essenciais. Porém, há anos imerso nessa cultura, logo sou acometido de um receio: o isolamento. Talvez seja a sensação de alguém que enxerga e perde a visão. Redefinir em si qual o valor do que vemos. Esquecer certas comodidades ou adaptar outras. Não é fácil aprender a ver diferente. Embora acredito que deva ser uma experiência transformadora. Poucos sabem, mas vivi em uma comunidade sustentável por 15 dias, sem celular, televisão ou qualquer meio que me remetesse a atualidade. Foi bom por um tempo, desesperador em outro, quando percebi ser dependente da urbanidade e do direito enlouquecedor de ir e vir com pressa.
Acho que realmente o ser humano é contraditório. O ideal seria podermos alternar entre uma vida simples e outra urbana. Metade do tempo nos desintoxicando e a outra metade, reunindo informações e evoluindo, mas como nem tudo é perfeito....Sempre quando estou na estrada e vejo aquele casinha...

Impulsividade


Quando eu vejo, ja foi!
Sem controle e sem direção
A razão diz não
Mas a emoção está muito a frente
E ja fez
Só resta lidar com as consequências
Consequência de ser como sou
Mas deveria ser a causa
Mas é causa perdida
E me perco
No eterno duelo
Das dualidades que me habitam
Impulso deveria nos empurrar para frente
Mas é empuxo para trás
A alma vai
O corpo fica
Ambas transpassam
Impulso é a falta do pulso
Que sem forças
Se deixa levar
Para algum lugar
Que acredita ser melhor do que está
(E nem sempre é)

Reciclagem


Sou aquela coisa
Guardada na gaveta 
Que nunca abriu
A roupa nova
Que julgou tão bela
Mas nunca usou
A comida gourmet
Que de tão pouco
Só serviu de entrada
A viagem que foi
E implorou para voltar
Sou o remendo
Que tampa um buraco
Mas finge não existir
O band-aid
Que cobre a ferida
Até que não precise mais
Sou justamente o que precisa
Mas que nunca foi
A sua vontade
Sou o efeito
Sem causa
Sem casa
Uma xícara sem asa
Uma mala sem alça
A vacina que não conseguiu evitar
O ar que respira, mas ignora
Sou a palavra
Que envergonha dizer
Mas quando diz liberta
(Foda-se)
Sou o que ninguém foi para você
Para você, eu fui ninguém
Mas o que um não quer
O mundo recicla
Um novo ciclo
Que faz do lixo
Um luxo

Imaterial


O toque não recebido
O beijo não dado
O abraço não sentido
O olhar fechado
Sensações
Que desenham dentro
O que não coube fora
Tão concretos
Mesmo que só
Imaginados
A procura que existe
Em corpos não encontrados
Delírio da proximidade
Distância da realidade
Na ânsia que perde
O desejo que acha

Por um R


Alergia coça a pele
Alegria toca a alma
Alergia é defesa
Alegria é entrega
Alergia é passado
Alegria é presente
Alergia não é possível evitar
Alegria é quando não quer evitar
Alergia incomoda
Alegria pode incomodar (outros)
Alergia é doença
Alegria quando falta, adoece
Alergia é reação
Alegria é só ação
Alergia tira
Alegria doa
Alergia é o mundo sem você
Alegria é quando você existe no mundo

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Ilusão


Entrei na sua vida
Sem querer
Sem rota de fuga
Sem entender
Por que?
Era desvio no caminho
Atalho para lugar nenhum
Uma rua sem saída
Sem porta
Só um muro
Entre eu
E você
Sou teimoso
Insisti
Para mim era sonho
E você nunca dormiu
Eu quis começo
Para o que nasceu
Como fim
E assim
Nos perdemos
Sem nunca
Nos acharmos
Em um sim
Que sempre foi não
Pedi um caminho
Recebi ilusão
Como quem prova
A maça
Para deixar o céu
Não fui seu
Mal fui meu
Mas vamos com fé
Se não é para frente
Que se anda
Melhor voltar de ré

Tédio


É a monotonia
De uma espera
Que não quer
Esperar
Que vê o tempo passar
Sem que nada saia do lugar
É a repetição decorada
Sem improviso
De quem não sabe interpretar
São as reticências
Que substituem a virgula
No deixar aberto
Ou do ponto final
Que termina para recomeçar
Um limbo da frase
É o olhar para o nada
O nada que olha de volta
Revolta
De um flerte frio
Entre dois estados
(Apatia e Vontade)
Que não se amam
Mas tentam ficar juntas

Desencanto


Quando o encanto quebra
Fica uma fissura no olhar
O antes intocável
Agora sem jeito
Não sabe tocar
A magia maculada
É preservação manchada
Luta entre ficar ou ir
Salvar a lembrança
Ou perder a realidade?
(Insanidade?)
Melhor afastar!
Antes que a falta acabe
E todo resto termine
Desencanto é o não canto
O silêncio que se intrometeu
Entre quem admira falar
É o recolhimento da alma
Que sem cuidado
Partiu
Para de tantos cacos
Fazer de si
Um mosaico

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Eu vim só, sem ela


Caí no mundo
Mundo de ninguém 
Eu vim só, sem ela
Busquei em muitos braços
Laços que não existiam
Mas era o olhar dela que via
Todavia, eles não estavam
Caí na Terra e ela de salto no Céu
Eu vim só, sem ela
Na procura por um alguém
Que nem nasceu
Sempre eu e minha sombra
Pelo riso dela, olhava cada boca
Esperava saber quem era, se ficasse...(e nunca ficou)
Mas eu vim só, sem ela
Não sei como fazer
Para consertar o destino
Desatino viver assim!
Eu só, sem ela
Ela e eu, sós
Eu e ela e só

Machices


Se uma mulher diz não
Não tente entender como sim
Se ela quiser que seja sim
Mesmo se disser não
A decisão será dela
A cisão não será sua
Aceite!
Se uma mulher for educada
Não queira invadir seu mundo
Toda entrada precisa de convite
Mas as portas estão sempre abertas
Para quem deve se retirar
Pense, logo evite!
Para não ser evitado por não pensar!
Assédio é um tédio
De quem os hormônios
Não fazem mais homem
Só mais um qualquer, sem nome
Que tem mais instinto
Do que razão
Sem razão, primata!
Faça um favor
Em pleno século XXI
Se extingue!
A forma dela vestir
Não diz o que você deve sentir
Não o julgam sem camisa
Mesmo que seus músculos
Ficassem melhor
Numa selfie do cérebro
Se você não é juiz,
Não queira fazer
Alguém de réu
Você não é forte pelo seu bíceps
Mas pela empatia que carrega
Se teve um filho com ela
Não é dela! É seu também
O que tem entre as pernas
Não é só brinquedo
Brincadeira é querer ser criança
Quando uma vida pequena
Espera por alguém que deveria
Crescer!
Se está com uma mulher, respeite
Você não é um sultão!
E no Ocidente, tem nome: Traição!
Se o contrário, dói! Não seja causa de dor
Só procura em muitas
Quem nunca entendeu
O bem precioso
Que há muitas dentro dela
Para descobrir
Se quer ser um homem diferente
Ame! Sinta! Chore!
Isso sim, sem se envergonhar!
Não force
Se esforce
Por ser o melhor
Do melhor que em você há
O mundo não precisa de mais
Há demais homens iguais

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Fantasia


As fantasias são perfeitas
Porque se imperfeitas seriam realidade

São os sonhos acordados
De quem não é capaz de dormir
E ainda se encanta
Apesar de todo o desencanto
Só para colorir suas dores
Da rotina em preto e branco
Preencher de criação
O vazio da falta de inspiração 
Que é viver todo dia do mesmo jeito
A fantasia é a reinvenção pessoal
De criar um universo próprio
Que caiba em um mundo impróprio

Calado


Não quero lhe tirar de ninguém 
Quero alguém que me tire de mim
Que me liberte dessa prisão 
Que alguns chamam: Solidão 
Não estou lhe colocando como responsável 
Estou só respondendo que sozinho
Não consigo mais
Não tenho mais forças para escalar
Prefiro até me calar
Conheço tão bem o silêncio 
Que se ouvir sua voz algum dia
Acharei mesmo que tudo é um sonho

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Regurgito


Nota: Texto não recomendado para momentos sensíveis...
Até onde é real?
Quando foi que dormi?
E acordei neste mundo tão igual?
De pessoas que chegam para partir
Que se privam de sentir
Que sorriem em um dia
E nem existem no outro
Que lhe dizem ser especial
Mas tratam como mais um banal
Que lhe estendem a mão 
Só para empurrar do abismo
Eu ainda me abismo!
Não sei até quando...
Porque quando caímos
Tudo parece eco
Sem nexo

Só um anexo: “Foda-se”!

Ano novo




Não adianta um ano novo, 
Com a mente velha
Pular ondas
Mas cair nos mesmos erros 
Comer lentilha
Mas engolir sapos 
Guardar sementes de Romã
E nunca estar disposto a se dar 
Lançar uma barca para Iemanjá
E deixar os sonhos naufragar 
Usar uma roupa colorida
Mas ver o dia em preto e branco 
Se desejas mudanças
Não espere que tudo mude em um dia 
Mude a cada dia e terá assim 
UM NOVO ANO!!!

Amor Próprio



Não é chavão 
Mas é a chave
É próprio como seu imóvel

Um bem inalienável
No qual reside 
Mesmo quando
Inutilmente
Tenta ocupá-lo 
Com um amor 
Que não é o seu
Uma permanência emprestada
Um sentimento locatário
E por melhor inquilino
Que tente ser
Pode partir
(Até por morte)

Mas você sempre fica
E o seu amor próprio também
Bagunçado ou organizado
Alinhado ou desarrumado
É como escolhe 
Onde vai viver

Mas lembre: você é sua casa
Não tente morar longe de si
Para não ficar trancado 
Pelo lado de fora