sábado, 25 de novembro de 2017

Pertencer


Já pedi para ficar à quem queria partir
Tentei conversar com quem nunca quis dialogar
Fui escondido por quem eu assumi
E vi sumir, quem acabou de chegar

Fui acaso, sem destino
Fui caso em um desatino

Escrevi para quem nunca me leu
E fui lido por quem não entendeu
Já viajei por quem nunca fiz parte dos planos de viagem
Fui passagem, mas não passageiro

Já aceitei metades, imaginando inteiros
Até me apaixonei pelos dois
Fui platônico e virtual
Mas a desilusão foi real
E quando real
Não passou de fantasia

Fiquei só sozinho
Fiquei só acompanhado

Fui apontado por quem nunca me deu a mão
Julgado sem direito à defesa
Apertado por braços que não queriam estar
Enrolado por quem nunca se amarrou
Já abracei a almofada pela falta de um corpo
Já achei até que eu não tivesse corpo
Nessa ânsia frenética de pertencer
Pertenci a tudo, só não fui de mim mesmo

Inversão


Entendo quando alguém diz da beleza de estar só, parar um momento e olhar para dentro como se fosse meditação.
Mas sempre fiz o caminho inverso, sempre fui só e estive dentro, eventualmente olhando para fora.
E na vida, tudo precisa de equilíbrio. Precisamos do que nos falta, esvaziar os excessos, com o risco de nos afogarmos no que temos demais. Depois de tantos diálogos interiores, chega um dia, que precisamos sentar com alguém e falar sem parar (com o intervalo devido para ouvir), de ter uma companhia para partilhar e refletir sobre um mundo que desde cedo aprendemos a admirar e interpretar sozinhos. A meditação do introspectivo é a exteriorização.
E eis a beleza do mundo, as naturezas duais que de tão diferentes se assemelham como o Yin e Yang.
Se quem vive acelerado, por vezes, precisa fechar os olhos para o mundo parar. Quem vive em silêncio, precisa abrir os olhos para o mundo rodar. Precisamos do inverso de nós de vez em quando, para que os dois polos que nos habitam, encontrem a mesma direção.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Desinteresse



Desinteresse cansa...
Aquela conversa que só um procura
Aquela resposta que economiza sílabas
Aquela relação banalizada
A familiaridade que se perde
O silêncio estabelecido até o completo desaparecimento
A falta de uma conexão
Que transforma espontaneidade em esforço
Uma relação analógica em tempos digitais
Que um deleta, mas o outro fica na lixeira (sem a permanente exclusão)
A arte de dois estranhos que um dia foram conhecidos
E hoje não sobrou mais nada, senão convenção
Exclamação de ver, virou a interrogação de quem é
E o ponto final que define, virou a pausa de uma vírgula
Desinteresse torna qualquer interesse uma lacuna sem recuperação
Como um livro em uma estante
Parado e empoeirado,
Que a intenção de ler não passa da capa


Face:@artesembarreira

Felicidade


Tomar um sorvete em um dia quente
Mas em um dia frio também! É bom quebrar as convenções...
É ver um filme desnorteante que faça pensar, e porque não, um filme bobo e previsível para não pensar?
É um por do sol maravilhoso! Ver a chuva escorrendo no vidro da janela.
Andar de mãos dadas ou simplesmente apertar a mão quando cumprimenta.
É um abraço apertado com carinho ou um abraço formal de recepção (abraço sempre é bom)
É rir sem motivos ou rir de coisas que um dia, os motivos não foram tão bons.
Felicidade também é o choro emocionado, o tocar da sensibilidade...
É a família, a saudade (não confundir com nostalgia).
É a presença de um animal, é libertar o animal interior, que corre, que roda, que cai, que levanta...
É o beijo esperado, a notícia inesperada...
A descoberta de um novo lugar, do mundo de uma pessoa ou uma nova pessoa...
É ajudar quem precisa, melhor dizendo, o tempo que dedica a quem precisa...
É vencer os limites, os medos e se desafiar...
É especialmente se forçar a não ficar no mesmo lugar...
É esvaziar a mente com meditação, ocupa-la com algo que faça sentir útil.
É encontrar um amigo para conversar, é encontrar um amigo sem precisar falar nada...
Felicidade é namorar a vida sem motivos, com motivos,...
Não importa! Felicidade não se importa com o que é, porque ela é simplesmente!

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Bom senso


"Tudo é lícito, mas nem tudo me convém"
Começo esse texto com uma frase do grande apóstolo Paulo, ainda que não tenha nenhum cunho religioso. 
Falo de bom senso pela intolerância que vem se alastrando nas redes sociais.
Talvez antes, não fosse tão evidente. Bastava jogar o que não gostava para debaixo do tapete. No entanto, não há
mais tapete, as postagens estão explicitas na sua página e sem filtro. O que gosta e o que não gosta lado a lado.
E ainda que pudesse simplesmente ignorar, vivemos um momento, que todos precisam ter uma opinião absoluta, mesmo sendo pessoal. E mesmo quando é pessoal, alguém interpretará como absoluta.
E nisso não cabe argumentação, mas um confronto armado, insuflado de paixões. Como se questionar o que acredita,
questionasse a própria existência.
Se fulano gosta do partido ou time A e siclano do B, talvez a amizade acabe. O que são anos de amizade perto de uma ideologia?
Há quem dirá "Mas não quero uma pessoa assim perto de mim", o que é um direito. Ainda que amizade seja um dever. Uma responsabilidade sobre o sentimento algum dia cultivado. Tudo bem, exclui, bloqueia,... E ainda que diminua o que não gosta, não será capaz de evitar o que está em todo lugar.
A internet não apenas aproximou distâncias, mas colocou as diferenças para conviverem juntas. E nisso há um grande aprendizado e que não é compartilhado. Até porque poucos leem, muitos passam o olho e nisso a interpretação também é prejudicada. Todos querem falar, poucos ouvir (ou ler).
Não existe mais espaço privado, a vida se tornou pública.
E assim estamos precisando reaprender o diálogo, como quem é apresentado ao fogo. Não necessitamos mais criar a roda, mas precisamos fazer o mundo rodar.
E enquanto não entendermos que para rodar é preciso um caminho de respeito "livre", viveremos atropelando uns aos outros.

Ironias


A vida que não tive
Fantasio
A que tive 
Parece fantasia
O eu que não sou
Inventei
O que sou
Os outros inventaram
O amor que não vivi
Imaginei
O que vivi
Não era o que imaginei
Os amigos que não tive
Participam
Os que tenho
Não sei onde estão
As lágrimas que tive
Regaram o sorriso
Alguns sorrisos
Morreram em lágrimas
Entre tudo que pensei
Não pensei em tudo
As esperas nunca foram esperadas
Foram partidas quando deviam ser chegada
E quando chegaram, eu parti
Desencontros de uma ironia encontrada
Meme de uma vida eternizada
Que repete sem contexto
O contexto de uma repetição

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A depressão


Dentro de depressão, há a palavra "Pressão". Vou além, a "depressão de um terreno" pode ser literalmente um abismo. Muitas vezes, a resposta que buscamos, está naquilo que
não perguntamos. Obcecados em uma solução enquadrada naquilo que já esperamos, ainda que as melhores soluções sejam inesperadas. Mas buscar o sentido das palavras, nos ajuda a entender o significado do que sentimos.
Pressão também faz parte da Opressão e neste estado, nos rebelamos contra o que estamos sendo até então. É como uma doença autoimune, que o corpo estranha o próprio corpo. Comumente, tentamos justificar no que vemos fora de nós, mas aquilo que vemos é reflexo da autoimagem que estamos tendo. E se dentro não está bom, fora também não está.
Depressão não é apenas estado de espirito, também é físico como o terreno. Nosso cérebro é associativo e uma ideia repetida inúmeras vezes, cria uma teia de raízes internas, que passa a agir quimicamente como uma dependência emocional. E nisso, sofremos. O sofrimento é um alerta que nos diz que saímos da estrada. Um termômetro interior que mede a saúde do espírito.
O espírito também adoece e não raro, a doença no corpo é uma autorreflexão interior.
A depressão é um casulo escuro e apertado, mas há luz exterior. Aliás há mais do que luz, há a possibilidade de novos vôos, desde que descubra que essa prisão também está modelando suas asas e com um pouco de esforço poderá descobrir um novo sentido de liberdade.
Uma liberdade que não se importa tanto com a condição do momento, mas especialmente, respeita à própria natureza. Respeita o talento possível, as limitações, as conquistas e mesmo as derrotas.
Porque tudo é crescimento e crescemos até parado, porque mais uma vez, a vida continua acontecendo, mesmo estando no mesmo lugar.
Dói e dará a impressão de estarmos sozinhos, porque ninguém poderá passar este processo por nós. Este convite é pessoal e intransferível. Aceitá-lo é o começo da cura.
Aceitar que o problema é sempre uma oportunidade que nos desafia a desfiar os nossos nós para novas costuras. É uma reciclagem dos velhos hábitos e das nossas expectativas sobre viver.
Podemos olhar para o abismo e não ver o fundo ou escolhermos escalar e percebermos que o céu está logo acima.
Sei que muitos dirão que falta a vontade e que toda motivação é cansaço. Natural que o corpo reaja assim à uma luta constante e para isso há paliativos: medicamentos, terapias, etc... Tudo isso removerá os sintomas, devolvendo a força perdida, mas a causa passa pelo autoconhecimento. E se conhecer é o único tratamento definitivo.
Em um mundo acelerado e de aparências, andar devagar e enxergar o que não pode ser visto pode parecer um movimento na contramão. Não viver esperando o final feliz, mas entender que a felicidade não está no fim, mas no caminho. E esse é o único caminho para a realidade.

Platônico


Há silêncios providenciais
Uma palavra e tudo seria perdição
Na ânsia descontrolada
De uma fantasia vivida
Do tremor da pele
Que uma ideia arrepia
Dos diálogos não ocorridos
Mas que tiraram o chão
Na doação do melhor
Pela imaginação que domina
Nos corpos laçados
Pelos sonhos não tocados
Nas bocas que nunca falaram
Uma dentro da outra
Dos olhos encontrados
Que nunca se viram
Ao suspiro da alma
Que o coração acelera
Tudo fora cala
Quando o íntimo grita
No querer impossível
Que transpira
Na música de um existir
Que só existe de um lado

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Faceando



Será que deveria só "curtir"? Mas curtir parece pouco expressivo, como uma constatação. Quantos "amei" são precisos para dizer a alguém que se importa? Será que um"ual" é mais explícito? Talvez um "triste" chamasse atenção por ser inesperado, mas ninguém é triste aqui. Uma "raiva", talvez? Porque não sei realmente o que sente com essas reações. É tudo auto sugestivo. Não é fácil condensar tudo em um clique, ainda assim, parece mais fácil que conversar...

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Novo dia


Esporadicamente a vida acontece no inesperado
Fazendo surpresa com o que esperou
Sempre perto do desanimo
Para devolver o fôlego até que falte o ar
Não é uma ilusão
Embora pareça
É a magia da renovação
Que ouvindo suas preces
Devolve a esperança
De que pelo menos hoje
É possível

Casulo


Vivo em um casulo escuro e apertado
Que rompo para voar
Me recolho quando devo sair
Saio quando tudo me diz para ficar
Dentro é a metamorfose do meu mundo
Fora os mundos que sem asas não consigo chegar
Dentro uma solidão acompanhada
Fora um murmurio solitário
Dentro tenho todo o tempo
Fora já não tenho tempo
Porque me escrevo pelo avesso
E só escrevo o que não consigo mostrar
E quando mostro, já não vale escrever
Amo o processo
Mesmo quando no processo não há amor
É difícil processar, o que faz que só reste: amor
E nessa loucura de caminhar com os loucos
Percebo a normalidade que há
Na profundidade insana
Na intensidade profana
Na subjetividade que afana
O Eu que dentro de mim não cabe
Que fora de mim não coube
E só nos meus sonhos caberá

Desconhecidos


Quantos conhecidos desconhecemos?
Um dia tão próximos em que tudo é cativante...
E em outro tão distantes que mesmo parecendo familiar, falta um sentido e conexão.
Se antes tudo se afinava, tudo agora é dissonante...
O que parecia claro, agora é incompreensão.
Tentamos agir com naturalidade, acreditando nos laços feitos, mas tudo é artificial e a espontaneidade se tornou movimento forçado em que ambos sorriem torcendo para acabar logo, como a estranha sensação de estar em um elevador com estranhos.
Sim, é isso: estranhos. Causa estranheza na fala, nos gestos, nos detalhes... tudo mudou e isso não seria ruim, se a mudança não significasse uma dissolução, que tenta manter um nó.
Realmente dá um nó na garganta, que tenta falar, mas não sabe o que falar, os idiomas mudaram.
Desconhecer é o caminho inverso da surpresa de descobrir... é quando a euforia dá lugar a ânsia de partir.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O toque


É a gota que escorre na pele
Causando maremotos na alma

É a latência de uma espera
O descontrole pela proximidade

É a dilatação dos poros
Que abrem também a sensibilidade

É o pensamento que apesar de tanto
Não pensa em nada senão no outro

É a confiança de quem recebe
A destemperança do doador

É a poça d'água que afoga
Na sede incapaz de saciar

Para alguns pode não ser nada
Mas sem isso, é impossível nadar!

sábado, 4 de novembro de 2017

Há perdas


...Que levam embora o que nunca nos pertenceu
Outras que nos libertam de quem não queríamos ser
...Que parecem derrotas em deixar ir o que não foi feito para ficar
Outras transformação de quem se acha enquanto perdido
...Que levam parte de tudo que nos construiu
Outras abrem espaço para refazer a destruição do tempo
...Que separam as expectativas e a realidade
Outras são reencontros com o que esqueceu
No fim, não é o que tem nas mãos, mas o que faz com elas.

Elucubrações


Minha alma tanto pulsa
Que quando vejo: Impulso!
Já fiz, mesmo sem querer
Na verdade, queria, mas não era para fazer
Mas o que faço com o pulso?
Acelerado e inconstante?
Sei que o corpo não manda em mim
Mas eu também não mando nele
A intensidade dá tantos passos
Que quando vejo: Impasse!
A emoção não raciocina
E minha razão? É emocional
Não farei mais menção
Quer saber? Vou para outra dimensão

Hábito



Eu queria dizer que não é nada disso
Mas minha alma é errante
É errata do que eu queria ser
Sou passional
Paz ocasional
De um sobrenome
Tento morar
Mas me demoro
Oro no fim
Que tenta permanecer
Sem nunca estar
Dividido pela ida, pela vinda, pela vida
Eu queria não ser fantasia
Ter vocação além do impossível
Mas meu possível é passivo
Preciso sentir com todos os sentidos
Para dar algum sentido
Para o que não sei dizer
Por isso escrevo
Por isso crivo
Quase crise
Porque ainda que não viva para amar
Amo para viver

Tempo de Inocência


Havia um tempo de tanta inocência
Inocência que queria preservar
Que acreditava que o amor acontecia sem jogar
Que bastava um encontro e nada mais para eternizar um olhar
Acreditava que a vida era fácil e que só era preciso um sonho
Um piscar de olhos e pronto, tudo voltava para o lugar
Pensava que a dor era desvio de estrada e nunca a lição
Chorava para que as lagrimas rumassem para o sorriso e clamava para que elas fossem só redenção...
Perdão! Só percebi quando não eram mais rios na face e os arredores, oceano.
Preservava ainda algo da criança que se encantava mesmo sem entender o mundo, só para dizer que no fim, tudo se acertava. E na pior das hipóteses, criaria meu próprio mundo, pois achava que sozinho ele funcionava.
Não sei onde a perdi ou se me perdi com ela. Não sei se nesse universo ou nos tantos versos que desenhei...
Nosso encontro ainda existe mas não sei mais se é terra ou ar. A inocência me acena sagrada e eu a abraço profano.
Ela diz que tudo está certo e eu afirmo errando. Ela é o firmamento que eu olho enquanto escalo o abismo.
Porque o que quero dela, ela não pode e o que posso, ela não quer.
Mas ainda vive em mim aquela criança ou como adulto não cresci? Porque se em mim mora esperança de fato dela nunca me despedi.
Enquanto falava, percebi que as palavras não eram minhas, mas que não há tempo para inocência, ela sempre foi o tempo. Se eu a perder de fato, não foi por causa da vida, mas porque morri.