quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Pés femininos


Todo estranhamento é o primeiro movimento de reflexões. A novidade ou a diferença, as vezes, gera um conflito até que aceitemos o fato com naturalidade. Assim foi minha descoberta e admiração pelos pés femininos.
Ouvia as pessoas falarem espontaneamente sobre achar bonito: um olhar, um sorriso, um pescoço, etc... Mas quando se falava em pés, havia um certo constrangimento, quase como se falasse sobre uma nudez. Não pela intimidade que a nudez representa, mas pelo inusitado e desconhecido de ser algo não revelado.
Tal concepção não era algo simples para um adolescente. Logo, sentia-me marginalizado em minha admiração e adotava o caminho mais fácil: a omissão. Ainda que ocultar de nós mesmos e do mundo, seja uma auto-repressão.
E neste processo, buscava explicações lógicas para me justificar. Desde contos de fadas como a Cinderela, que o príncipe busca a dona do pé, que se encaixe naquele salto de cristal à questões culturais e históricas.
No Oriente Médio, na noite de núpcias, o marido lava os pés da esposa em uma bacia com pétalas de rosas, em um simbolismo de que a servirá para o resto da vida. Simbolismo reproduzido por Jesus perante os apóstolos e perpetuado pela Igreja Católica. Na Índia, que os casamentos são arranjados, durante a reunião que as famílias apresentam o futuro casal, até então estranhos, a mãe do noivo levanta ligeiramente a saia da esposa prometida, para que ele veja os pés da mesma, como se fosse uma "concessão" adiantada de uma intimidade. Na China Antiga, homens admiravam pés pequenos e as mulheres, culturalmente, acabavam usando sapatos apertados, muitas vezes deformando os próprios pés para atender esta admiração.
Assim como vários outros detalhes corporais foram destacados nos mais recônditos lugares. Como os longos pescoços de uma tribo africana à ambição cultural americana de colos siliconados.
Mas não sou árabe, nem indiano, muito menos chinês, nasci no Brasil e distante de qualquer influência ou educação de outras
culturas...Seriam outras vidas? Quem sabe... Mas não quero me perder em divagações que não poderia constatar...
Refleti sobre questões mais possíveis: a timidez. Afinal, antes de me doutrinar a fixar olhos nos olhos. Tinha o mal hábito de olhar sempre para baixo... Embora ainda seja pouco provável, já que tenho lembranças longínquas da infância, na qual já era chamado a atenção para isso e algo curioso, não era tímido, quando criança.
O fato que nunca foi algo lógico ou pude racionalizar esse tema. Se não era possível entender, precisava aceitar! E comecei a perceber questões como a admiração de muitas mulheres por mãos masculinas. Seria uma questão filosófica?
As mãos masculinas representado a força, segurança e proteção, enquanto os pés femininos, por sua vez, a suavidade e delicadeza que a mulher passa? Afinal, são extremos e semelhantes opostos.
Continuo sem nenhuma conclusão objetiva sobre o assunto, mas escrever sobre isso, ou melhor, ser capaz de falar abertamente sobre isso, é efetivamente a melhor "libertação". Não precisar mais esconder ou disfarçar algo, que querendo ou não, faz parte de minha natureza, que pela sua própria característica é "detalhista".
Todos guardamos dentro de nós, partes não confessadas, aceitas ou não. Quando uma dessas partes vem a tona, sem constrangimento, deixa de ser uma questão e se torna em si mesma, uma resposta. Abandonamos as dúvidas e assumimos a afirmação. Saindo da dualidade dos extremos da balança para simplesmente, o eixo natural e comum, do que somos.

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