quarta-feira, 6 de maio de 2015

Desconfiança Feminina


Após um dia árduo, ele coloca a chave na porta e a destranca...
Surpreendentemente, tudo está escuro e sentada no sofá, uma sombra...
Imóvel, estática, rígida e com a respiração pesada...
Com um tom fantasmagórico, ela diz: Quem é a "fulana"?
E a luz do abajur se acende, demarcando com luz e sombras, um olhar desafiador...

O coração dele acelera, sem entender o que se passa e com as pernas trêmulas responde: Não sei!
No que então é retrucado: "Como não sabe? Não sei, não é resposta. A fulana que curtiu o seu perfil na rede social."

Neste momento, ele mal sabe quem ele é. E numa tentativa de entender o que está acontecendo, devolve a pergunta: "Que fulana?"

Eis que com o rosto imponente, se ergue como se fosse fazer grandes revelações, mas apenas repete a frase: "A fulana que curtiu seu perfil. E não venha me dizer que não sabe! Revirei seu histórico escolar, seus extratos de cartão de crédito, vi todas as redes sociais (incluindo as dos amigos de seus amigos) e ela não aparece em nenhuma. Então me diga você, quem ela é?"

Ele estava se sentindo no livro "O processo" de Kafka, sendo condenado antecipadamente por um crime, que nem ele mesmo sabia que havia cometido. E se não bastasse isso, em um impulso, ela segura seus pulsos com força, como um polígrafo humano a avaliar todas as impressões sensoriais que ele poderia vir a ter. 

"Deve ser uma desconhecida, que se interessou por algo que por ventura postei.Mas não sei quem é e também não tem significado algum" - Na resposta mais verdadeira e sincera que existia. 
E se ele achava que o pior havia passado, ela iniciou a frase com o nome próprio do mesmo, sem apelidos. "E o que você fará a respeito disso?" - Disse ela.

"Posso excluir, sem problema algum! Não é algo relevante!" - Voltando a respirar, como se pudesse retomar a tranquilidade.

-Ela: " Excluir?? Você está querendo esconder alguma coisa??"
-Ele: Então deixa a curtida lá e ignoramos isso!
-Ela: "Deixar?? Você está querendo manter algum vínculo??"
-Ele: "Amor, você não está sendo ponderada! O que quer que eu faça?"
-Ela: "Não sou eu que deveria lhe dizer. Mas quero que entre em contato com ela e avise que está proibida de enviar qualquer mensagem. Reforçando claramente que tem uma relação estável"
-Ele: "Você quer que eu faça a nossa biografia para uma estranha?"
-Ela: "Apenas faça"

E sem vacilar, sob supervisão atenta dela, ele faz um memorial descritivo de 20000 caracteres, apenas desejando o direito da última vontade de um condenado: "A paz eterna"
E ao dar aquele "clique" derradeiro. Ela acende a luz, o rosto agora com um belo sorriso de orelha a orelha. Como se nada tivesse acontecido, ela diz: "Amor, você viu o comentário lindo que
sua mãe fez?"

Enfim, tudo parecia normalizado. Ambos namoraram pelo resto da noite como nos primeiros dias. Deitaram e iriam sonhar...Quando as 3:30 da manhã, o abajur acende e ela pergunta: "Mas quem é a fulana?"