quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Estranho Conhecido


Quantas pessoas passam diariamente por nós...
Cada uma com suas histórias, dores, amores, filhos ou solidão...
Recolhidos no silêncio do seu mundo íntimo, sem que imaginemos a profundidade de seu universo, na maioria das vezes, disfarçado por um passageiro semblante.
Um grupo que passa rindo ou a mulher solitária chorando ao celular, sem que saibamos suas motivações.
Um morador de rua deitado sob a marquise, que mal conseguimos ver e imaginar o que lhe levou até aquelas condições.
Um homem passeando com seu cachorro distraído ou outro tirando selfies para publicar em alguma rede social...um dando atenção e outro buscando por ela..
Todos anônimos e desconhecidos, coadjuvantes de nosso caminho, até que a vida nos faça "esbarrar" e por algum "destino", integrem nossa história.
Trazendo para nosso mundo, novas cores e sentidos, através de pensamentos e sentimentos, parcialmente semelhantes ou completamente diferentes do nosso.
Um convite para uma revisão constante daquilo que nos acostumamos a olhar sempre pelo mesmo aspecto.
Embora sejamos autores e direcionamos cada linha que escrevemos de nossos passos, cada um que nos deparamos acresce e adiciona uma nova parte ou adendo neste roteiro.
Cada pessoa é uma oportunidade única de sermos melhores. Oportunidade nem sempre aproveitada pelo apego a conceitos e ideologias ou pela auto-defesa que ergue "muros de contenção."
Escute e dê atenção ao que cada um tem a dizer e amplie seus horizontes
com o que lhe é dito.
Evite a rejeição surda, os pré-julgamentos que massificam e nos cegam para os detalhes únicos e o falar constante que emudece e impede a manifestação alheia.
Permitam mudar sempre e receber indiscriminadamente. Desarmemos nosso interior.
Todos dizem que precisam de paz, mas a paz precisa de todos, uns pelos outros.

Proselitismo


Ela se tornou vegana
E pregava contra quem comia carnes

Ele aboliu o refrigerante e "fast foods"
E insistia para que os outros o acompanhassem

Ela torcia pelo time A
E ironizava todos os demais

Ele optou por ter relações íntimas apenas após o casamento
E era severo no julgamento daqueles que consumavam antes

Ela era contra programas de TV populares
E costumava ofender quem assistia

Ele defendia fervorosamente um partido político
Fingia não ver os equívocos, apontando os defeitos dos demais

Ela entrou para ONGs que defendiam a natureza
Se amarrava em árvores, mas era incapaz de um ato de altruísmo por alguém

Ele criticava a esposa pela bagunça dentro de casa
Mas jogava lixo na rua

Ela decidiu que preferia o parto natural
E criticava todas as mães que optavam por cesariana

Ele falava e exaltava uma religião
Mas segregava quem não acreditava nela

A opinião pessoal
Que não respeita as diferenças

Que tem justificativa para todos os atos
Mas não tolera quem diverge dos seus

A inflexibilidade e rigidez
Que engessa as formas de ver e encarar as situações

A insegurança indenizada na violência e condenação
A frágil escolha que ataca pelo temor da argumentação

Dos pequenos proselitismos
Aos grandes fanatismos

Deslocamento


O contraste entre nossos sonhos e a realidade, eventualmente, resulta em uma sensação de deslocamento. Embora "presente", a mente
parece "ausente" como se fosse uma distante espectadora. 
Este sentimento é uma espécie de "calibragem" interior. Uma tentativa íntima e inconsciente de nos ajustarmos e adequarmos. Um choque entre a redução das expectativas e a busca por novos parâmetros que definam o momento que passamos.
Neste processo tudo parece turbulento, mas assim como na mitologia: "o mundo foi feito do caos". A aparente desordem e desorientação, anseia e se direciona para a ordem e um sentido.
Para "pertencer", antes, é necessário se conhecer. Não somos definidos pelo meio ou relações, mas nos posicionamos neles de acordo com o que acreditamos ser.
E passado o casulo escuro de um momento, abrimos as asas de um novo olhar e com ele, o caminho da aceitação. Como a morte de uma parte para o nascimento de outra, agora, confiante, integrada e com ajustados ideais.

Conjugação da família moderna


Eu vivia com pai e mãe
Tu vivias com dois pais
Ela vivia com 5 gatos
Nós vivíamos só
Vós vivíeis com uma mãe divorciada
Eles viviam com as avós

Eu tinha uma irmã de sangue
Tu tinhas um irmão adotivo
Ele tinha um meio irmão
Nós tínhamos amigos que considerávamos irmãos
Vós sois filhos únicos
Eles tinham irmãos que não conheceram, pois foram separados na adoção

A mulher irreal


Uma testa com Botox e esticada
Um busto siliconado e plastificado
Uma boca preenchida
Um rosto com peeling cristalizado
A barriga seca e trincada
Negativa e lipoaspirada
Maquiagem permanentemente tatuada
Cabelo absurdamente alisado
Musculosa mas com a perna fina
Uma voz que de tanto hormônio desafina
A mulher irreal
É como qualquer outra igual
Uma perfeição imperfeita
Que beira o artificial
A assinatura do charme e beleza
Está esculpida na própria natureza
Assimétrica e desigual
Mas que no mundo não há
Mais nenhuma outra igual

Contramão


O mundo aterra
Eu decolo
O mundo gira
Eu paro
O mundo vai para esquerda
E eu para direita
O mundo racionaliza
Eu sonho
O mundo cala
E eu falo
O mundo dorme
E eu desperto
O mundo esquece
E eu lembro
O mundo ri
E eu choro
O mundo cruza os braços
E eu abraço
O mundo range os dentes
E eu beijo
O mundo teme
E eu acredito
O mundo na contramão
E eu amando o mundo

Contradições


A vida em contradições...

Do amor não recebido
E daquele que não soubemos dar

Do trabalho que paga pouco e amamos
E daquele bem pago que daríamos tudo para mudar

Da esperada oportunidade perdida
E de ver a vida mudar sem esperar

Do amigo que some quando precisa
E daquele desconhecido que faz tudo para ajudar

De nos importar com algo sem valor
E não valorizar o que deveria importar

Da viagem equivocada
E de onde estamos ser o melhor lugar

De fantasiarmos uma realidade
Quando apegados a uma realidade que não conseguimos largar

De fraquejar com saúde
E na doença, a força encontrar

De criticar certas posturas
E sem perceber agir com o mesmo "ar"

Ironias ou aprendizados?
Render ou lutar?

Entre dois pontos diferentes
Está você no meio, tentando se situar

Apagar


Então eu apaguei...
Como a flâmula trepidante que se esvai
Como o apertar do "delete" que retrocede e desconstrói as palavras
Como a noite que descolore o céu em breu
Como o desligar de uma máquina que cessa a eletricidade dos circuitos
Ou do cessar das sinapses do cérebro no silêncio da mente
Como o esfarelar de uma borracha
diluindo as linhas antes fortemente marcadas
Sim apaguei....
No mundo dos sonhos, o corpo não entra
E é preciso que ele durma para que a alma desperte
Os olhos que fecham as portas para a janela da mente que abre
Aterrando a razão para que voe a emoção
Na consciência da inconsciência
De não precisar mais ter
Simplesmente ser

Devaneio


A tela que teclo
O elo com ela
A teia que tece
A ala da fala
Sem rodeios dos meios
Livre, ainda que prive
De dar, mesmo sem ar
Um só motivo para ser ativo:

Em seus braços, meus laços
Em seu beijo, me vejo
Em suas estradas, minhas asas

Inevitável encontro, variável conto
Era uma vez, ao invés, de já era
Uma pequena menção a esta emoção
Ao findar em branco com um brando brindar
De meus anseios em devaneios

Só queria dizer...


Temi chamar e ser invasivo
Temi me calar e ser esquecido

Tive dúvidas sobre o que iria achar
Mas tinha certeza que só precisava lhe buscar

Admirava seus detalhes em segredo
Sonhar com você era quase sagrado

Precisava só de uma chance
Bastaria a pequena abertura de um lance

Para que novamente reinasse a paz em meu peito
E que não parecesse descaso ou despeito

Perdoe meu olhar que teima em lhe seguir
E este sentimento que não me deixa ir

Ainda me atrapalho, embaralho e tropeço
Mas releve o que lhe peço
Tolere e não mais me despeço

Porque parte de mim é sua
E a parte que resta, também

A mulher moderna


Correu de manhã pelo calçadão da praia, olhando o mar
Refletia sobre sua vida, suas escolhas e seu lar.
Tomou o café cercada da família
Se arrumou com um blazer, uma saia reta e seguiu sua trilha.
Retocou o batom no retrovisor
E escondeu com um sorriso sua dor
As unhas pintadas de vermelho sobre o volante
A rádio tocando uma música dançante
Acelera o carro com seu salto
Acompanha e cantarola, o som, bem alto
O mundo é dela e cabe quase todo na bolsa que carrega
Ali em seu universo profundo, protegida nos sentimentos que rega
Chega na empresa e lidera
Marca o começo de uma nova era
Até que volte para casa e tire os sapatos
Sem mais se preocupar por seus atos
Relaxe, enquanto der!
Volte a ser filha, amiga, mãe ou simplesmente, mulher

O amor e o Ser


Quisera em tempos de medo falar sobre o amor suscitando que
recordássemos este ponto para o qual todas as estradas da vida
convergem. Recordei os grandes poetas Victor Hugo, Vinicius de Moraes
e Neruda, mas embora tenham erguido bandeiras de louvores ao
sentimento, sempre o vincularam ao outro, no caso a exaltação da
mulher. Mas onde nasce o amor no ser?
Somos duplamente filhos do amor no instante que o nosso corpo é um ato
de amor do mundo e nossa alma um ato de amor do universo, um uno verso da criação! Mas então porque dividimos o amor, o setorizando em nossas
vidas?
A primeira recordação quando me fiz essa pergunta foi o mito grego das
almas gêmeas: Um ser UNO hermafrodita, tão forte, capaz de desafiar o
Olimpo. Zeus diante da ousadia daquele ser lançou um raio o bipartindo
em duas existências que se buscavam, pois apenas juntos, poderiam
recuperar a força dos primeiros dias.
Para mim essa é a grande separação do amor no pensamento dos homens.
Não somos metades que se buscam. Somos dois inteiros que se encontram!
A separação não se deu entre sexos, mas se deu internamente, separando
razão/ emoção.. visível/invisível... matéria/espírito...feminino/
masculino..Quando tudo que buscamos separar se complementa! Somos o
oceano contido em uma gota. E a nossa única forma de reequilíbrio é a
criação de pontes que sejam capazes de unir os extremos e para isso só
há um caminho: o auto conhecimento. Os relacionamentos - Re (tornar)
aos laços, é o religar com nós mesmos. Talvez a grande dificuldade de
enxergarmos o espelho da alma no outro esteja justamente na imagem
pré-idealizada que fazemos de nós mesmos. "Detesto tal pessoa", mas
não raro o detestar (de - negar/ o que testamos) é o primeiro passo de
afirmar o que ainda portamos dentro de nós. Amar ao outro é a forma
mais plena de auto-conhecimento. Uma vez que compreendê-lo resulta na
própria compreensão.
Para complementar essa pequena reflexão sobre o amor resolvi trazer a
tona, alguns pontos que talvez sejam desconhecidos por alguns como a
essência da Santa tríade repetida de forma tão mecânica nas igrejas e
tão pouco trazidas ao dia a dia. A santa tríade católica é oriunda da
Santa tríade egípcia: Horus, Osiris e Isis. A igreja católica no
inicio da sua formação, precisando de bases para instaurar seu
conhecimento se valeu da mitologia antiga para criar suas próprias
imagens. Se de um lado ofertou duas asas ao homem: "amor e sabedoria",
mostrando assim o caminho da evolução. No outro o "tri-partiu" em Pai
- Filho - Espírito Santo.. que traduzindo poderia ser lido como:
Espírito - Matéria - Mente/ Ou ainda Pensamento - Palavra - Atitude..
ou ainda Ser - Ter - Fazer. O amor é a conjunção da tríade! é a junção
de todas as cores que resulta no branco.. Se o preto demarca a transformação de um ciclo ou a ausência de cores. O branco é a origem e o inicio a presença de todas as cores. Tudo estava unido até ser separado.
Muitas crianças brincavam de desmontar brinquedos para entender o
funcionamento. Eu desde pequeno desmontava palavras para entender o
sentido das mesmas. E se a conseqüência do amor é sempre a felicidade.
Busquei chegar a origem pelo fim... Felicidade = Fé + Licita +
habilidade. Habilidade da fé... fé não é doutrina, é confiança intima
ou consciência da essência. Buscando de novo a sentença de meu amigo
Pequeno Príncipe Fé é "o essencial que é invisível aos olhos e que só
se vê bem com o coração!"
O amor é um campo único.. embora muitas vezes usemos enxadas
diferentes para cultivá-lo: religiões, família, relações afetivas,
etc...
Assim conclui que embora seja lei universal, o amor não julga, é
compreensão! Embora o amor seja atração entre afins, ele não
aprisiona, pois é libertação! Embora o amor seja como o vento a
impulsionar as velas, ele não determina, é livre arbítrio.
Não querendo me estender mais, até porque meu objetivo é unicamente
"Levantar a poeira" das reflexões para que cada um pinte suas próprias
estrelas ou vente seus próprios versos. Findo com a mensagem do
celebre Khalil GIbran:
"Embora o amor vos exalte, ele também vos crucifica. E tanto ele age
em vosso crescimento quanto em vossa poda. Assim como ele sobe até
vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros. Também desce até
vossas raízes e as sacode em seu abraço a terra.O amor nada dá, a não
ser de si mesmo, e nada recebe a não ser de si próprio. O amor não
possui nem quer ser possuído, pois ele basta-se a si mesmo. E não
penseis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar
dignos, dirigirá vosso curso."

Estranho Cupido


Ele tinha um Cupido, que seguia todos os seus passos e quando mirava um alvo, espirrava e , consequentemente, errava a flecha.
Nisto tórridas paixões eram formadas pelos mais improváveis e instáveis encontros de casais e ele ali, continuava só.
Certa noite, cansado de tantos equívocos, aguardou seu Cupido adormecer e deixar de lado sua aljava. Colocou um
espelho em frente ao mesmo e atirou uma de suas flechas contra ele. O Cupido despertou assustado, mas vendo seu reflexo,
se apaixonou perdidamente pela própria imagem. Ficou ali, petrificado de amores em uma admiração sem fim.
Se sentia vingado, no entanto, percebeu que, enquanto portava o arco e as flechas, era invisível para as demais pessoas.
Se nada podia fazer contra isso, resolveu acertar os alvos, que comumente seu Cupido errava e formar os mais belos casais, ligados pela afinidade, cumplicidade e amizade. Conseguiu criar relações "quase" eternas (apenas os Deuses tinham o mérito da eternidade). Continuava só, mas felicitou-se de ver o mundo rodeado de amor e assim, conquistou suas próprias asas.
Não precisava de mais nada, a partir daquele momento,
era livre e podia voar.

O Poeta

Escreve, versa 
Se atreve, conversa
Delira, fantasia
Das liras à poesia

Um olhar transcreve o mundo
Um ar leve, breve e profundo
Que ama o todo, mesmo que não possa tocar
Que desarma tudo, a esmo não deixa ficar

Sente e chora
Mesmo quando descrente, ora
Evoca a arte de um sorriso
Provoca em seu aparte, um suspiro

Promove o acreditar
Move e faz meditar
Seu momento, sua alma
Seu pensamento, sua calma

Organiza em expressão
Preconiza a ação
Não conhece metades da vida
Se reconhece nas metas divididas

Se entrega por inteiro
Como quem rega um canteiro
Como dever a quem o Lê
De fazer simplesmente florescer

O suicida atrapalhado


Não aguentava mais viver...
Resolveu acabar com o sofrimento...
Primeiro se deparou com questões filosóficas
Afinal, se a vida continuasse.. o sofrimento também...
Mas preferiu não pensar em nada, estava decidido em seu propósito...
Subiu, determinado, as escadas até o último andar do prédio...
Mas bastou olhar para baixo e teve uma vertigem, sentou no chão, com a cabeça entre as pernas e respirando fundo e pensou que talvez não fosse a melhor opção
Desceu até o apartamento
Pegou uma faca afiada e ficou olhando para ela, vendo sua vida passar pela lâmina
Mas quando lembrou do sangue que jorraria, lembrou que tinha pavor de sangue e que desmaiava até fazendo exames clínicos
Achou que seria mais fácil um enforcamento
Se amarrou no ventilador de teto e chutou a cadeira que o sustentava
Mas caiu no chão com o ventilador em sua cabeça, fazendo apenas um ligeiro e dolorido galo
Pensou em um afogamento...
Mas nunca aprendeu a nadar, justamente porque morria de medo dos "mistérios" da água...
Pensou em ligar o gás
Mas já pensou se sua mãe acendesse a luz? Explodiria o imóvel e certamente poderia, inclusive, machucá-la
Mas ironicamente ,não queria carregar a culpa de ser um potencial assassino.
Aliás, e depois? se fosse enterrado ou cremado?
E tivesse alguma consciência no processo?
Arrepiou só de imaginar...
Realmente morrer era muito difícil...
Era muito mais fácil viver!
Daquele dia em diante, sorriu para vida e teve muito medo da morte...

Homens e Cultos


Conheci um homem que malhava e não era culto
Conheci um homem que era culto e não malhava
Conheci um homem que malhava e era culto
Conheci um homem que ia em um culto e malhava
Conheci um homem que malhava um culto
Conheci um culto que malhava um homem
Conheci um culto que o homem malhava
Conheci um culto que era culto e não malhava ninguém
Conheci um homem culto que malhava um homem que ia em um culto
Conheci um homem que ia em um culto e não malhava nenhum homem
Conheci e malhava, as vezes, homens e cultos
Conheci homens cultos, cultos de homens, homens que malhavam, cultos
que malhavam
E no fim, eram todos só homens e cultos

Escrever


Sim, escrevi...
Escrevi pelas coisas que vi
Algumas que vivi, outras vezes, por mero "deja vú"

Escrevi pelas coisas que sonhei
Algumas que acreditei ou porque já não sou o mesmo, mudei

Escrevi pela ânsia de falar
De partilhar as histórias e através delas, multiplicar

Escrevi pela companhia
Não há solidão nas palavras que no papel dividia

Escrevi por amar demais
Pelo que sentia não caber no meu peito jamais

Escrevi para viajar na fantasia
Me extasiar de mundos que desde a infância fazia

Escrevi para libertar a alma
Achar dentro de mim, a paz e a calma

Escrevi para represar minhas lágrimas
Canalizar pelo rosto até que virassem rimas

Escrevi porque sou assim
Por tentar encontrar no íntimo um fim

Escrevi para você
Mesmo sabendo que não me lê

Escrevi por quem me lia
Que acreditava em mim, mesmo quando eu descria

Escrevi porque o texto quis
Não escolhi as linhas, elas me escolheram e fiz

Escrevi até mesmo sem saber a razão
De fato, não sabia, mas naquelas linhas estava meu coração

Presenças Invisíveis



Do colo acostumado a deitar, restou uma almofada
De onde antes tinha uma conversa agradável, agora habita uma poltrona vazia
Das piadas animadas contadas em festas, agora reside silêncio
Muitos colos deitaria depois, mas para nenhum deles, seria um príncipe/princesa
Muitas conversas agradáveis teria adiante, mas nenhuma delas, lhe diria as coisas que gostaria de ouvir
Muitas piadas escutaria e riria com elas, mas nenhuma contada com aquele jeito único de ser
Os móveis mudariam de lugar, as paredes seriam pintadas, mas ainda assim, dentro de você, tudo está no mesmo lugar e segue enxergando cores que não existem mais.
Não vemos mais as pessoas, mas suas vozes não calam dentro de nós (chegam mesmo a nos aconselhar)
A presença existe enquanto não esquecemos e não há como esquecer, seria apagar uma parte de nós
Quando perdemos alguém, na verdade, perdemos uma parte de nossa história, uma parte do que somos (já que por mais individual que sejamos, somos únicos com cada um que convivemos).
E assim, um a um, vamos desaparecendo como éramos conhecidos, mas renascendo em histórias que não contamos ou que contamos, mas que o tempo modificou
Deixando grafado uma tatuagem e impregnando o mundo ao redor de impressões
Dando significado a coisas insignificantes e que só fazem sentido porque alguém tinha sentido para você
Os defeitos, que costumávamos levar tão a sério, agora, são leves e nos divertimos com eles. Na verdade, nunca foram importantes de fato, ou melhor, os fatos é que julgávamos importantes.
Nos multiplicamos através de cada um que convivemos e nos inserem em suas conversas, emprestando o nosso olhar da vida para mudar a vida que alguém está acostumado a olhar.
A morte é uma ilusão (morremos mais em vida). Sempre haverá alguém que dirá: "Que absurdo! Tudo acabou!"
Mas ousemos olhar para dentro de nós mesmos e nos perguntemos: Como algo pode acabar, se continua ali, se manifestando dentro de nós?
Vivemos cercados de presenças invisíveis, mas assim como as estrelas, cuja morte do astro, não apaga o brilho que nos encanta toda noite ao olhar para o céu, o amor não nos deixa só jamais e segue ao nosso lado nas novas descobertas e realizações.. Ele é a ponte que liga os mundos, é a linguagem universal que não precisa de corpos (e nem de palavras) para se fazer presente.
Curiosamente, poderíamos nos valer da simples gramática para falar sobre isso e sintetizar todo esse mistério.. A morte...Amor-TE.. Te amo..

Conjugação de Alergia


Eu espirro
Tu empolas
Ela coça
Nós avermelhamos
Vós asfixiais
Eles tomam antialérgico

Re-des-conhecer


Curiosa é a vida que nos leva a conhecer, reconhecer e desconhecer pessoas.
O conhecer é toda conversa que começa sorrateira, meio sem jeito, até que sem perceber, não lembra mais como era sua vida sem tal existência. E felicita-se quando está perto, até mesmo com o silêncio,
porque algumas vezes, ele basta para tornar alguém presente.
O reconhecer vai além! Passa a ver uma parte de si mesmo na outra pessoa. Uma identificação além de afinidades, que faz com que os segundos pareçam eternos. Se no conhecer não se se lembrava como era a vida sem, no reconhecer tem certeza, que só é possível existir outra vida para explicar uma proximidade que supera o próprio conhecimento.
O desconhecer é sempre uma fatalidade. Um desencontro de caminhos ou direções. Quando mudanças transformam aquele inconfundível sorriso em mais um na multidão. Se no conhecer e reconhecer, destacamos a agulha do palheiro, no desconhecer tudo é palha! É uma perda de interesse que constrange a própria proximidade. Como se soubesse as particularidades de um estranho: "Eu sei que você sabe, mas não podemos evitar".
Creio que conhecer seja sempre uma ânsia comum. Reconhecer é algo mais raro, pois exige um aprofundamento, cujo risco, nem todos
estão dispostos a correr. Já desconhecer é sempre o mais simples, ainda que, eventualmente, não seja um processo fácil de lidar.
Aproveite cada oportunidade que a vida lhe dá! Cada pessoa que traz para seu caminho, uma forma única de olhar! Não tente compará-la
a ninguém (semelhanças nunca serão igualdade) e nem queira forjar suas características a um molde ideal ou narcísico (há quem busque um espelho), antes aprenda com as diferenças. E se apesar de tudo, precisar lidar com a separação, aceite que extraiu tudo que poderia e recebeu o máximo que este alguém poderia lhe dar. Não se aprisione em uma imagem cristalizada da pessoa que esperava que fosse (e efetivamente nunca foi).
Seguimos mudando e nos transformando pelo caminho. Nem todos serão capazes de acompanhar nossos vôos ou nós mesmos, de sempre acompanhar o voo de alguém.
Não se preocupe com isso, nem com o amanhã... a beleza da vida está no caminho e no processo que leva a ele... O fim é sempre uma consequência, não a causa.