sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Alienígenas


Curiosamente, chamamos a comunicação extraterrena de "Contato de primeiro grau". Esse contato de se aproximar, de ir além do estranhamento e de fazer parte de algo maior. Mas quantas pessoas na vida, tocam realmente nossos corações a este ponto?
Diria poucas e tão raras quanto a visão de um disco voador. Pessoas vindas de algum lugar, que o "acaso", repentinamente, nos coloca frente a frente. A princípio, somos de planetas diferentes até percebermos que nossos sentimentos e pensamentos se encontram além das palavras e nossas culturas não divergem, mas antes se complementam. Neste instante, reconhecemo-nos e não existe mais o "meu" ou o "seu" mundo, somos do mesmo lugar e tempo, que é o presente da presença de ter e fazer parte da vida um do outro.
Então os outros se tornam alienígenas... E rimos sozinhos das percepções que agora fazemos ao redor de nós. De fato, o universo é muito maior do que o nosso pequeno átomo, que chamamos de interior. Mas entre tantas estrelas, encontrar compreensão e cumplicidade, é como achar uma "agulha no palheiro". E lhes revelo um segredo: a agulha brilha!
Assim como, a inesquecível imagem do filme ET, que o dedo brilhava representando uma linguagem extra sensorial: o toque do AMOR. Somos sensibilizados por emoções que representam mais do que qualquer expressão. Mas podemos adotar as mágicas palavras: "ET, Telefone, minha casa", cientes que ETs somos todos nós, nesta galáxia que trazemos dentro de nós. Telefone é a ligação de nos sintonizarmos uns com os outros, é elo e laço. E casa, só abrimos para quem realmente queremos que faça parte de nós, é a intimidade, o abrigo e refúgio íntimo de nossa mente.
Quando destoamos desses princípios somos então abduzidos, que é quando nos deixamos levar para realidades, que não fazemos parte. Ou permitimos ser invadidos ou sermos invasores, sendo forçados ou forçando situações que espontaneamente não devem acontecer.
Mas não precisamos de armas, mas antes de uma bandeira de paz! Não precisamos de ceticismo, mas de olhos que acreditem! Estranhos, estrangeiros ou alienígenas, somos todos, até que nos abramos para receber e aprender com as pessoas do jeito que são.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Arrepio literário


Primeiramente, não seje...
A nível de português, mim não é e a gente não somos.
Mulheres pensantas, obrigado tem gênero e em anexo, só o em.
Menas não é pouco e meia só no pé.
Mais é muito, mas às vezes, porém!
Não suba para cima, nem se perda na perca.
Quem traz nunca está atrás!
Melhor que nada fique entre você e mim, porque mim nada sabe, nem escrevinhar...

Desconstrução


Calado
Na calada
Do lado de cá
Converso
Com versos
Como ver só
O que só lhe dão
De só lidar
Solidão
?Loucura
Ou cura?
Compressa
Com pressa
Cumpre essa
Parte
Do aparte
É arte

Contanto


Há tanto em mim
Que me afogo
Fogo
Há tantos em mim
Que não me entendo
Tendo
Há um entanto em mim
Que não canto
Recanto
Há um portanto em mim
Que demora
Mora
Há um enquanto em mim
Que me leva
Eleva

Esquivo


Escrevo de mim
O que em mim crava
Sem crivo
Sem crase
Não só crises
Não só frases
Catarses
Escravo do que sinto
Escavo o que penso
Compenso o meu escasso
Crasso erro
As vezes, fracasso
No sonho concreto
Do viver crível
Do incrível abstrato
Que faço parte
Quero ficar
Mas sempre parto

A procura


Venho procurando em outros mundos, o mundo que em mim habita.
Buscado pessoas que falem meu idioma, sendo que muitas vezes nem eu mesmo o entendo.
Feito uma trilha fora de mim, que só existe em meu interior.
Tenho tentado definir limites a sentimentos, que pela própria definição são ilimitados.
A questão é a própria resposta...
Não preciso ir além das entrelinhas para entender além do que preciso saber. Bastam poucas linhas.
Não é algo, não é alguém,..Sou eu, o tempo todo! Porque todo percurso inicia e termina em si mesmo!
Eu sou a causa primária de tudo que crio e as consequências são reflexos do que sou.
Onde quero chegar? O que quero encontrar? Não importa. A beleza não está no achar ou descobrir, mas no processo que nos conduz.

O tempo e o espaço


De toda a transformação que ocorre em nossas vidas, a maior acontece na relação e percepção que temos sobre o tempo e espaço.
Na juventude, nossas energias afloradas são canalizadas para o que fazemos, a necessidade de conhecer a maior quantidade de coisas e percursos possíveis em um curto espaço de tempo, sem nos importar como chegaremos lá. Tudo na vida parece mais definitivo e nosso poder de escolha é limitada pela ânsia de viver. Queremos guardar e dominar o mundo.
Com o advento da maturidade, as energias, inevitavelmente, diminuem. E o que somos passa a importar mais do que o que fazemos. Ja não importa mais a quantidade de lugares visitados, mas queremos nos aprofundar em cada um deles e, especialmente, no percurso que nos leva até eles. Tudo na vida é mais flexível e tantas vivências e experiências aumentam a nossa capacidade e segurança de escolher. Queremos viver e pertencer ao mundo. E na ironia da vida, muitos jovens almejam essa maturidade da idade, enquanto, mais velhos gostaríamos da energia da juventude! E assim, seguimos nesse difícil equilíbrio, formando pontes, ligando os extremos e aprendendo com eles. Que o espaço seja exatamente onde estamos e o tempo, o presente momento que é sempre um presente.

O gozo


Não quero gozar de você
Quero gozar com você!
Porque gozo é rima, é riso e explosão
Todo resto é engodo e enganação!
Gozar é diversão, mas não é pilhéria
É perder o ar e descobrir uma nova versão
Gozo não é pecado, pecado é não gozar
Não é profanação, nem luxúria
É paraíso e redenção
Quem teme a expressão gozar
Ou nela vê um absurdo
Quem chega a se chocar
E acha que é vocabulário chulo
Não entende o que é gozar
Que vai além do sentido e da palavra
De quem é capaz de se arrepiar
Apenas com um olhar sagrado!

A transformação



Sentia as presas vampirescas e afiadas em um estalo do pescoço, e com elas, a noite ganhava novos contornos e dimensões. A sensação de sobrevida ao silêncio dos que dormiam, ampliava os sentidos. As pás do ventilador de teto pareciam rodar em câmera lenta. As batidas do relógio, até então, inaudíveis, ecoavam como gongos de uma catedral, acrescidos pelos sons solitários de carros que passavam, distantes, no exterior. Os pequenos pontos de luz de equipamentos em "stand-by" ofuscavam como faróis em alto mar. O corpo parecia extremamente sensível, apesar da rigidez, quase mórbida, adquirida pelo momento. Estar alerta quando todos dormem é uma morte na contramão. Os pensamentos acelerados percorriam o interior gélido sincronizado com a brisa fria da escuridão. Todas as sombras ganharam vida, enquanto sentia a minha própria se esvair naquela mordida chamada insônia.

Definições


Foram tantos recomeços
Que começo a desconfiar
Não pode ser de outro jeito
O que sobrevive, há de ficar

Pensamos decidir
Quando é a vida que escolhe
O que você pensa ser
É exatamente o que colhe

O tempo perdido não volta
Perdemos dando voltas no tempo
Quanto de nós é preciso
Para desfazer nossos nós?

Tudo aquilo que é intenso
É difícil também de esquecer
Porque a parte de nós que se entrega
Não da trégua até pertencer

Atualidade


Será o fim do mundo?
O que acontece com as pessoas e seus universos profundos?
Amigos brigam por motivos banais
A política ganha contornos de torcidas triviais
O amor para a maioria se tornou descartável e sem um quê
"Amo você" está em frases de biscoitos chinês. Porque?
A frustração se tornou inaceitável
E a felicidade virou uma ditadura palatável
Anti-depressivos ganham as passarelas
Os olhos aprisionados em telas
Enquanto tudo corre paralelo
Os sentimentos estão offline, embora conectados por elos
O "EU" não entende o "Nós"
E pequenos problemas são grandes nós
Selfie é uma obra de arte
E arte é qualquer rabisco sem aparte
A diversidade é separada por muros
E não há flexibilidade, todos estão duros
Igualdade se tornou mero discurso
E tudo parece fora de curso
Ninguém tem mais tempo para nada
E educação não vêm mais de casa
Brincadeiras são levadas a sério
"Curtidas" valem mais do que gente e seus mistérios
Vidas carentes pedem apelo
Mas sem postar, ninguém vê, não há zelo
Ainda assim, sempre temos a esperança de mudar
De amanhã ser possível respirar um novo ar
E este momento ser só um tropeço
De uma civilização que precisa de recomeço

Nosso tempo



Com frequência, escuto dizerem "Não pertenço a esse tempo" ou em uma versão mais saudosista "No meu tempo". No entanto, o nosso tempo é o que está ocorrendo agora! E é comum que nossa mente, diante de alguma dificuldade, em alguma área, encontre refúgio no passado (especialmente momentos anteriores à vida adulta, nos quais as responsabilidades eram menores) ou viaje para o futuro (sonhos), visando fugir do presente momento.

Comumente, a esfera afetiva é a que mais se reveste de fantasias pelo imaginário coletivo, cultuando um romantismo e um amor quase impossível. Neste amor, nenhum dos dois tem defeitos, ambos são capazes de renunciar a tudo e de fazer tudo pela felicidade alheia. Isso na melhor das hipóteses, pois na maioria dos casos, se espera isso apenas do outro, sem avaliar o que nós estamos dispostos a
oferecer.

E têm dois períodos na história da humanidade, que contribuíram muito para essa idealização de períodos anteriores ou situações ideais.
O primeiro deles com Platão e a sua filosofia do Mundo "Perfeito" das Idéias. Uma forma tão pura e essencial, além das ilusões da terra e das questões materiais. Ideal que seria revivido no Renascimento com a reconstrução de um mundo, que sobrevivia às sombras da peste, da fome e das lutas medievais, e posteriormente, pelos hippies no sonho de "Paz e Amor" em um mundo envolvido na triste guerra do Vietnã.
O segundo período, nasceria na era Romântica, que faria uma "releitura" dos tempos medievais. E talvez, este período encontre raízes profundas até hoje. Os antigos mercenários foram elevados à categoria de cavaleiros honrados! Camponesas maltrapilhas foram enobrecidas e viraram princesas, esquecendo que apenas a nobreza e seu "sangue real" poderiam por "direito" almejar essa condição! Os castelos abriam suas belas pontes levadiças, esquecendo as ruínas destruídas após tentativas diversas de invasões e dominações. Os românticos definitivamente coloriram uma história que era "preta e branca". E esse colorido, se tornou definitivo, quando viraram os desenhos mundialmente famosos da Disney com seus desfechos "E foram felizes para sempre..."

E essas ideologias de perfeição foram absorvidas culturalmente pelo mundo. Inconscientemente, neste desvio do presente, passamos a fazer releituras de quase todos os períodos da humanidade! "Bom mesmo era o final do século XIX e início do século XX". Será? Casamentos sustentados, na maioria das vezes, por fachada. A mulher sem direito de ir e vir, sendo obrigada a ser do "lar" e muitas vezes, se silenciando a escapadelas do marido..."Eu preferia o fim do século XVIII e o início do século XIX". Será? Casamentos arranjados de acordo com o interesse da família, não havia opção, havia um dote! E quanto mais voltarmos, mas percebemos, que felizmente, o mundo evoluiu!

Os problemas sempre existiram e em todos os tempos! Cada geração, certamente bebia da fonte da anterior. Negava seus defeitos e idealizava suas qualidades. Mas o presente, sempre esteve ali! Convidando cada um para sua mudança pessoal e a própria transformação. Os gênios, se tornaram atemporais, sabiam fazer essa leitura do momento, ainda que muitas vezes, devido a uma forte pressão social, acabassem sendo auto-destrutivos. É difícil nadar contra a correnteza.

Mas até hoje, suas palavras, exemplos e criações são imortais e todas elas nos convidam para viver o agora! Este é o momento exato de fazer a diferença! Não espere um amanhã que depende de hoje para existir e nem um ontem que lhe trouxe até aqui! A melhor forma de não ser devorado pelo tempo é vivê-lo! Não importa quantas histórias foram escritas antes da sua, mas que neste instante, escreva a sua!

Significado


Porque sentimos?
Porque sentidos?
Porque a vida precisa significar...
E apenas o que significa, fica
Nem tudo o que é, se sente
Mas tudo que se sente, é
E ainda que nada disso faça sentido
Mesmo o sentido do nada se faz
Porque não há o nada, sentindo
E isso, por si só, significa

Flertando com Madame


Madame estava só, sentada em um bistrô, admirando a vida noturna na Cidade das Luzes, mal iluminada no momento pelas luzes de postes, mas ainda assim, Paris. Nunca se importou de ter uma mesa só para si, desde que uma taça de vinho e uma boa música a fizessem companhia.

Mas não pôde deixar de notar aquele homem no balcão. Cabelos negros, como a graúna e olhos esverdeados e pidões. “Peça que eu dou” – Pensou consigo mesma, enquanto repentinamente, sentiu o ambiente esquentar e não era a vela, que tremulava a sua frente.
Senhora de si, estufou o peito, tanto que quase desabotoou a blusa que vestia, realçando o seu decote. Piscou para ele, no exato instante, que uma poeira decidiu pousar em seus olhos...

Mesmo tentando se controlar, a ardência levou a uma compulsiva piscadela. Seu mundo embaçou, como um quadro de Monet e lágrimas escorriam compulsoriamente, mais do que em seus momentos mais tristes.

Começou a agitar o ar com as mãos na vã tentativa de expulsar aquele corpo estranho, quando sentiu um solavanco em seu corpo. Dois braços fortes a comprimiam por trás, sufocavam seu diafragma, enquanto uma voz agoniada murmurava: “Senhora, expire fundo”. Não estava engasgada, mas tantos apertos a impediam de explicar. Ainda tentou bater na mesa, como um lutador, que implora o fim do combate, mas inutilmente.

Pareceu uma eternidade, mas quando enfim o terremoto passou, a nitidez retomou e conseguiu balbuciar em seu melhor francês: “Je suis bien”. Finalmente, observou que o homem do balcão não estava mais lá. Diante dela, apenas o garçom, seu pseudo-salvador, com o rosto mais transparente que sua taça. Constrangido, ele tentou se desculpar.
Mas Madame não podia aceitar tamanha impertinência. Resoluta e altiva, lhe disse sem vacilar: “A conta e você em meu quarto”. Saiu bamboleando, sem olhar para trás ou perder a pose. Suspirou intimamente: “Meu herói”.

Variações


Sou poesia do tipo que trova
Prova de quem faz uma prosa
Sou poema escrito sem crivo
Versos do meu inverso

Sou haikai, sem mais
Trinca sem métrica
Sou conto de encontros
Dos encantos que canto

Sou crônica, filho de Cronos
Sem ônus de quem brinca
Sou palavra
Minimalista.

Sou ensaio do corpo que saio
Da alma que pede calma
Sou dueto doado em duelo
De quem tudo que espera é elo

Sou soneto de um só
Dos muitos que em mim há
Uma carta, um porquê
Para quem ama o que lê


A arte da Vida (Homenagem ao Domingos Montagner)



As cortinas das águas do Rio S. Francisco se fecharam, encerrando aquele que seria seu maior papel...Entre lágrimas que se juntavam ao afluente à fluente correnteza que seguia sem perdão. O Velho Chico cansado, palco de antigo esplendor, hoje faz de seu leito morada para quem um dia quis ser grande ator. O rio que hoje guarda um riso, em seus bastidores ao público segredou, que mesmo na morte, há arte e o espetáculo só termina para quem em si não o vivenciou.
Suas lonas seguem o fluxo, o tempo nele não para, seu destino é certo, mesmo quando não sabemos para onde vai.
Dois palhaços juntos! Na misteriosa cumplicidade entre dor e alegria, que corrompe as expectativas, faz de um dia qualquer "Domingo" e brinca com a inocência e fragilidade da criança que dentro de nós morou.
E assim, um roteiro se eterniza em quem assiste à obra, mesmo sem compreendê-la. Algumas interpretações não são para serem entendidas, apenas devem ser sentidas. Eis a magia de se deixar surpreender....
E agora que as luzes apagam, a novela termina e com ela somos obrigados a deixar nosso apego aos personagens....todo fim de uma história deixa implícito o que irá acontecer. Convidando os expectadores a criarem com ela a obra que continua viva, como o Velho Chico, que entre duas margens, mesmo as vezes cansado, segue sempre em frente....

Não sou poeta


Sou tudo, mas poeta não posso ser
Poeta abstrai e só consigo descrever
Não sei a diferença entre poema e poesia
Salvo que ambos começam com Pó...
Peco nas pontuações, deslizo nas conjugações,...
Não crio um personagem...
Sou a minha própria obra..
Imperfeita, já feita e sem arranjos
Admiro quem versa, mas o que faço é conversa
Entre o eu que fui e o tropeço de mim
Na amizade imaginária entre minhas partes
Aquela que exponho à outra trancafiada
Não conheço os estilos, nem tenho um
Sou Frankstein literário e remendado
Juntando palavras perdidas de imagens esmaecidas
Em algum canto de mim, que não ouso contar
Não sou poeta, mas queria ser
Mas poeta é aquele que brinca, que brinda
E eu ainda procuro os "porquês"
Porque será que sou assim?
Tento me justificar
Mas no fim, algo de poeta em mim há
Porque poeta também não cala
E em tudo que fala está o seu amar

Minhas batidas


Aqui jazz o que sou
Novo nascer que soul
Com as cores blues
Sem chorinho
Ergo do pop
Como a fênix
Cena de Tv! Ou Mpb?
Cada gosto gospel meu
Cada pranto tango tanto
As vezes, rock e rolo
Não sou eletrônico
Sou vida que samba
Que cai e levanta
E no fim sem fim
Sigo a valsa 
Que há na bossa
Nova sempre nova

Cntrl + Alt + Love


Na selfie que nos faz
Conectados
Em Wi-fi...why fire?
Rede sem fios 
De toques finos
Sintonias Tácteis 
Emoção em nuvens
Drop a sua mente in box
Upload da sua paixão
Em nudes da alma
Corpo, cor em pó
Pixels Cibernéticos
Quase Poéticos
Sentimentos online
Alinhados 
Na webcam dos olhos
Candura virtual
Amor em bytes
By diário upgrade
Sem grade
Em que tudo
É mais real
Do que chamam
Vida real

(Re)forma



Poema
Pó e má linha
Da metapoesia
Meta a poesia
Deflore seus versos
Em flores abertas
Sem rimas ou linhas certas
Acerta na entrega
Erga uma trégua
Entre o que  espera
À pera que salvaria Adão
Perdão! Não descreva!
Escreva à tentação
Das velhas fórmulas
Das velhas mulas
Que carregam sem questionar
Não é mera expressão
Ou quimera da impressão
Sem pressão, tudo bem...
Vou mudar, mas não sou mudo
Talvez fale, falhe
Destilo um estilo
Mas vou tentar, tentado
A ser melhor do que o melhor
Que tenho sido




A platéia



Enquanto uma vida pulsa no palco, dando sentido e significado à um momento, muitas vidas se unem temporariamente dando dinamismo e assistência à cena. Como ventos, sem os quais, um barco não sairia do lugar.
Se a luz reside no tablado, as cadeiras margeiam na sombra. A luz projeta e personifica, a sombra interioriza. A luz é agente ativo e a sombra agente passivo, mas sem passividade, pois espreita, segue, se afeta ou se deixa afetar.
O ator é o coração, os expectadores são as artérias. Só há existência de um pelo funcionamento do outro, ainda que seja priorizado o órgão em detrimento do que o faz funcionar.
O ator é lembrança, a platéia é renovação. O ator traz o presente, a platéia expressa o futuro, pois no primeiro há mensagem, no segundo divulgação.
Divulgar e divagar, mas certo que só toca o que não é vulgar ou vaga perdido...Porque a vida como uma peça é encontro e união e seu roteiro lido terá diversas interpretações para cada um que tocar.
Ser platéia não é massa, nem números...antes ingredientes e olhos.
Ela sai do teatro, mas o teatro não sai dela. As cortinas podem fechar e o assento ficar vazio no fim, mas nada no intimo termina e nunca se está no mesmo lugar. Só há vazio no esquecimento e que cada platéia não seja assim esquecida.

Serdundâncias


Não sei o que sou
Mas ainda assim, sou
Porque não saberia ser outro
Ainda que outros caibam no meu ser

E mesmo sendo, não sou
Nem tudo é o que aparenta ser
Não sou parte de um todo
Mas o todo de uma parte

Também parte de mim o que fui
Fui o que hoje, me levou a ser
O que serei? Não sei
Será o que tiver de ser

E mesmo que termine o que sou
Ainda que nada que é, termine
Que sendo, ainda que mude
Não deixa de ser

O prazer


No corpo que pranto de suor
Soar que explicita o implícito 
No coro quase corado em uma voz
Tez impregnada de insensatez 
Delírio que ruge como o lírio urge
Entre o poder com F
E "me ter" junto
Luxuria do luxo da alma
Perde a calma e simples ama
Cama, carma e carne
No ansiar do cio
De um gozo gozado
Que ri da morte de morrer em um riso