segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Sexo sem compromisso


Sexo pode ser con-sensual
Ainda que uns queiram o “con” e outros só o “sensual”
Deveria ser conexão
Mas acaba ficando desconexo
Um sente, enquanto o outro goza
Parece gozado, mas o riso de um é a tristeza do outro
Que ansiava um abraço, enquanto o outro virava de lado
Melhor deixar de lado
Corpo é templo
Não se brinca em um
Pois ali vive o sagrado
Calma! Não é para sexo ser pesado
Quando se gosta tudo é leve
Nem é puritanismo
Mas viver o puro prazer
Chamado reciprocidade
Sacanagem? É se aproveitar de alguém
Cama e carma, se diferenciam por um R
R-espeito

Original?


Nas redes sociais, as coisas não são boas pelo que elas são, mas pelo que elas aparentam ser.

Logo, não basta um poema digno de uma Clarice qualquer, alguém dirá que é da Lispector, ainda que a mesma só se expressasse por prosa!
Erros gramaticais e linguagem informal? O que importa se quem assina é Shakespeare?
Reflexão cotidiana? Não, é um provérbio persa!
Autores vivos sendo mortos, enquanto os mortos são ressuscitados em estilos que nunca usaram.
Citações fora de contexto e tempo. O marketing da desinformação compartilhada.
Quem se importa com a verdade se parece belo? E beleza é popular.
Ainda que não conheça uma mentira “feia”, pois não convenceria ninguém.
Fake? Não!
Fei-ke dói.

Redação

 


“Quem perde dinheiro, perde um pouco
Quem perde amigos, perde muito
Quem perde a fé, perde tudo”
Lembro como se fosse hoje, que esse foi o tema da redação, quando eu fiz vestibular. Estranhamente, foi um tema que me senti muito à vontade escrevendo, sem aquele sofrimento típico de provas e obtive um bom resultado, o que me motivou a escrever mais desde então. Adoraria saber hoje, mais de 15 anos depois, o que pensava a respeito, mas o fato, que recebemos aquilo que precisamos e essa frase foi uma das que me seguiu por todo o percurso até aqui. Não apenas por ter feito parte de um momento de transição importante, mas pelo sentido da mesma. Até porque 15 anos depois, é inevitável que já tenha passado pelos 3 estágios.
Já perdi dinheiro, já fui roubado, já perdi emprego, já passei apertos, mas sempre corri atrás. Perder dinheiro é pouco, porque só depende da nossa capacidade de nos reinventar, de buscar e mesmo que tenha alguma baixa é sempre temporária. Coisas materiais são recuperáveis. Como diriam as avós: “os anéis vão, mas os dedos ficam”. E se os dedos ficam, trabalhe.
Já perdi amigos, que se afastaram por motivos diversos. Se perde muito, porque quando uma pessoa parte seja por escolha de caminhos ou por morte, leva consigo uma parte de nós. Uma voz, que se acostumou a ouvir, de repente, se cala. (Ainda que continue falando dentro de nós). Levam uma parte de nossas lembranças, de nossas emoções e significados, que só tinham sentido com a convivência.
A distância presencial deixa uma lacuna que não pode mais ser preenchida. Ainda que novas pessoas surjam e tragam consigo novos aprendizados, nunca nos esquecemos daqueles que em algum momento, mesmo breve, mudaram a nossa direção.
“Quem perde a fé, perde tudo.” Porque fé não é religião. Fé é o nosso conjunto de crenças pessoais. Desde o amor próprio (fé em si) à confiança (fé no outro). Na fé estão nossos valores, nossa conduta e muitas vezes, nossa história. Por isso, muitas pessoas misturam a religião com a própria identidade, tomando uma parte pelo todo, ainda que sejamos a união de todas as partes. Porque fé é a transcendência de existir.
Perder a fé é perder a si mesmo. Logo, não sobra nada.
Não precisamos perder para dar importância. Mas diante da perda ficamos com a lição aprendida de valorizarmos a estrada que percorremos e optarmos sempre por um novo caminho.

Ciclo



No início, doía ter que lidar com as partidas. Esquecer tudo que eu sabia de alguém e recomeçar mais uma vez. As mesmas perguntas se repetiam: “o que vc gosta de fazer?”. Embora cansado, disfarçava para mim mesmo: “dessa vez será diferente”.
Mesmo lutando, a repetição vencia. Machucado no fim pelo que eu queria começar. Uma parte de mim morria, enquanto outra tentava se levantar. Tentava me consertar. Abraçava a esperança, batia o pó e seguia em frente.
Quem eu escolhi? A mudança. Mudar a música de fundo, o lado do caminho, o livro de cabeceira, ou simplesmente, o jeito de olhar. Sair do drama, assistir comédia e rir do que até então me fez chorar.
Partidas? Ainda aconteceram, mas onde há amor próprio, não existe vazio no lugar.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Mãos dadas



Sempre gostei da imagem de mãos se encontrando. Considerava expressivo. Fosse simbolizando a união de um casal ou de amigos se cumprimentando. Transmite uma conexão.
Lembro, na adolescência, de ter ouvido o ator Tony Tornado dizer uma frase que nunca esqueci: “Duas mãos quando se encontram refletem a sombra de mesma cor”. Uma frase simples nos lembra, que independente de sexo, cor, religião, lado político,etc... apertar a mão devolve e mistura nossa humanidade. Assim como, qualquer sombra projetada é igual. O corpo se encontra pelas mãos, mas são as almas que se cumprimentam. E enquanto não entendermos que somos mais que um corpo, viveremos com nossa compreensão limitada. Se nos guiarmos pelos olhos, tudo será ilusão, porque como asseverou uma “criança”: o essencial é invisível. Dedos também são diferentes uns dos outros, mas apenas juntos resultam no funcionamento pleno de uma mão. Somente quando as diferenças que existem na sua mão se entrelaçarem as diferenças da mão do próximo, entenderá que tudo que damos a alguém é dobrado no mesmo instante. E se um dedo pode se quebrar com facilidade, duas mãos juntas são inquebráveis. O que talvez explique o porquê de uma prece ser feita com duas mãos juntas. Comunhão universal.

Solidão Acompanhada

Solidão acompanhada é estar só ao quadrado. Não é andar de mãos dadas, mas andar amarrado, só para dizer que é amado.
É abrir mão da liberdade e das convicções, não por alguém, mas pelo medo de estar consigo mesmo. Ocupar-se para não sentir culpa. Uma desculpa por medo do fracasso. Ainda que cada dia junto seja uma derrota.
É ficar pelo motivo errado. Não porque acredita no relacionamento, mas porque teme a falta dele. E fugindo da solidão, termina por abraça-la.
Nunca é fácil se separar de um ideal. Tal oásis no deserto, que dizendo ser água, bebe areia.
Não mata a sede, mas cede e mata até que decida se valer por dois.

Migalhas

“Floresta adentro, as crianças iam jogando migalhas de pão no chão para que pudessem encontrar o caminho de casa pela trilha feita. Porém, quando resolvem voltar para casa percebem que as migalhas haviam sido comidas pelos pássaros da floresta e que estavam perdidos.” (João e Maria)
Migalhas são a mão estendida (ou seria o coração?) na espera de receber aquilo que não é espontâneo.
Luta, intensamente, por algo que ja perdeu, enquanto se perde também.
Acha que marca o caminho, mas acaba sem ter por onde voltar.
Anseia a árvore quando, visivelmente, é um quebra galho e nisso, ao invés, do bom uso do que sente, aceita que vire abuso.
Ha quem alegará, que precisa paciência para uma mudança ou que o “amor transforma”, mas a única mudança que temos alguma influência direta é a pessoal e o amor realmente transforma, mas aquele que exerce o amor. Quem não ama, não muda, mas se acomoda na sombra do amor do outro. Um doando tudo que tem para o outro que não tem nada para dar. Um parasitismo emocional.
Nada, que venha acompanhado de dor, cresce. É bolo sem fermento. Inflado de ar até que estoure e só reste vazio.
“Amor não espera nada em troca”. Se é amor, não precisa esperar, ele não precisa de esforço, se dá! E é sim uma troca: mútua! Ainda que nem pareça com uma, pois torna sinônimo as palavras dar e receber.

Estranhês

Estranhês é uma língua quase morta de quem tenta se comunicar com os vivos. Originária do distante país dos sonhos, sua origem etimológica deriva da palavra "estranha", que divide o radical com "entranhas", porque vem do íntimo profundo.
Dialeto dos intensos, sensíveis e loucos, da marginalidade das regiões nostálgicas, sua compreensão só é possível com uma grande conexão, que entende expressões até mesmo quando faltam palavras.
Seu código escrito é poético e a sua fonética é musical. O sentido do que é dito só cabe no que se pode sentir. Sua tradução é livre, pois sua gramática não segue regras, ou melhor, a única regra é que o momento importe.
Não há curso, pois o aprendizado é o próprio percurso, por vezes solitário, até que no caminho encontre alguém, que entoe a mesma voz.

To(LER)ância

Religião é escritura
Religiosidade é conduta
Escritura é aquilo que você acredita
Conduta é o que faz daquilo que acredita
Religião é instrumento
Religiosidade é semente
Instrumento prepara
Semente frutifica
Religião é estudo
Religiosidade é aprendizado
Estudo é dedicação
Aprendizado é compreensão
Religião é religar
Religiosidade é conexão
Religar é receber
Conexão é transmissão (doar)
Religião é templo
Religiosidade é natureza
O templo segrega
A natureza partilha
Religião é dogma
Religiosidade é conceito
Dogma é indiscutível
Conceito é reflexão
Religião não é salvação
Isso é proselitismo
O que salva é a própria interiorização
Manifestação da religiosidade
Que faz a Fé-licidade!

A origem das relações abusivas

Sempre me perguntei o que faz que algumas mulheres tolerem grandes traições e abusos, persistindo em relações tóxicas, uma vez, que o inverso dificilmente aconteceria? Como já ouvi algumas vezes: “É a crença no amor”. E desde quando o amor torna alguém submisso dando poder ao outro de dominador? Sempre precisamos de um motivo para justificar nossas ações e nisso, diante de um eventual fracasso, corremos o risco de nos agarrarmos a um ideal e sermos injustos conosco mesmos. Neste caso específico, o amor é consequência e não a causa que aprisiona alguém. Assim, isento o amor de ser vilão ou herói nessa história.
Você percebe que envelheceu quando recorre ao passado para explicar o que não entende no presente. Despindo o romantismo das fábulas medievais, a instituição casamento por séculos foi um grande negócio. Negócio intermediado por um dote no qual a família da mulher “vendia” a noiva, gostasse ela ou não. Muitas vezes, visando status social de ambas as famílias, ou no caso de famílias nobres, uma grande jogada política que fazia do seu potencial adversário, um aliado.
Entrando na intimidade do casal, tínhamos uma esposa sem direito algum, senão carregar o nome do marido e dar filhos ao mesmo (de preferência meninos). Uma “escravidão” socialmente aceita e apoiada pelo Estado e pela Igreja. Sem direitos, a mulher se via obrigada a tolerar os desmandos e traições do marido, que por sua vez, se sentia provedor e proprietário da mesma.
Divórcio era impensável, contrariava as leis “sagradas” e humanas não importando o “inferno” que passasse. As mulheres, como os demais escravos, não tinham direito sobre suas próprias vidas e caso se rebelassem ou fugissem, seriam responsabilizadas e condenadas, não importando a justa motivação. Seriam execradas socialmente e passariam a viver a partir de então, marginalizadas e carregando uma má fama até o fim de seus dias.
No Brasil, apenas com a República em 1890, o casamento perdeu o caráter religioso e em 1916, o divórcio se tornou um instrumento legal. Legal juridicamente, porque os juízes dos “bons costumes” continuariam sua peregrinação de condenações injustas.
E assim, retorno ao presente e nem parece que se passaram séculos dessa história. Homens traindo, matando e abusando psicologicamente de mulheres “escravizadas”, dizendo para si mesmas ser um ato de amor para escaparem do peso de um julgamento que carregam inconscientemente. Porque assim como no passado, lutar pela sua liberdade parece uma luta contra sua própria vida e nisso, infelizmente, muitas vezes, perdendo sua vida literalmente no processo.
Felizmente, a história, mesmo lentamente, evolui. E vícios sociais se revelam uma droga e por consequência denuncia usuários dependentes da mesma. Nesse caso, o tratamento precisa ser uma conscientização coletiva. Os tempos mudaram, mas é preciso mudar o tempo que carregamos dentro de nós. Não se aprisione em ideais, seja o seu ideal e que o amor ao próximo venha de mãos dadas com o amor próprio.
Empatia não é apenas se colocar no lugar do outro para saber o que sente, mas pensar se o outro no seu lugar aceitaria as mesmas atitudes.
Dizem nos grupos anônimos: Mais 24 horas. Faça a diferença na sua vida nas próximas 24 horas. Termine com qualquer mal que vivencie e que a sua vitória seja assim, a vitória de todos por um mundo melhor.

Partidas

A vida é feita de tantas partidas. Pessoas que por um empréstimo do tempo, partilham alguns momentos, criam lembranças até que tudo seja passado. Voltam ao anonimato, mesmo que saiba seus nomes. Andarilhos do destino que mostram um caminho, mesmo que não faça mais parte dele. Mudam você e se mudam. Passam a habitar o distante país das lembranças que só pelo sentimento é possível acessar. Um trailler de um filme que não pôde assistir. Uma ligação na desconexão. Estranho imaginar se do outro lado você foi memória ou esquecimento. Passagem ou passageiro? Uma viagem de ida, que mesmo sem permanência, você nunca volta para o mesmo lugar.

Refúgio

É algum lugar seguro dentro de si, que resistiu ao bombardeio emocional. É a memória intacta de lembranças quebradas para onde os sentimentos sempre voltam e lhe dão o estímulo de recomeçar. São pessoas e cenas que já não fazem parte do cotidiano, mas os quais a mente procura através de atividades que desenvolveu com elas ou durante um sonho quando as materializa. São abrigos, quase lúdicos, que guardam um olhar da vida, antes que a vida mudasse seu olhar. Um retorno ao interior da concha para a pérola que não está mais lá.

Conto de fatos

Vamos parar de romantizar relações abusivas?
Ofensa não é um descontrole momentâneo, mas a denúncia de uma raiva contida que esperava uma oportunidade para sair.
Controle não é proteção, mas dominar as suas escolhas para que pense que o outro é sua única escolha.
Determinar suas companhias não é seleção de RH, mas demitir você das suas relações sociais.
Desqualificar não é crítica construtiva, mas é destruir a autoestima de alguém para que pense ser melhor do que ela.
Indiferença não é falta de tempo. É não ocupar-se do que julga não importar.
Desculpas sucessivas não são reconhecimento da falta, mas certeza da impunidade. A melhor desculpa é aprender e mudar com o erro sem dar chance para comete-lo novamente.
Sexualizar todos os momentos juntos não é conexão, mas escravização dos sentimentos pelas sensações do corpo.
Tapa? Não é uma contração involuntária, mas a violência objetivada. Que mira o medo e mata o amor próprio.
Relação abusiva não é um conto de fadas, mas quem fantasia um final feliz até o seu próprio fim.

D(Existir)

Moro em tantos escombros
Escambo que com a arte faço
Ela me dá sobrevida
E dou a ela a vida que me sobra
Existo, mesmo quando desisto
Para quem assiste é sucesso
Obras extraídas, por vezes, do meu fracasso
Mesmo quando o corpo se ergue
A alma cambaleia
Leia: Esforço
De quem faz de cada manhã
Um dia D
Para que da desistência
Só sobre: Insistência

A árvore

Hoje não é o dia da árvore, mas gostaria de celebrar uma. Centenas de pessoas passam por esta mesma rua todo dia no RJ, possivelmente sem a notarem e por isso mesmo, digo que é “minha” árvore. Meus olhos sempre tiveram o estranho costume de se prenderem aos detalhes. Há anos a observo, mesmo que estejamos a milhares de metros de distância. E o que tem isso de importante?
A vida acontece nos detalhes. O que a diferencia de todas as outras que estão logo em frente e acessível às mãos? A improbabilidade de uma palmeira, nascer isolada em uma superfície rochosa na beira de um abismo e que siga resistindo firme por tanto tempo à todas as intempéries, apesar de toda instabilidade de onde cresceu. Imaginar que debaixo de sua copa, se tem a amplitude da visão de toda uma cidade que se movimenta tão apressada, que nem um olhar, em algum instante, tenha parado para nota-la. E quantas oportunidades na vida perdemos vendo o macro, sem se atentar ao micro?
Se nada disso fez sentido até então, leve isso para sua vida afetiva, profissional e social. Quantas vezes suas expectativas se prenderam ao que via ou quantas vezes algo sem significado poderia ter mudado sua percepção sobre viver? As coisas mais importantes não precisam de muito para significarem.
Seja um sorvete no fim do dia, comer pipoca vendo um filme, um lugar novo, uma conversa sem tempo e fim, o sorriso de uma criança, as lembranças de um idoso, uma flor que surgiu inesperadamente no caminho, um abraço seguro, um elogio inesperado ou simplesmente ajudar o outro.
Costumamos banalizar tudo que foge de nossas idealizações, vivendo os detalhes como consequência, ainda que sejam eles a causa de, dia após dia, levantarmos.
Essa árvore "perdida" é onde sempre me acho. Se ela sobreviveu ao improvável porque eu não poderia sobreviver também? Ela não precisa ser notada para existir, porque a vida não precisa de grandes acontecimentos para que vire "Nota".
E mesmo que ninguém a note, eu sei que ela está lá. Talvez explique a passagem no livro o “Pequeno Príncipe” que diz: “Os homens cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa.”
Que no seu caminho diário, ache a sua árvore também para que sempre que estiver perdido (a), saiba para onde voltar.

Pensei em falar com você

O tempo não foi nosso amigo
Ontem havia riso
Onde hoje mora o silêncio
As conversas intermináveis
Chegaram todas ao fim
Antes havia uma vontade
Agora, ficamos pouco à vontade
Como conhecidos que se desconhecem
Palavras que importavam
Perderam o sentido
E ser único virou mais um
Seguimos lados contrários
As lembranças ficaram de lado
Nos deixaram em uma encruzilhada
Se ver juntos e viver separados
Impulso de ligar para a saudade
O número era o mesmo
Mas para o coração
Sempre dava ocupado
(Fernando Paz)

Detalhes

A paixão acontece nos detalhes
Quando você se atenta para o que até então ignorava
Uma música que fez trilha sonora para suas lembranças
Um lugar que só é importante porque ali se conheceram
Ou a primeira comida compartilhada
Que saciou a fome de estarem juntos
A paixão pulsa no jeito que repara o outro
Da forma atrapalhada como lhe faz sorrir
Ou nas coisas que diz e que difere de tudo que já ouviu
A forma como caminha na sua direção
Ou nas estranhezas que conversam com as suas
No olhar que se fixa ao seu
No toque que faz o corpo tremer
Ou o abraço que é a casa que não quer sair
Paixão é a surpresa do encontro
Que descobrindo o outro
Descobre o melhor que há dentro de si

Adeus

Nunca estamos prontos para dizer adeus,
aceitar as partidas inesperadas que levam a melhor parte de nós, abraçar a saudade que mantem a presença viva (apesar da ausência) e conviver com a lacuna de uma voz que agora vive no silêncio.
Não é fácil se conformar com as palavras que não foram ditas, as pendências não resolvidas, as experiências não vistas por quem deveria estar ao lado, mas que agora, só vive pelo lado de dentro.
Despedidas não aceitam pedidos, elas definem histórias para que outras possam recomeçar. Ressignificam a experiência até que só sobre o melhor de você. Mexem com aquilo que se acostumou a olhar até que uma nova visão assuma o lugar!
A dor? É a forja, que mergulha o coração no fogo para torná-lo límpido como um cristal. Sofrimento é o desconforto de sair da estrada e ser obrigado a achar um novo caminho.
Deixar ir não é esquecer, mas seguir.
E se não conseguir olhar para o alto e lançar a-deus, olhe para baixo e lembre que nunca estamos só, sempre há uma sombra que nos acompanha.

Novo Normal

Como podemos falar de um novo normal se as ideias continuam velhas?
Mal toleramos as diferenças. Tratamos como anormalidade.
Isso é normal?
Ou normal seria ficar distante 1m para evitar contaminação, sendo que constantemente, invadimos o espaço de pensar e sentir do outro?
Não é uma máscara no rosto que trouxe alguma inovação. As pessoas sempre usaram máscaras com vergonha de assumirem quem são.
O problema nunca foi o isolamento, mas o egoísmo que contamina, o orgulho que adoece e a vaidade que estufa o peito e faz o outro perder o ar.
Novo normal é um mundo repensado, no qual saúde também inclua o fator emocional e ações responsáveis sejam pautadas em empatia e não reflexo da autopreservação (Isso não é novo, mas mero instinto).
É entender que normalidade vai além de uma forma de olhar, mas tornar os diferentes pontos de vista uma mesma paisagem, onde todos tem lugar.
Quando deixarmos de achar normal a indiferença, poderemos falar de um novo normal: amor.

Ex-clusão

Sempre ouvi que se não temos contato com algo por mais de 5 anos, provavelmente, nunca mais teremos.
Então olho para as redes sociais e vejo um número enorme de pessoas que não interagimos, que mal sabemos quem são ou que só estão na lista para constar. Só para constar: não me importo com números, mas com vidas. Mesmo que não conversemos, existe um mínimo para se importar. E assim como estantes e gavetas que precisamos desocupar de coisas que juntam poeira para que novas possam chegar, constato que não basta ser contato, se nunca houve nenhum tipo de conexão. Tenho dificuldade com vírgulas, por isso, abuso dos pontos finais.
Fantasmas nas lendas são espíritos errantes que não conseguem partir por terem alguma questão mal resolvida no plano material. Não quero uma lista assombrada de pessoas invisíveis. De frio já bastam as dificuldades. Sair não é tão difícil assim. Se não consegue, vou dar uma forcinha: Adeus. Siga sempre a luz (e que não seja da tela). Quem sabe um dia nos encontremos de novo no Além.

Redundâncias Necessárias

Para muitos, o dito popular: "Só acaba quando termina" é uma redundância. No entanto, não é tão óbvio quanto possa parecer.
Quantas vezes, acordamos com o pé esquerdo e damos o dia por acabado? (aliás, porque não o pé direito? Me parece um preconceito com os canhotos).
Eventualmente, acontece algum problema e adiamos a solução para o próximo dia, como se nada mais pudesse ser feito. E nesse adiamento, dificultamos a melhora também.
Nos grupos anônimos, todos os depoimentos terminam com "mais 24 horas". Pessoas dependentes sabem que a luta é diária e não podem se dar ao luxo de terminarem o dia antes de vencê-lo, pois correm o risco de terminarem consigo mesmos também.
"O dia só acaba quando termina" é ter a consciência que foi feito todo possível para vivê-lo inteiramente, sem procrastinar para o próximo as mínimas ações que ao assumir hoje, poderiam mudar tudo, especialmente a nossa forma de encarar a realidade.
Para que o dia acabe é preciso ter a coragem de começa-lo. E então quando o término chegar dará lugar ao Recomeço.

Medos

Já tive medo do escuro
Até estar dentro dele
Quando não enxerga nada
Só vê o que, dentro, sente
Já tive medo da morte
Até estar na beira do abismo
Quando só se tem mais um passo
Percebe o valor do caminho até ali
Já tive medo da solidão
Até só ter a minha sombra de companhia
O silêncio do mundo
Fez de mim: multidão
Já tive medo da perda
Até não restar mais nada
Quando tudo falta
Qualquer pouco é ganho
Já tive medo da dor
Até ser todo partido
Quando as lágrimas secam
O coração floresce
Medo? Tive muitos...
Meus gigantes também foram moinhos
Ventavam o furacão que eu trazia
Como vencia?
Empinando uma pipa
Que chamei de amor

Sexo sem compromisso

Sexo pode ser con-sensual
Ainda que uns queiram o “con” e outros só o “sensual”
Deveria ser conexão
Mas acaba ficando desconexo
Um sente, enquanto o outro goza
Parece gozado, mas o riso de um é a tristeza do outro
Que ansiava um abraço, enquanto o outro virava de lado
Melhor deixar de lado
Corpo é templo
Não se brinca em um
Pois ali vive o sagrado
Calma! Não é para sexo ser pesado
Quando se gosta tudo é leve
Nem é puritanismo
Mas viver o puro prazer
Chamado reciprocidade
Sacanagem? É se aproveitar de alguém
Cama e carma, se diferenciam por um R
R-espeito