"Os cabelos, agora, rareiam
Onde tinha agora falta
Marcas involuntárias e estranhas
Se tornam permanentes "tatuagens"
No espelho vive um estranho
Cuja convivência é imposta
Os remédios antes tão raros
Eclodem de todo lugar
A disposição de dominar o mundo
Se contenta com o silêncio do quarto dos fundos
As novidades já não são tão novas
E as histórias se repetem
As adversidades são vistas com a cautela
Que adolescentes não queriam acreditar
Nada mais parece definitivo
Tudo é transitório
A vida se torna tão séria
Que só se ri nos intervalos
O impossível não mais cabe no possível
E a percepção se torna melhor do que a visão
O tempo tão lento, voa
E os passos antes tão rápidos, desaceleram
Aquilo que se deixa para amanhã
Será redescoberto no próximo ano
Aquele desconforto apontado na educação dos pais
Agora são vividos nas cobranças dos filhos
O que antes se esquecia com facilidade
Agora é lembrado com saudade
As tristezas passadas se tornaram piadas
Algumas piadas não tem mais graça
Mas diante de uma criança
O adulto se redescobre e com(o) ela brinca
Esquece o trabalho, as cobranças e as culpas
E simplesmente sonha
Voltando a ser
Aquilo que perdeu ou não viu passar"