sexta-feira, 31 de julho de 2015

(Re)verso


Enquanto se atentava para as dores passadas, mal percebia as pequenas oportunidades presentes...
Sofria e clamava por uma situação impossível e perfeita, enquanto ali estava uma, possível e imperfeita, aguardando ser vista...
Aquela ânsia insaciável que parecia uma busca, fazia com que se perdesse ainda mais pelo caminho...
Aproximava o que não queria, afastando o que esperava...E mesmo quando tinha companhia, se sentia só...
Até que um dia, o cansaço entorpeceu a repetição e a história se refez de trás para frente...
Se aproximou do que queria, afastando o que não esperava. e mesmo só, se sentia acompanhado...
Saciou a ânsia, que agora parecia tudo encontrar, fazendo com que se achasse ainda mais pelo caminho...
Percebeu detalhes até então invisíveis e aceitou as possibilidades imperfeitas, sorrindo para o impossível e sentindo como se o momento fosse perfeito...
Enquanto se atentava para as oportunidades presentes, mal lembrava das dores passadas...


sábado, 25 de julho de 2015

O vício de escrever


Sempre achei que não tivesse vícios, apenas hábitos...Mas mesmo sem ter nada neste instante que valesse a pena escrever, sinto uma enorme necessidade em fazê-lo, logo constato... Sou viciado em escrever...
E quando reconhecemos um vício creio que todos os sintomas nos pareçam claros... Quantas vezes, levantei inúmeras vezes, após ter deitado para não perder uma frase... Ou na rua, anotar algum pensamento em qualquer lugar que coubesse.. Um guardanapo, uma propaganda de rua... Já cheguei a comprar uma caneta na rua por esta ânsia incontrolável...
O que escrevo quando não vem pronto, se assemelha a um hieróglifo sem sequência, lógica ou direção.. Mas no centro do furacão rabiscado estou eu sendo arrastado violentamente para dentro de algo que só vou compreender plenamente quando tudo cessar e os ventos se acalmarem...
E como todo vício, a necessidade supera qualquer constrangimento de se expor, ainda que uma ligeira melancolia ou euforia anteceda a ação...Como o caos primordial que foi ordenado para criar o mundo... No caso o nosso caos interior que é ordenado e modelado em palavras..
Há escritores que conseguem contornar com café...com música...Mas o fato é: pode-se adiar, mas não conter, sem que se entre em erupção interna. Quando as palavras nos escolhem, elas literalmente nos perseguem.... Perdemos o controle dos próprios pensamentos.. até que eles sejam encaminhados para o papel e encontrem o seu destino, permitindo que retornemos ao nosso...
Aliás mais estranho ainda perceber que neste exato momento, que me falta inspiração, me pego escrevendo para mim mesmo... Talvez realmente tenha chegado ao cúmulo de ser personagem de mim mesmo! Nunca pensei que diria isso, mas preciso ir urgentemente ao Escritores Anônimos...Conseguir deixar só um pouquinho de lado canetas e papéis e suspirar aliviado: "escrevo socialmente"

O primeiro amor


Lá estavam eles, um casal de adolescentes dentro do vagão, alheios a tudo e a todos, só viam um ao outro. Ela com a cabeça recostada em seu ombro e ele com as mãos entrelaçadas as dela. 
Um amor entregue e inteiro. Ainda puro e desarmado, sem máculas e feridas. Uma relação que não leva o peso de um passado, sem separações anteriores, despedidas ou partidas. 
O primeiro que anseia ser o último. Um momento em que só existe a intensidade do presente, não se pensa nos poréns ou obstáculos que a vida por ventura irá criar: as noites em claro de faculdade, os dias enclausurados em um estágio e as mil pessoas com as quais ainda vão se deparar...tudo ainda parece tão distante...
A descoberta iniciada juntos que ainda carrega a inocência de se deixar surpreender e ser surpreendido. A disposição de lutar a qualquer custo para assegurar o direito de perderem sua identidade um no outro..De fugir quando contrariados..De soerguer quando confrontados e terminar tudo em um beijo...
A razão de não ter razão! De chorar todas as lágrimas e rir todos os risos, sem ponderar méritos ou medidas. A felicidade da primeira realização em vencer a infância e a fantasia e tocar pela primeira vez a realidade.
E apesar disso, ainda viverem um sonho sem fim desde que estejam juntos.
Assim estavam e assim ficaram, só levantando quando enfim chegaram a estação destino, mas sem em nenhum momento soltarem as mãos.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Resoluções

Preciso me reinventar,
Levantar e me deixar levar
Abandonar as velhas formas,
Funções e Fórmulas
Me despir de conceitos aceitos,
Preceitos e Acertos
Não mais ocultar, cultuar ou
ter de socialmente atuar
Romper com os apegos que me pegam
em lampejos
Despertar das ilusões em ilações
de novas alusões
Libertar as rentes correntes das prisões
decorrentes das pré-ações
Represar as más águas
que por vezes desaguam em mágoas
Quero só crer, não sofrer ou
pelo caminho me perder
Solidarizar sem só com a dor ter
de lidar
Viver simplesmente sem ver com uma
simples mente
Sem trégua em desarmar
Na entrega plena ao amar

sábado, 18 de julho de 2015

Notas de um outro alguém


Como seria se duas almas habitassem o mesmo corpo? Se vivêssemos com a permanente lembrança do que fomos em outra existência? Loucura? Foi assim que tudo começou...
Na mais tenra infância, ainda criança temia dormir e não mais acordar. Apesar dos seus meros 4 anos, não entendia o corpo de criança que estava a habitar. Se via um homem feito, mas não entendia ao certo o que acontecia. Outro nome, outro corpo, mas ainda assim ele mesmo.
Esse duelo perdurou até os 7 anos, quando deixando de resistir assumiu sua personalidade presente e passou a ignorar quaisquer conflitos interiores.
Se encantou pela música e mesmo sem nada saber tocar, ao ouvir Moonlight Sonata de Beethoven ao piano, quis loucamente aprender.Mas como um desencanto recebeu um violão. Mal sabia que por muito tempo, seria sua grande companhia.
Na adolescência tudo voltaria com dificuldade de relacionamentos e uma timidez opressora. Uma depressão começou a escurecer seus passos. Novamente, se sentia diferente, sem conseguir participar da vida cotidiana e habitual. Pensava e sentia demais, facilmente se sentia deslocado no que pareciam caminhos comuns. Se sentia morto em plena vida e nisto, passou a desejar e ansiar de fato a própria morte. Costumava vagar de madrugada pelas ruas sem medo e ficava admirando os detalhes, as pessoas, as ruas, os prédios...Buscando sentido para a própria existência...
Se sentia um espirito, vagando invisível e transpassando olhares que não o viam. Certa noite, compulsivamente chorando, caminhou até a praia, sentou na beirada da areia olhando o infinito horizonte do mar. E novamente aquele homem da infância retornou e dividiu seu corpo como se dois tempos simultâneos coabitassem o mesmo espaço. Mas pela primeira vez, como um delírio viu além...
Sobreposta a vida presente, como uma projeção holográfica, se viu em pleno século XIX. Agora, era um pianista talentoso e vaidoso. Dado a todos os vícios.. bebidas, charutos e sexo... Tocava para a aristocracia francesa em grandes saraus, frequentando de palácios a boemias. Sua arte era sedutora...e ao bel prazer a utilizava para manipular e induzir as pessoas com quem convivia.
Obtendo de vantagens na corte a relações lascivas ao seu prazer. Não amava a ninguém, senão a si mesmo, mas nem disso tinha consciência. E sua existência assim teria seguido se a tuberculose não o houvera parado. Se tornou recluso em uma região longínqua e fria. Sozinho com o seu piano, um cálice de vinho, velas e sua permanente tosse ensaguentada. Seu corpo fragilizado, não resistiria por muito tempo e brevemente faleceu...mas para sua surpresa, a consciência continuava viva e não conseguia se distanciar do corpo que agora jazia rígido e em putrefação. Sentia como se assistisse a própria morte, sem que nada pudesse fazer...
E foi quando para o presente em um forte impacto retornasse... De volta para o mar...mas agora, novamente com duas almas dentro de si...Passado e presente, duelando por um mesmo espaço..Num lapso entendia a dificuldade de relacionamentos de quem muitos deles tinha se aproveitado em outro tempo...sua asma dos velhos charutos.. sua agitação em ambientes festivos relembrando seus excessos... e seu violão.. que insistia em querer tocar como um piano...E uma carência que comumente o consumia em disparate aos repletos círculos do passado que se via cercado. A multidão
virou solidão.
E nessa compreensão, um alivio repentinamente o tocou. Uma aceitação de todas as dificuldades, como se presente respondesse ao passado. Naquela noite em mais nada pensou, olhou para o céu, a lua que imensa refletia nas águas do mar... e ali mergulhou como um novo batismo. Naquele ponto, suas partes se fundiram e voltou a ser apenas UM...
Da água saiu um novo homem e simplesmente seguiu...

Diálogo Poético


Calaram imersos por um momento
Falaram por versos seus sentimentos

Logo tentaram um dueto
Mas juntos, lograram em um Só-neto

Cada palavra com ardor em estrofe
Levava a dor e o amor que um sofre

Mas apesar de suas colocações
Vigoraram outras compreensões

Metáforas não terminavam
E afora se dispersavam

Assim reclamaram pelo texto ainda pendente
E no fim, abraçaram-se em contexto reticente

Maldita Felicidade


O filme "Jornada da Alma" trata do rompimento do famoso psiquiatra Carl Jung com seu mestre Freud e a descoberta de cartas trocadas em um relacionamento proibido com sua primeira paciente.
Em determinada passagem, diante de uma fantástica ópera ao lado da sua então amante, Jung em lágrimas profere: "Maldita Felicidade"! Embora fosse um momento de plenitude e libertação, aquele instante poderia representar o fim da sua promissora carreira e mesmo comprometer os demais envolvidos.
Sem entrar nos méritos morais e éticos da situação, nunca esqueci desta expressão, que me pareceu tão contraditória, intensa e rica de simbolismo.
Naquele momento de êxtase pleno, quase como um suspiro da opressão diária, o "maldito" representava todas as correntes e as prisões superadas. Uma liberdade que mesmo devendo ser reprimida, foi permitida e aceita como um grito que gostaríamos de dar diante de todas as nossas limitações e medos,  o que por convenções ou restrições íntimas, sufocamos, ainda que constantemente faça parte de nós.
Como um pensamento proferido, uma atitude realizada, um desejo satisfeito, um medo enfrentado..
Uma libertação das regras, que muitas vezes ditamos e repetimos como hábitos impensados, que ainda que não faça diferença ao mundo, fere quem somos ou gostaríamos de ser. Nos tornando juízes mais severos do que qualquer julgamento alheio. E nessa ânsia "perfeita" pela felicidade, acabamos por distanciá-la de nós.
Romper, aceitar, quebrar a rotina, fazer as mesmas coisas de forma diferente, surpreender e se deixar ser surpreendido, se libertar, ainda que momentaneamente, dos personagens que assumimos no dia a dia, esquecermos o tempo, as fórmulas, deixarmos ser ou "let it be" (como diriam os Beatles)...
Não é um movimento fácil, afinal há raízes e paradigmas que se cristalizam em nós ao longo de nossa constante transformação e o que por sua vez justifica o uso da expressão "maldita". Afinal, maldições para serem quebradas por vezes exigem longo tempo de dedicação e entrega aos "rituais".
E ao dizer isso também não estou pregando o erro, o egoísmo ou a indiferença...Alias egoísmo e amor próprio não são sinônimos.
Se amar e respeitar é o primeiro passo para amar e respeitar de forma inteira todos aqueles que tivermos a oportunidade de conviver. Sem aparentar ser e simplesmente sendo!
E assim ligaremos a chave da fluidez, da flexibilidade e da aceitação... e suspiraremos com vontade: "Maldita felicidade"!

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O enigma da Timidez


Dentro da timidez há uma grande insensatez
De uma voz que não fala um pensamento que não cala
De uma pele tensa que guarda uma alma intensa
Da habilidade de conviver com a dualidade
De um sagrado quase profano, de um rock em tom soprano
De uma aparência passiva, que permeia uma latência lasciva
De um ardor em chamas, de um clamor que tudo ama
De ver o que não toca e de tocar o que não vê
Da distância quase próxima, da inconstância quase pródiga
De sentir, omitir e não ir além de tudo aquilo que acha aquém
Na busca que se entrega, na faísca que não nega
De corar em um disfarce, o decorar de cada face
Da distração atenta que tenta a atração
Dos detalhes imperceptiveis em encaixes sensíveis
De criar seus versos do mundo e se embriagar de seu universo profundo

terça-feira, 14 de julho de 2015

Conversa entre gerações



Por obséquio vossa mercê?
Está deveras formosa vosmicê! 
Posso conversar com você?
BLZ! KD VC?
Que quase não mais se vê...

AI/DI - Antes e Depois da Internet


Nunca imaginei que aos 32 anos, fosse um ancião. Alguns me perguntarão: como assim? Mas para a geração que nasceu depois de 2000, faço parte de um outro milênio e testemunhei o que hoje eles nem imaginam como seria
viver sem: a internet. Imagino que esta relação seja exatamente como antes e depois da brilhante invenção de Thomas Edson: a luz elétrica. Hoje é tão comum deixar a luz acesa, mas e para aqueles que acendiam
velas?
Antes da internet(AI), a vida era "diferente" (se atentem para esta palavra, já que em nenhum momento falei "melhor").
Não direi no meu tempo, já que considero que meu tempo seja sempre a atualidade, mas não se tinha muito o que fazer dentro de casa, logo a vida social era na rua ou no telefone. As pessoas circulavam olhando mais o seu entorno e os outros desconhecidos que por ela passavam.
Os diálogos eram intermináveis e era fácil passar a noite conversando. Curiosidade? Só abrindo alguma enciclopédia, ainda se colecionava na época(hoje não aceitam nem como doação).
O tempo parecia mais lento e a violência também não era disseminada na velocidade da luz, logo as crianças passavam o dia livres nas ruas, brincando limitadas entre o universo de duas esquinas, até serem chamadas pelos pais a entrar.
Não havia tantas grades e os prédios não costumavam temer a circulação de desconhecidos.
Já os adultos transitavam e se perdiam uns dos outros, já que se não conseguisse o número de telefone, dificilmente se veriam novamente sem que o "acaso" os ajudasse. Ainda se escreviam cartas (ainda existe carta que não seja cobrança e propaganda?)... Talvez houvesse mais paciência de esperar...Já que levavam dias para sermos surpreendidos por uma, embora realmente era uma grande emoção, imaginar o que elas guardavam e o que delas poderia sair...
Eram só palavras, não havia foto, rosto, nem expressão. Talvez também precisássemos nos esforçar fantasiando um pouquinho mais...
A televisão parecia mais inocente, embora já prendesse a atenção, especialmente das avós que assistiam todas as novelas que iam das 6 às 8. Homens nesse tempo tinham vergonha de dizer que assistiam novelas e se possível procurariam qualquer jogo de futebol para afirmar sua masculinidade.
O machismo também era maior. As mulheres estavam na transição do lar para a justa independência e liberdade profissional. O casamento ainda era mais duradouro, ainda que muitas vezes, fosse assegurado por aparências, mesmo o divórcio já se tornando cada vez mais comum. A politica sempre existiu, mas pouco se sabia do que ocorria efetivamente nos bastidores, desde que não afetasse diretamente o bolso.
Antes da internet, não havia curtidas e nem compartilhamentos e muitas vezes a solidão era opressora. As distâncias eram maiores e voar de avião ainda era um grande evento, já que não havia promoções. Está certo, que ninguém voava de chinelo de dedos e nem se servia amendoim como refeição. Aliás as aeromoças pareciam supermodelos.
Os computadores não tinham quase memória, tudo era poligonal, lento e nunca coube em um único disquete. Eram grandes caixas e creio que alguns como eu, precisaram de um consórcio para ter um. A internet nasceu como um embrião discado e ocupava as linhas telefônicas (os primeiros usuários certamente se lembrarão da ansiedade de esperar até 00:00 para entrar,
era mais barato). As páginas eram lentas e sem saber o endereço exato, dificilmente se ia a algum lugar. Sites de busca não buscavam nada...Aliás
falando em site de busca.. Cadê o "Cadê"? Ou o velho MIRC, aquela carroça de nomes coloridos que foi o primogênito do primeiro programa de mensagens: o ICQ, que viria a ser substituído pelo MSN, tão conhecido, antes de se tornar também uma antiguidade. Download nessa época, era melhor ir dormir e ter a sorte de no dia seguinte ter sido bem sucedido.
Enfim, se estabeleceu o depois da internet (DI). O que qualquer coisa que diga, parecerá um pouco redundante.. já que todos por ela passaram, especialmente os mais novos.
Mas o fato que o tempo parece passar mais rápido..Por vezes acho que 2000 foi ontem e nem percebo que "só" se passaram 15 anos..Mas assincronismos a parte, o fato que tudo se conectou e as distâncias se encurtaram. O tempo também se tornou pequeno para a quantidade de informação. E nesse processo, distraímos os olhos, vendo uma tela e mal enxergando os mais próximos (embora sejamos capazes de solidarizar por causas e se mobilizar por notícias de outros lugares distantes). Por outro lado, ninguém mais se perde, todos se acham, se encontram, se descobrem (em alguns casos, se perseguem).A proteção da tela, também libertou o que antes era velado ou escondido. Agora, há segurança de exibição para o bem e para o mal...
Tudo é viral. Hoje não basta um encontro é preciso um Flash Mob organizado! Não basta mais viver, é preciso fotografar e de preferência que todos testemunhem o que foi vivido. Casamento? Somos casados com todos!
Partilhamos o parto, a refeição e a cama! Talvez por isso, tudo pareça tão instável e impermanente. Porque não há mais um foco, tudo é foco!
Felizmente, o conhecimento também se generalizou: somos especialistas em tudo desde que inventaram o Google e o Wikipedia! Nesse processo as pessoas voltaram a se permitir ser muito mais! Como era na antiguidade e em algum momento se perdeu.
Arquiteto, pintor, médico e escultor.. Porque escolher, se podemos ser tudo?!
As televisões viraram divulgadoras maciças de propaganda (nunca esperei em minha existência descobrir o preço de um sabão em pó pela TV). As novelas dominaram
as programações (algo que nunca entendi é que a novela das 8, passou a ser das 9, mas continuou se chamando das 8). Os homens aderiram novelas e sentir prazer na paternidade, mulheres assumiram grandes chefias merecidamente e até mesmo futebol, ainda que
algumas infelizmente tenham buscado imitar a pior parte dos homens. Acredito que seja como um pendulo, no qual a ida a extremos, atinja em algum momento o equilíbrio.
Os prédios se gradearam e se equiparam de câmeras e passamos a ficar online 24 horas por dia. O wi-fi não dorme e o telefone desocupou. Ainda viajamos? Tudo é logo ali e está ao alcance das mãos. Ir a Grécia é quase como ir em outro bairro (embora não seja no momento uma boa opção). A política virou um esporte com torcidas organizadas! Já os computadores, os levamos na mão, na cabeça...O polígono virou 3D e que já está quase ultrapassado pela holografia.
O espaço do disquete sumiu e em um CD cabe quase toda sua vida, que também pode ser encontrada no perfil do Facebook! Aliás CD demonstra minha idade, já que mesmo pendrives estão quase obsoletos pelas "nuvens" virtuais (aliás uma boa palavra, vivemos na nuvem)!
E-mails nem de longe se assemelham as velhas cartas. São tão instantâneos, que normalmente só se responde uma parte do que foi perguntado! Tudo é resumido e sintetizado.
Aliás, nem sei se haverá tempo para alguém ler esse texto, não consegui sintetizar em uma foto.
Enfim, AI ou DI, não importa as qualidades que passaram, que ficaram ou aperfeiçoaram.. os defeitos superados ou os novos criados... Mas como traz isso para sua vida e a modifica.. Você continuará sendo, amando, sofrendo, rindo, chorando...Real ou virtual!
Novas e velhas gerações, trocando, aprendendo e crescendo juntas. Novas e velhas tecnologias...para novos sentimentos, pensamentos e realizações!

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Ilha Deserta



Há dias que gostaria de me teletransportar
Para uma ilha em alto mar
Deitar na areia sem preocupações
Olhar para o céu sem mais ocupações
Sentir a carícia dos ventos
A delícia destes alentos
O calor da radiação solar
O ardor que adia o retorno ao lar
De abrir os braços
De despir todos os laços
Sem tempo, apenas o momento
De sonhar todos os sonhos
De admirar como um estranho
Que descobre a vida pela primeira vez
Sem partidas, sem maldade e sem talvez
Apenas uma entrega doce e lenta
Que erga a face e sustenta
A sensibilidade de se deixar tocar
A habilidade de deixar rolar
Até que estrelas pontuem o céu
Paisagem divina como mel
Infelizmente é hora de largar minha ilha
Simplesmente agora retomar minha trilha
Até que o cansaço me faça pensar
Que é para ela que devo voltar

Histórias de Amor - Parte 01 - A Cura


NOTA: Em tempos que o amor anda tão desacreditado. Onde tudo parece tão descartável, talvez seja válido relembrar histórias permanentes, sólidas e que resgatem este sentimento. Plagiando o poeta Vinícius de Moraes: "É preciso inventar de novo o amor"
Essa coletânea de textos é baseada em histórias verídicas, que tive o prazer de testemunhar ao longo da vida. Ainda que dê nomes fictícios, cores e nuances novas, a essência foi preservada!

Histórias de Amor - Parte 01 - A cura

Uma família aparentemente normal. Cada qual com suas peculiaridades e isolados em si mesmos.
A mãe, Luiza, embora amante de esoterismo e temas humanistas, mantinha-se um pouco alheia aos acontecimentos de seu próprio lar.  Ainda que seu amor por todos fosse legítimo, suas teorias espiritualistas, não facilitavam que mergulhasse na intimidade, normalmente pairando sobre as aparências.
O pai, Alberto, era disperso. Indubitavelmente, amava sua esposa, mas nunca foi capaz de demonstrar seus sentimentos. Frustrado profissionalmente por não ter seguido carreira militar, implementava de forma quase compensatória, uma tirania doméstica, especialmente tendo os filhos, como subordinados. Sempre se excedia em cobranças e exigências que justificava, alegando estar construindo: disciplina e respeito. Nunca observou os talentos individuais dos mesmos, sempre os conduzindo aos caminhos que considerava "certos".
Tinham dois filhos: uma menina, mais velha de 12 anos, chamada Ana e um jovem rapaz, com seus meros 8 anos, Daniel.
Ana desde cedo, manifestava vocação artística. Talentosa na arte de dançar e atuar, era extremamente sensível em sua forma de expressão e ver a realidade. No entanto, sofria por reprimir tudo isso, em função da vigilância e rigor paternal.
Daniel era muito jovem ainda para perceber ou entender o que sentia. Mas mesmo involuntariamente, construía seus passos a exemplo do próprio pai, que se vendo refletido, conferia uma velada proteção e preferência, inclusive sendo permissivo  com seus erros. Adorava atividades físicas, histórias de guerra e especialmente guerrear com a irmã. Transformando diferenças em implicâncias.
Embora todos vivessem juntos, visivelmente eram desunidos e cada um do seu jeito, tentava disfarçar este desencontro até que uma notícia abalaria e promoveria uma grande mudança: Luiza foi diagnosticada com câncer.
Todos ficaram desolados, mas não sabiam como reagir. Não havia intimidade ou cumplicidade para se apoiarem. Todos pareciam petrificados.
Alberto por trás de toda aparente dureza e resistência, se estilhaçou em mil pedaços por dentro. Mesmo não racionalizando suas emoções, sentia na esposa, um equilíbrio para aquela deficiente estrutura em que viviam. Já os irmãos, se ocuparam e nada disseram sobre o assunto.
Luiza, ainda se recuperando do choque e se adaptando a dor recém descoberta, repentinamente, despertou para a situação que havia ao seu redor. Seu corpo parecia reflexo da sua família. Uma ânsia se apoderou de seus pensamentos e uma forte vontade nasceu para lutar por mudanças. Como se nada estivesse ocorrendo, matriculou-se em uma faculdade de psicologia, inversamente ao que todos esperavam: prostração. Ela chegou com um olhar vibrante e alegre, que sem qualquer explicação, contagiava e destruía aquelas altas barreiras construídas ao longo do tempo entre eles. Beijou todos os filhos, exemplificando um carinho que nunca foi capaz de mostrar.
Alberto, quase hipnotizado por aquela nova mulher, deixou de lado seu espirito dominador e rendeu-se a devoção a ela. Daquele dia em diante, passaria a buscá-la todos os dias e ouvir dela as ínfimas conquistas rotineiras, sendo transformado por elas através de uma sensação de realização e empatia até então desconhecida. Sua sensibilidade agora aflorada, enfim, conseguiu enxergar os seus filhos e sua influência sobre os mesmos.  Seguindo o exemplo que passou a acompanhar de perto, apesar da dificuldade, conseguiu se reaproximar deles.
No início , houve um estranhamento natural de todos os lados, como se houvesse um acordo velado de se (re) apresentarem e (re) conhecerem. (Re) encontrar uma imagem que há muito, havia sido perdida. As poucas palavras diárias foram se transformando em diálogos e agora percebiam uns aos outros.
E neste processo, Ana, acostumada a uma postura severa, foi surpreendida por um pai que até então não conhecia. Um pai que se interessava pelo que ela gostava, que não mais impunha, mas antes ouvia e argumentava, deixando sempre o poder de decisão final a ela. Como algo que muito esperava, emocionou-se diante dele, que já sem reservas a abraçou como se fosse o primeiro abraço.
Alberto lembrou dos primeiros dias de vida da filha e se deixou envolver por uma ternura inexplicável. Agora era ele que chorava compulsivamente. O filho vendo aquela cena, mesmo sem entender direito o que ocorria, apenas correu e os abraçou. Eram todos UM. A mãe espiava de longe e realmente entendeu naquele instante, o sentido de espiritualidade. Apesar da doença, ergueu os olhos ao alto e agradeceu tamanha benção ou felicidade.
Os próximos meses não foram fáceis. O quadro dela havia se agravado, requerendo muitos procedimentos e intervenções. Mas todos se revezaram para amenizar aquele período. Todos se tratavam juntos, expurgando quaisquer resquícios de dores emocionais que pudessem ter adquirido pelo caminho.
Este momento conquistado, fazia com que nenhum deles esmorecesse, prolongando o que parecia inevitável. Por vezes, Luiza precisou ser carregada no colo pelo marido, devido a sua fraqueza agora evidente, mas fazia questão de estar presente em tudo que considerava importante. Um hábito se tornou decorrente naquele lar: todo dia, a "nova" família, se reunia para narrar os acontecimentos particulares.
Foram 5 anos de luta incessante e insistente desde a fatídica declaração da doença. Luiza conseguiu se formar e durante a cerimônia, na qual recebeu o diploma em uma cadeira de rodas, aplausos efusivos ecoaram de todos os lados por quem nela via, uma força e coragem, quase sobrenaturais.

Faleceu alguns meses depois com um sorriso em seu semblante, mas sua presença ali persistiria...pulsando como coração da casa. Nunca mais houve um dia sequer, que Alberto e os filhos não conversassem e se abraçassem. Nestes momentos, sempre aproveitavam para reavivar a lembrança de Luiza, através de eventos que cada um particularmente tinha passado. Perdurando e preservando viva a imagem da grande mulher cujo amor a todos curou!

domingo, 12 de julho de 2015

Um novo dia


Então mais um dia
Tudo novo de novo
Pronto ao recomeço
De sair, namorar ou simplesmente conversar
Aposentar as lágrimas de ontem,
Encontrar o sorriso perdido no guarda-roupa
Arrumar as lembranças e jogar fora algumas expectativas
E se não tiver companhia, tudo bem
Que seja seu melhor amigo!
Vivendo ativamente ou assistindo passivamente, mas sem deixar de sonhar
Sem perder o querer ou sem querer fixar na perda
Aceitando o que não pode ser mudado e mudando tudo aquilo que já foi aceito
Negando as ilusões e se comprazendo de cada ação
E não precisa ser uma grande realização, mas realize-se nas pequenas
Pequena ou grande é sua intensidade que faz e em você que está a paz
Mas se ainda assim não se sentir capaz, não tenha vergonha de chorar
De olhar para o alto e rezar (mesmo que não saiba)
Reze pela sensibilidade de passar por alto mar e conseguir se encontrar
Pois na duvida ou na escolha, no fim, tudo que resta e nos leva é amor

quinta-feira, 9 de julho de 2015

A fantasia das mutações


O romantismo que ferido se vestiu de amargura
A doença cuja dureza despiu a sensibilidade
A fé inocente que diante da perda se cobriu de ceticismo
Um momento importante, no qual a desvalorização, cristalizou a indiferença
A inconformação ou a absolvição travestida de radicalismo ou fanatismo
A timidez que mascarou a intensidade de um sedutor ou a ironia
O cômico que esconde em piadas as suas dores reais
O agressor cuja violência silencia a própria fragilidade
A aura religiosa que omite as imperfeições humanas
A acidez do preconceito formado pela incompreensão íntima

No medo de perder a pureza do que se sente
De defender as poucas certezas construídas
Ocultamos a própria natureza
Como uma pérola em uma concha

Revelar seu brilho ou resguardá-lo
Aceitar ou negar as emoções
Se entregar ou evitar as ações
Não são condições, mas antes, opções

sexta-feira, 3 de julho de 2015

O mistério dos vulcões


Vulcões são silenciosos e solitários
De amago misterioso e totalitário
Imponência de aparente passividade
Iminência oculta de sua intensa atividade
Culto aos deuses em sacrifícios
Reduto de seres fictícios
Voz da terra que se ergue
Atroz descerra quando soergue
No seu intimo pulsa a vitalidade
Como do imo expulsa a habilidade
Que fervilha a sua criação
Trilha que derrama em ação
Poucos nele desbravam aventura
Onde alguns encontravam ventura
Da descoberta de sua intensidade
Logo aberta na privacidade
E no terror de sua erupção
O clamor de sua paixão
Cujo magma de lágrimas inunda
A grama que nova rima fecunda
(A natureza que fala de uma natureza)

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Pedinte


E lá estava ele tentando chamar a atenção
Se ela simplesmente se atentasse em sua ação

A mão estendida implorava
Pelo seu carinho orava

Mas na correria mal lhe via
E triste ele ali seguia

Até que um dia desistiu de pedir
Se levantou e nem olhou antes de ir

E logo assistiu tudo mudando
Enquanto despreocupado ia andando

Aquela espera desesperada
Virava uma aceitação conformada

E a antes amada mulher de seu desejo
Agora era lembrança passada em seu ensejo

Virou outro homem
Quase com novo nome

E enquanto passava
Agora era ela que olhava