quarta-feira, 26 de abril de 2017

Quais os seus desejos?



Nem sempre queremos o que desejamos. As vezes, desejamos apenas o desejar. Aprendemos a desejar com espera, uma espera de querer desejar. E se concretiza? Por vezes, frustra o querer, que passa à um novo desejar. Não que a realização não seja boa, mas nunca atende o nível de expectativa de um desejo. Porque a realidade é piso, desejar é céu. Não aprendemos ainda a pisar no céu ou desejar o piso. Nossa mente nunca está no caminho, mas onde quer chegar e sem ver o caminho acaba tropeçando antes de chegar. E quando chega, a poeira das quedas parece tirar o brilho de um pódio glorioso. Mas a glória não é o pódio, mas dominar a pista! Nem sempre desejamos o melhor. Nem sempre queremos o que é necessário. Mas o que desejamos, se confunde com nossas necessidades e por isso queremos.
Mesmo que seja para constatar que não era o que precisávamos. Precisamos de muito pouco na verdade. Precisamos só de verdade. Não da verdade opinada, dogmática, trocada ou compartilhada. Mas a verdade de focar naquilo que realmente somos.
Ser apenas o que a nossa essência é, sem desejos que maquiem, disfarcem, iludam ou nos façam querer ser o que não somos. Diga o que deseja e isso lhe dirá quem é!

Encontros



A vida é feita de encontros. Cada novo olhar, uma estrada se abre. Algumas breves, outras longas. Algumas retas, outras sinuosas. Todas nos levam ao mesmo lugar: nós mesmos.
Enquanto percorremos o caminho, fazemos uma longa viagem interior. Tudo é mudança, ainda quando permanece. Tudo fica, ainda quando é partida. Tudo é começo, ainda quando termina. Cada passo dado nos forja, ao mesmo tempo que nos ensina a desapegar. Somos transformados, enquanto causamos transformações! Abandonamos o conforto do casulo para voar.
Não encontramos quem queremos, mas quem precisamos. Cada mestre necessário à nossa formação. Aprendemos o que nos é trazido e ensinamos o que precisamos deixar. Para receber é preciso dar. Ainda quando damos, sem perceber. Ou recebemos sem gratidão. Ainda quando damos o que não queremos e nisso é reciclado. Ou recebemos o que não desejamos e nisso há lapidação.
Também há encontro no desencontro. Tudo é história contada e movimento. Parte atores, parte figuração. Parte é cena, parte é platéia.
Não há desperdícios. Seja no "acaso" que se apresenta. No ocaso que nos deixa.
Um sorriso momentâneo, um esbarrão desprevenido, uma amizade que perdura, o instante de um beijo, a saudade de quem viaja, o estranho que conhecemos e o conhecido que estranhamos. A morte e o nascimento. O dia e a noite. Tudo se encontra dentro de você! O que vai encontrar? Não importa. O importante é o que fará a partir dele.

Tetrabyte


* Texto inspirado na Quadrilha do Carlos Drummond de Andrade

João amava Maria, que amava Pedro, que estava no Whatsapp com Beatriz, que havia se inscrito no Tinder para dar like em Gabriel, que curtia a foto de Ana no Facebook, que marcava o Luiz no Instagram, que acabou de chamar a Paula para conversar no Messenger, sem saber que ela queria mesmo a Lídia, casada com o Francisco, que havia acabado de ficar offline!

domingo, 23 de abril de 2017

Sal-dades


Saudades do que escrevo
Atrevo a tinta que de mim escorre
Corre no papel e explode
Eclode a alma que decorre
Saudades das linhas tortas
Portas que abro e me enrolo
Colo do que penso e sinto
Pinto a realidade que decoro
Saudades do livro meu
Romeu sem grito e sacada
Escada para Julieta
Porteira só e imaginada
Saudades da saudade
Cidade do que ontem vivi
Parti do nada para cada
Pancada do que deixei ir

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Definições de Amor



O amor não tem medida, ele é a própria medida em uma escala que ele inventou!
Não tente pesá-lo! É leve demais para uma balança e pesado para quem nele não confiou.
Não tente compará-lo! Sempre será diferença para quem o vive e igualdade para quem o descartou.
Não tente numerá-lo! Ele será sempre o primeiro passo e a última lembrança.
Não tente mapeá-lo! Ele nunca habita o mesmo lugar! O coração é partida, mas a chegada, caberá a ele dizer onde será!
Não o defina! Pois não conseguirá fazê-lo a si mesmo, depois que por ele passar!
Se ainda assim, precisar de referências... Apenas se refira à ele! O amor si basta!

sábado, 15 de abril de 2017

O banho


Brigaram naquela noite. Ele deitou chateado e ela resolveu tomar um banho para deixar que todos os problemas escorressem pelo ralo.
Enquanto ela encostava a cabeça na parede, sentindo a água descendo pela pele, ele pensava como podiam ter chegado àquele ponto.
Resolveu deixar na cama o orgulho ferido e entregar-se a sua mais bela parte, o amor. Despiu-se e entrou no box, abraçando-a pelas costas. Ela esqueceu de tudo e se sentiu segura em seus braços. Sentiu as mãos firmes dele deslizarem pelo seu corpo, enquanto arrepiou entregue. Ela esboçou falar alguma coisa, mas ele levemente tocou sua boca com o dedo a silenciando e a beijou na nuca.
Tudo que ela conseguiu foi um suspiro abafado pela queda d'água. Toda a intensidade desperdiçada anteriormente neste momento se canalizou em um entrelaçar voluptuoso. Ele ergueu as mãos dela, prendendo-as contra o blindex e mordeu levemente o queixo, antes que suas bocas magneticamente se procurassem. O vapor condensado ambientava os dois na ânsia que transpirava desejo e reconquista.
Ensaboaram um ao outro, como quem esculpisse a mais fina das obras. Tateavam cada detalhe na cegueira de uma paixão que consumia seus sentidos.
Assim se amaram e lavaram suas almas até que só restasse o êxtase. Não lembravam mais nada que houvesse ocorrido antes, tudo havia se esvaído, só restando os dois, um no outro.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Aplicativos de relacionamento e a autoestima


No início, vem aquela esperança, milhares de rostos e perfis. E como uma máquina de caça-níquel, você ali, esperando um Jackpot! Uma alma salvadora que nos tire do comum e nos salve da solidão. "Estou ampliando a oportunidade de conhecer pessoas" é uma frase comumente ouvida. E de fato, assim seria, se não esbarrasse em um problema: a falta de contato!
Sim, nem sempre é fácil encontrar alguém pessoalmente. Mas ainda assim, quando acontece, há um cortejo e um envolvimento natural, que vai desde um olhar ao querer ficar juntos. Mas os aplicativos não tem olhos, só fotos imóveis e estáticas e aí começa um problema.
Depois de muitas "curtidas" ou "negações", na melhor peneira que você poderia fazer, quando está quase desistindo, você encontra alguém. Novamente, surge a esperança, mas as expectativas nem sempre são equivalentes e muito menos a relação de cada um com o aplicativo. Você quer dialogar, saber tudo da pessoa, mergulhar na vida dela, mas se para você é um "jogo" sério para o outro é um passatempo. Ai começam diálogos unilaterais, que levam dias para acontecer, monossilábicos ou que respondem unicamente perguntas, quase como uma programação robótica e automática. Isso se não for excluido antes por falar mais de duas frases por vez. E aí no meio disso tudo, sua autoestima! Você deveria estar feliz por encontrar e conhecer alguém, mas tudo lhe mostra que nada mudou, continua no mesmo lugar. Ainda quando a conversa se desenvolve um pouco mais, ou chega a um encontro... São dois estranhos tentando a aproximação, como se daria em qualquer outro lugar, sem garantias de sucesso ou ligação. Então é como se ganhássemos, algumas moedas para perdê-las de novo. Pode virar uma grande amizade e isso é ótimo, mas a princípio, não era essa a sua finalidade e fica um gostinho de prêmio de consolação.
Aplicativos de relacionamentos são um grande teste para a autoestima. Antes de buscarmos alguém é preciso buscar a nós mesmos! Para que qualquer coisa que façamos seja complemento e consequência, nunca a causa. Não é errado tentar, mas antes tente estar bem consigo mesmo. Senão ao invés de um encontro, estará dando um "match" contra si mesmo.

Repetições




Rumino o pensamento que não paro de pensar
O que penso não existe, só me cabe mastigar
Penso que não sei o motivo que há, mas há um motivo que penso
Melhor é não pensar, e por isso mesmo, penso
Penso que não penso e de não pensar, penso
Pensamento grudento e sem gosto
Repetição que condiciona o pensamento
Me cabe aceitar o que penso 
E se não gostar? Tento pensar em algo melhor

Rótulos


Tentava me definir psicologicamente...
Bipolar? Mas tenho vários polos.
Depressivo? Mas nem sempre meu abismo é para baixo, muitas vezes, caio para o céu.
Ansioso? Mas minha preocupação não é com o amanhã! É com o hoje, com o ontem e com os dias que invento dentro de mim!
Tímido? Apenas reservo o melhor de mim para quem quer entrar
Compulsivo? Compassivo, com paixão, compositor, talvez...compulsão pelo pulsar!
Dependente? Tenho muitas pendências dentro de mim, mas não dependo delas, mas elas de mim.
Chega! Não quero mais rotular, o que sinto, ainda não foi classificado, acabei de criar...

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Síndrome do Seduzido


Viciado em ser seduzido
Pelas minhas idealizações
Apaixonado, ainda que só...
Porque o que sinto basta aos dois
Aos dois que só existem em mim
Uma alma enamorada de sonhos
Inspirada no intocável destino
Como a mão que não alcança a lua
Mas a sente ali tão perto
O que sinto dói, dois..
Porque sempre preciso acordar
E constatar, que dentro de mim não há
Sou apenas um, tentando ser dois, dói
Dividido entre a parte que crê e a crença que parte

Um pouco de amor


-"Um pouco de amor?"
Lá estava ele sentado, esfarrapado com sua latinha com o desenho de um coração. Seguia repetindo o seu chavão até que uma mulher lançou uma moeda, sem mal olhar para ele.
Ele a chamou: "Senhora, deixou cair uma moeda aqui. Tome o seu dinheiro."
Ela achou que era uma grande desfeita e bufou: "Mal agradecido". E foi embora.
Alguém observava a cena e o interpelou, após a saída da brava senhora: -"Porque recusou o dinheiro?"
Com muita tranquilidade ele respondeu: "Não quero dinheiro, quero amor".
E curiosa, a nova interlocutora continuou: "Mas como alguém pode lhe dar amor? Você é um estranho. Vive na ruas e com todo perdão, é maltrapilho e isso intimida sobre suas intenções."
Ele não se abalou. Parecia acostumado àquele tipo de argumentação e respondeu prontamente: "Não mendigo melhores condições, mendigo um pouco de atenção. Um olhar que pare, por um instante, sua correria de ir e vir e consiga me ver. O amor que peço não é muito. Pode ser uma palavra, um gesto, um aceno, um sorriso... E sim, sou maltrapilho. A falta de amor me fez assim, pobre! Mas não de moedas, mas de emoções."
Havia uma grande verdade e simplicidade naquele homem de olhar tristonho, mas que ainda assim, sorria. Talvez, tomada por isso, ela abaixou e o abraçou forte e demoradamente, depois seguiu o seu caminho.
Ela doou o amor que ele precisava, mas no fim, ela foi a maior beneficiada. Sorrindo emocionada, ouviu ao longe ele dizer agora: "Doa-se amor".

domingo, 9 de abril de 2017

O que não pode ser


Escrevo pelo que não pode ser...
Pelas escolhas que independem de mim, mas a vida fará mesmo assim...
E me encaminharão para onde não quero ir, mas preciso!
E certamente me mudarão, ainda que eu evite. Mudanças que não dirijo, mas me conduzem a ser quem devo ser.
Sentidos que hoje não sinto, mas me sensibilizarão.
As vezes, doerá. Não mentirei! Precisarei deixar ir, o que gostaria que ficasse. Terei de esquecer, o que muitas vezes, lembrei. Terei de negar, o que constantemente, afirmei.
Talvez, sinta saudade do que não foi, mas sem saber como seria, a realidade ditará o que o momento é. E assim, consiga enfim aceitar, que mais do que esforço e vontade, há o necessário, que necessita de mim.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Discussão pedagógica



O que é base? O que é currículo?
Pensei que todo currículo tinha uma base e toda base era essencial em um currículo!
Que base eles tem? Essa opinião é curricular?
Ah quer saber? Vão tomar no currículo! Só podem estar baseados...

Forasteiro


Sou estrangeiro em um planeta estranho
De palavras que não falam nada, mas me esforço para entender.
De multidões solitárias e solidões solidárias. Também me sinto só, mas não sou daqui.
Falo à ouvidos que não escutam, ainda que tente mímicas, desenhos e sinais.
Trago minha mochila dentro do peito
Ando sem rumo, porque busco todas as direções
Nunca precisei de muito, porque no fim da estrada não levarei nada. Mas vejo grandes malas cheias por todo lado, ainda que vazias.
Não entendo os hábitos locais
Como conhecidos que não se procuram (Talvez porque ninguém procure o que já achou)
De pessoas de passagem, passando corridas sem ver o caminho que trafegam.
Viajantes do mundo, mas que nunca viajam dentro de si.
De corpos lapidados, mas almas brutas. Sempre achei que o corpo fosse transporte, mas aqui é ele que dirige.
Vejo olhos vidrados que não veem. Achava que só os cegos não enxergavam.
Não sou daqui, mesmo tentando ser
Minha natureza nega e logo me entrego
No idioma incompreensível que falo
Na sensibilidade exagerada e atos extravagantes
Tento esconder, vestir as roupas do povo
Disfarce, que ninguém crê: "aquele é turista"...
É sou turista de um lugar distante, que de tão pequeno, não cabe aqui.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Um conto sensorial



O dia estava chuvoso. Uma gota escorria pela folha. O ar frio embaçava as janelas e um tímido raio de sol, atravessava as espessas nuvens. A terra umedecida e ele ali com os cotovelos apoiados no peitoril da janela de madeira, assistindo o tempo passar. Repentinamente, foi abraçado pelas costas e sentiu o rosto dela apoiar sobre seu ombro.
O perfume dela era inebriante. Havia acabado de sair do banho, trazendo com ela um ligeiro frescor. Beijou o pescoço dele e o arrepiou, o coração e a pulsação de ambos aceleraram e ele se desvirou a abraçando carinhosamente.
Os rostos colaram e deslizaram um pelo outro, fazendo carícias com a face. Sem perceber, dançavam sem música, movimentos lentos, apenas ritmados pelo ranger das antigas tábuas corridas da casa. Olhos fechados e com as bocas próximas, sentiam a respiração um do outro, no entanto, sem tocá-las. Os braços dela envolviam a cintura dele e a mão dele deslizava pela nuca dela, adentrando os cabelos, que escorriam pelas suas mãos. Os toques eram lentos, mas intensos, e naquele instante, não existia nada além dos dois. Olharam nos olhos um do outro, vendo a si mesmos refletidos. Ele sussurrou baixinho que a amava e
rindo a rodou no ar. Suas bocas enfim se encontraram, imantadas e magnetizadas. Uma procura ansiosa e interminável. Pareciam querer devorar um ao outro, quando na verdade, esperavam absorver ali suas almas. Ele colocou a mão sobre a barriga dela, sentindo a vibração do filho que esperavam. Entrelaçaram as mãos, sem que nenhum espaço ficasse entre elas e daquele instante em diante, retomaram o olhar para paisagem, idealizando o futuro que teriam juntos.Por um instante, se sentiram no paraíso.

sábado, 1 de abril de 2017

Mentiras e Verdades



Mentira já temos todo dia, quero alguma verdade...
Não qualquer verdade: parcial, velada ou por convenção
Quero verdades inteiras, entregues e sem condições
Quero a transparência de sentimentos e intenções
A sinceridade que promove, que move e transforma
Mas não muda a forma, porque são únicas!
A verdade é manca, tem uma perna longa e só...
A mentira tem muitas pernas, mas todas curtas e acompanhadas...
Verdades que convém, também não são verdades
Mas mentiras que atendem expectativas
A verdade nem sempre agrada, mas é grata revelação
A mentira adoça, mas amarga a alma pela omissão
Verdade é laço, mentira é forca
Verdade entra, mentira arromba
Verdade afirma, mentira nega
Verdade esclarece, mentira duvida
Verdade assume, mentira acusa
Verdade planeja, mentira trama
Verdade é direta, mentira é inversão
A mentira é sempre vítima da verdade
A verdade é a salvadora da mentira
Não minta para si, a pior mentira é a que contamos para nós mesmos, acreditando ser verdade...