quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Empatia


Não é caridade
Caridade precisaria que alguém carecesse e sem empatia, a falta está em nós!
Não é afinidade
Afinidade é identificação, empatia passa pelo entendimento do outro, mesmo que não se identifique com ele.
Não é narcísico
Narcisismo é ter um espelho no olhar
A empatia não vê reflexos, ela vê através
Empatia não é reciprocidade
Ainda que reciprocidade não seja gentileza, mas encontro. Quando não há encontro, a EMpatia vira Apatia. E patia do grego Pathos é doença!
Empatia não é empatar
Empatar pressupõe igualdade
Mas é a igualdade da contramão
Na mão dupla das diferenças
De quem abre seu universo e do universo que se abre
Empatia não é senão
Capacidade de visitar o outro
Sem esquecer o outro que habita dentro de si
É a viagem compartilhada
Sem o estranhamento
Que não se importa com a desigualdade entre os dedos, mas com a importância da mão
Mãos dadas!

O jogo do desinteresse


Ele gosta dela
Mas finge não gostar
Para que ela goste dele
Ela não gosta dele
Mas finge gostar
Para que ele goste dela
Eles não gostam um do outro
Mas fingem gostar
Para terem opções
Eles gostam um do outro
Mas disfarçam a iniciativa
Para não precisar assumir
E nesse jogo de desinteresse
Todos perdem para a solidão
Ninguém gosta de ninguém
Só olham a própria razão

Necessidades Especiais




Sempre me identifiquei com portadores de necessidades especiais. Eu sei que não tenho problema de visão, que algumas vezes, vejo até mais do que gostaria. Não tenho dificuldade de escutar, nem mesmo as coisas que são ditas dentro de mim. Não tenho problema em falar, ainda que não seja o meu melhor talento. Não tenho dificuldade de locomoção, mesmo nunca estando no mesmo lugar. Nem sou autista, mesmo tendo meu próprio mundo. Então porque me vejo tanto em quem sofre de tais males? Porque o mundo ainda é deficiente na capacidade de se colocar no lugar do outro. E sensibilidade demasiada ainda sofre a estigma de um defeito. Sofremos a hipocrisia de quem nos trata como iguais, mas apontam as diferenças nos detalhes (eventualmente até de forma explicita). Especialmente, quando se é homem. O mundo diz que espera um homem "diferente", mas busca um diferente, que seja igual a todos os outros. Talvez toda diferença tende a ser rotulada para cair em um "lugar comum", que seja fácil de compreender. Mas a alma é complexa, mesmo quando tentamos fazê-la simples. E a ponta de um iceberg nunca dirá a extensão da sua profundidade. Neste sentido, porto uma necessidade especial, melhor, porto uma necessidade de me fazer especial para mim mesmo. De entender e respeitar minhas limitações. De superar os preconceitos de quem não compreende, mas acima de tudo, não ter eu mesmo preconceito do que eu sou, mesmo que fuja dos padrões esperados. Viver também é adaptação. Mas acessibilidade, não é apenas o direito de ir e vir em vias públicas, mas acesso que só existe para corações abertos.

Letras Mortas


No dia que eu morrer
Não me tornem citação
Citação não tem contexto
É mera forma de divagação
Se fizer uma homenagem póstuma
Leia tudo que escrevi
Tudo aquilo que quando vivo
nunca fez questão ou viu
Porque as coisas só importam
Quando o sentido ja se perdeu
Quando é preciso imaginar com esforço
O que um dia presente, não recebeu
No dia que eu morrer
Só não me tornem citação
Se na exclamação não caibo
Não quero a cruz de aspas
Só a paz!

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Incontinência


"A alegria também dói" -
Suspiro pela culpa de um sorriso
Dado explicitamente
Sem pudor ou reserva
Aquela felicidade desaforada
Que esfrega sua nudez na hipocrisia
Que contradiz o passado quando este se impunha:
"Esconde as covinhas no canto da boca"
Não, não há mérito nesse desatino
Nessa educação ensinada
Que pede o riso de fora quando se quer a lagrima ou exige o choro quando tudo dentro é riso
Gosto da felicidade profana que despe o juízo, desta que se entrega
Escancara, displicente e sem razão
E que gargalha da sua loucura
Que ri da própria tristeza
E não espera nada, só a inocência de ser feliz

Religiões



As primeiras batidas do meu coração acompanharam os atabaques de um terreiro de umbanda
Meu rito de passagem para a vida adulta seguiu toda preparação da primeira comunhão católica
No caos adolescente aprendi que tudo é equilíbrio com o Taoísmo
Contive minha ansiedade com a meditação hinduísta
E me disciplinei com a filosofia budista
Até que me percebi espírito e me tornei espírita
Religiões são instrumentos que conduzem ao mesmo lugar: amor
Religiosidade é o sentimento que vai além de designações e nos faz querer melhorar e auxiliar o caminho alheio.
Se o que acredita não tolera diferenças, o problema não é sua religião, mas sua religiosidade.
Que ao invés de religar com o amor, está enraizando o ego. A ponto de preferir destruir o que não entende com medo de abalar o que julga entender.
Livros orientam, mas são suas ações que lhe dirão quem é.

O eclipse


Somos lua e sol
Sou a sombra do silêncio
Ela, luz da expressão
Sou a palavra reprimida
Ela, a liberdade da ação
Sou criança em um mundo adulto
Ela, adulta em um mundo infantil
Na timidez, ela me visita
Na extroversão, eu faço turismo
Nosso encontro é projeção
Astral como fogo
Virtual como gelo
Nossa aliança é um círculo perfeito
No tocar que não se toca
Nossas diferenças cabem um no outro
Mesmo quando envolta é escuridão
Mas nos iluminamos no instante
Que nos encontramos no céu

Repetições


Por vezes, cansado
Cansado por tantas vezes
Desta repetição silenciosa
Do silêncio que se repete
Enquanto a vida não demora
E da demora da vida no enquanto
Ela nos atravessa sem esforço
Nós nos esforçamos para atravessa-la
Sem ter tempo para bater o pó
Pó a cada batida do tempo
Respiramos fundo
E mesmo no fundo respiramos
Sem olhar para trás
Atrás de cada novo olhar
Somos os mesmos
Mas tudo mudou
Desconhecendo conhecidos
Conhecendo desconhecidos
Chorando após sorrir
Sorrindo após chorar
Ficando quando queremos partir
Partindo quando queremos ficar
Sonhando o que não passamos
Passando pelo que não sonhamos
Fazendo escolhas improváveis
Provando a cada escolha
Que não importa a experiência
Quando tudo é experiência
E ainda que não goste do que escreve
Escreve sobretudo por não gostar
Porque precisa falar sobre esta vida
Precisa de sobrevida para falar
Que independe o que aconteça
Mesmo dependente do que acontece
Precisará se encarar
Precisará escancarar
Até que não sobre nada
E que o nada diga sobre:
Chega! É preciso recomeçar!

A borracha


É a poesia que ninguém lê
Apaga o que não gosta
Sem piedade com o que foi escrito
Ela não se importa
Apenas com o resultado
Alega que se desgasta
Que também deixa sua parte
Sem qualquer aparte
A cada esfregão
Mas muda tudo
Até a si mesma
Borra o texto e se deforma
Não aceita segunda opinião
Pois o seu movimento basta
Para que deixar? Estava errado
Erro que só ela sabe
Porque uma vez que apague
Não há mais nada no lugar
Só o rastro da destruição
A espera que uma nova mão
Dê um novo sentido
Até que mais uma vez
Precise entrar em ação

Vazios


Ficar na mão..
Segurar o vento
Ouvir o próprio eco
Na espera que não chega
Que não guarda, nem aguarda
No desejo que fica só
Ou é só de um lado
Do inteiro que recebe a metade
E que parte antes da chegada
O laço desfeito
De um tesão mudo
Que na hora H
Muda de canal

Provocação



Me perco nas teorias do seu corpo que conspiram contra meu juízo
Peco na inconfissão
Na perdição dos seus detalhes 
Nas femininas curvas
Que minhas intenções derrapam
Não há razão, só tesão
Tudo é silencioso fetiche 
É fábula, mas não infantil
É a leitura que faço em braile
No tato, no trato, retrato..
É música, mas não de soar, suor
Na percussão de nossas peles
Na chama que chamo
Não é para provar: devora!

A proximidade



Há proximidades que desejam distância e outras, apesar da distância.
Há proximidades que só querem estar perto, mesmo distantes. E outras que são tão distantes, que não conseguem nem ficar perto.
Há proximidades que se aproximam, mesmo desconhecidas. E outras, que não se aproximam, mesmo conhecidas.
Há proximidades inibidas no querer mais proximidade. E outras, satisfeitas na proximidade que há.
Próximo é perto, mas também página virada.
É a pessoa ao lado, mas também a adiante.
Próximo pode ser necessidade de estar perto, mas também desculpa para não ficar junto.
É apego ou alma desgarrada
Não tem jeito, cada um está próximo do mundo que traz dentro de si

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Zodíaco



Sou capricorniano, meu ascendente é sua direção. É só arrumar a desordem dos meus planetas para lhe receber e fazer dos seus braços, meu paraíso astral. Minha lua já translada ao redor da sua. Sempre saio de órbita com a constelação do seu olhar e quando sorri, sua alma faz mapa na minha. Acho que os astros estão a nosso favor, só falta agora, sair do papel.

A espera


A espera é o abraço
Entre a imaginação e a realidade
Inspiramos sonhos
Expiramos esperança
Tocamos o vento
Que agita dentro de nós
E sai como suspiro
Aperto por não estar perto
Abertos com os braços
Fechados pelos olhos
No encontro entre o existir e a chegada
Ainda que a mente parta
Antes do corpo
Para buscar a alma amada

Ter que...


É tanto querer, mesmo quando não se quer nada
Porque se não quer, é rebeldia
E se faz, é obrigação
Tem que ser como todo mundo?
Ou tem que viver na contramão?
Contramão nem sempre é leviandade
Assim como individualidade nem sempre é compreensão
E há de sermos julgados, agindo ou na omissão
Porque ainda é difícil a aceitação de que não há igualdade
Ou melhor, há igualdade no direito de ser diferente
E o que tem de fazer para ser melhor
Não é o melhor para o outro fazer
Nossas escolhas diferem e que bom, há diferença no escolher
Porque se o mundo tiver que ser todo igual
Não há lição, apenas um grande espelho banal