terça-feira, 13 de outubro de 2015

Novo Anúncio


Coloquei meu pensamento no "Mercado Livre" da fantasia
Não é um Google, nem uma Wikipedia, mas também procura respostas...
Esporadicamente, a timidez faz cair a conexão, mas habitualmente é bem estável.
Um pacote de dados multidisciplinar, interativo e flexível. E a modernidade do 4G de redes associativas neurais.
Nunca entra em modo stand-by, mas funciona melhor a noite do que de dia.
A banda larga é emotiva. Enquanto deseja criar um blog, ele já definiu o layout e postou por você.
Vive armazenado numa nuvem virtual e não precisa de backup (ele raramente esquece)
Entrego por sedex em qualquer estado e idéias disponíveis enquanto durar o estoque.
Não perca esta oportunidade, antes que a mente esvazie

Querer



Tinha fantasias poéticas, mas transcreveu a realidade mesmo sem rima
Queria viajar e desbravar o universo, conformou-se com alguns versos e uma viagem interior
Queria mudar o mundo, consolou-se em mudar o seu mundo
Amava cachorros, mas ganhou um gato e o amou do mesmo jeito
Desejava tocar piano, mas recebeu um violão e transformou teclas em cordas.
Sonhava em ser amado, mas aceitou simplesmente amar
Muitas vezes, ansiou apenas um abraço e preencheu o vazio dos braços com uma almofada.
Amava conversar e sem ter quem o ouvisse, escreveu.
Algumas vezes quis partir, mas sem ter para onde ir, simplesmente mudou o lugar do que pensava
Queria construir grandes obras, felicitou-se com pequenos lares
Queria ter filhos, mas fez de todas as suas criações parte de si mesmo.
Queria sentir menos, mas sua emoção nunca parou de crescer.
Queria ser adulto, mas não conseguiu abandonar a criança que habitava o seu ser.
Quis rir, mas quando não era capaz, se esforçava para fazer os outros rirem.
Queria muito se achar, mas alegrou-se em não se perder.
Quis por muito tempo a liberdade da alma, mas aprendeu a ver beleza na prisão do corpo.
Queria uma religião, mas fez do amor, a sua fé.
Ainda que algumas vezes, desejasse pedir, se limitou a agradecer.
E quando esperava ganhar, fez da perda a vitória de aprender com ela.
Aquilo que não pôde fazer, adaptou.
O que não pôde adaptar, aceitou.
O que não pôde aceitar, deixou ir embora.
E aquilo que partiu, quando se distraiu, novamente encontrou!
Não do mesmo jeito, um pouco modificado, mas com o perfume da primeira esperança que sentiu.
Não desejou mais nada, simplesmente sorriu...

Desventuras afetivas de um tímido



Muitas são as áreas que um tímido apresenta dificuldade de comunicação, mas nenhuma é tão crítica quanto a afetiva. Talvez pelo fato das emoções serem instintivas e o tímido, ao invés, de deixar fluir o que sente, racionalize! Como se as palavras se perdessem no caminho entre o cérebro e a boca. Logo, enquanto o pensamento diz: “Você é linda, a mulher da minha vida”, a boca fala: “Oi” (E não sai nada além disso).
Nesse processo, estou certo, que nenhuma personalidade, acumule tantas desventuras afetivas. Mas o que antes era um “drama”, se torna uma comédia. Aliás, é uma linha tênue entre os dois estilos. Tudo está na forma, como a história é contada. Logo, melhor do que qualquer teoria, vamos as vivências!
Uma criança deveria saber que teria problemas de relacionamentos, quando precisou entrar em um armário escuro para dar o primeiro beijo. Está certo que era um beijo lúdico, sem malícia, mas esconder-se já era um forte indicio que seus próximos passos não seriam tão fáceis nesta seara.
A amiga DELA falou com um amigo DELE que estava interessada nele. (Nenhuma situação é mais favorável para timidez quando os fatos, assumem a iniciativa por ele). Ele falou para o amigo, que disse para a amiga, que chegou a ELA, que ELE também gostava dela. Nesta troca de mensagens, quase um telefone sem fio, com os amigos, dizendo o que bem entendiam, trocaram os telefones. ELE, finalmente, ligou para ELA. Quase gaguejando e sem o menor jeito, convidou-a para sair e ela aceitou. ELA morava longe e ELE sem calcular o tempo devido, chegou quase 1 hora atrasado! Nesta época, não havia celular para avisar! (Sim, essa história é quase do outro milênio, embora a timidez seja sempre atual). Mas ELA aguardou e ELE quando a viu, se deparou com um rosto furioso pelo atraso. Se tudo já era difícil, nada como uma mulher brava para tornar as coisas mais complexas. ELE disfarçou e ELA esqueceu, afinal ambos tinham um objetivo comum, um ao outro. ELA o levou para um lugar onde todas as pessoas ao redor se beijavam (seria uma mensagem subliminar?). Na verdade, ele sabia que não havia dúvidas quanto ao que deveria ser feito, mas onde estavam as palavras? ELE pensava: “Você está linda” e ELE dizia: “Que dia bonito”. ELA era bastante paciente, quase uma monja budista! O dia passou quase todo. ELE já desanimado pela sua própria limitação, já buscando consolações internas para justificar que nada aconteceria, apesar da vontade. ELA propôs uma brincadeira com as mãos e brincando de “pegar e travar os dedos”, puxou-o para ELA e o beijou. Abençoada sejam as mulheres independentes, que vencem o machismo do mundo e posicionam-se sobre o que querem! Mas apesar do restante do dia ter sido especial, ELE certamente, ponderaria que tinha feito tudo errado e demoraria tanto a ligar outra vez, que ELA tomaria outro rumo.
Assim inicia a romaria da timidez, cujas perdas, acabam por ensinar a criar artifícios para driblar as situações.
Diz o dito popular: “Dois bicudos não se beijam”. De fato, dois tímidos também não se beijam! Dois tímidos se encontrarem, já é quase como ver um duende ou uma fada. Mas ponderando sobre um caso concreto, acreditemos que ambos lutaram para se superar, embora não tenha sido suficiente. Como tentar sair de casa, com a porta trancada e não saber onde deixou as chaves.
ELES se encontraram em um parque. Tudo era belo, aliás bem romântico. Mas se um tímido é bom, dois são melhores ainda. ELE se esforçou, perguntando quase que tudo sobre a vida DELA. Mas ela se limitava a dar respostas através de monossílabos (Sim! Dois! Gosto!). Não dava continuidade e não perguntava nada. Alguns silêncios constrangedores se colocaram entre os dois. E ele já havia esgotado quase todas as perguntas que recordava. Acho que nem Sherazade e suas 1001 histórias dariam conta de ajuda-los. Se despediram como se encontraram sem que nada houvesse acontecido. Um mês depois, ela estava namorando, mas tenho certeza, o namorado não era tímido.
E para não estender demais, nem tudo é impossibilidade, mas as vezes, esbarram em pequenos detalhes desconcertantes. ELA não era tímida e a aproximação entre ambos foi facilitada por esse fato. ELE já no colo dela com alguma intimidade, recebe um beijo interminável. Está certo, que ele começou a sufocar, mas não queria ser indelicado e afastá-la. Já se conformava com a morte e com o fato de que o ar lhe faltava completamente.Pensou em bater 3 vezes no chão, como um lutador que desiste da luta, mas para sua sorte um policial disse que não podia beijar ali. (E ainda há pessoas que tem a coragem de dizer que policiais não fazem nada).
O cúmulo da timidez e suas desventuras é quando personifica um objeto inanimado como uma almofada e atribui nome a ela como o ator americano Tom Hanks no filme "O naufrago" e seu famoso amigo, a bola de vôlei, Wilson.Não que seja uma forma de praticar o que não consegue pessoalmente, mas uma certa identificação com o não reagir.
É verdade que “nada como o tempo”. Para suavizar e aparar nossas arestas. Nos ofertar recursos e instrumentos para vencer ou contornar nossas limitações. Aliás o tempo nos ensina também a não nos cobrarmos tanto, nem esperar tanto dos resultados. E nisso, acabamos deixando de ser um obstáculo e permitindo que as coisas “fluam” exatamente como devem ser. Entendemos que o medo de perder resulta na perda e que ainda que perca involuntariamente, mas vale a tentativa do que o eco de pensar “e se eu tivesse...”.
Talvez desnudando um tímido, como um taxidermista faria para estudo de uma espécie, ajude a compreender, que dentro dessa casca chamada corpo, muitas vezes, silenciosa e restritiva, existe um universo em ebulição. Rico em imaginação e fantasia, mas que eventualmente, tem dificuldade de transparecer para a realidade. Independente da área, se você convive com um tímido, não tema sua reação. Seu problema não é a proximidade, mas a falta dela.

A Ditadura da Felicidade


É estranho escrever um texto na contramão do mundo, mas enquanto todos buscam ansiosamente a felicidade, muitos acabam sendo escravizados por ela.
Maquiavel sentenciou: "Os fins justificam os meios", no entanto, 
observo que os meios se tornaram os fins. Nunca a felicidade esteve tão na moda e para obtê-la vale tudo, desde que, devidamente, postado, curtido e compartilhado! Ao invés de um estado de espirito conquistado... ser feliz, se tornou uma impensada subjugação!
Neste processo, que antes era simples, tudo se complicou. Agora é necessário expor a melhor festa, a melhor viagem, o/a melhor namorado(a), o/a melhor filho(a), etc...nesta hipervalorização do cotidiano, os padrões e objetivos a serem atingidos se tornaram elevados demais, o que justifica a presença cada vez maior da depressão na vida de muitas pessoas.
Se o corpo e a razão "correm" atrás deste modelo de felicidade, a emoção não acompanha, porque precisa de um tempo (que não tem) para compreender e maturar. Aliás, qualquer pessoa, na atualidade, que escolha desafiar o senso comum de "maravilhoso", sofre uma grande (im)pressão.
Como uma pessoa não quer ter filhos ou casar? Como não gosta de viajar? Como não participa de redes sociais? Como está sozinha?
Inconscientemente, a pergunta seria:"Como alguém consegue ficar bem, sem fazer tudo que eu faço ou desejo fazer?"
Mas não é o fazer que determina a felicidade, mas sim, quem somos. Contraditoriamente, fazemos coisas sem parar, mal tendo tempo de saber quem somos.
A meditação budista ou uma prece é um exemplo claro dessa "reconexão" consigo mesmo. Quando interrompemos o movimento do mundo, silenciamos e olhamos para dentro, reconhecemos a nossa natureza. Afastamos, temporariamente, as ilusões do "impermanente e mutável" e acessamos nossa essência perpetua.
Romper com a ditadura da felicidade, não é ser infeliz. É estar inteiro naquilo que se propõe fazer, sem melindres por cobranças externas ou inseguranças por simplesmente discordar ou ser/estar diferente.
Dizem que o PRESENTE é um presente. Logo, podemos considerar que a "presença", também é uma dádiva. Assim, não é a felicidade que tem de ser presente, mas sim sermos presentes na felicidade!
Uma vez libertos dessa ditadura, o mundo antes restrito, ganha um novo panorama, chamado Liberdade! Liberdade de escolha, de sentimento e de ser quem se quer ser.
Seja Feliz, ou melhor, Seja!

A arte de escolher


Na vida somos definidos pelas nossas escolhas ou pela falta delas. Curioso que dentro da palavra "escolher" existe o verbo "colher"... Como se a definição de nossa posição seja justamente o fator determinante de onde estamos.
Comumente, dizemos: "mas não escolhi passar por isso"...nem todas as nossas escolhas são conscientes.. As vezes, a omissão determina a ação e nos iludimos ao pensar que o ato de não agir, não é uma ação. Não raro, as raízes do que não fazemos são mais profundas do que o que foi feito. Porque ao silenciar, também consentimos e permitimos que elas se desenvolvam livremente. Uma escolha parte sempre da capacidade de decisão... Que por sua vez guarda em si, o ato de cisão. Para optar por algo, obrigatoriamente precisamos aceitar romper. Uma escolha nunca vem só...para recebermos algo, é preciso deixar partir outra...
Quando tentamos a proeza de ganhar ambas as opções, não raro, acabamos sem nenhuma. Para todo começo, precisamos de um fim.
O problema de não terminar e começar algo simultaneamente é que entramos em um campo de incertezas. Ser uma parte, sem estar inteiro, resulta nas velhas hipóteses inconclusivas... "E se eu fizesse...", "E se eu deixasse..."... E no "E se.." Não encontramos um futuro, apenas um passado improvável.
Um dito popular diz: "Escolha mal, mas decida". Não há crescimento e nem movimento na dúvida, ela é apenas um ponto partida. Como uma corrida que diante da largada, todos partissem, se distanciassem e você se mantivesse ali parado observando. Mas neste caso, os outros "corredores" são a vida, que segue e não aguarda que decida! "O tempo não para" e o amanhã começa agora! Não adie! Hoje é o dia!

O homem que nunca amou


Nunca deu um beijo que lhe tirasse o fôlego
Nunca foi arrebatado pela loucura de um sonho
Nunca foi sufocado pela saudade de um abraço
Nunca foi consumido e incinerado de paixão
Nunca fez parte do inteiro de alguém ou foi partido ao meio pela sua metade que deu
Nunca se afogou em prantos ou perdeu o ar em risos
Nunca um objeto despertou suas memórias e nem teve o esforço de esquecer o que perdeu
Nunca foi arranhado pela ansiedade de um carinho
Nunca teve seu corpo corrompido de desejo
Nunca teve um sentimento que merecesse ser espelhado e imortalizado em uma gestação
Nunca se perdeu em delírios de um futuro, nem se encontrou no reflexo de um olhar
O homem que nunca amou
Sua história não escreveu
Assistia tudo à distância sem ser visto
Enquanto lentamente pela vida, morria

Um Wi-Fi, por favor!


A: Um wi-fi, por favor!
B: Não temos, mas o Sr. gostaria do cardápio?
A: Como assim não têm?
Que absurdo! Que estabelecimento é esse que não tem um wi-fi em
pleno 2015?
B: Senhor, servimos café!
A: Café? sem internet?
B: Mas temos café com outras opções! E o Sr. pode habilitar o seu 3G!
A: Quer dizer então, que está realmente me sugerindo que habilite meu 3G?
Quer que eu traga o pó de café também de casa?
B: Infelizmente não posso ajudar o Sr. É tudo que temos!
A: Ficar desconectado? Prefiro procurar outro lugar!

Se retira indignado do estabelecimento e logo, entra numa loja de peças íntimas..

A: Um wi-fi, por favor!
C: Sr. isso é uma loja de peças íntimas!
A: E tem lugar de maior conexão que a intimidade?
C: O Sr. está bem?
A: Acho que não, estou offline!
C: Calma Sr. respire fundo!
A: Você já pensou? Podem achar que fui sequestrado, que morri...
C: O Sr. gostaria de telefonar para alguém?
A: Telefonar? O que é isso?
C: Acho que o Sr. está um pouco confuso.

De fato estava, saiu atordoado, sentou no chão, escreveu num pedaço de papel
"Um Wi-fi, por favor" e ali aguardou que uma bondosa alma, o doasse um!

Enquanto a vida passa...



Abandono as fórmulas de verdades incertas
e paro de questionar certas dúvidas (certas)

Retiro as máscaras
E aceito minhas imperfeições

Rio de mim mesmo
E choro só com a beleza que comove

Reduzo o drama de partes
Amplio o inteiro da comédia

Constato a impermanência
e tenho certeza da permanente mutação

Desejo a liberdade de princípios maniqueistas
E entendo que entre dois extremos existe um longo caminho

Prevaleço a jovialidade da consciência 
Com ânsia de descoberta e entrega

Torno-me flexivel e maleável de idéias
Ainda que o corpo não mais espelhe isso

Entendo as dificuldades como oportunidades 
E as diferenças como complementos

Entrego-me ao prazer da simplicidade
E sintetizo a complexidade

Me doo com intensidade
E me dispo das ilusões

A vergonha e o medo não mais me obstam 
A vontade e transparência me realizam

Esqueço a prudência e a segurança
Sendo tudo que me permito ser

Paro de morrer durante a vida
E deixo que a vida me leve até a morte

Caixa de Entrada


Caixa de entrada é uma loteria
Entre milhares de e-mails cotidianos
Se aguarda apenas um que quebre a rotina
Que seja surpreeendente e inesperado

Nisso nasce o vício, como todo jogo
De abri-lo a cada segundo
No girar da roleta que determina a sorte
De esperar que o resultado traga uma mudança
(de preferência sem esforço)

E nas probabilidades do inconsciente
A menor parte indeniza a maior
Assim justificando a continuidade 
Deste perpétuo movimento

Enfim, chegou o momento
Há 4 novas mensagens
Um SPAM, uma conta paga,
uma notificação de trabalho e
um convite de aniversário

A 1ª vai para a lixeira
A 2ª guardada sem ser lida
A 3ª respondida com contrariedade
A 4ª é inovadora mas não idealizada

Uma frustração assoladora, 
Mas a próxima consulta é sempre a melhor

O êxtase




Corpos cálidos se esculpem enquanto pelo outro escorrem, 
Contorcem de prazer, sequiosos e lívidos de um pertencer
Nas mãos entrelaçadas, nos versos calados pelas bocas que tudo devoram
Emaranhados e lanhados, eriçados e preparados 
Reagem quando provocados e se lançam sobre o outro amado
Se apertam e amassam em um coro sussurrado e ofegante
No coração descompassado e os poros dilatados
Instintos que se provam e deliram
Como as mãos que minuciosas, tateiam a lira
No tato, quase insensato, que se perdendo, acha
Como faísca sobre palha, acende a chama que espalha
E num derradeiro suspiro, a mistura e a entrega do deleite
Derramam em fusão o êxtase em um instante de paraíso

O escritor e o papel


Aqui, deitado, na escuridão, olho para a folha em branco e nela encontro alguma luz. Uma companhia, quase diária, de alguém que mesmo não querendo, lentamente, se acostuma a ser só. Essa ilha branca, nos exige a solidão dos náufragos, que escrevem as páginas de sua sobrevivência. Ainda que não abracemos um papel, somos abraçados por ele.
Um pedaço pequeno e branco de sonhos, que mesmo com a limitação de linhas, dispostas como a grade de uma cela, é infinito e nos liberta da prisão do mundo, cujas correntes são invisíveis.
Nossa terapia e divã. Aqui nunca há silêncio e nem julgamento, desculpas ou arrependimento. Embora, neste espaço grafamos nossos gritos e denúncias, nossas loucuras e fantasias incendiárias, nosso pudor e a nudez da verdade, nossos medos e fantasmas, nosso riso e pranto, nossa razão e inconsciência....É o lençol de nossa alma e o portal da eternidade. Não precisamos dormir para partir, basta escrever. A vida aqui também não tem morte, aliás, se morre mais na vida. Quem escreve está além dos limites, como o Deus Hermes e seus pés alados (também temos uma pena nas mãos), trafegando entre mundos, submundos e Olimpos. Nossa relação escrita é como um transe e um êxtase mediúnico. Não escolhemos as palavras, elas nos escolhem.
Neste universo, que cabe em um verso, não há credo, gênero ou formatação. E assim como o papel se doa para ser escrito, nos doamos para escrever. E só sabemos que chegou ao fim, quando nos assemelhamos ao vazio daquela folha em branco que iniciamos. A lacuna que aguarda o recomeço.

Traição


Me perdoa, não pude evitar
Ainda que doa, melhor confessar
Eu a traí, mas não por falta de amor
Tentei atrair a calma da dor

Compensar quantas lacunas?
Ou o pesar de tantas desculpas
De só querer conversar com alguém
Se alguém quisesse conversar

Tentei me ocupar
Ousei me enganar
Num preencher vazio
De uma fome que não sacio

Mas no fim, são seus braços que me acolhem
Enfim, laços que não se escolhe
E assim, perpetua nossa relação
Minha doce e amada Solidão

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Doa-se um coração
Semi-novo
Com poucas avarias
Algumas fantasias
Mas que ainda pulsa com vigor

Tem bluetooth de empatia
Ritmado com MP3 interior
Entrada USB de sentimentos
E tem inteligência artificial
Pois independe da vontade do usuário

Equipado com WI-FI universal
Sincroniza-se com qualquer rede de sensibilidade
Grande capacidade de memória interna 
E milhares de mega pixels de arte 

Um design retraído
Apresenta uma ligeira falha de comunicação
Compensada por uma ânsia de expressão poética
Longa durabilidade da bateria
Com reserva adicional por luz lunar

Doa-se um coração
Por não servir-me mais
Mas certo de que atenderá
Quem de um carece

O jogo



Na roleta do destino
Não sabemos nossa posição
Será sorte ou desatino
Ou seremos um mero peão?

Entre a perda e o ganho
Um desejo quase insano
Um querer meio tacanho
Que arrisca ser profano

Apostar todas as fichas
Em um resultado aleatório
Aceitar quaisquer pechinchas
Onde tudo é provisório

E no término do jogo da vida
Nada é como se espera
Sem cuidado perdura a divida
E é a banca que prospera