sábado, 29 de dezembro de 2018

Novela



Sou personagem
De novela mexicana
Limiar entre o riso e o choro
Em um excesso melodramático 
Que beira o ridículo de uma realidade
Exagero de sentidos
Má dublagem
Que gesticula o que não fala
Audiência de ninguém (Os que assistem fingem que nunca viram)
Existência que dura um clique
De quem muda de canal
Só para disfarçar

O toque



É a gota que escorre na pele
Causando maremotos na alma

É a latência de uma espera
O descontrole pela proximidade

É a dilatação dos poros
Que abrem também a sensibilidade

É a confiança de quem recebe 
A destemperança do doador

É a poça d'água 
que afoga
, que afaga
é fato, é feito, afeto... Se faltar é Nada
mas sentir é o melhor modo de nadar!

Raso


Tenho medo do raso das relações (Rasuras)
Do desgostar tão rápido quanto um piscar
E beijo só se for cinematográfico para postar
Amor? Enquanto agradar
Dificuldade? Motivo para abandonar
Algo mais interessante? Melhor trocar
Defeitos? Nem pensar! 
Tudo quase perfeito se não fossem tantas imperfeições 
Este tempo de descarte
Mas nada ecológico
Pois não é reciclagem
É desperdício de emoções
De quem compacta o coração 
Para caber em um imenso vazio

Matemática das relações modernas



Em tempos de quantidade
1 nunca basta 
3 é o mínimo
(Um para afirmar, dois para confirmar e três para tirar a prova)
Um número inserido na intercessão de todos os conjuntos
E acha que é exclusivo(a)?
Para cada um dos seus três
Há mais três envolvidos
Em progressão geométrica
Matemática difícil?
É bem simples, basta entender:
Que o resultado dessa equação 
É sempre 0
Um imenso vazio
Que divide o que acha que tem
E subtrai o que falta

A-perto


Quando seu carinho falta
Há espaço demais entre nós
Não é a ausência do seu corpo
Desenhado dentro de mim
É a carência do sentimento que doa
Do qual sou dependente
Pois quando me ama
Não há distância 
Tudo é perto
Tudo aperta
Uma porta aberta
De um peito tão seu
Que ja não me pertence
E de um coração ainda meu
Que quer sair ao seu encontro

Droga




Sofro de excesso de fantasia
Overdose de imaginação 
Dependente de sentimentos
Que sem tocar
Me tiram do chão
Inebriado nessa droga de intensidade
Insanidade que corre nas veias
E altera a consciência 
Viciado em sensações
Me descubro vivo
Sem elas, sou morte 

Dizer



Queria dizer para você
Que não consigo dizer:
Basta me querer
Basta! Quero você!
Porque aí tão longe?
Vem aqui perto
Vem aqui dentro
Não desejo só lhe ver 
Desejo você
Deixa lhe conhecer
Deixa lhe convencer
Que a vida é muito melhor
Com você

Mudança




Tudo precisa começar
Até mesmo para terminar
E as vezes, de términos
Nascem começos
A vida se renova
Você se inova
E até parado
Nada fica no lugar
A vida não precisa de lugar
Nem tem um momento certo
Mesmo quando tudo parece errado
Ela acontece no próprio tempo
E toda oportunidade é lugar
E isso será dito de muitas formas
Mesmo que não queira ouvir
Até que de tantos ecos
Pensará ser ideia sua
E só terá uma vontade
MUDAR

Mistura



Estranha confusão 
Ou seria fusão?
Parte estranha
Outra parte é união
Em um momento tudo é busca
Em outro perdição 
As vezes vão longe
Para descobrirem que são melhores perto
Vão e voltam
Tudo misturado
São irmãos sem sangue
São amantes sem cama
São um pouco de tudo
Mesmo as vezes sentindo-se nada
São encontro de almas
Separação de corpos
Embora quentes
Aquecem, mas também queimam
Se entendem nas suas insanidades
Um caldeirão de emoções
Desejo, amizade, ciúme, fraternidade, cumplicidade, paixão, familiaridade...o que são?
Perfeitos do jeito que foram feitos
Sem explicação, porque tudo se aplica
O que importa? 
Importam um para o outro

Ajuda


As vezes, basta estar junto
Um carinho, uma palavra ou simples compreensão
É ouvido, colo ou apenas uma mão
As vezes, é doação 
Do tempo, do espaço, de um objeto ou de um valor 
As vezes, é saia justa
Quando requer sacudir
Para tirar do transe, empurrão para desatolar ou um puxão de orelha quando não se quer escutar
Mas sempre é amor
É bem compartilhado
União e cumplicidade
Que promove mudança
Em quem dá e multiplica
E quem recebe e propaga
(Dividindo com outros)
Ajuda quando junta
É justo o que precisa
E não precisa mais nada
Apenas atenção e um instante

Inconstante


Nunca soube o que é ser constante
Sentir com moderação 
Ou pensar sem intensidade
Viver da normalidade esperada
Uma loucura alinhada
Mal tangencio a curva
Sou fora de órbita
Minhas emoções não respeitam gravidade
Flutuam entre o que há em mim e onde minha imaginação vai
Nem as leis da física
As vezes, quase não tenho física
Sou espirito errante e intocável 
Como a Lua para a Terra
Tento um verso 
Para definir meu universo
Sou ET nessa imensidão 
ETC nas possibilidades e nas 
Reticências que seguem com 
3 pontos finais

Fantasia


Em mim faz parte
No meu corpo fez morada
Ronda meus pensamentos
E faz todo meu mundo rodar
Não escolho sentimentos
Meus sentimentos escolhem você 
Não é conto de fadas
Mas seu sapato é de cristal
Todo dia “era uma vez”
E qual a vez a terei em meus braços para ser feliz para sempre?
E se sempre for muito tempo
Que faça do nosso encontro
Eternidade

Finados


Inabilidade Social



Convenção



Não é convento
Mas também é hábito 
Simula uma relação que se perdeu
Deu! É cansativo
De quem não se faz ativo
E só mudou para você 
De quem tem hora para chegar 
E vai quando a primeira oportunidade passar
Convenção é invenção social
Interação forçada
Quando o esforço 
Não vale mais
Para ficar é preciso querer
E só permanece o que se sente

Não convém



Quando queremos o que não convém
Nunca vem, sempre vai
Ainda quando chega, não basta
E se basta, falta
É alta expectativa
Tentativa frustrada
Forçada e artificial
Buscando vencer
Uma causa perdida
(E se perdendo também )
Só para dizer que conseguiu
Um instante que logo seguiu..
Tentar encaixar uma parte
Que não cabe
É esperar que não acabe
O que nasceu para terminar

Vai aparecer



“Vai aparecer alguém especial” é a consolação que adia as expectativas e a constatação que hoje não há ninguém. E porque fugir dessa realidade? Atribuir tamanha responsabilidade a algo que está fora de controle? É o remédio que ao invés de tratar, remove os sintomas. Mas não cura a dependência emocional que diz precisarmos de alguém para estar bem. Remetendo a mitologia grega das almas gêmeas, que um ser inteiro e poderoso foi dividido para que suas metades enfraquecidas passassem a eternidade a se procurarem. Não somos metades de alguém, mas dois inteiros que se encontram e o relacionamento que começa responsabilizando o outro pela sua felicidade, já inicia em falta. “Alguém especial não vai aparecer” nos obriga a assumir que cabe a nós fazermos cada momento especial, acompanhados ou não. Não somos vítimas do destino, mas autores da própria história e quem espera que alguém escreva o livro que nos cabe, acaba com as páginas em branco.

Família



É como música
🎵 Fa-Mi-La 🎵 
Elementos sozinhos são notas
Quando juntos, melodia
As vezes, melodrama
Da novela chamada proximidade
Intimidade de quem divide a vida, o sangue, a casa e as histórias 
Cumplicidade de uma rotina
Que não cabe no Instagram 
As vezes, banda experimental
Mundos próprios tentando achar o tom, o espaço e o tempo
Criando limites para algo ilimitado como amor
É a escolha que não recebemos e ainda assim, escolheríamos se nos dessem a chance
É o molde da identidade
O espelho para o que queremos ser
É o primeiro não que nos educa
O segundo sim que afirma a existência e formação da vida
É a parte de nós que habita fora
E por não caber em um coração 
Ecoa em todos que nos rodeiam