terça-feira, 11 de junho de 2019

Carência


Carência é cara
Anseia um abraço
Enquanto o corpo torce
Deseja um laço
Enquanto se enforca
Tudo dentro expande
Enquanto o mundo contrai
Quer um oi
Quando tudo diz tchau
A mente em 220V
Sem tomada para carregar
É colo sem cola
Deslocado do lugar
É falta de teto, de tato
É silêncio sem contato
A alma em um futuro
Que nem em sonhos pode visitar
Carência é assim
A falta de você em mim

Reflexão - Amor


Um sentimento tão grande que se guarda no outro por não caber inteiro no peito. É a nossa melhor versão compartilhada, sentida e desejada, que de tão inteira, parece metade, só para parecer que dois, são apenas um.

Ím(par)


Os olhos deles brilharam no instante que se viram, porque o farol de um carro ligou e os ofuscou.
Ela lançou o cabelo para trás, como uma modelo, mas o vento forte o puxou para frente cobrindo todo o rosto.
Ele por sua vez, estufou o peito, seguro de si, tropeçou e do jeito mais desajeitado caiu aos pés dela. 
Se recompuseram.
Ensaiaram dar um beijo no rosto, mas viraram a cabeça para o mesmo lado e quase se beijaram de fato.
Ficaram imóveis como estátuas, mal respiravam com medo de mais alguma coisa acontecer.
E aconteceu: se apaixonaram. Foi tudo tão imperfeito, que foi perfeito um para o outro!

Hospíciogram


Dependentes compulsivos de curtidas
TOC de imagens arrumadas
Síndrome de celebridades 
Em que número é status
Comidas maravilhosas em um feed anoréxico
Rubro pôr do sol toscano de uma conta bancária no vermelho
Zen na tela de uma mente zangada
Majestades e seus seguidores
(Que não seguem de volta)
Estar junto não é proximidade
Autoajuda é sagrado
Uma rotina de (in)directs
De uma vida na vitrine
Que um lado só é mostrado
(Aquele que não está rasgado)
Complexo de perfeição
Em rosto sem feição
Que para ser diferente
Precisa ser patrocinado
Pessoas só lembradas
Para sorteios indesejados
Transtorno de realidade
De um “story” de fadas
Que sorriu em um repost
Enquanto o coração era internado
Com uma bela camisa...
...de força

Andança


Por onde esses olhos tristes deixaram a esperança cair?
Vamos voltar pela estrada dos seus medos juntos?
Refazendo cada passo até que o fim seja o recomeçar?
Largue o vazio que segura
E me dá sua mão
É seguro! Pode vir!
Não duvida! Divide!
Após o chorar da noite escura
A chuva dos seus olhos
Fizeram o dia solar
Só um lar
Onde antes doía está sua cura
Pare! Repare! Se repare!
Não há espinhos, só caminhos
Esperando sua volta
Sem revolta, sem arma
Só alma...Só ama
E vai!

Plágio


Plágio é contágio
De uma alma hipocondríaca
(E hipócrita) 
Que assume a doença
Sem sentir dor
É a vítima que assina
No lugar de quem assassinou
Veste os trejeitos, os traços
Sem entender a motivação
De quem derramou sua vida
Não por glória, mas sofreu por paixão
É mutilação da história
É enforcamento com a corda que um dia salvou
O eco de um mudo
Que não achou sua voz
É crime contra a empatia
Que não copiou

É ruim ser procurado...


...por quem lhe esquece, logo que se acha.
...por quem se cala, quando há alguém melhor para falar.
...por quem só lembra de você nas lágrimas, mas nunca quando sorri.
...por quem muda de vida, mas não lhe inclui na mudança.
... por quem precisa de algo até que não precise de você.
... por quem só é companhia, quando não tem companhia.
... por quem só torce quando você está derrotado.
... por quem idealiza um alguém que não é ou subestima quem pode ser.
... por brevidades que não tem a intenção de durar.
... por quem finge ficar, mas ja partiu.
Sem mão dupla é encruzilhada. Em que viver ao lado é permanente fechada. Fachada de quem procura o que nunca quis achar.

Anjos rebeldes


Gosto dos anjos rebeldes
Que desafiam a própria sublimidade
Se fazendo humanos em suas perfeições
Anjos caídos
Que nos levantam
Mesmo quando precisam de uma mão
São tão sagrados que nos profanam!
Andam ao invés de voar
Com all star e calça rasgada
Sem trombeta e desafinados
Cantando Legião
São uma legião de anônimos
Sujos da poeira da estrada
Que sentam ao nosso lado
E fazem qualquer fim ser largada
As vezes, parecem largados
Mas com eles, somos nós que ficamos alados
Abram as alas da vida
Para quem suprimindo suas asas
Se veste de amigo
Para que encontre a própria divindade

Ambição


Quero ambos:
A ambiguidade dos desorientados
E andar no meio da bifurcação
A insanidade de subir pelas paredes
E o delírio de não tocar o chão
Quero voar na queda mais profunda
E escalar desde o fundo até a luz chegar
Quero o valor que pulsa no seu peito
E a transfusão da sua inspiração
Quero a vida transpirando nos poros
E a morte da minha velha versão
Quero perder a linha
E dar corda sem porquê
Quero viajar todos os mundos
E ficar parado até uma flor nascer
Quero não dormir
Só para acordar com você
Quero tudo, ainda que seja nada
E sem ou sim
Nadar!

Conversar




Queria conversar com você que me lê
E assim, eu o/a leria também 
Conheceria sua história
Não a que todo mundo vê
Mas aquela que só você sabe
E lhe construiu até aqui
Uma conversa sem versar
Ainda que saber de você seja uma poesia
O seu universo mais profundo:
Suas marcas, suas dores
Os sabores que prefere
Ou o que lhe feriu?
Suas memórias
Mesmo as de infância
Que enquanto crescia, coloriu
Suas excentricidades e suas exceções
O perfume que lhe vestiu
Seus medos, suas músicas
Suas raízes ou os sonhos que desistiu
Suas regras, sua rotina
E a coisa mais bela que lhe emocionou
Seu livro de cabeceira
Sua alergia, sua alegria
Ou quem você já perdeu?
Queria a mão dupla que na escrita não há
De esquecer as letras, as aspas
E viver não em uma página
Mas nas linhas de sua mão

Mendigo


Me digo toda vez que será diferente
Mendigo por atenção
Aqui dentro faz frio
Sentimentos frágeis como papelão
Na sarjeta do destino
Solidão é minha rua
Estirado com a alma nua
Na soleira de algum portão
Caridade sem carinho
É a piedade à um condenado
Cujo direito de pedir
Vem antes de ser executado

SAC do amor


SAC do amor é um SACo.
Você reclama, mas não tem devolução! Parecia perfeito na propaganda, mas estragou quando segurou na mão!
Você tenta resolver, mas lhe colocam no modo de espera até que perceba que para desligar é preciso aceitar que tudo é do jeito que está! 
-Poderia estar ajudando o Sr?
-O amor que me venderam estava com defeito!
-Sr não efetuamos trocas.
-Não quero troca, somente falar com o responsável.
-O Sr é o único responsável.
-Como assim? Segui as instruções cuidadosamente e mesmo assim quebrou!
-O sr estaria criando muitas expectativas, não foi prometido nada.
-Mentira! Prometeram sim: Felicidade eterna!
-Como poderia ser eterno se nem o Sr é?
-Mas...que pelo menos durasse um tempo razoável.
-Talvez o Sr devesse ser razoável! O que quebrou foi a realidade que criou, os sonhos que idealizou, o outro que esperava ser o que nunca foi. Mas poderemos estar agendando uma assistência técnica.
-Mas acabou de dizer que não havia problemas!
-A assistência técnica não é para o nosso amor, mas para o seu coração!
-Ta bom! Pode agendar o mais rápido que conseguir!
-Sr. O amor não tem pressa, ele faz tudo no próprio tempo. Quer anotar o protocolo do dia que terminou?
-Não, obrigado! Prefiro anotar o protocolo do dia que começamos. Poderia me dar seu número pessoal? Você cuidou de mim melhor do que o amor que me venderam.
E eles foram felizes enquanto durou a ligação.

Doença


Doença é a prova
Que fragiliza o corpo
E fortifica a alma
Na injeção de empatia
Que nos defende da apatia
Com anticorpos de amor
É termômetro de união
Que o coração ausculta
É o soro da confiança
O coro de esperança
Do riso que, pela dor, chorou
Uma guerra interior
Pela paz que o corpo luta
Luto temporário
De uma vida que se curando
Cura todos que tocou

Submissão



Cuidado quando alguém fizer você acreditar que não precisa de mais nada além dela. É como uma serpente rodeando, afastando tudo para poder sufocar sozinha. Não é amor, ainda que se disfarce dele para hipnotizar, limitar seu mundo. Amor quando é amor, não subtrai, porque entende que o mundo que você traz é parte de quem você é. Quem ama não quer parte, quer tudo! E isso inclui amigos, família, filhos, trabalho, defeitos ou o que mais estiver incluído no pacote. Redoma de vidro doma! Ignora sua natureza para ajustar a um perfil controlável. Já o amor confia, dialoga, faz concessões e renuncia, porque acha que vale a pena! Pena? Só em asas, porque lhe faz voar! Mas voa livre, sem correntes e lado a lado.
Ele faz possível, porque ignora impossibilidades! Aliás amor não se apieda, ele impulsiona! Ele está no pulso acelerado cada vez que vê aquele olhar. Amor não usa, ele é o melhor uso que dá aos seus sentimentos! Aliás ele se dá, antes mesmo de receber qualquer coisa! Ele não espera, ele já existe até antes de acontecer. Ele não limita, porque é ilimitado! Limitado é quem lhe julga ou condiciona. Quem rebaixa, busca domínio! Aponta defeitos acreditando esconder os seus. E talvez esse seja um bom indício: quem não assume seus próprios defeitos, nunca irá lhe assumir inteiramente. Não existe amor que rebaixa! Amor em si já é elevação, mas não lhe usa de escada para isso! Sobem de mãos dadas, cada degrau! Só para chegar ao topo e perceber que o caminho juntos, foi mais importante do que o lugar que chegaram.

Falta de educação


Desculpem crianças pelos seus pais. Eu entendo realmente que vocês tenha m passado o filme inteiro chutando a minha cadeira. Se meus pais não prestassem atenção em mim, provavelmente eu chutaria a de alguém também! Entendo vocês levantarem o tempo todo! Como poderiam ficar sentados se em casa eles saem da mesa quando vocês ainda nem acabaram de comer! Ah falarem o tempo todo e alto, é mais que compreensível! Eles não lhes escutam e vocês só precisam de atenção, mesmo que ali não seja o lugar! Mas qual seria? Eles vivem ausentes, absorvidos nos seus celulares, sem mal falarem um com outro! Me desculpem crianças pela falta de educação dos seus pais!
Eles não dão exemplos e ainda são ríspidos, mesmo que vocês não entendam o porquê. Como entenderiam se eles nunca explicaram? Por isso, entendo que não tenham parado mesmo assim!
Eles mal param em casa e quando param estão ocupados e “cansados” demais para vocês.
Me desculpem crianças, vocês não pediram para nascer, mas precisarão entender desde cedo que alguns adultos estão ocupados demais consigo mesmos para crescer.

Dia nublado


As vezes, o coração aperta e você não sabe o porquê. Tenta ser forte, achar uma explicação, mas talvez só precisasse de uma mão para evitar a queda lenta que se anuncia. A ansiedade ocupa os espaços vazios e quando percebe, já não cabe no corpo e você transborda pelos olhos. Chora igual a uma criança, mas diferente de uma, as coisas não passam mais tão rápido. Não é um joelho ralado, agora é o coração. E já não há mais quem assopre. Arde e é preciso lidar com a dor. Você se encolhe para tentar conter o que cresce dentro. Ninguém parece ver e você já não enxerga direito, o temporal dos olhos fez neblina na vista. E nessa luta para se abrigar, você está todo molhado e sente frio, só esperando que o dia passe e o sol se apresente para lhe aquecer. Desfazendo as sombras, desenhando um arco-íris, levando cor onde tudo se acinzentou. Dos rios que pelo rosto escorreu sobrarem apenas pequenas poças de quem sobreviveu ao trovejar do caos interior. E enfim, abrir os braços, respirar fundo e mais uma vez, recomeçar.

Con-sensual


Tesão? Eu tenho por pessoas que se importam, que riem junto, mas não tem vergonha de chorar! Não há nada mais excitante que companheirismo, transparência e dedicação. Intimidade é a confiança. Gostoso é saber que pode contar com alguém. Prazer é um bom diálogo cujo interesse de estar ali é interminável! Nunca foi questão de pele, mas de músculo (coração). Muito menos de transpiração, mas o quanto alguém lhe faz sentir transcendental. Não é corpo, mas presença! E marca boa é saudade! Desejo? De esquecer o tempo! Pegada? Só os passos juntos. Gozar a vida é o entrelace com o que importa. Sendo sensual, o essencial.

Aparte


Já tive amigos imaginários
Amores platônicos
E almofadas de estimação
Já andei sem destino
Em busca de um caminho fora
Só para voltar para dentro de mim
andei sem destino
Tantas vezes dialoguei com o silêncio
Na espera de respostas
Que eu não sabia também
Já me abracei no vazio
Me dei a mão na agonia
E disse baixinho: “isso também vai passar”
Perdi a conta de quantos partiram
Sem despedida
E precisei esquecer para evitar a dor de lembrar
Me importei com desconhecidos
Que não sabiam que eu existia
Só para ter alguém para pensar
Quantas vezes cheguei atrasado
Em vidas que chegavam
Já prontas e sem um lugar
Não fui parte
Nem posse
Só passaporte
De todas as companhias
Reais ou inventadas
Assumi que de todas elas
Só eu não podia sumir

Tenho medo...


...de escuro
em meus pensamentos
O breu de ser Eu
...da altura
dos meus sonhos
O voo que não vou
...da morte
da minha esperança
O luto de não lutar
...de falar em público
o que não publico
Ser esquivo sem crivo
...de lugares fechados
em meus sentimentos
A fobia de me afobar
...das tempestades
Que eu crio
Trovões sem trovas
...da solidão
Que só, não sei lidar
Desvio sem via
Temo ser trema
Tremo sem tema
Medo
Me dói
- Fernando Paz -