domingo, 14 de março de 2021

Cabanas




Nunca fui uma criança típica. Tímido, me atentava aos detalhes e desde cedo aprendi que liberdade era imaginação. Aquilo que não encontrava fora, criava com intensidade dentro de mim. Alguns chamariam de fantasia, mas se eu sentia era real, então escolhi chamar de arte. Arte que se manifestou cedo com um simples lençol.
Amarrava as pontas nas chaves que ficavam penduradas nas portas dos cantos do armário, esticava as extremidades e “voilà” tinha inventado uma cabana. Cabana que cabia e improvisava meu pequeno mundo, rico de histórias que eu inventava e que nunca couberam nos limites do meu quarto.
Agora, arquiteto, me vejo novamente levantando cabanas, não mais com um lençol, mas com madeira e tijolos e levando para dentro delas o mundo de cada um que, temporariamente, sou convidado a estar. Não apenas crianças, como eu fui, mas também para aquelas, como eu, que cresceram.
Nunca se tratou de amor a um ambiente, mas da admiração pela vida que habita em um e com todas as peculiaridades e sonhos que carrega e dá sentido a ele. Um ambiente sem vida são apenas paredes.
Um mundo “mágico”, hoje, materializado e partilhado, que conhecendo o outro e suas histórias me faz constantemente, repensar e escrever a minha própria.

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