domingo, 7 de abril de 2019

Autismo


Estava na dúvida entre a fila dos bipolares e autistas, mas por distração, demorei tanto a escolher que nasci Eu.
Não tenho rótulos, porque eu tenho todos. Sou plural, apesar do meu corpo me fazer singular. Azul? Não, quero todas as cores de todos os espectros, mas se ainda assim tiver que escolher uma, que seja Branca, a união de todas elas.
Limitação? Quem não as tem? Sou a pura imperfeição e me felicito por ser assim. A perfeição deve ser muito chata, não há nada nela a ser superado, nada a ser conquistado e que conquista pode ser melhor do que uma nova versão de mim?
Diferentes? Quem não é? Nem os dedos da mesma mão são iguais e ainda assim, todos são igualmente importantes.
Eu entendo os autistas, falamos quase o mesmo idioma. No meu caso, aprendi voluntariamente, era tímido. Em ambos os casos, temos no corpo, uma prisão, mas que não define quem somos.
Também tenho um mundo particular, nem sempre entendido. Uma extrema sensibilidade a cores, sons e luzes. Sou desajeitado e atrapalhado. Nossa arte é a forma como nos expressamos. Embora tenha optado pelas metáforas, ao invés da literalidade. Por isolamento e traumas fortuitos, também tive por muito tempo, dificuldade ao toque.
Como não poderia entender os autistas? Somos da mesma família por condições diversas, mas há algo além que nos une: Somos humanos!
Sentimos, rimos, sofremos, caímos, mas aprendemos sempre! Chega de julgamentos, de fórmulas e manuais. Não somos homens de lata, temos um coração!
E ainda que não enferrujemos com lágrimas, choramos pela incompreensão.
Poderia falar de empatia, mas como me faria entender sem me expor e colocar no lugar. É preciso que sinta na pele antes de dizer que "entende".
Eu não entendo muita coisa e não há mal algum nisso. Mas talvez a diferença não esteja no "estranhar", mas não buscar o universo que habita aquela realidade.
Sempre gostei de ler as biografias dos escritores antes das obras. Porque só é possível interiorizar o sentido do que querem dizer, antes, compreendendo o sentimento
que os leva a pensar de determinado jeito. E esse é o meu jeito.
Dia do autismo? Também! Mas prefiro encarar que é o nosso dia.

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