quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Descrença



É estranho quando nossa crença se torna a própria incredulidade. Suspirando esperança naquilo que não mais acredita. Não que seja a morte conceitual, mas ajuste de sobrevivência de quem não ousa esperar aquilo que no fundo espera. Preferindo negar à ter que perdoar a falência da afirmação. Como quem se deixa surpreender pelo que sempre soube e se não ocorrer, sem problemas, nunca esperou de fato.
É uma fé torta que tenta trapacear um jogo que acha perdido. Se adiantando em algumas casas para no caso de recuar, não ter problema algum estar no mesmo lugar.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Por amor



Embora por amor até possamos escalar o Himalaia para pegar uma flor no topo, revirar uma cidade atrás de algo que a pessoa quisesse muito, viajar para outro estado para encontrar quem se ama ou fazer coisas improváveis que nos levem a sair da rotina só para viver um sentimento maior....
Amar é muito mais que isso...E deveria ser mais simples também. Amar é a atenção cotidiana, o
cuidado como quem se dedica a uma flor, é saber valorizar o que cada um tem de melhor e auxiliar nas dificuldades para que juntos se tornem melhores. Amar não é prisão, nem corrente, é companheirismo de voar ao lado para a mesma direção. Não é imposição ou tentativa de modificar, embora por amor, muitas vezes mudemos. Amor também tem rotina, mas não pode deixar de surpreender. Porque ele é o inesperado e a mística de quem em um toque consegue nos fazer tremer.
Se alguém é incapaz de enfrentar as lágrimas, não vale estar ao lado nos sorrisos... porque o amor é o único sentimento capaz de fazer que um riacho vire mar.

@artesembarreira

Deixar ir


Tem dias que quero me deixar ir, nada aqui me prende.... não há ninguém me esperando voltar. Minha concha é pequena e já não consigo trocar. Escuto infinitamente o som do mar e de um silêncio, que teima comigo em não mudar.
Tem dias que quero me deixar ir para algum lugar que eu faça algum sentido. Não quero ser curiosidade passageira de quem de mim só leva uma ideia, mas me deixa na parede para que outra venha só olhar.
Tem dias que quero me deixar ir para nunca mais sentir... deixar esse corpo pesado que de tão concreto, nunca foi tocado... Corpo que me carrega com dificuldade. Nunca coube inteiro dentro dele.
Tem dias que quero me deixar ir... mas minha arte pode ficar, eu nunca fui ela, embora muitos só me viram assim.
Tem dias que quero me deixar ir até que indo eu perceba que não tenho nada mais para deixar...

sábado, 14 de outubro de 2017

Distorções cognitivas



Não sei ser céu, sem o abismo. Olhar para o alto, sem esquecer o chão. Não consigo ser sol sem lua. Um eclipse onde toda noite é horário de verão. Aponto em toda direção como bússola desnorteada.
Me perco nos detalhes, nas peças que não se juntam. Não consigo pensar no inteiro que existe sem metades. Não importa o contexto, cada parte é história própria. Coloco o ponto, antes de escrever a frase.
Concluo o que não entendo. Entendo o que não concluo. Porque parte de mim responde o que nunca perguntei e parte de mim é pergunta sobre o que não sei responder.
Generalizo tudo. Não pela igualdade do mundo, mas pela desigualdade que faz ele igual! Dedos são diferentes, mas ainda fazem parte da mesma mão.
E ai, o pessimismo...não é por descrença! Acredito muito: que não vai dar certo! Mas justamente para que aconteça o que não espero e reconheça no erro, o melhor acerto de um final!
Nessa ansiedade louca de antecipar destinos, como se pudesse pular o caminho. Penso saber onde chegar, mas mal conheço a estrada. A alma se adianta e vai sozinha, o corpo fica esperando ela voltar.
Minha emoção se diz heroína (e é uma droga mesmo) e salvadora, minha razão é vilã e destruidora. Fazem da minha cabeça arena e eu no meio juiz, tentando separá-las até que em uma distração, elas comecem a se beijar.
Porque sou conteúdo em um frasco que tento rotular. Mas não me enquadro nas especificações da Anvisa. Minha composição não tem contra indicação, nem deve ser usada em doses moderadas. Sou o produto, sem preço, na prateleira do mercado.
Sou escravo das hipóteses entre o que deveria fazer e o se tivesse feito. Acabo por não fazer o que deveria e viver da teoria de quem tenta pelo resultado chegar ao x da equação.
Porque estou no centro do meu mundo, que não liga para quem é o centro! Digo ser causa, mas sou consequência! Quero liderar nem que seja no pior, que acredito ser o melhor, que posso dar.
Mas o que vão pensar sobre mim? Digo não me importar, mas interfere em como me porto! Melhor previnir o que acham, mas se sou eu que acho.. acho que sou minha própria prevenção.
Chega! É uma catástrofe! Como algo tão errado pode dar certo?? Mas digo: deu certo! Pois mesmo sem convicção e andando na contramão, mesmo por descrença ou distorção, cruzei a linha de chegada. E o troféu? Libertação!

Não curti



Se tudo que somos um para o outro é um botão "curtir", não apertar diz muito sobre o que somos: nada!
É a frágil relação virtual de uma realidade desconectada. Há quem se encontre em um olhar e há quem se desencontre por um clique.
Não é a postagem que importa, mas o que você importa em uma publicação. Especialmente, quando você é apenas uma publicação na vida de alguém. Uma propaganda do "mercado livre" que algum momento de convivência impôs na sua tela.
Você existe tanto quanto um panfleto de cartomante entregue na rua com a diferença que você não traz o amor em 3 dias e nem resolve todos os problemas. É uma tolerância social, uma constante lembrança que estar não é fazer parte.
E porque continuamos com isso? Para ser um número tão fiel quanto previsão de chuva? Quem liga?
Eu ligo, pois gosto de chuva. Mas você não sabia disso, nunca me curtiu. Não que precisasse! Talvez as melhores pessoas que conheço não me curtam também! Mas é diferente! E talvez a diferença seja justamente essa: para quem significa até o silêncio tem valor.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O Caminho




Temos o estranho costume de abraçar os resultados, mas nunca nos apegamos ao processo que leva a eles...
O processo que embora doloroso como toda poda, nos faz crescer e ser melhores. Nos apegamos tanto às nossas dores, que somos incapazes de viver às pequenas felicidades, que recebemos com desconfiança. Apontamos as impossibilidades, sem perceber as possibilidades que nascem em nós e viviam adormecidas até que o improvável nos chamasse a atenção. 
Uma bagunça das nossas certezas, uma ruptura dos mantras e crenças que repetimos continuamente como vitimas da verdade. Gostamos da mentira de uma comodidade que parecendo justificar o sofrimento é algoz e nos açoita. Masoquismo? Não! Apenas apegos às certezas conhecidas. Tememos pisar em solos desconhecidos e na "terrível" consequência que pode advir. Um medo de viver a diferença, que nos faz perder também as oportunidades à felicidade, resultando em experiências "iguais". O problema nunca foi a perda de alguém, a distância em um relacionamento ou o que nos foi dito... o problema é o que passamos a nos dizer sucessivamente, nos perdendo e distanciando de nós mesmos. Idealizando uma situação perfeita em um mundo imperfeito (nosso e do outro).
A vida não espera que mudemos. Ela nos mudará, querendo ou não. Amando ou sofrendo, chorando ou sorrindo.... Mudaremos!
Não esperemos o tempo certo... Todo tempo é o certo! Prudência não é evitar os riscos, mas ter atenção no caminho! Porque não é o fim que importa, mas a importância que atribui a cada passo.


Fernando Paz
- Curta e compartilhe no face @artesembarreira

Diálogo Quebrado



- Fico na janela vendo o amor passar. Amores passados, que amassam, quase massa ao ser apenas mais um.
- Nem vejo o amor, de castigo, no quarto sem janela dos fundos. Por lá ele nem passa. É melhor ver sem tocar ou não ver nada para se tocar de uma vez?
- Mas não nos tocamos, que o problema está justamente no toque que faz a maça proibida virar jaca. E a jaca cai, ainda que adoce.
- Nossos pés devem ter pisadas doces do tanto que já o afundamos na jaca.
- Acho que pelo menos uma vez, podíamos trocar o pé pela boca e comermos juntos. Sentar lado a lado, até perceber que nosso melhor lado é o que a gente não vê. Nossas lágrimas podem ser salgadas, mas você me ensinou que a vida precisa de sal.
- No fim, é você que tempera minha vida!

Fernando Paz
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A falta do amor


Não amar deliberadamente ou por convicção, é um erro de percurso de quem ama na contramão.
Que segura o melhor para o melhor que espera
Mas fica com o que segurou e com a espera, mas sem o melhor.
Dá metade do que sente, mas não entende porque não recebe um inteiro de volta.
Não há espaço, se uma parte de si está ocupada em fazer apartes no outro.
Seleciona tanto que fica sem escolhas. Distribui culpas para evitar desculpas. Afinal, que culpa tem o amor, se o divide entre devoção e vocação? Entre fábula e provação?
Sem contradição, tudo é a tradição do olhar.
O amor não toma partidos, nem se parte, porque ele é a melhor parte!
Ele não tem lado, pois está em todos os lados.
E não se revela para quem não o vela.
Não aguarda fora, o que guarda dentro.
Enfim, o amor não é fraqueza e nem para os fracos, pois só o consente, quem sente!


- Fernando Paz
- Curta e compartilhe no face @artesembarreira

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Contra espera



Temos o estranho costume de abraçar os resultados, mas nunca nos apegamos ao processo que leva a eles...
O processo que embora doloroso como toda poda, nos faz crescer e ser melhores. Nos apegamos tanto às nossas dores, que somos incapazes de viver às pequenas felicidades, que recebemos com desconfiança. Apontamos as impossibilidades, sem perceber as possibilidades que nascem em nós e viviam adormecidas até que o improvável nos chamasse a atenção.
Uma bagunça das nossas certezas, uma ruptura dos mantras e crenças que repetimos continuamente como vitimas da verdade. Gostamos da mentira de uma comodidade que parecendo justificar o sofrimento é algoz e nos açoita. Masoquismo? Não! Apenas apegos às certezas conhecidas. Tememos pisar em solos desconhecidos e na "terrível" consequência que pode advir. Um medo de viver a diferença, que nos faz perder também as oportunidades à felicidade, resultando em experiências "iguais". O problema nunca foi a perda de alguém, a distância em um relacionamento ou o que nos foi dito... o problema é o que passamos a nos dizer sucessivamente, nos perdendo e distanciando de nós mesmos. Idealizando uma situação perfeita em um mundo imperfeito (nosso e do outro).
A vida não espera que mudemos. Ela nos mudará, querendo ou não. Amando ou sofrendo, chorando ou sorrindo.... Mudaremos!
Não esperemos o tempo certo... Todo tempo é o certo! Prudência não é evitar os riscos, mas ter atenção no caminho! Porque não é o fim que importa, mas a importância que atribui a cada passo.

Contra pedido


É estranho pedir isso, mas poderia devolver minha insanidade?
Não sei se quero ser lúcido em um mundo anormal, que se envergonha da tristeza e esconde suas lágrimas ou que exalta o sorriso, mesmo quando não é real.
Não gosto desse lance morno, sem entrega e intensidade, que se compraz na aprovação de estar "bem". Essa apatia que chamam de normalidade, mas que eu não sinto nada, nem que estou vivo. Mesmo na pior das dores, sinto alguma coisa. Não sentir é nulidade!
É como saber que não existimos e que a realidade é ilusão!
As pessoas não bebem para esquecer? Então me devolve o cálice da minha loucura. Prefiro me embriagar da arte do que sinto à ser sóbrio no desamor das aparências.

O mistério das relações


O interesse em qualquer relação está na capacidade de nos fazer sentir interessantes. Desde a conversa interminável, que por mais que fale parece sempre pouco ao olhar que torna tudo familiar. Não há desinteresse, sumiços e silêncios. Esperas e respostas monossilábicas. Tudo é encontro e descoberta. Não há impossibilidades. O impossível é ficar sem a presença. Até porque presença é mais do que estar perto. As vezes, os mais próximos, estão ausentes. É o cuidado e atenção que torna importante a maior banalidade! Que ri, mesmo quando não há graça. Porque a graça não está no que se diz, mas no que sente. E sentimento é conexão. Relações quando não são assim, são ilações, mas sem laços.

Encontros


As melhores pessoas que conheci na vida, não esperei, surgiram do nada! Dos lugares mais inesperados e sem convite! Não pediram licença, entraram e sentaram com as pernas para o alto! Não importava se estavam a poucos metros ou muitos quilômetros, elas se faziam presentes. Não esperavam uma mensagem para chamar, aliás não precisavam chamar, nem falar nada, pois estavam sempre lá, mesmo caladas!
Talvez por não haver expectativas, tudo fluía e era espontâneo. Não era preciso pensar no que falar, o diálogo simplesmente acontecia. Não era preciso um momento adequado, toda hora era hora. Motivos? Estar junto era um motivo! Não havia jogos de interesse, ou pior, não havia "desinteresse"...
Se perguntava tudo sem receios ou melindres por más interpretações (aliás interpretação virou um problema sério contemporâneo). Não havia tempo marcado para durar uma conversa, muitas vezes, virava o dia! Nada era unilateral ou exigia um esforço imenso para acontecer (o que mesmo com esforço hoje, não acontece).
Acho que com o advento das redes sociais com uma superficial descrição pública, viramos uma ficha cadastral. Muitos não se interessam em se aprofundar, como se tudo que precisasse saber, estivesse ali.
Mas o que precisamos saber, vive nos detalhes da convivência, do cuidado e da atenção, que não precisa de curtidas, mas de presenças que fiquem "online" na vida, mesmo que "offline" das redes.

"Em um relacionamento sério"

Se não há relacionamento
Pareço estar de brincadeira?
Ou a brincadeira é dizer
Que só, você não é sério?

Sério é ser responsável?
Ou fazer uma declaração pública?
Mas há quem não seja sério na vida privada
Essa não é publicada
Precisa parecer sério
Mesmo que o valor dado
Não passe de uma postagem
Isso é realmente sério...

Sério é atenção e cuidado
É não deixar na mão
É dedicação e respeito
E isso não precisa de divulgação
Não só pelo outro
Mas também por si mesmo(a)

Não seria melhor outro título?
Para não gerar confusão...
Substituir 4 palavras
Por 4 letras: amor?

Amor não faz distinção
Se é um caso próprio
Ou propriamente um casal
Ele sempre basta
(Mesmo que não mude o status)

A procura por alguém


"Você gosta de azeitona? Qual sua música preferida?"
Perdemos tanto tempo procurando alguém fora de nós, que esquecemos esse alguém que já habita intimamente.
Esse alguém que também precisa ser descoberto. Não pelas azeitonas (por sinal, prefiro sem caroço), mas por alguém que não exige nada que não seja simplesmente sermos! Ele já está ali, não precisa chegar e se adaptar à uma vida, aliás fizemos juntos aquela que vivemos. Um alguém que não parte diante das turbulências ou por não gostar de algo em nós (mesmo quando não gosta) e nem espera que mudemos só para agradar as expectativas. Um alguém que mora, vive e morrerá por nós, mas que vive esquecido, oprimido entre sonhos e feridas.
Um alguém tão próximo que acaba mais distante do que nossas buscas exteriores sem fim. Porque esse alguém é tão infinito, que acaba se fixando no finito que reside além. Esse alguém também mudará e nós precisaremos conhecê-lo muitas vezes, através de cada experiência que passarmos, mas está ali, ao lado, ou melhor, do lado de dentro! Não faz jogos, cenas ou personagens, ele é o próprio autor!
Enquanto buscamos no mundo, o mundo que vive em nós, tudo será repetição. E seguiremos repetindo as mesmas perguntas, mesmo que intimamente saibamos que as respostas que procuramos não estão ali.

Dia nublado


Quando você pensa que é muito o pouco
Ou que o silêncio é quase palavras
Quando o sorriso se esconde entre cascatas de lágrimas
Ou nem ouve o que dizem, porque seus pensamentos não param de falar
Quando as forças vacilam e apatia é modo de viver
Ou desacredita no que até então foi certeza
Nesses dias, o intimo se embriaga do profundo
E o raso morre de sede
É saída do sonho da realidade
Preenchimento com presença dos vazios que dormem
No lançamento
Que abre os braços
Em queda livre
Sem saber onde chegar

Perdido


Há momentos
Que o corpo é casca
A alma vaga
Logo divaga
Sem rima....
...É lagrima
Parte perdida ali
Desencontrada acolá
Só para se achar
Enterrada em algum lugar
No tempo que não passa
No espaço que não muda
E uma forte intenção de voltar
Para alguma parte do mundo
Ou um profundo abraço
Que pudesse chamar de lar

Sobre publicar


Não quero reservar nada
Quero doar tudo
Não levarei nada com a morte
Que pelo menos minhas palavras, vivam
Se um dia, pensar em publicar um livro
Pode ser que nada seja inédito
Mas nada é novo para mim
E se alguém ainda lembrar do que foi escrito (o que duvido)
Talvez, encontre em minhas linhas, novo sentido
Porque até meus sentimentos mudaram
E a mesma frase, nunca é igual em dois momentos distintos
Mas sempre me dizem: "podem roubar os seus textos"!
Mas eles nunca me pertenceram
Sim, vieram por mim, mas como filhos, não são meus
Mas está tudo lá, legalmente registrado e batizado, caso ainda reste alguma dúvida entre nossa familiaridade
Mas se isso ainda não basta, eu digo: Basta!
Podem levar! Não quero nada!
Porque se guardar, me enveneno..
E de que me servirá o veneno, estando morto?
E se ainda assim, nada mais restar...
Me resta escrever tudo novo, tudo de novo,...
O que escrevi, não me importa. Passou!
O que escreverei sim, ainda nem começou...