domingo, 10 de maio de 2015

Consulta Médica


Na noite anterior, lá estava ele, cercado por um castelo de exames, imaginando o que levar. 
Mais parecia um advogado preparando sua argumentação, cercado por recursos, que no caso, defendiam a si próprio.
Tentando recordar de todos os eventos ocorridos, no último século, desde que o homem pisou na lua para entender o que se passava no atual momento do seu corpo. 
Assim adormeceu, apoiando a cabeça no travesseiro de cadernetas de vacinação,laudos, tomografias, ressonâncias... e sonhando
o sono dos justos ou melhor dos "pacientes".
Acordou de sobressalto, atrasado e impaciente. Não deveria ter tomado aquele ansiolítico para um descanso tranquilo, que mais parecia um dardo para dopar elefantes. Neste momento, estava mais ansioso do que antes do tratamento.
E assim na pressa, toda a organização, desmoronou como um castelo de areia. Levou a primeira coisa que viu, ou melhor, que não viu.
Mas por precaução havia enviado tudo por e-mail.
Chegou na galeria, agora com novo sintoma, falta de ar, por ter corrido quase uma maratona para ali estar há tempo. Aliás dois sintomas:
cegueira momentânea também, porque não encontrava de jeito nenhum a portaria.
Enfim, após transitar por todas as escadas rolantes possíveis, enfim chegou!
Ao tocar a campainha, a médica abriu a porta com seu primeiro diagnóstico: "Você está pálido, com taquicardia e ofegante! "
Me sentia muito
melhor agora...
E continuou: - "Trouxe seus exames?"
Abri a pasta com um ar de vitória de quem sabia bem o que fazia. Mas gradualmente, percebi que meu pai, havia retirado os exames dos envelopes e substituído por um mar de recibos, que mais interessariam a um contador. Naquele momento, descobri que também havia adquirido a depressão.
Mas espere! Ele havia enviado por e-mail! E logo, se posicionou recobrando a razão.
Quando ela, como um oráculo, se adiantou: - "Recebi uma mensagem sua, mas não veio nenhum anexo"
Neste momento, uma sudorese e tremor, percorriam todo o corpo. E com as mãos trêmulas, ele desesperadamente tocava a tela do celular, na última esperança de que tivesse qualquer relato médico seu nas redes sociais...mas só havia eventos, bichos, piadas,... Definitivamente, não era engraçado!
- "Dra. posso relatar tudo que venho sentindo e enviar posteriormente? - Rubro perguntou.
E com um olhar analítico de quem inquiria até a alma, respondeu monossilabicamente: "Certamente, prossiga"
- "Então Dra., meu corpo resolveu imitar o dono: indeciso. Ele não sabe se escolhe: uma urticária crônica, uma gastrite aguda ou cefaleia persistente. Tudo se manifesta ao mesmo tempo, não necessariamente nesta ordem."- Murmurou cabisbaixo.
Ela, por sua vez, parecia incorporada por algum espirito, posicionou a mão na testa e começou a escrever páginas e páginas de um receituário. E certamente, recebia, a "entidade" de algum médico, porque não dava para entender uma palavra do que escrevia.
Já de volta a consciência, como uma tradutora, iniciou as explicações: "Peço que faça essa lista de 100 exames (Será que ele havia dito a ela, que desmaiava tirando sangue?), um mineralograma da unha do dedo mindinho do pé, exames de imagens que serão enviados para um clínica especializada de um monge no Nepal,etc...
Neste momento, ele começou a ter uma crise de identidade: se sentia algum roedor, cobaia em um laboratório, tentando desvendar a cura do Ebola.
E ela continuou: "Vou pedir que tome essas medicações". E uma nova lista, que parecia o velho e o novo testamento reunidos, surgiu!
E como uma propaganda do Polishop, com o primeiro sorriso que abriu, disse: "E não é só, também quero que manipule essas substâncias. E lhe darei essas "fantásticas" amostras grátis (que de fato eram amostras, já que uma caixa não tinha mais do que 2 ou 3 comprimidos).
Realmente, saia do consultório, se sentindo um pouco menos saudável do que quando chegou. Alias descobriu que tinha coisas em seu organismo que nunca imaginou como
colônias planetárias bacterianas, que coexistiam harmoniosamente com sua existência.
Já era tarde quando saiu e para sua felicidade, chovia.
Ele abriu sua mochila e demorou a encontrar seu guarda-chuva, oculto por caixas de Omega3, anti-alérgicos, Vitaminas A,B,C,D,E,F,G...aliás já estava todo molhado, quando
finalmente conseguiu.
Enfim, chegou em casa e relatando tudo que havia ocorrido para sua mãe, finalmente concluiu: "Mãe, sabe aquele presente que você queria me dar de aniversário? Podemos substituir
por remédios?"E naquele instante, se sentiu melhor e curado.