Carlos Drummond: Se de todas as minhas vidas, pudesse ser o grande momento ideal. Viveria todas elas só para caber no breve instante de lhe beijar. Poderia?
Clarice Lispector: Se beijo fosse pedido, só caberia resignação. Quem pergunta antes se pode beber o veneno que emudece? Renda-se sem entendimento, beijar com limites não é desejar.
Carlos Drummond: Mas eu lhe gosto e você me gosta desde tempos imemoriais! Por respeito à todos os beijos não dados, pergunto! Mas certo que se não o fizermos, morreremos no tempo. Primeiro nas linhas e depois nas palavras.
(Silêncio)
Clarice Lispector: Ah Carlos! O tempo para mim é agora. Eternidade é instante, já que em um ano vivi todos os séculos de minha intensidade. Sou exagerada, louca e só me satisfaço assim! Preciso do sonho estéril e acordado de uma mocinha de 15 anos.
Carlos Drummond: Mas devemos ter cuidado com portas cerradas. Como saber se não está assim? Poderia esbarrar no que não buscava: escuridão! E nessa tentativa de amar apressadamente, descuidosos, tropeçarmos no que não queríamos saber.
Clarice, impaciente, vira de costas e acende um cigarro, enquanto Drummond se senta, agora, voltado para o mar.
Maravilhoso! 😍
ResponderExcluirÉ incrível como você capta a essência… Amei tanto quanto “Um Diálogo de Estilo”. ❤