domingo, 8 de setembro de 2019

Tenho medo


...de escuro
em meus pensamentos
O breu de ser Eu
...da altura
dos meus sonhos
O voo que não vou
...da morte
da minha esperança
O luto de não lutar
...de falar em público
o que não publico
Ser esquivo sem crivo
...de lugares fechados
em meus sentimentos
A fobia de me afobar
...das tempestades
Que eu crio
Trovões sem trovas
...da solidão
Que só, não sei lidar
Desvio sem via
Temo ser trema
Tremo sem tema
Medo
Me dói
- Fernando Paz -

DR


Discutir relação não é chato
Chata é a relação que tudo é medido
Que tudo é calado
Até que vá cada um para um lado
Chato são as entrelinhas
Os espaços mal explicados
Que da situação faz um quadro abstrato
Dialogar não é brigar
Até porque: "logar" precisa de conexão
Insinuação é politicagem
De quem aponta o dedo, escondendo o que tem na mão
Relação é laço
Sem transparência é forca
Força os sentimentos que traz
Apesar de confiança ser paz
Não há nada mais íntimo
Do que uma boa conversa
Estranha atualidade
Que transforma DR em P.S.:
Entre sem perguntas
E saia sem respostas

Libertação


Uma mulher em um relacionamento abusivo é como uma leoa limitada em um corpo de gata. Ela está com todas suas potencialidades adormecidas até que desperte e o ronronar vire um rugido! Ela cisma e se vê cisne! Ninguém mais a reconhece, nem ela. Nada mais pode pará-la, pois já ficou muito tempo no mesmo lugar e sabe cada pedra que precisou carregar. Ela quebra as correntes e movimenta a engrenagem do mundo! Tudo nela se reconstrói! O espelho antes quebrado vira o mais belo dos vitrais. Os olhos apagados, agora são faróis. Ela não aceita mais sombras, porque sua alma se iluminou! Nem migalhas, porque tem fome de viver.
O rosto lavado pelas lágrimas, agora está maquiado de amor próprio. Nada mais se omite, porque tudo nela é destaque! O silêncio virou grito! Liberdade não pode ser domesticada! Dependência? Pendência é ser feliz!
Empoderamento feminino? Não, o feminino é o poder! Poder que começa com a letra A de amor! A natureza, a arte, a vida, a inteligência, a música, a sensibilidade, a felicidade, a fé... Palavras literalmente femininas e essenciais, como “a” mudança! Mudança que sempre começa com um passo. Não suma, se assuma! Duas letras é a distância entre mElhoR e mUlhEr.

Século XXI


Sinto falta quando não havia tanta urgência de viver. Tudo podia esperar. Conhecimento era difícil, não se tinha um buscador. Hoje, não se busca mais nada, tudo se encontra, mesmo que as relações estejam desencontradas! Prédios não tinham grades, muito menos corações! Não havia conexão, mas proximidade! Ninguém precisava mostrar ser feliz. Platéia era o espelho. Se tinha contato (de pele) e não contatos (de tela). Alguém ainda se lembra o que é arrepiar sem ser por frio? O mundo se tornou frio. A banda é larga, mas a tolerância é curta. Não há mais fios, mas todos vivem enrolados. Nós por todos os lados e mal sabemos quem somos Nós. Tudo se resume a um clique, mas não há mais cliques de inspiração, nem papéis de carta ou colecionáveis! Não há mais pernas raladas, só emoções machucadas. Cada um vendo o seu lado, sendo que não há mais lado! Se está em todo lugar e nenhum! Toda geração gera uma ação e nosso tempo hoje? Desconexão.

Identificação


É proximidade desconhecida
Que se reconhece, mesmo sem conhecer
É o eco em alguém de uma coisa sua
Que mesmo sem falar, o outro lhe revelou
É uma cumplicidade silenciosa
Na dor ou alegria de um caminho
Que só quem passou já sentiu
É companheirismo por empatia
Simpatia espontânea
Instantânea cisma
Entre cisnes
Que um dia foram patos

Sinais


Gostaríamos que toda grande mudança viesse precedida de sinais que confirmassem a direção, mas as grandes revelações da vida acontecem nos detalhes e por isso mesmo, passam despercebidas.
Não há fogos no céu como Réveillon, marcando um novo ano, mas há aquela ânsia repentina que nos impulsiona e explode dentro de nós. Não há anjos celestiais descendo com trombetas proféticas, mas estranhos que cruzam o seu caminho e deixam uma palavra que inspira. Não há convites na sua porta para que saia do lugar, mas um sol radiante que entra pela sua janela de manhã. Não há sinais de trânsito alertando a movimentação, mas eventualmente, o próprio desconforto e sofrimento fazem o papel de termômetros medindo a saúde de suas motivações. Quem não se incomoda, se acomoda. Todo dia recebemos pequenos estímulos atribuindo a eles mero reflexo de uma rotina. Nunca foi problema de rotina, mas de retina!
De olhar para areia e não perceber que são inúmeros grãos. Se não aguçarmos os sentidos, além de ver e ouvir, nada sentimos, nada faz sentido! Sinal não é espera, mas percepção de quem faz de cada momento, uma nova perspectiva.

(Des)graça


Carência crônica
É quase cômica
Você ri, porque já não chora
Exagera, porque qualquer pouco é demais
Ausência é uma piada sem graça
Você escorrega sem jeito
E ri da queda
Sentado sem chão
É tão sério
Que é caricato
Pesa na expressão
De se ver só
Em um picadeiro
Dando gargalhada
Para quebrar o silêncio
E escondendo a falta de amor próprio na mão

Onde você está?


Rindo acompanhada ou chorando sozinha?
Em casa desarrumada ou em uma festa badalada?
Descalça ou em um salto?
Sentada em silêncio lendo um livro ou cantando alto no chuveiro?
Onde você está que não está aqui?
Com seu olhar ainda distante que não viu o meu?
Qual seu perfume? Sua musica preferida?
Quando será minha lembrança preferida?
Ou meu nome significará algo para você?
Quando olharemos as estrelas? E vê-la fará meus olhos brilharem?
Quais seus sonhos? Quando deixará de ser um sonho?
E os tropeços de tantas perdas será o esbarrão do nosso encontro?
Quando vou conhecer sua complexidade a ponto de tudo parecer simples?
Desde o jeito atrapalhado das primeiras palavras até não lembrar como a vida era antes de falarmos.
Não mais esperar por você, mas esperar uma história junto com você?

História com alguém


Quando alguém entra na sua história e muda tudo??
Quando ressignifica seu mundo e suas lembranças. Faz você rir do que até então lhe fez chorar. Lhe faz corar! Quebra sua rotina, junta suas partes e lhe dá a mão. Preenche um canto vazio, de um lugar que antes era frio. Faz lareira no seu coração. Sacode a lentidão, porque você passa a ter pressa. Pressa pelo tempo perdido, pelas linhas não lidas e pela sua nova versão. É inversão! Vira sua vida do avesso, muda sua gravidade e sua orientação. Você se acha e relaxa. Desperta a curiosidade, porque já não basta o que vê. Sai da contramão, vai na mesma direção. Você diz “sim” para que entre junto com todos os sentimentos que já invadiram sem permissão. Passe livre para um futuro. Sem mais furos de roteiro e com um final feliz.

Respeito


Respeito precisa de peito para se colocar na pele do outro.
Não se trata de diferenças, mas de não ferir.
Nem de tendência, mas entender.
É o portar e se importar do boa noite ao sol raiar.
Não é troca, mas condição (ou seria incondicional?).
Não é uma questão, mas uma resposta!
Não é consentimento, é com sentimento!
E nem tem hora ideal, sendo ideal agora!
É empatia sem apatia.
Sorriso no elevador que eleva o dia! Gentileza de quem é tão gente, que cumprimenta até o indigente!
É aperto de mão e uma mão diante de apertos.
De quem está sempre perto do coração!

Depressão


Não é cisco, nem cisma
É pressão interna e indício
Se não cuidar...
Suicídio
Suscita flagelação
Enquanto o sorriso disfarça
A farsa de quem sobrevive
Enquanto todos pensam que vive
É ferida sem cor, sem classe
E que não serve para status
É falta de tato, contato
Isolamento de quem lamenta
A lágrima que fez ilha
Rezando que passe o tormento
E só fique
Na mente, a paz

Vai voltar


Há quem espere tanto uma volta, que acabe em revolta! Quer um futuro que plagie o passado! Não o passado vivido, mas aquele que foi fantasiado e não aconteceu! Não é a/o ex namorado(a) de volta, mas os sonhos sufocados e uma parte nossa que não chegamos a conhecer. Não é saudade do antigo trabalho, mas a ilusão de imaginar que onde não se está é o melhor lugar. A volta vive do esquecimento do que levou ao fim. Se quiser que volte alguma coisa, que não seja um evento ou uma pessoa, mas a espontaneidade de ser quem você era antes de tudo que aconteceu! Que reprimiu a natureza ou fez que abandonasse seus sonhos! Que aprisionou suas vontades, escondeu seus interesses e lhe fez acreditar ser menos do que poderia ser. Não volte, voe! Retrovisor é cuidado, mas a direção é sempre em frente.

Romaria


Por muito tempo caminhei no escuro até que meus olhos se acostumassem a ele e minha cegueira conseguisse distinguir sombras. Não tive uma mão para sair dele e talvez fosse necessário ser assim. Precisava descobrir uma luz própria. Hoje, vaga-lume.
Por muito tempo fui imaterial, quase não tinha corpo, nem voz,... uma existência fantasma, mas que não atravessava paredes. Fui invisível, ainda que visse tudo. Era tão abstrato, que precisei do abstrato para existir. Virei arte. Emoldurada na parede. Minha falta de sentido, fez sentido para alguns que passavam, ressignificando a pessoa que, agora, via no espelho trincado.
Por muito tempo estive só em minha inabilidade social. Alguns traumas passados talvez possam perdoar minhas limitações. Um momento quebrado, me fragmentou. Queria estar perto, quando todos sentiam que deveriam ir. Queria presença, mas só conseguia partir. Me partir. Estreitando meus laços com a solidão. E a solidão é uma companheira possessiva e ciumenta. Você chama alguém e ela afasta. Você diz A e ela faz que entendam B. Você responde e ela faz que tenham dúvidas. Você abraça e ela empurra. Você pássaro e ela gaiola. Uma beleza piando para um mundo logo ali, trancado! Acesso negado!
Por muito tempo pensei, senti... tinha todo o tempo do mundo... cada segundo era uma eternidade. Não ter tempo é privilégio de quem tem distrações. Eu só tinha tração, me arrastava em minhas deficiências. Acreditando ser uma ciência! Formulava teorias, hipóteses e hipotenusas e como olhar de Medusa, acabava paralisado, petrificado. Ser rígido para quem olhava.
Hoje sou lido, ora aceso, ora apagado. Ora riso, ora enxurrada. Ora brando, ora pancada. Ora de pé e em outra ajoelhado. Rezando aos céus...rogando aos seus... compreensão.

Quando uma pessoa entra na sua vida?


Quando a trilha sonora que a marcou
Cria uma nova melodia na sua vida
Quando as estranhezas dela
Parecem tão normais quanto as suas
Quando lhe faz rir
Do que até aquele instante lhe fez chorar
Quando você não é intervalo
Mas série maratonada
Quando silêncios não afastam
Mas se afagam
Quando qualquer bobagem
Parece bagagem interessante!
Quando o tempo acelera
E o coração também
Quando qualquer detalhe que esqueceria
É uma desculpa para lembrar
Quando por mais que você fale
Palavras sempre parecem faltar
Quando se tira as máscaras
E as roupas também
Quando o sonho
Vence o medo de viver
Quando alguém entra na sua vida?
Quando não sabe mais dizer
Como seria ela
Sem você

Curtir e Amei


“Amei” é gostar muito?
Porque eu amo até publicidade!
Amor deveria ser propaganda
Patrocina a esperança e incentiva a confiança
Diz que é melhor até quando é mediano
Porque amor nunca é médio e nem meme, ainda que você sorria
Quem curte o que não ama é neutro ou prudente?
Porque gosto da imprudência de sentir tudo! E neutralidade? Nunca conheci quem ama com cautela...
Minto! Conheci, mas não era amor...
Talvez só um “curtir” ou seria curtição? Talvez porque “curtir” não tenha esforço, é só um toque, mas para um “amei” é preciso segurar: dentro do coração. Você ama ou curte? Porque eu curto amar!

Pai


Pai é homem que assume seu papel sem um ai
Que se importa e é importante
É lembrança, mas presença
Não é mero provedor, é amigo e educador
É parceiro da mãe (mesmo separado), porque entende que filho precisa das duas partes.
Pai é amor, não é papel que qualquer vento leva, nem um mero sobrenome. É laço, parto, é pranto e parte.
Divide o ventre que não tem no apoio a mulher e gesta dentro do coração um amor. Seu cordão umbilical está no pensamento. Não é sangue, mas alma!
Ri com cada passo e não deseja perder nenhum. É força (não física), mas fortaleza emocional. Pai não é só quem cria, é quem se recria! Que aprende com o filho e se torna melhor. É exemplo (ou se esforça para ser). Porto seguro na tarefa árdua de crescer. É segurança, sem medo. Não se impõe, pois escuta. Não obriga porque dá a mão. As vezes, os ombros para a criança sentar e ver o mundo do alto e aprender desde cedo que sonhar faz parte do caminho. Se um Pai cuidou do filho na cruz, ser pai, nunca é uma cruz para seu filho! Pai é quem abre o paraíso do peito e manifesta a divindade de criar uma vida (e cuidar dela).

Quando o lado sombrio me domina


Minha alma desarma
Em pleno campo minado
No escuro, não vejo pegadas
Não sei se é abismo ou atalho
Se afogo ou sou afago
Lágrima é doce ou salgada?
Não sei se minhas sobras tem eco
Ou se é tudo sombra do meu ego
Sem luz, somos iguais
Uma face plácida
Um disfarce plástico
Não sei se escuto ou sou escasso
Certamente, escuso
Faço caso
Natureza tão dramática
Que chega a ser engraçada
Arte estranha
Para mentes não tacanhas
E sem moderação
Quer que eu tenha modos?
Meu melhor modo é viver

Não seja


Não seja momento
Para quem não tem tempo
Passatempo?
Prefira estar só consigo mesma(o)
Ser sobra para quem não se importa?
Prefira abrir a porta
Para quem se porta! Não fere!
E põe as mãos à obra
Construindo em si
Estadia
Que muda todo um dia
Não seja intervalo
Para não ficar na vala
Melhor ter valor do que preço
Apreço rende! Não se renda
Emoção também gasta
Desgasta
Sem reciprocidade
Não há proximidade
Só uma ilusão desalmada
Uma espera inacabada
Que sempre recomeça
O que você quer terminar

Conexão


Conexão não tem nexo
É a simples simpatia
Que liga uma mente na outra
Em rede 3G: Graça, Gruda e Gosta
Não tem parâmetros, mas sintonia
E nem motivos, mas sincronia
De dois momentos que se acham
Em um mesmo instante
De duas pontas soltas
Que se amarram e se marcam
Mas nunca acaba
E que mesmo sem cabo
Pluga na saudade
Com jeito ou atrapalhado
Nunca ficam sem sinal
É comunicação
Mesmo sem palavras
Em que basta um olhar
Para um coração
Se enxergar no outro
E bater no mesmo ritmo

Par-tida


Hoje, você está aqui...
E amanhã?
Pelo mundo não desbravado
Escrevendo histórias inimagináveis
Com pessoas e lugares
Que nas suas melhores fantasias
Não pensou conhecer
Enquanto vejo seu retrato mudado
Seu jeito transformado
Até que uma nova forma
Faça-nos desconhecer
E Eu? Um instante de saudade
De um livro lido
Na estante da alma guardado
Em um momento partido
Enquanto caminhava perdida
Até que não mais estivesse perto
Nostalgia?
A lembrança é ovelha desgarrada
E não domesticada
Que costuma ir onde você não pode chegar
E só me resta espiá-la
Pular as cercas da vida
Até que o meu sono venha
E o sonho me leve para outro lugar

Você vai ser tio


Primeiro veio a comédia: “Fiquei para titio”. Depois caiu a ficha: serei tio. Lembrei de todas as minhas tias e o quanto cada uma delas mudou minha vida. Desde aprender um instrumento musical, encontrar um caminho espiritual à literalmente salvar minha vida.
Minha família é um matriarcado de mulheres fortes, não poderia ser diferente que o universo enviasse mais uma para reforçar o time! E o que é um tio(a) senão a extensão do amor da mãe/pai? Um coração movido pelo mesmo sangue, pelas mesmas histórias e que um dia também dividiram o mesmo útero. Ser tio não é decorativo! Ser tio é amor ao quadrado, amor pela irmã e afilhada! Amor kinder Ovo! Dois chocolates em um e com a surpresa de um novo momento! Tempos de ressignificar o nosso mundo para que ela encontre nele todos os caminhos abertos para crescer! Ser tio para aprender a ser melhor como homem e me sensibilizar com cada pequeno passo e descoberta (sinto que nesse ponto estamos no mesmo degrau porque também engatinho nesse papel). Sobrinhos nascem, mas uma vida nova nasce com eles. Fiquei para titio com muito orgulho e pela vida toda!