sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Alienígenas


Curiosamente, chamamos a comunicação extraterrena de "Contato de primeiro grau". Esse contato de se aproximar, de ir além do estranhamento e de fazer parte de algo maior. Mas quantas pessoas na vida, tocam realmente nossos corações a este ponto?
Diria poucas e tão raras quanto a visão de um disco voador. Pessoas vindas de algum lugar, que o "acaso", repentinamente, nos coloca frente a frente. A princípio, somos de planetas diferentes até percebermos que nossos sentimentos e pensamentos se encontram além das palavras e nossas culturas não divergem, mas antes se complementam. Neste instante, reconhecemo-nos e não existe mais o "meu" ou o "seu" mundo, somos do mesmo lugar e tempo, que é o presente da presença de ter e fazer parte da vida um do outro.
Então os outros se tornam alienígenas... E rimos sozinhos das percepções que agora fazemos ao redor de nós. De fato, o universo é muito maior do que o nosso pequeno átomo, que chamamos de interior. Mas entre tantas estrelas, encontrar compreensão e cumplicidade, é como achar uma "agulha no palheiro". E lhes revelo um segredo: a agulha brilha!
Assim como, a inesquecível imagem do filme ET, que o dedo brilhava representando uma linguagem extra sensorial: o toque do AMOR. Somos sensibilizados por emoções que representam mais do que qualquer expressão. Mas podemos adotar as mágicas palavras: "ET, Telefone, minha casa", cientes que ETs somos todos nós, nesta galáxia que trazemos dentro de nós. Telefone é a ligação de nos sintonizarmos uns com os outros, é elo e laço. E casa, só abrimos para quem realmente queremos que faça parte de nós, é a intimidade, o abrigo e refúgio íntimo de nossa mente.
Quando destoamos desses princípios somos então abduzidos, que é quando nos deixamos levar para realidades, que não fazemos parte. Ou permitimos ser invadidos ou sermos invasores, sendo forçados ou forçando situações que espontaneamente não devem acontecer.
Mas não precisamos de armas, mas antes de uma bandeira de paz! Não precisamos de ceticismo, mas de olhos que acreditem! Estranhos, estrangeiros ou alienígenas, somos todos, até que nos abramos para receber e aprender com as pessoas do jeito que são.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Arrepio literário


Primeiramente, não seje...
A nível de português, mim não é e a gente não somos.
Mulheres pensantas, obrigado tem gênero e em anexo, só o em.
Menas não é pouco e meia só no pé.
Mais é muito, mas às vezes, porém!
Não suba para cima, nem se perda na perca.
Quem traz nunca está atrás!
Melhor que nada fique entre você e mim, porque mim nada sabe, nem escrevinhar...

Desconstrução


Calado
Na calada
Do lado de cá
Converso
Com versos
Como ver só
O que só lhe dão
De só lidar
Solidão
?Loucura
Ou cura?
Compressa
Com pressa
Cumpre essa
Parte
Do aparte
É arte

Contanto


Há tanto em mim
Que me afogo
Fogo
Há tantos em mim
Que não me entendo
Tendo
Há um entanto em mim
Que não canto
Recanto
Há um portanto em mim
Que demora
Mora
Há um enquanto em mim
Que me leva
Eleva

Esquivo


Escrevo de mim
O que em mim crava
Sem crivo
Sem crase
Não só crises
Não só frases
Catarses
Escravo do que sinto
Escavo o que penso
Compenso o meu escasso
Crasso erro
As vezes, fracasso
No sonho concreto
Do viver crível
Do incrível abstrato
Que faço parte
Quero ficar
Mas sempre parto

A procura


Venho procurando em outros mundos, o mundo que em mim habita.
Buscado pessoas que falem meu idioma, sendo que muitas vezes nem eu mesmo o entendo.
Feito uma trilha fora de mim, que só existe em meu interior.
Tenho tentado definir limites a sentimentos, que pela própria definição são ilimitados.
A questão é a própria resposta...
Não preciso ir além das entrelinhas para entender além do que preciso saber. Bastam poucas linhas.
Não é algo, não é alguém,..Sou eu, o tempo todo! Porque todo percurso inicia e termina em si mesmo!
Eu sou a causa primária de tudo que crio e as consequências são reflexos do que sou.
Onde quero chegar? O que quero encontrar? Não importa. A beleza não está no achar ou descobrir, mas no processo que nos conduz.

O tempo e o espaço


De toda a transformação que ocorre em nossas vidas, a maior acontece na relação e percepção que temos sobre o tempo e espaço.
Na juventude, nossas energias afloradas são canalizadas para o que fazemos, a necessidade de conhecer a maior quantidade de coisas e percursos possíveis em um curto espaço de tempo, sem nos importar como chegaremos lá. Tudo na vida parece mais definitivo e nosso poder de escolha é limitada pela ânsia de viver. Queremos guardar e dominar o mundo.
Com o advento da maturidade, as energias, inevitavelmente, diminuem. E o que somos passa a importar mais do que o que fazemos. Ja não importa mais a quantidade de lugares visitados, mas queremos nos aprofundar em cada um deles e, especialmente, no percurso que nos leva até eles. Tudo na vida é mais flexível e tantas vivências e experiências aumentam a nossa capacidade e segurança de escolher. Queremos viver e pertencer ao mundo. E na ironia da vida, muitos jovens almejam essa maturidade da idade, enquanto, mais velhos gostaríamos da energia da juventude! E assim, seguimos nesse difícil equilíbrio, formando pontes, ligando os extremos e aprendendo com eles. Que o espaço seja exatamente onde estamos e o tempo, o presente momento que é sempre um presente.

O gozo


Não quero gozar de você
Quero gozar com você!
Porque gozo é rima, é riso e explosão
Todo resto é engodo e enganação!
Gozar é diversão, mas não é pilhéria
É perder o ar e descobrir uma nova versão
Gozo não é pecado, pecado é não gozar
Não é profanação, nem luxúria
É paraíso e redenção
Quem teme a expressão gozar
Ou nela vê um absurdo
Quem chega a se chocar
E acha que é vocabulário chulo
Não entende o que é gozar
Que vai além do sentido e da palavra
De quem é capaz de se arrepiar
Apenas com um olhar sagrado!

A transformação



Sentia as presas vampirescas e afiadas em um estalo do pescoço, e com elas, a noite ganhava novos contornos e dimensões. A sensação de sobrevida ao silêncio dos que dormiam, ampliava os sentidos. As pás do ventilador de teto pareciam rodar em câmera lenta. As batidas do relógio, até então, inaudíveis, ecoavam como gongos de uma catedral, acrescidos pelos sons solitários de carros que passavam, distantes, no exterior. Os pequenos pontos de luz de equipamentos em "stand-by" ofuscavam como faróis em alto mar. O corpo parecia extremamente sensível, apesar da rigidez, quase mórbida, adquirida pelo momento. Estar alerta quando todos dormem é uma morte na contramão. Os pensamentos acelerados percorriam o interior gélido sincronizado com a brisa fria da escuridão. Todas as sombras ganharam vida, enquanto sentia a minha própria se esvair naquela mordida chamada insônia.

Definições


Foram tantos recomeços
Que começo a desconfiar
Não pode ser de outro jeito
O que sobrevive, há de ficar

Pensamos decidir
Quando é a vida que escolhe
O que você pensa ser
É exatamente o que colhe

O tempo perdido não volta
Perdemos dando voltas no tempo
Quanto de nós é preciso
Para desfazer nossos nós?

Tudo aquilo que é intenso
É difícil também de esquecer
Porque a parte de nós que se entrega
Não da trégua até pertencer

Atualidade


Será o fim do mundo?
O que acontece com as pessoas e seus universos profundos?
Amigos brigam por motivos banais
A política ganha contornos de torcidas triviais
O amor para a maioria se tornou descartável e sem um quê
"Amo você" está em frases de biscoitos chinês. Porque?
A frustração se tornou inaceitável
E a felicidade virou uma ditadura palatável
Anti-depressivos ganham as passarelas
Os olhos aprisionados em telas
Enquanto tudo corre paralelo
Os sentimentos estão offline, embora conectados por elos
O "EU" não entende o "Nós"
E pequenos problemas são grandes nós
Selfie é uma obra de arte
E arte é qualquer rabisco sem aparte
A diversidade é separada por muros
E não há flexibilidade, todos estão duros
Igualdade se tornou mero discurso
E tudo parece fora de curso
Ninguém tem mais tempo para nada
E educação não vêm mais de casa
Brincadeiras são levadas a sério
"Curtidas" valem mais do que gente e seus mistérios
Vidas carentes pedem apelo
Mas sem postar, ninguém vê, não há zelo
Ainda assim, sempre temos a esperança de mudar
De amanhã ser possível respirar um novo ar
E este momento ser só um tropeço
De uma civilização que precisa de recomeço

Nosso tempo



Com frequência, escuto dizerem "Não pertenço a esse tempo" ou em uma versão mais saudosista "No meu tempo". No entanto, o nosso tempo é o que está ocorrendo agora! E é comum que nossa mente, diante de alguma dificuldade, em alguma área, encontre refúgio no passado (especialmente momentos anteriores à vida adulta, nos quais as responsabilidades eram menores) ou viaje para o futuro (sonhos), visando fugir do presente momento.

Comumente, a esfera afetiva é a que mais se reveste de fantasias pelo imaginário coletivo, cultuando um romantismo e um amor quase impossível. Neste amor, nenhum dos dois tem defeitos, ambos são capazes de renunciar a tudo e de fazer tudo pela felicidade alheia. Isso na melhor das hipóteses, pois na maioria dos casos, se espera isso apenas do outro, sem avaliar o que nós estamos dispostos a
oferecer.

E têm dois períodos na história da humanidade, que contribuíram muito para essa idealização de períodos anteriores ou situações ideais.
O primeiro deles com Platão e a sua filosofia do Mundo "Perfeito" das Idéias. Uma forma tão pura e essencial, além das ilusões da terra e das questões materiais. Ideal que seria revivido no Renascimento com a reconstrução de um mundo, que sobrevivia às sombras da peste, da fome e das lutas medievais, e posteriormente, pelos hippies no sonho de "Paz e Amor" em um mundo envolvido na triste guerra do Vietnã.
O segundo período, nasceria na era Romântica, que faria uma "releitura" dos tempos medievais. E talvez, este período encontre raízes profundas até hoje. Os antigos mercenários foram elevados à categoria de cavaleiros honrados! Camponesas maltrapilhas foram enobrecidas e viraram princesas, esquecendo que apenas a nobreza e seu "sangue real" poderiam por "direito" almejar essa condição! Os castelos abriam suas belas pontes levadiças, esquecendo as ruínas destruídas após tentativas diversas de invasões e dominações. Os românticos definitivamente coloriram uma história que era "preta e branca". E esse colorido, se tornou definitivo, quando viraram os desenhos mundialmente famosos da Disney com seus desfechos "E foram felizes para sempre..."

E essas ideologias de perfeição foram absorvidas culturalmente pelo mundo. Inconscientemente, neste desvio do presente, passamos a fazer releituras de quase todos os períodos da humanidade! "Bom mesmo era o final do século XIX e início do século XX". Será? Casamentos sustentados, na maioria das vezes, por fachada. A mulher sem direito de ir e vir, sendo obrigada a ser do "lar" e muitas vezes, se silenciando a escapadelas do marido..."Eu preferia o fim do século XVIII e o início do século XIX". Será? Casamentos arranjados de acordo com o interesse da família, não havia opção, havia um dote! E quanto mais voltarmos, mas percebemos, que felizmente, o mundo evoluiu!

Os problemas sempre existiram e em todos os tempos! Cada geração, certamente bebia da fonte da anterior. Negava seus defeitos e idealizava suas qualidades. Mas o presente, sempre esteve ali! Convidando cada um para sua mudança pessoal e a própria transformação. Os gênios, se tornaram atemporais, sabiam fazer essa leitura do momento, ainda que muitas vezes, devido a uma forte pressão social, acabassem sendo auto-destrutivos. É difícil nadar contra a correnteza.

Mas até hoje, suas palavras, exemplos e criações são imortais e todas elas nos convidam para viver o agora! Este é o momento exato de fazer a diferença! Não espere um amanhã que depende de hoje para existir e nem um ontem que lhe trouxe até aqui! A melhor forma de não ser devorado pelo tempo é vivê-lo! Não importa quantas histórias foram escritas antes da sua, mas que neste instante, escreva a sua!

Significado


Porque sentimos?
Porque sentidos?
Porque a vida precisa significar...
E apenas o que significa, fica
Nem tudo o que é, se sente
Mas tudo que se sente, é
E ainda que nada disso faça sentido
Mesmo o sentido do nada se faz
Porque não há o nada, sentindo
E isso, por si só, significa

Flertando com Madame


Madame estava só, sentada em um bistrô, admirando a vida noturna na Cidade das Luzes, mal iluminada no momento pelas luzes de postes, mas ainda assim, Paris. Nunca se importou de ter uma mesa só para si, desde que uma taça de vinho e uma boa música a fizessem companhia.

Mas não pôde deixar de notar aquele homem no balcão. Cabelos negros, como a graúna e olhos esverdeados e pidões. “Peça que eu dou” – Pensou consigo mesma, enquanto repentinamente, sentiu o ambiente esquentar e não era a vela, que tremulava a sua frente.
Senhora de si, estufou o peito, tanto que quase desabotoou a blusa que vestia, realçando o seu decote. Piscou para ele, no exato instante, que uma poeira decidiu pousar em seus olhos...

Mesmo tentando se controlar, a ardência levou a uma compulsiva piscadela. Seu mundo embaçou, como um quadro de Monet e lágrimas escorriam compulsoriamente, mais do que em seus momentos mais tristes.

Começou a agitar o ar com as mãos na vã tentativa de expulsar aquele corpo estranho, quando sentiu um solavanco em seu corpo. Dois braços fortes a comprimiam por trás, sufocavam seu diafragma, enquanto uma voz agoniada murmurava: “Senhora, expire fundo”. Não estava engasgada, mas tantos apertos a impediam de explicar. Ainda tentou bater na mesa, como um lutador, que implora o fim do combate, mas inutilmente.

Pareceu uma eternidade, mas quando enfim o terremoto passou, a nitidez retomou e conseguiu balbuciar em seu melhor francês: “Je suis bien”. Finalmente, observou que o homem do balcão não estava mais lá. Diante dela, apenas o garçom, seu pseudo-salvador, com o rosto mais transparente que sua taça. Constrangido, ele tentou se desculpar.
Mas Madame não podia aceitar tamanha impertinência. Resoluta e altiva, lhe disse sem vacilar: “A conta e você em meu quarto”. Saiu bamboleando, sem olhar para trás ou perder a pose. Suspirou intimamente: “Meu herói”.

Variações


Sou poesia do tipo que trova
Prova de quem faz uma prosa
Sou poema escrito sem crivo
Versos do meu inverso

Sou haikai, sem mais
Trinca sem métrica
Sou conto de encontros
Dos encantos que canto

Sou crônica, filho de Cronos
Sem ônus de quem brinca
Sou palavra
Minimalista.

Sou ensaio do corpo que saio
Da alma que pede calma
Sou dueto doado em duelo
De quem tudo que espera é elo

Sou soneto de um só
Dos muitos que em mim há
Uma carta, um porquê
Para quem ama o que lê


A arte da Vida (Homenagem ao Domingos Montagner)



As cortinas das águas do Rio S. Francisco se fecharam, encerrando aquele que seria seu maior papel...Entre lágrimas que se juntavam ao afluente à fluente correnteza que seguia sem perdão. O Velho Chico cansado, palco de antigo esplendor, hoje faz de seu leito morada para quem um dia quis ser grande ator. O rio que hoje guarda um riso, em seus bastidores ao público segredou, que mesmo na morte, há arte e o espetáculo só termina para quem em si não o vivenciou.
Suas lonas seguem o fluxo, o tempo nele não para, seu destino é certo, mesmo quando não sabemos para onde vai.
Dois palhaços juntos! Na misteriosa cumplicidade entre dor e alegria, que corrompe as expectativas, faz de um dia qualquer "Domingo" e brinca com a inocência e fragilidade da criança que dentro de nós morou.
E assim, um roteiro se eterniza em quem assiste à obra, mesmo sem compreendê-la. Algumas interpretações não são para serem entendidas, apenas devem ser sentidas. Eis a magia de se deixar surpreender....
E agora que as luzes apagam, a novela termina e com ela somos obrigados a deixar nosso apego aos personagens....todo fim de uma história deixa implícito o que irá acontecer. Convidando os expectadores a criarem com ela a obra que continua viva, como o Velho Chico, que entre duas margens, mesmo as vezes cansado, segue sempre em frente....

Não sou poeta


Sou tudo, mas poeta não posso ser
Poeta abstrai e só consigo descrever
Não sei a diferença entre poema e poesia
Salvo que ambos começam com Pó...
Peco nas pontuações, deslizo nas conjugações,...
Não crio um personagem...
Sou a minha própria obra..
Imperfeita, já feita e sem arranjos
Admiro quem versa, mas o que faço é conversa
Entre o eu que fui e o tropeço de mim
Na amizade imaginária entre minhas partes
Aquela que exponho à outra trancafiada
Não conheço os estilos, nem tenho um
Sou Frankstein literário e remendado
Juntando palavras perdidas de imagens esmaecidas
Em algum canto de mim, que não ouso contar
Não sou poeta, mas queria ser
Mas poeta é aquele que brinca, que brinda
E eu ainda procuro os "porquês"
Porque será que sou assim?
Tento me justificar
Mas no fim, algo de poeta em mim há
Porque poeta também não cala
E em tudo que fala está o seu amar

Minhas batidas


Aqui jazz o que sou
Novo nascer que soul
Com as cores blues
Sem chorinho
Ergo do pop
Como a fênix
Cena de Tv! Ou Mpb?
Cada gosto gospel meu
Cada pranto tango tanto
As vezes, rock e rolo
Não sou eletrônico
Sou vida que samba
Que cai e levanta
E no fim sem fim
Sigo a valsa 
Que há na bossa
Nova sempre nova

Cntrl + Alt + Love


Na selfie que nos faz
Conectados
Em Wi-fi...why fire?
Rede sem fios 
De toques finos
Sintonias Tácteis 
Emoção em nuvens
Drop a sua mente in box
Upload da sua paixão
Em nudes da alma
Corpo, cor em pó
Pixels Cibernéticos
Quase Poéticos
Sentimentos online
Alinhados 
Na webcam dos olhos
Candura virtual
Amor em bytes
By diário upgrade
Sem grade
Em que tudo
É mais real
Do que chamam
Vida real

(Re)forma



Poema
Pó e má linha
Da metapoesia
Meta a poesia
Deflore seus versos
Em flores abertas
Sem rimas ou linhas certas
Acerta na entrega
Erga uma trégua
Entre o que  espera
À pera que salvaria Adão
Perdão! Não descreva!
Escreva à tentação
Das velhas fórmulas
Das velhas mulas
Que carregam sem questionar
Não é mera expressão
Ou quimera da impressão
Sem pressão, tudo bem...
Vou mudar, mas não sou mudo
Talvez fale, falhe
Destilo um estilo
Mas vou tentar, tentado
A ser melhor do que o melhor
Que tenho sido




A platéia



Enquanto uma vida pulsa no palco, dando sentido e significado à um momento, muitas vidas se unem temporariamente dando dinamismo e assistência à cena. Como ventos, sem os quais, um barco não sairia do lugar.
Se a luz reside no tablado, as cadeiras margeiam na sombra. A luz projeta e personifica, a sombra interioriza. A luz é agente ativo e a sombra agente passivo, mas sem passividade, pois espreita, segue, se afeta ou se deixa afetar.
O ator é o coração, os expectadores são as artérias. Só há existência de um pelo funcionamento do outro, ainda que seja priorizado o órgão em detrimento do que o faz funcionar.
O ator é lembrança, a platéia é renovação. O ator traz o presente, a platéia expressa o futuro, pois no primeiro há mensagem, no segundo divulgação.
Divulgar e divagar, mas certo que só toca o que não é vulgar ou vaga perdido...Porque a vida como uma peça é encontro e união e seu roteiro lido terá diversas interpretações para cada um que tocar.
Ser platéia não é massa, nem números...antes ingredientes e olhos.
Ela sai do teatro, mas o teatro não sai dela. As cortinas podem fechar e o assento ficar vazio no fim, mas nada no intimo termina e nunca se está no mesmo lugar. Só há vazio no esquecimento e que cada platéia não seja assim esquecida.

Serdundâncias


Não sei o que sou
Mas ainda assim, sou
Porque não saberia ser outro
Ainda que outros caibam no meu ser

E mesmo sendo, não sou
Nem tudo é o que aparenta ser
Não sou parte de um todo
Mas o todo de uma parte

Também parte de mim o que fui
Fui o que hoje, me levou a ser
O que serei? Não sei
Será o que tiver de ser

E mesmo que termine o que sou
Ainda que nada que é, termine
Que sendo, ainda que mude
Não deixa de ser

O prazer


No corpo que pranto de suor
Soar que explicita o implícito 
No coro quase corado em uma voz
Tez impregnada de insensatez 
Delírio que ruge como o lírio urge
Entre o poder com F
E "me ter" junto
Luxuria do luxo da alma
Perde a calma e simples ama
Cama, carma e carne
No ansiar do cio
De um gozo gozado
Que ri da morte de morrer em um riso

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A madrugada


Então o mundo adormece
E tudo parece silenciar
Os ouvidos dos corpos ensurdecem
Para que a alma possa voar

Enquanto a vida cala
O imperceptível se manifesta
Do "tic-tac" contínuo que fala
À luz que passa por uma fresta

Uma tosse vinda de qualquer lugar
O som de um carro solitário
A respiração que ousa se pronunciar
O breu que se ergue totalitário

Na madrugada vive a igualdade
Enquanto as diferenças repousam
Não há tempo para maldade
Só as esperanças pousam

O pássaro em um canto prenuncia
Os sonhos que logo findarão
O despertar promete um novo dia
E o tingir do céu em um clarão

Escrever para quê?


Porque escrevo o que ninguém lê?
Talvez com medo de me perder
Esquecer a voz que em mim fala
Nessa pouca amizade que não cala
Não é por valor ou admiração
Mas ai vai a dor da libertação 
De esquecer o corpo e o mundo
Abstrair deste adorno profundo
E me deixar afagar em linhas
Acalmar a idéia que desalinha
Até o desfecho de me ver só 
Na deixa que fecha um verso

Estigmas


Lá estavam eles...

Washington Brasil, quase submisso, mas que na vida cresceu com um "jeitinho". Hoje, emergente, evitava falar do seu passado, embora suas roupas extravagantes o denunciassem....

Harry United States, analisava tudo com um olhar superior e de quem quer ter a última palavra. Só escutava o que lhe interessava, se metia sem cerimônias nas conversas e naquelas que não gostava, se distraia e disfarçava atento à tela do celular de última geração.

George England, era mais conservador e reservado, sisudo e senhor de si. Seus trajes pareciam antiquados, mas se portava como um nobre. Ouvia tudo em silêncio, falava baixo e polidamente (impostando a voz), embora intimamente, considerava seus interlocutores muito aquém da honra de sua companhia.

Carlos Espanã, era espalhafatoso e tinha o sangue quente..Se exaltando com a mesma facilidade que se emocionava.
Era receptivo, mas interesseiro. Se auto-denominava um "bon vivant", embora só "vivant" bem, enquanto via vantagens pessoais. Sedutor, queria que os outros o vissem, como ele mesmo se via: irresistível.

No fim, ergueram as mãos e bateram as taças entusiasticamente...

Cada um brindou a si mesmo!

Há folhas...


Que vem tão calmas
Que as almas ventam

Geram redemoinhos em paz
Como pás de moinhos que giram

Exaspera o ventre
Entre esperas

Hora que não acaba
E caiba no agora

Farfalhar do momento
Pensamento que Faz falar

Aspira uma dança no ar
Ar que balança e Suspira

Tijolos


Tijolos de barro
São peças, mas ocas

Tijolos alinhados em paredes
Limitam, mas definem

Tijolos sobrepostos em muralhas
Protegem, mas aprisionam

Tijolos demolidos
Destroem, mas revelam

Tijolos em acabamento
Simplificam, mas decoram

Tijolos vermelhos
São terra, mas sangue e suor

Tijolos sozinhos
São tijolos, mas sonhos

Tijolos juntos
São tijolos em construção

Com senso

Aquilo que tento
Que penso poder
Posso sem perceber

Sou o que tenho 
Em excesso ou na falta
Mudo, enquanto tudo passa

Aquilo que sinto
Que anseio viver
Vivo mesmo sem ver

Sou o que sonho
Abstrato ou real
Assim nada mais é igual

Difiro, não firo
Pertenço, não tenso
Pretenso auferir

Sou o que somos
Quem lê ou escreve
Nas mesmas linhas se atreve

Regências


Desde os primórdios, os homens elegem líderes para guiá-los. Mais do que uma forma de organização social, deposita sobre certos indivíduos a responsabilidade de administrarem a si mesmos.
Por séculos, a Monarquia concedeu um privilégio hereditário e inquestionável ao Suserano. Antes de ser visto como um ditador, era um "protetor do reino". Não importava quantas atrocidades cometesse, os homens precisavam de um líder, alguém a seguir de olhos fechados e que desse sentido às suas frágeis vidas.

O tempo passou, as Monarquias ruíram (a maioria delas). Mais do que fé e direitos, a razão exigiu "deveres". Mas este novo momento, não extinguiu a necessidade de líderes, que lhe dissessem o que fazer e que "cuidassem" de seus passos. No entanto, descentralizamos a regência de um único indivíduo, que tomava todos por iguais, para o surgimento de vários líderes, que pudessem atender a tantas diferenças. Horizontalizamos e setorizamos a liderança, antes vertical e unificada.

Hoje temos líderes na Política, nas Religiões, em uma banda musical, no futebol às redes sociais. Nunca esteve tão em voga a expressão "seguidores". A realeza evaporou, mas o séquito segue.
Quanto menor a capacidade de uma pessoa se auto-liderar, seguirá com mais avidez aquele que considerar apto a tomar as suas rédeas. Nele depositará suas escolhas, suas certezas, suas verdades, tirando de si a responsabilidade de fazê-lo, desde que cumpra com os mínimos deveres a eles atribuídos.

E como Maquiavel alertou sobre príncipes e regentes..."Os fins justificam os meios" ou de outra forma poderíamos pensar..."a causa será sempre maior do que os fatos"...Seja para perdoar ou não enxergar "pequenos/grandes" equívocos como: roubar na política, desde que não abandone o propósito maior de um partido; as piores declarações de um artista, desde que continue a deslumbrar com sua arte; o uso indevido da fé como instrumento de manipulação, desde que siga pregando ideais superiores; qualquer benefício inapropriado desde que beneficie o time que torce;

O extremo de uma confiança cega será o fanatismo, no qual, o indivíduo se anulará para ser liderado a qualquer custo. Neste caso, não aceitará qualquer contrariedade a sua causa, pois nela reside a própria existência.

Mas deixando extremos de lado e retomando a regência de nós mesmos, não somos o que ou quem acreditamos, mas o que acreditamos faz parte de quem estamos! Estar é uma condição temporária, corroborada por um conjunto de informações que nos cerca em um instante. Nada na vida é permanente e nós também não somos. Mudar faz parte da natureza. Apenas a essência e o ser são permanentes. E o ser passa por várias estadias durante sua existência.

Liderar a si mesmo, não é se apegar a posturas e, orgulhosamente, não querer mudá-las. Liderar a si mesmo é a capacidade de discernir sobre tudo que lhe é apresentado, sem distinções; Ser responsável pelos deveres e direitos que lhe cabe, sejam méritos ou equívocos, sem que alguém precise lhe apontar e antes de tudo, se conhecer. Lidere seus próprios passos.
Conheça todo mundo que vive, viva todo mundo que conhece

Um dia de inverno


A eventual tristeza que me habita
Cogita não explicar o seu pesar
Apesar de não calar as sombras
Sobras que escurecem o olhar

Se tudo em mim é intenso
Tenso também é o sofrer
Só crer em algo alivia
Ali via a espera do viver

Conviver é preciso
Indeciso, acato ser só
O pó que bato e persiste
Insiste nos passos sem dó

Nas palavras me redimo
Inclino o melhor que em mim há
Lá nas linhas que vivo
Apenas amor posso dar

(Des)acertos


Sou um poeta errante
Errando em meu poetar
Me asfixio de palavras
Palavras que não consigo fixar

Minhas virgulas não são precisas
Preciso escrever sem pausar
As vezes, faltam pontos
Pontuo a dificuldade de finalizar

Quando faço prosa
Me sinto livre, sem rimar
Mas quando rimo
Fico preso a música que há

Porque em mim nasce pronto
Pronto! Assumo um parto sem pesar
Apesar de achar que sem arte
Viver no mundo não dá

Em um mundo dividido


O índio acusa o branco
O branco aponta o negro
O negro ofende a mulher
A mulher critica o homem
O homem se exaspera com o gay
O gay culpa a religião
A religião condena a ideologia
A ideologia forma um partido
O partido se degladia com outro
E o outro é sempre alguém que não é você

Em um mundo unido...
Apesar de todas as diferenças
Somos, simplesmente, humanos

A covardia


A covardia nasce de uma alma vazia
Que insegura, se assegura da própria corrupção
Falta-lhe empatia e vive a apatia de princípios
Pronto para empurrar qualquer um ao precipício
(Sua vida está sempre em primeiro lugar)
Não se apieda por alguém, senão por si mesmo
Disposição para fugir e fingir uma posição
Não entende responsabilidade
Assina sua instabilidade
Volúvel... para si tudo é viável
Se vitimiza, enquanto faz as suas vítimas
Nada enfrenta de frente ou sozinho
É uma sombra sorrateira e oportunista
Como serpente derradeira e fatalista

Sonolência


Para onde vou? Não sei
Para onde fui? No amanhã, talvez
Os passos esparsos 
Perdidos no próprio encalço
Luto... dúbio...
Esforço ou morte?
Dedicação ou sorte?
Confuso no fuso
De quem tenta despertar...

O amor cura


Quantos infernos Dante enfrentou até Beatriz?
Com quantos moinhos Dom Quixote lutou por Dulcinéia?
Quantos impérios Menelau desafiaria pelo resgate de sua Helena?
Quantas guerras Napoleão enfrentou para retornar a Josefina?
Quão árdua travessia marinha Ulisses cruzou para rever o abraço de Penélope?
Qual morte seria pior para Romeu do que uma vida inteira sem Julieta?
Entre tantos desafios e dificuldades, perdas ou fatalidades, o amor sempre venceu...
Inspirou os poetas e através deles, virou inspiração...
O amor até estilo se tornou: romantismo. E antes que digam, que é um movimento antiquado, moda do final do século XVIII...Nunca foi tão contemporâneo...nos pedidos inusitados de casamento, na literatura...
Pois o amor, como a vida, se reinventa, se contextualiza em constantes upgrades!
É o sentimento mais instintivo do homem, nascido antes mesmo da palavra! Aliás ousaria dizer que está acima dos sentidos... É o sétimo sentido!
E se me acha piegas por dizer tudo isso, seja pela descrença provocada por feridas ou por considerar fantasia de antigas idealizações....Acredite que a magia, por muito tempo na história, foi medicina....A descrença de hoje foi a cura de ontem! Cure-se e ame! Ou ame para se curar!

O novo milênio

O mundo assume o retrô, quando a presente cultura não sabe para onde ir. Na virada do milênio, havia uma grande expectativa para a chegada de um futuro, que não aconteceu como esperado. Apesar dos grandes avanços tecnológicos, a criatividade seguiu analógica, sem criar novas tendências, estilos ou direções, mas misturando tudo que já havia e buscando referências na releitura do que se extinguiu. Nosso estilo atual está na falta de um estilo definido.

O novo milênio é um período de abertura das diversidades, de interiorização ou melhor aceitação sobre questões antes marginalizadas.

É o início de um século que busca a identidade pessoal e coletiva. Um século da popularização da depressão. Afinal, para voar, antes a lagarta precisa descobrir que tem asas e se fecha em seu casulo.

A era das fotos, que tudo precisa ser registrado, com receio do esquecimento ou da perda de uma parte de quem se é...



É um período marcado pela ditadura da felicidade, que elevou o padrão das expectativas... Acontecimentos comuns cotidianos, sempre devem aparentar ser um grande evento marcante e inesquecível! Neste processo, corroborando com a depressão de quem não é capaz de acompanhar esta exigência acelerada!

É o momento de políticas afirmativas, que embora busque a integração às diferentes classes, raças e gêneros, esquece da singularidade que nos é peculiar...da nossa humanidade com erros e acertos, que está acima de classificações...acabando por nos setorizar em grupos divergentes e comprometendo o diálogo pela forma "correta e ideal" de pensar... Sem espontaneidade, individualidade e naturalidade...Segregando, isolando ou massificando formas de conduta.
Exacerbando as exaltações e intolerâncias, nesta tentativa de construir uma linguagem comum e universal...

A facilidade de viajar e a internet, por um lado, aproximou e dispersou as culturas, por outro, espalhou tanta informação, que ainda não sabemos bem o que fazer com todas elas...nos tornamos pequenos diante de um mundo tão vasto que descobrimos... Um mundo que vai além de nossa casa, nossa rua, nosso país...

Qual é o nosso lugar nesse novo mundo sem barreiras? Quem queremos ser com tantas possibilidades? É nesse ponto que estamos agora,...diante de um abismo, deslumbrados com o amplo horizonte e inseguros da nossa capacidade e vocação para voar...










Espelhos


A timidez 
Teme a tez

Disfarça a fala
Na farsa que cala

Intensa alma
Em tensa calma

Sorriso que guarda
Só isso que aguarda:

De ser notado!
Dizer o nó atado...

Entalado, relaxa
Em tal lado acha?

Solitário, por que assim?
Solidário, porquê é assim

Até o fim
Até um afim













Ser estranho


Não sou estranho, apenas não compartilho do mesmo olhar...
Vivemos no mesmo mundo, mas não somos todo mundo... Somos diferentes, diferentemente iguais...
E se ainda assim incomodo, por não espelhar o que gostaria de ver...
Não importa, sempre terá o seu próprio reflexo para apreciar, embora com ele, pouco tenha a trocar, além do que já se acostumou a ver...
Na verdade, sou estranho...Estranho suficiente para perceber que depois de falar tanto... Só falei comigo mesmo...

Politicamente Incorreto


Politicamente incorreto? Mas o que é mais incorreto que a política? A ditadura do que se pensa, dita a rebeldia do que não se pensa! A intolerância fala, enquanto se dá ouvidos a ela. Não é o que diz que importa, mas como se ouve...

Há dias

Há dias que ouvimos nossas incertezas

Crendo que sombras são a realidade ou a realidade é feita de sombras

Enxergamos as mãos vazias e o vazio é maior do que cabe nas mãos

Os olhos perdidos não vão além dos próprios olhos

As lágrimas ofuscam e ofuscados, nos afogam

Há dias que o passado, nos passa

Hipóteses de decisões não tomadas, tomadas em um momento de indecisão


O futuro não se propaga e paga o preço que o momento mandar

Nestes dias que a alma imerge em outonos de folhas caídas

Devemos parar para respirar e respirar até que tudo pare

Não é o mundo que está rodando
Estamos rodando no mesmo lugar

Aprisionados no vício de idéias
Viciadas em não mudar

Além de acreditar, é preciso acreditar no Além

Nem tudo que se vê, é e nem tudo que é, se vê

Há dias que precisamos nos vencer, vencer o que precisamos

Mesmo que tudo diga o contrário, nos cabe contrariar o que se diz

Sem se importar com o que vai dar,
Dando valor apenas ao que importa

E se nada disso adiantar, apenas se adiante

Nada nos cabe além de esperar e esperar com a certeza, que nunca acabará em nada





O personagem


Gerimos dentro de nós. Alimentamos no ventre de nossos mais profundos pensamentos, uma vida. Diferente de nós, mas parte de nós. Emprestamos nossas experiências, vivências e observações. Mas assim como um filho, assume vida própria e tem sua própria personalidade, moldada pelas oportunidades. O roteiro o define ou sua natureza induz o roteiro?
Como um filho o amamos e nos projetamos nos mesmos..."perdoamos suas faltas" e vibramos com seu amadurecimento. Acompanhamos o seu crescimento dos primeiros passos a sua derradeira definição.
Assistimos ganharem o mundo, assumirem diferentes trejeitos e rostos, de acordo com a forma que cada leitor, que "convive" com ele, encara. Neste processo, já são independentes de nós e ao escritor, só resta a saudade das primeiras linhas, quando o personagem ainda era um rascunho de quem viria a ser.

Um diálogo de estilo


Florbela Espanca desabafa:
Sou errante no mundo
Esperando ancorar
Em um amor profundo...
Caros poetas, o que podem me falar?

Augusto dos Anjos retruca:
Ah! Vocifera a verborragia que chama de amor
Enquanto sonha, a vida não se apieda
E escarra sua dor
Desperta mulher, melhor tempo dedicaria como asceta

Fernando Pessoa tenta contemporizar:
Calma! Que segredos trazem convosco?
Mas convosco não permitais segredar?
Nele sangram lágrimas que esgrimam
Nela choram rimas que não pode suportar

Carlos Drummond timidamente brinca:
Enquanto Espanca busca seus Anjos
Augusto se defende com uma Flor
Em cada Fernando, há muitas pessoas
E em cada Pessoa, pelo menos um Carlos há

Florbela Espanca murmura encantada:
Felizmente, havia um Drummond no meio do caminho...

E ele, assim, "coralinamente", corou...
Os outros, neste momento, não mais prestavam atenção

Entre pontos


Há quem entre em nossas vidas por alguns minutos...alguns dias...uma vida inteira...

Há quem a modifique no pouco tempo presente e quem não conhecemos, mesmo vivendo ao lado por anos!

Há ausentes que não esquecemos e presenças quase esquecidas!

Há palavras não ditas que muito expressam e outras faladas que nada significam!

Há lágrimas de alegria e sorrisos que mascaram tristezas!

Há quem estenda as mãos, esperando reconhecimento e quem seja reconhecido em ações silenciosas.

Há muitas perguntas sem resposta e respostas dadas sem que nada tenha sido perguntado.

Há vidas que viram histórias e histórias simples de vidas!

Entre o que há e o que não há, está você, tentando se achar!

As vezes, basta...


As vezes, basta uma mão
Não antecipar um "não"
As vezes, bastam silenciosos abraços
Para se recuperar os laços

As vezes, basta viver
Para tirar dúvidas sobre o que se vê
As vezes, bastam lágrimas rolar
Para que possa entrar um novo ar

As vezes, basta a simplicidade
Sorrir para a felicidade
As vezes, basta ter calma
Para que o tempo fale a alma

As vezes, basta esperar
Aceitar aquilo contra o qual não se pode lutar
As vezes, basta acreditar
Para que tudo envolta comece a mudar

As vezes, basta um movimento
Para valorizar um momento
As vezes, simplesmente, basta...
Sem justificar...

domingo, 20 de novembro de 2016

A complexa relação com uma aranha


Todo dia, entrava no banheiro e lá estava ela: uma aranha. Percebíamos, reciprocamente, um ao outro. Bastava abrir a porta e logo ela tecia sua teia e desaparecia por um pequeno orifício sob o parapeito da janela.

No inicio, não dei importância. "Foi apenas uma coincidência, em poucos dias, ela sumirá dali" - pensei.

Mas após uma semana, repetíamos nosso ritual: sentíamos a presença um do outro.. Eu tentava, inutilmente, ignorá-la e ela,
rapidamente, tentava, instintivamente, se ocultar. No entanto, a repetição, em algum momento, vira uma complicação. Comecei a achar que deveria fazer alguma coisa a respeito, mas sem coragem de investir contra aquela frágil vida.

Tentei usar religiões para justificar minha apatia. "Estarei impedindo a evolução espiritual de um ser vivo", ou na pior das
hipóteses: "eliminando algum antepassado, que usou àquela reencarnação para progredir" (Achava pouco provável, mas precisava de fortes argumentos). Cheguei a pensar, que como "aranhas existenciais", Deus também deve ficar tentado a nos remover de nossos pequenos recônditos.

Pensei, filosoficamente, sobre "A metamorfose" de Kafka e toda a estranheza, que eu poderia causar à alguém, se fosse aquela aranha.

Ou até, biologicamente, nos benefícios de se ter uma aranha, como a eliminação de mosquitos e outros insetos menores, como
traças.

Pensei na seleção natural darwiniana, afinal eu era um mamífero e racional, estaria um pouco acima de sua escala, para determinar qual deveria ser seu destino. Até mesmo Newton, veio em meu apoio, com sua teoria de que "dois corpos não podem coexistir no mesmo espaço".

Artisticamente, comparei nossas semelhanças, eu com minhas mandalas e ela com suas teias. Ambas radiais e detalhadas...

Por fim, assumi a postura mais covarde, avisei a faxineira: "Por favor, quando limpar o banheiro, poderia remover uma aranha, que está ali?"
Assim, ela faria o trabalho sujo de removê-la e dividiríamos a "culpa". Mas, certamente, ela deve ter eliminado outra aranha, porque ela continuava ali, quando entrei à noite.

Retomamos nosso ritual, que neste momento, já havia se tornado uma guerra fria e hostil. Fazia alguns barulhos para espantá-la e ela por sua vez, perdeu o medo de mim e se impunha no ambiente.

Enfim, assumi minha irracionalidade e anulando qualquer pensamento benevolente, em um golpe único impiedoso, eliminei-a. Hoje, abro a porta e sinto um certo vazio ao olhar aquele local. Por algumas semanas, dividimos o mesmo espaço.

Quando percebi, ela havia reaparecido, desta vez, ocupando minhas memórias, páginas, minhas linhas...Me obrigando, no fim, a tecer estas palavras.

A utopia



Quando criança, imaginava que o futuro seria como o desenho animado "Os Jetsons". Esteiras automáticas pela casa, carros voadores, robôs,...
          Efetivamente, evoluímos muito tecnologicamente. Em muitos pontos, até mesmo nos assemelhando aquela realidade. Não voamos, mas estamos conectados a tudo e a todos. E apesar de tantos avanços "técnicos", o mundo ainda vive atrasos "passados".

          As tribos africanas,ainda quase pré-históricas, lutando pela sobrevivência...
          As cruzadas medievais no Oriente Médio, usando a fé, para conquistas territoriais...
          A máquina industrial sobrepondo a condição humana. Trabalhos árduos e exploratórios, consumindo o homem e a natureza sem preocupação.
          Sistemas políticos, rememorando o "pão e circo" romano, as monarquias e o Estado "Paternalista", cuja sede de poder se
sobressai e ilude as reais necessidades do povo.
          As mortes banais, refletindo os antigos duelos, enterram vidas a cada esquina.
          Doenças assolando as massas, como as pragas e pestes incompreensíveis.

          O mundo, de fato, mudou. Trocou os espartilhos por calças jeans. As ceroulas por cuecas samba-canção. Trocou a música clássica pelo funk e as perucas por tintas no cabelo. A forma está diferente, mas o conteúdo, ainda carrega as antigas tradições.
          Deixamos para trás, os filmes mudos e em preto e branco, para abrir os jornais e nos depararmos com tristes notícias sem cor e que nos leva a calar.
          Hoje, concluo, que a beleza daquele desenho animado, não estava somente na fantasia, mas na possibilidade de sermos melhores, sermos uma "família", que convive com suas diferenças e dificuldades com união. Hoje, adulto, é o futuro que sonho.

Solitários Anônimos


Existe narcóticos anônimos, alcoólicos anônimos, jogadores anônimos, neuróticos anônimos, etc..etc..etc... Mas pesquisei muito e não achei nada sobre "Solitários Anônimos"...Sendo que a solidão, me parece ser uma grande chaga desta sociedade contemporânea.... Em função disso, criei a minha própria versão deste grupo anônimo.
--------------------------------------------------------------------------

Um mundo com tanta gente e você consegue a proeza de se sentir só?
Deslocado no tempo e espaço, perdido dentro da ilha que existe em você mesmo?
De todas as dores e doenças do mundo, nenhuma é tão profunda quanto a solidão...
Afinal, podemos estar doentes e sem dinheiro, mas com companhia, tudo parecerá mais suave, será?
O mais difícil de se sentir só é o contra-senso de se fazer só, ou seja, mesmo querendo companhia, nos isolamos.
A solidão é um ato (in)voluntário e íntimo, não depende de fatores unicamente externos. Quando não conseguir estar presente em sua vida, certamente, se sentirá só. Assim, no fim, a ausência não é de pessoas, mas de si mesmo.
Assim, eis o nosso mantra: "não estamos sozinhos, temos a nós mesmos por mais 24 horas"

Os 12 passos:
-Admitamos que não somos impotentes contra a solidão.
-Manter a sanidade e a confiança em si mesmo como um Poder Superior
-A vontade de existir e de ter um objetivo, recria o universo ao nosso redor.
-Auto-conhecimento é sempre bom, mas que existe um mundo fora, além do interior.
-Expressar o que sente e exteriorizar emoções auxilia a sensação de "fazer parte"
-A auto censura é uma prisão e tudo que repetimos, vira a nossa verdade
-Buscar defeitos nas pessoas e nas situações é uma fuga para não ter de encará-las. Sabotando as possibilidades
-ter a coragem de procurar as pessoas, nem que seja simplesmente para saber como elas estão. A consciência que o outro existe além de nós mesmos.
-Lutar contra a apatia, fazendo o possível. Sem movimento, tudo é estagnação.
-Admitir que a solidão é uma dependência e que só há cura na aceitação desta verdade
-modificarmos todos os pensamentos impostos e repetidos, criando novos que os substituam. Substituindo negações por afirmações e dúvidas por certezas. Como um mantra e uma reprogramação mental
-Tendo experimentado todos estes passos, utilizar a experiência para auxiliar outros que assim se sintam.

Faces da mesma moeda


Hoje estou aqui e amanhã onde estarei?
Certamente, escrevendo histórias que não planejei
E os planos? Nem sempre serão histórias, que escreverei
Desejamos tantos planos que mudamos
E mudamos por tantos planos que não desejamos
Conhecemos pessoas que não esperamos
E esperamos por pessoas que o tempo nos leva a desconhecer
Coisas que não importavam, agora são imprescindíveis
E as vezes, é imprescindível não se importar
Vivências viraram lembranças
E as vezes, lembramos do que não vivemos
Erramos por falta de compreensão
Mas compreendemos o erro da falta
Quantas vezes nos perdemos tentando encontrar
E nos encontramos, enquanto perdidos
No fim, acreditamos que vale esperar
E esperamos acreditar até o fim

Pessoas que se importam demais


Todos sentimos e nos importamos... Embora sentir e importar sejam experiências e intensidades únicas de cada um...
Até porque o que importa para Um pode não ter a mesma importância para outro...Assim como as coisas que tocam a sensibilidade de alguém, podem simplesmente ser insensíveis para outros...
Mas dentro de milhares, sempre há alguns que importar se sobressai ao que se espera...E que mesmo fatos e situações sem importância aparente, importem significativamente.
Sempre fui deste time. Daqueles que se permitem encantar com detalhes perdidos pelo caminho...Diria que tenho um olhar "insatisfeito", pois nunca me conformo com o que vejo, ou melhor, nunca é suficiente. Atrás de cada imagem, vejo uma história e por consequência, sou sempre transportado para ela. Desde a folha desprendida da árvore que é levada sem direção... Sem que saibamos a origem ou o destino final... Ao indigente na rua que como eu e você, também foram crianças um dia...até que oportunidades ou a falta dela, deixaram-os ali abandonados ao chão...
Não é um movimento simples, como tudo que é demais! O excesso é perturbador e desconcertante. Ainda mais quando se é homem! Ainda vivemos em um mundo que homens e emoções, por vezes, se estranham. "Homem não chora". Bem, confesso que chorei muito até aqui, o que não me fez menos homem. Disfarcei muitas vezes com um meio sorriso, sem com isso eliminar o que sentia. Não apenas lágrimas de tristeza, mas muitas vezes pelo que me toca, o que é um problema, quando tudo me toca! "Let it be"(deixa estar, deixa para lá)... Confesso que sempre tentei, mas sentir não é uma escolha, mas uma condição. Não sentimos porque queremos, mas porque precisamos! Precisamos na vida de sentidos! Não falo dos 5 sentidos somente, mas de (e)motivos ou motiv(ações).
Importar é uma ação! E não é passiva, como comumente se pensa. Afinal, é impossível sentir, sem se colocar no lugar!
Se como eu, se importa demais, não se preocupe, não está só, como algumas vezes se sentirá. Não ser compreendido, as vezes, nos faz sentir como náufragos em uma ilha, longe da civilização. Mas como todos, sua visão do mundo é única. Não precisa de cura, mas de abertura e de fluidez, sem represar... Para que os pratos da balança se equilibrem. Mas  se não se importa com nada disso, não se preocupe... Basta deixar para lá!
No final, as coisas têm a importância que damos a elas!