domingo, 14 de março de 2021

A mensagem



Uma mensagem separava o ficar do partir. A cada notificação, o coração batia alternando esperança e decepção. Um duelo interior em que uma parte dizia: “preciso acreditar” e a outra parte: “já sabia”. Sem notar, corria a tela curtindo memes. Os olhos vidrados, mas o coração em outro lugar. Compartilhava a citação que no fundo tocava, na melhor auto indireta que poderia se mandar. Alguém comentava algo tentando conexão, mas os sentimentos estavam em modo avião.
Até que o toque veio, obrigando aterrissar. Segurou o celular, mas uma vida havia se passado em cada segundo demorado.
O que estava escrito? Já não importava. Desligou junto com todos os diálogos internos que só aconteceram enquanto esperava.

Bruxa Moderna



Coração renascido das cinzas.
Já não conseguem queima-la, pois traz o FOGO dentro de si.
Filha de Prometeu, ofusca a escuridão.
Mágica? É a liberdade como se assume.
O amor próprio que não precisa de aprovação. Encantamento provocado pela autonomia de ser quem é.
Sua risada aguçada é luta contra séculos de estereótipos, que faz qualquer ignorância temer.
Voar? Deixou seu sonho seguro no AR, mas agora, mantém seus pés firmes no chão para não se enganar com as ilusões do caminho. Não se deixa conduzir, escolhe seus passos. Dança, mesmo sozinha.
Varinha? Ela não precisa de artifícios, tem o poder na palma das mãos. Mãos que agarram e materializam o que prudentes chamam de Impossível.
Lidera sem perder a emotividade que a conduz. Ressignificando a ÁGUA que escorreu dos olhos de suas ancestrais em um brilho de quem enxerga além. É arco-íris após tempestade.
É força instintiva da natureza e do tempo.
Sensualidade de uma inteligência voraz, que tem ânsia de viver.
Domina as ciências, a arte e a razão.
Estabelecendo na TERRA
O domínio e direito
De ser Mulher

Opostos



“Opostos se atraem.” Não, essências se atraem. Pensamentos e sentimentos afinados, ainda que a personalidade seja diferente.
Identificação não é espelho, mas ritmo. E dança precisa de um mesmo compasso ou corre o risco de pisarem um no pé do outro.
À postos se atraem! Corações dispostos e entregues, que mesmo independentes voam espontaneamente para a mesma direção. Sem isso, atração vira tração.
E o abrigo se torna relento ou ambos passam a querer modelar o outro para que caibam ali (mesmo que não caibam). Um cabo de guerra entre o que se quer e o que se é.

Transtorno de Ansiedade Social



Em um momento, que várias bandeiras inclusivas são levantadas, não vejo uma voz relevante falar sobre o Transtorno de Ansiedade Social (T.A.S). Se viver em silêncio já é uma grande dificuldade, viver em um mundo que se cala diante da dor de alguém, é ainda maior. O que não me surpreende que o T.A.S seja uma das maiores causas de suicídio. Como se entender sem representatividade?
E justamente por isso, resolvi falar sobre esse assunto. Não posso me abster ou ser indiferente, se nasci com esse traço tatuado na alma. Vejo milhares de pessoas sofrendo diariamente, deslocados por se sentirem estranhos ou pela estranheza que causam, justamente por não saberem o motivo de ser como são. E como qualquer “transtorno”, quanto antes houver o diagnóstico, maiores as chances de recuperação.
Ansiedade social não é timidez, ainda que tenha semelhanças com ela. Mais do que um constrangimento e dificuldade na interação e manutenção social, o ansioso social tem uma disfunção que o paralisa, especialmente diante de grupos ou situações de exposição, apresentando inclusive sintomas físicos variados derivados da ansiedade como: excesso de suor, taquicardia, falta de ar,...
A grande dificuldade desse distúrbio de personalidade é que ele é visto como uma aparente normalidade. Enquanto nos dizem: “Ele é quieto, é só o jeito dele”, nossa alma grita por um pedido de socorro. “Você precisa sair mais” como se tudo fosse condicionado meramente a vontade, o que costuma agravar o sentimento de incapacidade.
Tenho observado ao longo da vida, crianças com alguns sinais (e os pais ignorando o fato), mas os sintomas são certamente agravados na adolescência, uma vez, que somos convidados a fazer parte de grupos e se iniciam as relações amorosas. Enquanto o mundo nos convida a ir para fora, acabamos nos isolando dentro de nós. Assim, comprometendo relações pessoais, familiares, afetivas e profissionais. E consequentemente, recebendo rótulos diversos e gerando um crescente sentimento de inadequação. Uma existência “invisível”.
Sempre tive uma característica diferente: buscar me autoconhecer, observar tudo ao meu redor (já que não tinha uma grande interação) e tentar superar os meus limites. Ainda assim, não consegui evitar uma depressão no meio do caminho e ter beirado à morte. Justamente, por ter tão pouca informação ou discussão, é um caminho solitário, longo e árduo de tentativas. Sem atalhos ou apoio, uma vez, que a nossa dificuldade de comunicação, faz que para os outros tudo pareça apenas um jeito “reservado”. E como os sentimentos não “saem”, eles nos implodem. Não sendo raro, pessoas com essa personalidade serem autodestrutivas: indiretamente pelo uso de drogas/ álcool ou diretamente através do suicídio. Não é fácil sobreviver em uma ilha, nascemos para viver em sociedade.
Eu tive sorte, me deparei com a arte. Ela virou a minha droga. Através dela, encontrei um caminho de expressão e fuga desse cárcere chamado “corpo”. Sim, para portadores de T.A.S., o corpo é um rigoroso presídio que controla não apenas a oralidade, mas a espontaneidade do comportamento. E como todo presidiário, não recebemos muitas visitas.
Alguns caminhos, além da arte, me ajudaram até aqui e espero que possam ser úteis não apenas para quem vivencia esse “sentimento”, mas para quem convive com alguém assim.
A terapia, sem dúvida, é fundamental. Quando estamos sozinhos dentro de nós, nossas percepções são parciais, mas acompanhados, somos levados a descobrir caminhos, possibilidades e ver novos horizontes. Além do profissional capacitado ser como um cirurgião, com a técnica apropriada de intervenção, apesar das limitações do “paciente”.
Em alguns casos, dependendo do nível de ansiedade social, o uso de medicações prescritas é recomendado. Se o foco está na tentativa de controlar o corpo, certamente, perdemos as rédeas dos nossos pensamentos. Assim, acalmar a tensão do corpo, permite uma manifestação mais livre.
Grupos de autoajuda embora escassos (inclusive nas redes sociais), são um grande auxílio. Identificar pessoas com o mesmo problema, ajuda na constante sensação de estarmos sozinhos nele. Assim, como naturalmente, costuma ocorrer um recíproco apoio e incentivo. Como disse antes, ninguém nasce para viver só e é sempre bom, encontrar pessoas que entendam nosso “idioma”.
Fazer um diário é algo positivo. Precisamos falar mesmo que sejamos nosso divã e terapeuta. Os sentimentos precisam sair para que não se voltem contra nós. Escreva do jeito que conseguir, mas não marginalize o que pensa ao inconsciente. Não consegue escrever? Grave um áudio para você mesmo. Torne-se consciente. Tenha coragem de ver fora de você, aquilo que carrega e tudo parecerá mais leve. Lentamente, o caos interior se organiza do lado de fora.
Mesmo sabendo que esse texto será lido por uma minoria, pela extensão e pelo que representa, sinto que é meu dever fazê-lo. Falar por tantas vozes ignoradas e aprisionadas dentro de si. Se ajudar uma única pessoa, terá valido a pena. Além do tempo ter me ensinado, que a nossa cura está dentro do próprio medo. E escrever sem máscara, faz parte da minha automedicação.
Aprendendo uns com os outros, avançamos na compreensão de que precisamos uns dos outros, exatamente do jeito que são. E se você convive com alguém assim, não tema sua reação. Seu problema não é a proximidade, mas a falta dela.

A droga da paixão



A paixão é uma droga. Calma, não digo que seja ruim, mas é química como uma. Não confundir com ter “química” com alguém. Essa química é hormonal e atua nas mesmas áreas do cérebro das drogas ilícitas.
Coração acelerado, euforia, delírios, respiração curta e tremor só de ver aquele sorriso e olhar?
Enquanto responsabiliza o coração, o cérebro produz uma alta dosagem de hormônios (desde a dopamina que produz alegria à endorfina que funciona como um anestésico). Quanto mais o tempo passa e mais você diz que está perdidamente apaixonado(a), mas o corpo se torna dependente dessa química e exige a manutenção dela. O vício está instaurado.
Isso explica a grande dificuldade dos términos (quando ainda há a paixão envolvida). Porque como droga, cortar repentinamente do organismo aquilo que ele vinha recebendo, pode gerar uma abstinência súbita, o que explica o sofrimento e a dificuldade de esquecer a relação.
Racionalmente, você sabe que acabou, mas o corpo continua dependente da química que recebeu, o que faz apropriada a expressão “dependente” emocional. O cérebro não satisfeito em ser traficante de nossas emoções, também é associativo. Então você tenta esquecer, mas cada vez que se depara com algo que foi rotina dos dois, automaticamente fará a correlação com a pessoa.
Assim como alguém que tinha o hábito de fumar após o café, terá muita dificuldade de parar de fumar, se não cortar o café também. Porque por associação, a conexão entre as duas coisas foi estabelecida.
Logo, como toda droga, se “curar” do vício exige persistência diária. Distanciamento de lugares ou eventos que correlacionem, também ajuda na recuperação. Buscar novos caminhos, novas experiências, gerando novas conexões, sentidos e significados. Aprender coisas novas se dedicando ao autoconhecimento até o “descondicionamento químico” que é facilmente percebido quando o outro já não tem mais influência sobre você.
Vale um alerta que tentar substituir uma paixão por outra pode equivaler a misturar duas drogas e o resultado: overdose.
Para quem está sofrendo da abstinência da paixão, os grupos de auto ajuda já ensinaram: “mais 24 horas”, um dia de cada vez. Mas para aqueles que estão mergulhando agora é bom conhecer esse grande mar chamado emoção. Aprender a nadar evita afogamentos.

Por uma fresta



"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura" - Nelson Rodrigues
Hoje, somos todos esse menino. E não digo pela pureza de quem descobre a magia pela primeira vez, mas porque ninguém mais abre a porta. Não apenas as portas das residências por medo de violência, mas as do coração pelo mesmo medo de ser machucado. Nos contentamos em espiar no escuro pela fechadura. Ouvir meias palavras abafadas em algum lugar, ditas por alguém que desconhecemos e assumimos que aquilo basta como verdade.
Porque entrar em um lugar exige tomar partido e ser parte de uma história.
Para que se fixar, se basta correr a tela?
É uma grande ilusão pensar, que a falta de envolvimento é segurança. Pois vemos um mundo cada vez mais murado, acuado e oprimido dentro de si e em suas celas virtuais (antes mesmo da pandemia) a tal ponto da agressividade se manifestar em uma mera opinião. Panelas de pressão prestes a explodir, cheias de ar, mas vazias de algo nutritivo.
Aquilo que não foi vivido é um boato, não sentimos na pele, mas antes, pegamos a pele de alguém emprestada e damos a nossa própria versão. E nessa inversão de valores, tudo vira aversão. O amor não sobrevive na aversão, porque ele é a nossa melhor versão!
No dito popular: “O amor não vai bater na sua porta” há um grande erro. O amor se anuncia diariamente em um grande barulho interior. Escutamos ele batendo, mas temos medo do que ele representa. Porque o amor nunca vem sozinho, ele traz junto a mudança! Ele nos tira do lugar comum, muda a forma de enxergar, mexe com nossas estruturas confortáveis, encaixota e doa o que não serve, mais do que tudo: ele escancara nossas portas não apenas para que ele possa entrar, mas para que nos abramos para o mundo.
Enquanto uns buscam a chave que perderam para abrir a porta e outros dizem que o amor foi
extraviado pelo caminho, ambos sofrem pelo medo de sofrer. Seguimos espiando uns aos outros, cada um do seu lado, esperando alguém tomar a iniciativa de entrar.

Amizade

 



Não importa quantos desvios e encruzilhadas, amizade é aquele caminho onde ambos sempre se acham.
É o contrapeso do nosso equilíbrio de alguém que não desiste de nós, mesmo quando eventualmente, desistimos.
É a persistência incorporada em outro corpo que extrai palavras mesmo quando nos calamos. O intérprete de nossos silêncios e narrador atuante de nossas histórias.
Um riso fácil, mesmo quando nada é fácil. É presença, mesmo ausente. Permanência nas passagens.
É o nosso sentimento batendo no peito do outro, que ausculta o nosso melhor, mesmo antes de o descobrirmos.
A pérola de nossas profundezas. Um mergulho sem medo de se molhar (inclusive pelas lágrimas).
Portas sempre abertas de quem tem todas as chaves. Não são escolhidos, mas destinados!
Amizade se conta nos dedos, no encontro dos dedos em um aperto de mão, de quem nos puxa para si para que possamos ser (espontâneos e inteiramente) nós mesmos.
<Fernando Paz>

Repúdio “culposo”



Dizem que de boas intenções, o inferno está cheio. Mas no Brasil, ter más intenções concede um paraíso de impunidade.
Aqui não ter intenção é “culposo”! A culpa mesmo, quem leva é sempre a vítima, condenada sem julgamento ao inferno. O Halloween passou, mas as fogueiras continuam acesas. E séculos depois, mulheres continuam sendo queimadas, simplesmente, por serem quem são: mulheres. Nem parece termos chegado no século XXI.
No século XV, para provar a virgindade da mulher, “uma questão de honra”, essa era exposta em um tribunal, sendo examinada e desnudada em público. Uma busca pela “honra” que desonrava sua vida para sempre. O que difere de hoje?
Quando ainda é a vítima que precisa apresentar as provas? Quando quem mais precisa de defesa do Estado é quem mais precisa se defender contra Ele?
Tendo sua intimidade devassada duas vezes: pelo abusador e pela Justiça (cega).
Não sou jurista e nem advogado, mas a lei que defendo é a empatia! Quantas revisões do Código Penal precisaremos para que vença a Humanidade (essa sim, com H maiúsculo)?
Não há estupro culposo como a Inquisição nunca foi “Santa”.
<Fernando Paz>

Medio-cre



Sempre achei curioso o uso dessa palavra para definir alguém. Medíocre deriva de "médio", que por sua vez, significa mediano. Vivemos em tempos, que tudo precisa ser tão espetacular, que ser "mediano" é uma ofensa. E nessa elevada padronização da realidade, os detalhes que importam ficam de lado. E se a razão compra essa ilusão, a emoção não acompanha. O que explica que em 10 anos, o número de depressivos tenha crescido mais de 100%.
Nos tornamos a linda vitrine (uns dos outros) de uma loja vazia por dentro. Inspiramos o desejo do outro do que não temos para vender. Resultado? Constante frustração e quebra de expectativas. Um consumismo emocional, que nos consome no processo.
Vivemos a era do marketing pessoal. É mais importante o seu currículo do que quem você realmente é. A estória contada vale mais do que a história vivida.
Um dia de chuva pode ser tão belo quanto um dia de sol, ainda que não renda uma foto. Porque não é o que você vê, mas a forma como escolhe enxergar. Está triste? Tudo bem! Você não é diferente, porque todos ao redor parecem sorrir! Muitas vezes, o sorriso esconde as lágrimas. O poeta Khalil Gibran já sentenciou: "O mesmo poço de onde sai o vosso riso esteve muitas vezes cheio de lágrimas. E como poderá ser de outra maneira? Quanto mais fundo a tristeza entrar no vosso ser, maior é a alegria que podereis conter."
Como diz o dito popular: "Quem está na chuva é para se molhar". Então se molhe! Dance na chuva! Mesmo que não possa mostrar isso para mais ninguém. Fotos desgastam com os anos, a lembrança não.
Não tema ser medio-cre! Estar na média é aprender a viver no meio. O equilíbrio da balança no qual os dois lados importam. Se importar vale mais do que postar. Os melhores momentos só precisam de legenda para a "Imagem meramente ilustrativa".
<Fernando Paz>

Animar


Sempre me encantei com as palavras por elas mudarem o significado do mundo que vivo. Uma animação que me tira da apatia de só existir. Aliás, “animar” seria a palavra perfeita, uma vez que vem de “anima” que significa alma. Animar é dar vida à algo. Logo, não estranho que “animação” seja usada como celebração, porque festejamos aquilo que nos toca. Desanimar? É a falta de espirito, de sentido,... um corpo desanimado, literalmente, está morto. Porque somos mais do que pele e nervos, somos energia e conexão. Viver é animar-se ou , simplesmente, se amar.

Aniversário

 


Aniversário é renascimento. Nos leva de volta ao começo para que possamos dimensionar o caminho. Não se trata de mais um ano, mas de quem nos tornamos e de todas as versões que deixamos para trás para chegar até aqui. Apagamos a vela, para acendermos a chama interior, como fênix, da renovação. É celebrar a existência junto de cada um que ensinou, que inspirou, que em algum momento, deixou uma parte sua no grande mosaico de Quem Somos. E esse é o melhor presente: ser presente! Apertado como um abraço, nesse laço chamado união. União com cada um e com o mundo que somos convidados a estar. Agradecimento por mais um ciclo fechado e estou pronto para nascer outra vez!

Fernando Paz

(A)Dia-logo



A cada silêncio
Dos sentimentos não revelados
Se perdiam um do outro
Um estranhamento antecedia
A incompreensão, que no ar, pairava
Até que os caminhos divergiram
E a graça, que os divertia, mudou
A admiração virou ausência
O jeito? Desandou
Diálogo adiado
Sem conversa
Falhou a conexão
De calados, cada um virou para um lado
E quando novamente se olharam
Não se viram mais
Quem eram agora?
As palavras não ditas
Que de tantas esperas
Assumiram o lugar

Relacionamento abusivo

 


Cuidado quando alguém fizer você acreditar que não precisa de mais nada além dela. É como uma serpente rodeando, afastando tudo para poder sufocar sozinha. Não é amor, ainda que se disfarce dele para hipnotizar, limitar seu mundo. Amor quando é amor, não subtrai, porque entende que o mundo que você traz é parte de quem você é. Quem ama não quer parte, quer tudo! E isso inclui amigos, família, filhos, trabalho, defeitos ou o que mais estiver incluído no pacote. Redoma de vidro doma! Ignora sua natureza para ajustar a um perfil controlável. Já o amor confia, dialoga, faz concessões e renuncia, porque acha que vale a pena! Pena? Só em asas, porque lhe faz voar! Mas voa livre, sem correntes e lado a lado.

Ele faz possível, porque ignora impossibilidades! Aliás amor não se apieda, ele impulsiona! Ele está no pulso acelerado cada vez que vê aquele olhar. Amor não usa, ele é o melhor uso que dá aos seus sentimentos! Aliás ele se dá, antes mesmo de receber qualquer coisa! Ele não espera, ele já existe até antes de acontecer. Ele não limita, porque é ilimitado! Limitado é quem lhe julga ou condiciona. Quem rebaixa, busca domínio! Aponta defeitos acreditando esconder os seus. E talvez esse seja um bom indício: quem não assume seus próprios defeitos, nunca irá lhe assumir inteiramente. Não existe amor que rebaixa! Amor em si já é elevação, mas não lhe usa de escada para isso! Sobem de mãos dadas, cada degrau! Só para chegar ao topo e perceber que o caminho juntos, foi mais importante do que o lugar que chegaram.

Término



“Termina! Termina!”
Parece que todas as soluções do mundo hoje se resumem a terminar. Não falo sobre relações abusivas, essas nunca sequer começaram, sempre foram término: término de autoestima, término de confiança, término da real vontade de começar... Me refiro aos términos pela desistência de tentar. Que na primeira queda desiste do caminho, seja relação, trabalho, um novo talento ou a própria superação. Como se felicidade e esforço não coubessem na mesma frase. Todos querem o pódio, sem encarar a pista ou valorizam mais o troféu do que tê-lo conquistado. A felicidade se tornou descartável como os eletrônicos. Para que consertar? Joga fora! Ainda que ninguém saiba o que faz com o lixo gerado e jogado para debaixo do tapete. Puxamos nosso próprio tapete! Sempre há muitos para nos dizer: “Termina”, mas se conta nos dedos, quem estende a mão e nos diga “comece”. Comece agora não deixando assuntos pela metade, tarefas sem solução, ignorando sentimentos, amor próprio sem autoconhecimento ou fé sem razão. Não espere o fim para ser feliz e nem ser feliz para sempre. A felicidade é o caminho e não aonde você quer chegar.
A vida é cíclica como um círculo. E como um, fim e começo são pontos de vista se você não sabe para onde olhar.

Flores

 


Seja como as flores deixando o perfume único da sua existência por onde passar.
Desabroche a consciência, voltando o coração para a luz.
E quando as pétalas caírem, por ventura, que elas apontem o caminho por onde deve passar.
Não permita que o murchar de situações, provoque a amargura, pois na natureza ciclos findam para que outros recomecem.
A maior beleza de uma flor não é o que vê, mas o que ela representa para você. E se mesmo assim, não conseguir enxergar, lembre que a menor das sementes guarda a mais grandiosa árvore.

Sentir

 


Nunca fugi do sentir. Sentir amor, sentir dor, sentir medo, sentir confiança, sentir engraçado ou constrangido. Nunca dei pesos diferentes, pois tudo para mim era sentimento e cada um me ensinava algum aspecto sobre a vida. Talvez seja efeito colateral da intensidade: viver tudo sem negar nenhum lado.
Ser assim me fez causar estranhamentos pelo caminho. Como alguém mergulhado em lágrimas em um dia pode causar risos em outro? Ou falar sobre sonhos após expor sua desilusão? Falar em amor e logo depois sobre a perda? Falar em vida junto com a morte?
Minhas emoções elas não se cobrem e andam na contramão da cultura de hipervalorização de ideais ou ideias seletivas que só focam em um lado.
Valor para mim é tudo aquilo que importa, que muda os sentidos e significados. Logo, tudo importa. Aprendi pelo caminho que a mesma dor/riso que me modifica, também pode auxiliar que o outro reconheça seu processo, pois quando estamos atentos, tudo é sinal do universo.
Não faço da minha vida vitrine ou norma, eu a exponho como é: desregrada! Hoje, há tantos apelos da vida “ideal”. Venda em todos os lugares de modelos que tentam lhe convencer sobre o que deve ser a sua felicidade!
Não quero ser ideal, quero ser real! Sucesso também passa pelo fracasso. Aliás não há ninguém mais bem sucedido de quem escolhe ser quem é, sem a vergonha que esconde alguns lados por aceitação.
Eu não aceito menos do que sinto. Mesmo que disso, resultem perdas. “Cancelamento”? Somos nós que criamos as próprias cancelas pelas comparações sem fundamento! Conhece os bastidores? Então não é real, é ideal.
E não há ideal melhor que a liberdade!
<Fernando Paz>

A beleza da imperfeição



Sempre vi alguma beleza em objetos quebrados, talvez porque aquela “falta” me obrigasse a completar mentalmente a parte, como um quebra cabeça. Ao mesmo tempo, que tirava o foco do todo para me atentar a outros detalhes, que talvez não os perceberia em sua inteireza.
Curiosamente, em tempos de viajantes compulsivos, ruínas nunca foram tão valorizadas. Mesmo que seja ignorado o contexto histórico, se sabe inconscientemente, que aqueles restos guardam a memória da humanidade. A lembrança que as mais grandiosas civilizações ruíram para o surgimento de novas eras. A destruição que inspira um recomeço. Ou simplesmente, uma selfie que vale ouro.
Ouro esse que também é usado por japoneses em uma técnica chamada Kintsugi, que ao invés de restaurar uma cerâmica quebrada, evidencia a emenda com um filete de ouro: a beleza das cicatrizes.
E porque valorizamos as imperfeições da arte, mas temos vergonha das nossas próprias? Aquelas que trazemos no corpo ou na alma?
Cada cicatriz também conta uma história, são as ruínas ou superações pessoais que permitiram o início de um novo ciclo ou entendimento do que somos ou nos tornamos.
Os vikings ostentavam suas cicatrizes como símbolo de força, pois cada uma representava uma batalha vencida. No entanto, hoje, expor uma marca é sinal de fraqueza. E porque?
Porque somos “filhos” do marketing e fraqueza não vende! Nunca foi um bom comercial. Ja viram comerciais de bebida mostrando alguém com cirrose?
O problema que não somos produtos, mas passamos a nos apresentar como tais. Expondo qualidades para que os outros “comprem” essa ideia. Mesmo que muitas vezes, nos violentemos no processo.
Consequência? Dores reprimidas, vozes sufocadas e “quebrados” que embora nos façam únicos, preferimos esconder para atender a idealização de um molde perfeito! Molde que nem sabemos quem instituiu, idealizado para corpos e pensamentos, que nem cabemos.
Essa omissão vem nos custando caro. A sociedade entrou em colapso, como aquelas mesmas ruínas, que hoje ostentamos.
Quando tentar vier antes de ostentar, entenderemos que beleza é o conjunto de todas as partes e que basta uma letra para consertar a impEr-feição e a tornar uma feição ímpAr.
<Fernando Paz>

Dia-logo


Há conversas que mudam um dia
Faz hoje parecer sempre
Trocam retratos antigos
Confidências Interiores
Sendo só e simplesmente o que são
Afinidade da Sintonia
Sincronia da Conexão
O tempo passou e não o viu começar
E o que fica? Apenas o essencial
De um momento tão inteiro
Que divide as melhores partes
Em um livro que parece familiar
Apesar, da história, que ninguém leu


Livro-me


Você foi a poesia que eu esperava
As letras que me faltavam
Quando nenhuma frase estava no lugar
Nunca foi a autoria
Mas a fantasia
De quem entra em um livro (temporariamente)
Para do momento escapar
Sentir na pele
O que só a mente podia tocar
Até que o despertador tocasse
E fosse obrigado a acordar
Devolver o livro para estante
Por um breve instante
Respirar fundo e sozinho
Para recomeçar as obrigações
Obrigado pelas páginas lidas
Mas agora é com a vida que preciso lidar
Sem mais esperas
Ficar atrasado, me desespera
Não percebi o tempo passar
Não posso mais ler você
A realidade me chama
Chama que me queimou
Sua poesia me mudou
Agora, preciso mudar a poesia
E escrever a minha própria história

Cabanas




Nunca fui uma criança típica. Tímido, me atentava aos detalhes e desde cedo aprendi que liberdade era imaginação. Aquilo que não encontrava fora, criava com intensidade dentro de mim. Alguns chamariam de fantasia, mas se eu sentia era real, então escolhi chamar de arte. Arte que se manifestou cedo com um simples lençol.
Amarrava as pontas nas chaves que ficavam penduradas nas portas dos cantos do armário, esticava as extremidades e “voilà” tinha inventado uma cabana. Cabana que cabia e improvisava meu pequeno mundo, rico de histórias que eu inventava e que nunca couberam nos limites do meu quarto.
Agora, arquiteto, me vejo novamente levantando cabanas, não mais com um lençol, mas com madeira e tijolos e levando para dentro delas o mundo de cada um que, temporariamente, sou convidado a estar. Não apenas crianças, como eu fui, mas também para aquelas, como eu, que cresceram.
Nunca se tratou de amor a um ambiente, mas da admiração pela vida que habita em um e com todas as peculiaridades e sonhos que carrega e dá sentido a ele. Um ambiente sem vida são apenas paredes.
Um mundo “mágico”, hoje, materializado e partilhado, que conhecendo o outro e suas histórias me faz constantemente, repensar e escrever a minha própria.

Mono



Nunca gostei de monossílabos
Quando o outro recebe mais do que dá
Nunca gostei de monólogos
Quando o outro dá tanto que não recebe
Nunca gostei de som Mono
Pois só escutamos no Estéreo
E é quase estéril quem coloca mono em qualquer coisa que faz
Monopólio do Ego
Monotonia da repetição
De quem no lugar de um coração
Tem um monólito